"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
segunda-feira, dezembro 31, 2007
domingo, dezembro 30, 2007
quarta-feira, dezembro 26, 2007
Receita de Ano Novo
«Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.»
Vou ali e já venho.
Deixo-vos Drummond de Andrade, um dos meus poetas preferidos.
Até já e votos de bom ano para todos!
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Carlos D. de Andrade
domingo, dezembro 23, 2007
sábado, dezembro 22, 2007
sexta-feira, dezembro 21, 2007
quinta-feira, dezembro 20, 2007
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Navio
"Tenho a carne dorida
Do pousar de umas aves
Que não sei de onde são:
Só sei que gostam de vida
Picada em meu coração.
Quando vêm,vêm suaves;
Partindo,tão gordas vão!
Como eu gosto de estar
Aqui na minha janela
A dar miolos às aves!
Ponho-me a olhar para o mar:
-Olha-me um navio sem rumo!
E,de vê-lo,dá-lho a vela,
Ou sejam meus cílios tristes:
A ave e a nave,em resumo,
Aqui,na minha janela."
Vitorino Nemésio,
(19.12.1901/20.02.1978)
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poema de Vitorino Nemésio
terça-feira, dezembro 18, 2007
Falavam-me de Amor
"Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado."
O Dilúvio e a Pomba (1979)
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado."
O Dilúvio e a Pomba (1979)
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poema de Natália Correia
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Lógica da Batata Doce
No último fim de semana o Belenenses ganhou ao Benfica. De onde é que é o Belenenses?
De Belém.
Quem nasceu em Belém?
Pois. Pois é.
Então como é que queriam que o Benfica ganhasse ao Belenenses?
De Belém.
Quem nasceu em Belém?
Pois. Pois é.
Então como é que queriam que o Benfica ganhasse ao Belenenses?
domingo, dezembro 16, 2007
Farsas
A notícia veiculada pelo jornal Açoriano Oriental, que nos deu conta de que Costa Neves distribuiu "pastas" pelos seus "colaboradores mais directos", não deixou de me fazer pensar que este foi (apenas) mais um acto da peça de Teatro de sombras sem norte e sem dono, que o PSD/A tem representado na Região. Uma Farsa.
No Sapatinho
A reprodução do diário de Frida Khalo é uma edição muito especial. Nunca visto fora do México, sendo que esteve fechado à chave no Museu Frida Khalo em Cocoyan, esta publicação de excelente qualidade permitiu a divulgação facsimilada de páginas surpreendentes em 1995 (1ª edição).
As 161 páginas do diário alternam entre texto e imagens, e são antecedidas de uma introdução pelo novelista mexicano Carlos Fuentes, e de um ensaio da autoria da historiadora de arte Sarah Lowe, a qual, no final, descreve detalhadamente cada uma das páginas do diário.
Frida Khalo manteve o seu diário aproximadamente desde 1944 até à sua morte, que ocorreu dez anos depois. Tinha então 47 anos. Segundo a sua biografia de 1983, o volume vermelho de capa em pele que lhe serviu de diário teria sido comprado numa loja de livros raros em Nova Iorque por um amigo, o qual lho teria mandado na esperança de que ela se sentisse menos só na sua doença. Lembre-se que Frida Khalo sofreu um acidente que por pouco não a matou, aos 18 anos de idade, junto à Escola Preparatória Nacional.
O sofrimento que esse acidente lhe provocou é amplamente ilustrado nas palavras e pinturas que fazem este diário, bem como o amor, a política e a vida.
As 161 páginas do diário alternam entre texto e imagens, e são antecedidas de uma introdução pelo novelista mexicano Carlos Fuentes, e de um ensaio da autoria da historiadora de arte Sarah Lowe, a qual, no final, descreve detalhadamente cada uma das páginas do diário.
Frida Khalo manteve o seu diário aproximadamente desde 1944 até à sua morte, que ocorreu dez anos depois. Tinha então 47 anos. Segundo a sua biografia de 1983, o volume vermelho de capa em pele que lhe serviu de diário teria sido comprado numa loja de livros raros em Nova Iorque por um amigo, o qual lho teria mandado na esperança de que ela se sentisse menos só na sua doença. Lembre-se que Frida Khalo sofreu um acidente que por pouco não a matou, aos 18 anos de idade, junto à Escola Preparatória Nacional.
O sofrimento que esse acidente lhe provocou é amplamente ilustrado nas palavras e pinturas que fazem este diário, bem como o amor, a política e a vida.
sábado, dezembro 15, 2007
sexta-feira, dezembro 14, 2007
Recomendação de Leitura
Útil, prático, realizado com muita qualidade,
o Dicionário da Academia das Ciências
apresenta ainda a transcrição fonética actualizada das palavras que usamos todos os dias.
Óptimo para tirar teimas,
e esclarecer dúvidas mais ou menos
pertinentes,
quanto ao modo como pronunciamos o nosso português.
Consulte, pela sua saúde.
o Dicionário da Academia das Ciências
apresenta ainda a transcrição fonética actualizada das palavras que usamos todos os dias.
Óptimo para tirar teimas,
e esclarecer dúvidas mais ou menos
pertinentes,
quanto ao modo como pronunciamos o nosso português.
Consulte, pela sua saúde.
Apoiado
"Para a maioria dos portugueses a língua continua a ser apenas a de vaca, caída no prato com um molhinho quente e batatas cozidas.
A língua que falamos assumiu, como quase tudo, um valor descartável. É também por isso que a língua-pátria de Pessoa morre todos os dias mais um bocadinho nas páginas dos jornais. E morre sobretudo quando se acha que nada disso interessa afinal. Quando cada falante a usa como pode e não como deve. (...)É que escolher falar mal a própria língua não é uma opção, mas uma profunda irresponsabilidade."
Excertos do artigo de opinião de Cláudia Cardoso," Língua à portuguesa", publicado na edição de hoje do jornal Açoriano Oriental.
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língua portuguesa
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Pontos de Vista
Um grande fabricante de calçado mandou dois empregados seus a África investigar se valia a pena a sua empresa investir numa fábrica de calçado naquele território. Para a investigação ser conclusiva, mandou um empregado entrar pelo lado norte do território e o outro pelo lado sul. Passada uma semana recebeu os resultados das duas investigações: o empregado, que entrou pelo lado norte do território concluiu que não valia a pena investir, porque lá não calçavam sapatos e o empregado que entrou pelo lado sul concluiu que valia a pena investir, porque lá não calçavam sapatos.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Boas notícias
A notícia de que 16 mil pessoas visitaram este ano o núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, na cidade de Ponta Delgada, que foi inaugurado há ano e meio, depois de ter sido recuperado, é uma excelente notícia. Significa, por exemplo, que valeu a pena reabrir as portas da Igreja do Colégio de Ponta Delgada, que esteve encerrada durante 40 anos, ao serviço de quase tudo, menos da Cultura.
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cultura
terça-feira, dezembro 11, 2007
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Nostalgia
...""Tive infância, fui feliz, os crescidos tratavam-me bem.
Escreve olhos cheios de infância, anda. Assim como assim talvez te ajude a viver."
António Lobo Antunes
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citação importante
Fragilidade
"Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las."
Carlos Drummond de Andrade
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las."
Carlos Drummond de Andrade
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poesia porque sim
Saudade
Trovante
...porque há sempre alguém que nos diz tem cuidado.
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco.
Há sempre alguém que nos faz falta! Há saudade.
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musica porque sim
domingo, dezembro 09, 2007
Homenagem merecida!
Será lançado,
no próximo dia 12 de Dezembro, pelas 18 horas,
na Sala D. Pedro V, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
um livro de estudos em homenagem a três professoras, cujo contributo para o estudo
das literaturas portuguesa e espanhola, foi marcante. São elas
a Prof. Dra. Maria Vitalina Leal de Matos,
a Prof. Dra. Maria Lucília Gonçalves Pires
e a Prof. Dra. Maria Idalina Resina Rodrigues.
O livro será apresentado pelo Prof. Dr. Aníbal Pinto Castro.
A elas, o nosso bem haja.
no próximo dia 12 de Dezembro, pelas 18 horas,
na Sala D. Pedro V, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
um livro de estudos em homenagem a três professoras, cujo contributo para o estudo
das literaturas portuguesa e espanhola, foi marcante. São elas
a Prof. Dra. Maria Vitalina Leal de Matos,
a Prof. Dra. Maria Lucília Gonçalves Pires
e a Prof. Dra. Maria Idalina Resina Rodrigues.
O livro será apresentado pelo Prof. Dr. Aníbal Pinto Castro.
A elas, o nosso bem haja.
sábado, dezembro 08, 2007
Portas Amarelas (Papelaria)
Cesário Verde e a luta pela não-ignorância!
O novo livro de Maria Filomena Mónica foi anunciado muito antes de descansar nos escaparates, a 6 de Novembro. A ansiedade e a expectativa eram, e não poderia ser de outra maneira, muito elevadas. Cesário Verde tem mantido um lugar pouco adequado e digno da sua obra no Parnaso português, e esperava-se, naturalmente, um empurrão notório nessa estranha e tão complexa escadaria.
Pedro Mexia, na Ípsilon de 9 de Novembro, tornou-se o responsável pela primeira tentativa de desengano relativamente à tão anunciada biografia. Para aqueles que ainda não tinham adquirido um exemplar, o desengano serviu de estímulo, quanto menos não fosse para se constatar se, de facto, a publicação era meritória de erguer Cesário um pouco mais alto, numa posição com menos pó. O estímulo conduziu à compra e, consequentemente, à confirmação do desengano.
A autora propôs-se realizar uma biografia de Cesário e, como que procurando protecção junto de cavaleiros mais ou menos especialistas na matéria, cita logo de início um aval múltiplo à sua mais recente iniciativa. As críticas públicas, no entanto, não alteraram o seu desapontamento e o tom censório. António Guerreiro, na Actual do primeiro de Dezembro, teceu uma apreciação demolidora e brutal a esta biografia.
Apesar do trabalho meritório de recolha biográfica, Maria Filomena Mónica arrisca um percurso demorado pela poesia de Cesário Verde que, quanto a mim, dita o insucesso da sua iniciativa. As suas ideias sobre poesia são pobres, e a análise que a autora dizia não querer fazer é vazia de qualquer conteúdo literário pertinente.
"Eu quero criar uma polémica sobre quem é maior, se o Fernando Pessoa, se é o Cesário." Foram as palavras da autora em entrevista à SIC, aquando da apresentação do livro na Biblioteca Municipal de Oeiras a 5 de Dezembro. A intuição da autora é boa, porque urge uma releitura de Pessoa à luz da produção poética de Cesário. No entanto, o modo como conduz a sua argumentação trai a qualidade dessas mesmas intuições: " Pessoa percebeu a sua importância [Cesário] porque não era um português" (DN, 5.Dez). Errado!! Pessoa percebeu Cesário porque era, justamente, um português..
A biografia de M.F.M recomenda-se a quem nunca tenha tido a curiosidade ou o interesse de saber alguma coisa sobre quem foi o homem, onde viveu e com quem conviveu. Para aqueles que esperam alterações nas tabelas classificatórias do nosso velho e viciado parnaso, recomenda-se que esperem um pouco mais.
Pedro Mexia, na Ípsilon de 9 de Novembro, tornou-se o responsável pela primeira tentativa de desengano relativamente à tão anunciada biografia. Para aqueles que ainda não tinham adquirido um exemplar, o desengano serviu de estímulo, quanto menos não fosse para se constatar se, de facto, a publicação era meritória de erguer Cesário um pouco mais alto, numa posição com menos pó. O estímulo conduziu à compra e, consequentemente, à confirmação do desengano.
A autora propôs-se realizar uma biografia de Cesário e, como que procurando protecção junto de cavaleiros mais ou menos especialistas na matéria, cita logo de início um aval múltiplo à sua mais recente iniciativa. As críticas públicas, no entanto, não alteraram o seu desapontamento e o tom censório. António Guerreiro, na Actual do primeiro de Dezembro, teceu uma apreciação demolidora e brutal a esta biografia.
Apesar do trabalho meritório de recolha biográfica, Maria Filomena Mónica arrisca um percurso demorado pela poesia de Cesário Verde que, quanto a mim, dita o insucesso da sua iniciativa. As suas ideias sobre poesia são pobres, e a análise que a autora dizia não querer fazer é vazia de qualquer conteúdo literário pertinente.
"Eu quero criar uma polémica sobre quem é maior, se o Fernando Pessoa, se é o Cesário." Foram as palavras da autora em entrevista à SIC, aquando da apresentação do livro na Biblioteca Municipal de Oeiras a 5 de Dezembro. A intuição da autora é boa, porque urge uma releitura de Pessoa à luz da produção poética de Cesário. No entanto, o modo como conduz a sua argumentação trai a qualidade dessas mesmas intuições: " Pessoa percebeu a sua importância [Cesário] porque não era um português" (DN, 5.Dez). Errado!! Pessoa percebeu Cesário porque era, justamente, um português..
A biografia de M.F.M recomenda-se a quem nunca tenha tido a curiosidade ou o interesse de saber alguma coisa sobre quem foi o homem, onde viveu e com quem conviveu. Para aqueles que esperam alterações nas tabelas classificatórias do nosso velho e viciado parnaso, recomenda-se que esperem um pouco mais.
ardemares news
A partir de hoje e por algum tempo, que espero longo, este blog conta com mais uma escriba: Susana Rosa - uma açoriana da ilha de São Jorge. Ausente em terras continentais.
Entretanto, recebi notícias do primo TóZé. Estava na capital do Pico (Santo Amaro) para apanhar barco para a Calheta de São Jorge.
Vamos a ver se (também) ele regressa a este ardemares.
Os anos da Rosa
Há duas semanas, a Rosa fez anos e apareceu na televisão com o seu ar calmo de sempre. Aliás, pensando bem, não me lembro de vê-la de outra maneira. Nem mesmo, quando vivia na casa ao lado da nossa, no Verão, e tomava conta de uma senhora de mais idade do que ela. Sempre que aparecia na janela para nos dizer adeus ou à porta para dar rebuçados, vinha com os mesmos óculos de massa e um lenço no cabelo esbranquiçado. Nunca conheci a Rosa nova, porque quando eu nasci a Rosa já existia e tinha a idade de uma avó. Morava numa casa muito pequenina com duas janelas e uma porta, aonde eu nunca entrei. Parecia uma casa de bonecas sem árvores à volta, mas com velas, que iluminavam as janelas quando era de noite e a lua começava a nascer por detrás do morro, ao pé da ponta do pico da ilha do Pico.
Sete dezenas de anos exactos nos separam. Quando a vi na televisão há duas semanas, falando com a jornalista e explicando que aquele era o dia dos seus anos, que ia festejá-lo com a família e com amigos da freguesia, depois de fazer o jantar para o sobrinho, com quem, agora mora, quase que me esqueci que a Rosa completava 101 anos, tal era o desembaraço com que falava, mexendo com a cabeça e sorrindo, diante da alegria de completar mais um ano. Estava de pé no jardim, de lenço, de óculos e trazia lenha nos braços para acender o forno, disse, enquanto sorria para a câmara de televisão.
Habituei-me à presença da Rosa com o passar do tempo. Às vezes, dou-lhe boleia para a missa, a que vai, religiosamente, aos Domingos; outras vezes visita-nos nas férias para levar laranjas ou figos. Abraçou-me sempre nos momentos mais difíceis da minha pequena vida e procurou explicar-me, na sua muito própria crença, o porquê de tantos e variados percalços. Nunca entendi nada disso, mas consenti sempre.
O ano passado, nos seus 100 anos, apareceu (também) muito bonita a falar na Televisão, com o seu sorriso grande e brilhante, onde eu sempre soube, que se lhe pedisse ou se precisasse, cabia por inteiro. Nessa vez, há um ano, foi a primeira vez, que a ouvi falar de si própria, explicando à jornalista que então a entrevistou que “nunca fez mal a ninguém”…
Tenho sempre e cada vez mais saudades do tempo de vigia da Rosa, da época em que ela nos espreitava para ver se nós nos portávamos bem e nós lhe cantávamos alegremente: “oh rosa, arredonda a saia”. Um outro tempo para nós, mas certamente o mesmo para ela, que ainda vai estar, sei e sinto, caminhando nas ruas para baixo e para cima com os seus óculos de massa de sempre, o lenço na cabeça, o casaco de malha e a sua passada curta, em Novembro de 2008 à espera da Televisão. E, quando eles chegarem, a Rosa vai sorrir e explicar que nunca fez mal a ninguém. Minha querida Rosa. Feliz Natal.
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Parabéns à Rosa da Quitéria
sexta-feira, dezembro 07, 2007
adio, adieu, aufwiedersehen, goodbye!
Outra para cantar bem (mesmo bem!) desafinado!
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José Cid
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Solilóquio V - Pedro da Silveira
"De rocha e solidões me reconstruo,
com amargura e paciência.
Riso:
em mim é fel de sombras.
Amor:
secos relâmpagos na tarde.
Sei o que passa.
O mais.
Ignoro.
Terra!
sobre o que errei rebenta em flores.
E tu, homem futuro,
não me lamentes;
esquece-me.
E vive."
(Fajã Grande, 5 de Setembro de 1922 — Lisboa, 2003). Poeta, crítico literário e investigador, com vasta colaboração dispersa em periódicos e revistas. Fez parte do conselho de redacção da revista Seara Nova (até 1974) e é autor de várias obras de poesia e de recensão literária, estreando-se com o livro A Ilha e o Mundo (1953). É autor de duas antologias de poetas açorianos, a primeira das quais com um prefácio em que autonomiza a literatura deste arquipélago em relação a todas as outras literaturas de expressão lusófona. Integrou a comissão de gestão Biblioteca Nacional de Lisboa, da qual se aposentou como director dos Serviços de Investigação e de Actividades Culturais.
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Foto A.C.
Muz´ka
Aqui está uma música que gosto de cantar: "The Logical Song" dos Supertramp
Fica a sugestão para a mixtape do Blog Tipo Assim, do :ilhas e de uma casa com vista para o mar.
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mixtape
quarta-feira, dezembro 05, 2007
terça-feira, dezembro 04, 2007
Croniqueta LI ou o Fífia tem a cara em obras, mas está feliz
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Depois dos feitos todos a que se dedicou nos últimos meses; depois de ter calçado e descalçado dezenas de vezes as botas de cano alto e sola rija para as tempestades; depois de ter tido que brigar com a madrinha; o Fífia voltou agora às pantufas do Rei Leão e ao xaile de romeiro. Prevê-se, assim, que nos próximos dias, até porque são de época festiva, o vamos encontrar de touca com laçarote a amarrar no pescoço, escondendo as arranhadelas das lutas por que passou durante estes tempos. Porém, qual Viriato, vindo dos altos Montes Hermínios, depois de ter descansado à sombra de uma árvore, nosso Fífia já está pronto para as festas que aí vêm. Natal, passagem de ano e Carnaval, já constam da sua agenda. Este ano não falhará o costume de Palhaço, que no Fífia se resume a um grande e brilhante laço cor de casca de amendoim para dizer com os olhos, que dizem a mãe e as tias, parecem dois ricos feijões semeados na sua cara em obras, mas feliz. Com efeito, ninguém sabe porque é que tem a cara assim, mas não se importa. Todas as manhãs lá começa, circulando pela casa, a ginástica facial, que o faz fingir que ri, mesmo que esteja chorando. Esfrega uns cremes, umas quantas pomadas e até misturas caseiras, que as vizinhas, daimosas e solidárias lhe preparam com amor. Mas nada resolve as valas, que a dureza dos combates (digo eu) lhe impôs na cara mal traçada, que transporta dia-a-dia no seu pescoço de fidalgo. Ainda não fez as compras de natal, mas sabe já que para a mãe e tias vai comprar agulhas, canetas e papel. Sabe que o mais certo será precisar que estas boas costureiras lhe fabriquem novos factos para os dias, que hão-de vir, não muito longe nem muito perto. E, nestas coisas de ofertas, não há como deixar implícito, já de princípio, uma ideia de utilidade. A mãe e as tias sabem que se não fossem os seus conselhos, o Fífia não valia nada. Por isso, vão preparar rezas e mezinhas para prevenir que a oferta da madrinha o faça mudar de rumo. É que ninguém sabe se o Fífia aceita calçar o par de patins em linha, que a dita lhe quer oferecer… Essa dúvida, esse medo tem agonizado a família Fífia. O próprio está em dúvida sobre os propósitos reais da boa senhora, que em tempos, lhe passou água benta pelos angélicos cabelos. As tias não vivem sem ele, a mãe muito menos e as vizinhas, as da sua própria rua, duas casas acima e duas casas abaixo, não querem ver desaparecer o menino por quem nutrem uma certa simpatia…
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Croniquetas
domingo, dezembro 02, 2007
Os distraídos
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"retrato de lado
retrato de frente
de mim me faça
ficar diferente."
Paulo Leminski, Distraídos Venceremos,São Paulo, Brasiliense, 1987.
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notas de fim de semana
sábado, dezembro 01, 2007
Agenda
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A 1 e 2/12 - ilha de São Jorge - Auditório Municipal de Velas
A 7, 8 e 9/12 - ilha do Pico - São Mateus (Madalena), Auditorio Municipal das Lajes, EBS Cais do Pico, respectivamente.
A 14, 15 e 16/12 - Teatro Faialense.
Mais informações sobre O Dragoeiro - Companhia Teatral aqui e aqui.
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O Dragoeiro - Companhia Teatral
sexta-feira, novembro 30, 2007
segunda-feira, novembro 26, 2007
domingo, novembro 25, 2007
Repreensão
"Depois de fuzilado
ao levar
o tiro na nuca para acabar
chateou-se
e viu-se obrigado
a explicar
ao major
que comandava o pelotão
que o tinha fuzilado
por favor
preste atenção
e não me obrigue a repetir
a repreensão
na próxima vez
que mandar matar
dê tempo ao morto
para gritar
convicto
um último viva a revolução."
Poema, incluído no livro Contos do Gin-Tónico, da autoria de Mário-Henrique Leiria.
Publicado pela Editorial Estampa. O que tenho é a 6ª edição de Fevereiro de 2007. Comprei-o na livraria Bertrand, por 9,89.
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poesia porque sim
sábado, novembro 24, 2007
Conversar - poema de Octavio Paz
«E num poema leio:
conversar é divino.
Os deuses, contudo, não falam:
fazem, desfazem mundos,
enquanto falam os homens.
Que os deuses, sem palavras,
jogam terríveis jogos.
O espírito desce,
e desata as línguas,
palavras, porém não fala:
fala lume. A linguagem
pelo deus acendida,
é uma profecia
de chamas e um cair
de sílabas queimadas:
cinza sem sentido.
A palavra do homem
é bem filha da morte.
Falamos porque somos
mortais: e as palavras
não são signos, são anos.
Ao dizer o que dizem,
os nomes que dizemos
dizem tempo: nos dizem,
somos nomes do tempo.
Conversar é humano."
tradução de Luís Alves da Costa
roubado daqui
conversar é divino.
Os deuses, contudo, não falam:
fazem, desfazem mundos,
enquanto falam os homens.
Que os deuses, sem palavras,
jogam terríveis jogos.
O espírito desce,
e desata as línguas,
palavras, porém não fala:
fala lume. A linguagem
pelo deus acendida,
é uma profecia
de chamas e um cair
de sílabas queimadas:
cinza sem sentido.
A palavra do homem
é bem filha da morte.
Falamos porque somos
mortais: e as palavras
não são signos, são anos.
Ao dizer o que dizem,
os nomes que dizemos
dizem tempo: nos dizem,
somos nomes do tempo.
Conversar é humano."
tradução de Luís Alves da Costa
roubado daqui
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poesia porque sim
quinta-feira, novembro 22, 2007
E o mar inteiro a enrolar-se
Primeira onda - Lá ao longe, debaixo das árvores, um homem e uma mulher estão sentados. Mas, não sentados de uma maneira qualquer. Estão sentados como se sentam as pessoas incomodadas com a sua própria presença. Muito calados. Muito direitos e com as pernas muito sentadas nas cadeiras. Com os casacos muito vestidos, os cachecóis muito apertados ao pescoço. Ela parece estar quase a dormir e ele olha com os olhos muito fechados para a palma das mãos fechadas. Espreita.
Segunda onda - [Imagina que não se tinha passado nada e tu tinhas só viajado e havia no sítio aonde tinhas ido muitas borboletas que falavam e riam e brincavam e não pareciam estas pessoas muito sentadas na vida!]
Terceira onda - Parece que têm frio nos ossos.
Quarta onda - Comprei três livros de uma vez só.
Quinta onda - Havia qualquer coisa de combinado naquele espaço. Não sei se eram as cores, as plantas, que pareciam dançar nos vasos, quando o vento assobiava nas montras da loja. Uma boneca de pano dançava, pendurada pelos braços a uma espécie de arco.
Sexta onda - Há bolas e balões suspensos nas entrelinhas do texto; nada de claramente perfeito; nada que consigamos ver, nada que declare alto e bom som: “estou aqui”, como as pessoas que não se sentam na vida. Um dia destes devias escrever uma história infantil daquelas que têm árvores falantes e coelhos risonhos; magias de espelhos; artes várias. Pintores, malabaristas, palhaços de sapatos grandes, que não cabem em armários. Um dia destes devias escrever sobre bolos de anos, fitas e balões. Ou então, escreve da tristeza e dos versos derramados no papel branco e da lua vidrada nos pés das plantas, quando à noite as gaivotas passam de chocalhos nos bicos e anéis nas asas para casar com os cometas.
Sétima Onda - Diz-se do céu das gaivotas que é do tamanho das ilhas e que a massa circundante é toda feita de água e sal. À noite enche-se de ondas para delícia destas damas, que vestem os seus biquinis e dão mergulhos brilhantes. Há quem diga cá por baixo, que cada exibição vale uma estrela cadente.
Oitava onda - [O meu poema é ter inteira a recordação de todos os dias aqui. Tu?]
Nona onda - O meu poema sou eu a desafiar o esquema. Com a corda. Sem acordo. Prisioneira, do meu poema, morro como morrem no espelho as lágrimas do Vapor, que acaba por não se ir embora.
Décima onda - [E o mar inteiro a enrolar-se.]
Segunda onda - [Imagina que não se tinha passado nada e tu tinhas só viajado e havia no sítio aonde tinhas ido muitas borboletas que falavam e riam e brincavam e não pareciam estas pessoas muito sentadas na vida!]
Terceira onda - Parece que têm frio nos ossos.
Quarta onda - Comprei três livros de uma vez só.
Quinta onda - Havia qualquer coisa de combinado naquele espaço. Não sei se eram as cores, as plantas, que pareciam dançar nos vasos, quando o vento assobiava nas montras da loja. Uma boneca de pano dançava, pendurada pelos braços a uma espécie de arco.
Sexta onda - Há bolas e balões suspensos nas entrelinhas do texto; nada de claramente perfeito; nada que consigamos ver, nada que declare alto e bom som: “estou aqui”, como as pessoas que não se sentam na vida. Um dia destes devias escrever uma história infantil daquelas que têm árvores falantes e coelhos risonhos; magias de espelhos; artes várias. Pintores, malabaristas, palhaços de sapatos grandes, que não cabem em armários. Um dia destes devias escrever sobre bolos de anos, fitas e balões. Ou então, escreve da tristeza e dos versos derramados no papel branco e da lua vidrada nos pés das plantas, quando à noite as gaivotas passam de chocalhos nos bicos e anéis nas asas para casar com os cometas.
Sétima Onda - Diz-se do céu das gaivotas que é do tamanho das ilhas e que a massa circundante é toda feita de água e sal. À noite enche-se de ondas para delícia destas damas, que vestem os seus biquinis e dão mergulhos brilhantes. Há quem diga cá por baixo, que cada exibição vale uma estrela cadente.
Oitava onda - [O meu poema é ter inteira a recordação de todos os dias aqui. Tu?]
Nona onda - O meu poema sou eu a desafiar o esquema. Com a corda. Sem acordo. Prisioneira, do meu poema, morro como morrem no espelho as lágrimas do Vapor, que acaba por não se ir embora.
Décima onda - [E o mar inteiro a enrolar-se.]
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Correio do Norte
terça-feira, novembro 20, 2007
Fragmentos
«1. Aceita o transitório;
nada do que é definitivo, e dura, te pode atingir.
2. Algo de visível
perpassa nos limites do ser.
3. De noite, o vento partiu
um dos vidros da traseira.
4. Só o ruído da noite sobrevive
à luz e ao furor matinais.
5. (Se aquelas nuvens, no horizonte,
chegassem até mim...)
6. O fragmento, porém, exprime
o estilhaçar da intensidade.
7. No último fragmento, fixa
o efémero e repousa.
Nuno Júdice
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poesia porque sim
Vale Tudo...
Há as linhas amarelas; os objectos de cimento não identificados ("ocnis"); os parquímetros; os parques subterrâneos; as multas e há também os baldímetros - essa (nova)espécie de ocupador de espaço de estacionamento sem pedir e sem pagar licença para obras.
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curiosidade
domingo, novembro 18, 2007
sábado, novembro 17, 2007
Curiosidade
Se as moreias comem polvos e os polvos comem cavacos e os cavacos comem moreias, para quê meter os três dentro do mesmo aquário?!
Diz a sabedoria popular que quando metidas dentro do mesmo aquário, as três espécies não se atacam.
Foi mal entendida a lição.
Pobre moreia desdentada que já nem usa a razão.
Diz a sabedoria popular que quando metidas dentro do mesmo aquário, as três espécies não se atacam.
Foi mal entendida a lição.
Pobre moreia desdentada que já nem usa a razão.
quinta-feira, novembro 15, 2007
Perguntas
«Onde estavas tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teenagers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
OuAlende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.»
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teenagers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
OuAlende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.»
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Joaquim Pessoa
quarta-feira, novembro 14, 2007
Blowin´in The Wind ( Bob Dylan)
Aqui está o meu contributo para a mixtape, que está sendo composta aqui, aqui e aqui.Blowin´in the Wind, original de Bob Dylan, aqui interpretado por Katie Melua
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Katie Melua
segunda-feira, novembro 12, 2007
sábado, novembro 10, 2007
sexta-feira, novembro 09, 2007
Correnteza
imagem
Respondendo ao desafio da Clara
"Adolfo Casais Monteiro, José Régio, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner, Manuel da Fonseca, deveriam pagar tributo a Ezra Pound?"
Cesariny, Mário, "Ezra Pound (e os poetas)", in as mãos na água, a cabeça no mar, lisboa, assírio e alvim, 1985, p.161
"Nos edíficios sumptuosos mandados construir pelas pessoas mais notoriamente abastadas o arquitecto por um esforço violento da imaginação salpica o muro que deita para a rua com alguns dos ornatos interiores das casas"
Queiroz, Eça et Ortigão, Ramalho [coordenação de Maria Filomena Mónica], As Farpas - Crónica mensal da política, das letras e dos costumes,Lisboa, Principia, 2004, p. 161.
Passo o desafio ao Rodrigo, à Fátima e à Helena
161º página (s), 5ª frase (s) de livros, que estejam por perto.
Outra Vida
"Quero ser noutra vida mensageiro de emoções
De elefantes, baleias, cais e canções
Na preguiça do panda, na destreza do lince
Vou abrir a Pandora onde Deus não existe
Entre tudo e nada, saber quem sou
Quero ser noutra vida mensageiro de emoções
De golfinhos e águias, do silêncio das águas
Regressado aos sentidos e à razão dos bichos
Dos espaços perdidos, na asa de condor
No fundo do mar, saber quem sou
Quero ser noutra vida mensageiro de emoções
Porta-voz de ondas, tradutor de ilusões
Ser menos ainda que um pequeno carreiro
Descobrir o mistério do Universo inteiro
Emprestar a vida, descobrir quem sou."
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Letra e música João Afonso
quarta-feira, novembro 07, 2007
Trip(l)as à moda do PSD ou Juntaram-se os dois à esquina…
1- Depois de ouvir o debate na RTP/Açores entre os dois candidatos à liderança do partido social democrata pergunto: se para “9 ilhas, 9 programas eleitorais” (Costa Neves), também 9 bandeiras, 9 hinos e 9 governos?
E o candidato estará (mesmo) “de fato completo, com as sapatilhas calçadas, casaco e gravata”? (Natalino Viveiros)
Em todas as ruas e atalhos que Costa Neves diz conhecer, ter-lhe-ão faltado as que levam à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo? Seguramente que sim.
Frase da noite: “ No PSD/A respira-se bem.”(Costa Neves)
Paciência.
2- Na RTP/Açores, a reportagem transmitida a semana passada sobre uma missa rezada num local, a que não vou há muitos anos, reproduz uma ideia dos novos tempos: a limpeza por fora justifica a porcaria por dentro.
Tratava-se (isto para quem não souber) de uma reportagem sobre a ermida do Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada, que estava imunda, por dentro, no dia de todos os santos. Fez-me lembrar outros Carnavais, ou devo dizer armazéns?
3 - Lá em cima está o tiroliroliro
Cá em baixo está o tiroliroló
Lá em cima está o tiroliroliro
Cá em baixo está o tiroliroló
E o candidato estará (mesmo) “de fato completo, com as sapatilhas calçadas, casaco e gravata”? (Natalino Viveiros)
Em todas as ruas e atalhos que Costa Neves diz conhecer, ter-lhe-ão faltado as que levam à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo? Seguramente que sim.
Frase da noite: “ No PSD/A respira-se bem.”(Costa Neves)
Paciência.
2- Na RTP/Açores, a reportagem transmitida a semana passada sobre uma missa rezada num local, a que não vou há muitos anos, reproduz uma ideia dos novos tempos: a limpeza por fora justifica a porcaria por dentro.
Tratava-se (isto para quem não souber) de uma reportagem sobre a ermida do Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada, que estava imunda, por dentro, no dia de todos os santos. Fez-me lembrar outros Carnavais, ou devo dizer armazéns?
3 - Lá em cima está o tiroliroliro
Cá em baixo está o tiroliroló
Lá em cima está o tiroliroliro
Cá em baixo está o tiroliroló
terça-feira, novembro 06, 2007
Recomendação de Leitura
"(...) O homem massa sente-se perfeito. Um homem de eleição, para sentir-se perfeito precisa de ser especialmente vaidoso, e a crença na sua perfeição não está unida consubstancialmente a ele, nem é ingénua, antes lhe vem da sua vaidade, e até para ele mesmo tem um carácter fictício, imaginário e problemático. Por isso, o vaidoso necessita dos outros, procura neles a confirmação da ideia que quer ter de si mesmo. De sorte que nem mesmo neste caso morboso, nem mesmo "cego" pela vaidade o homem nobre consegue sentir-se na verdade completo. Pelo contrário, ao homem medíocre dos nossos dias, ao novo Adão, não lhe ocorre duvidar da sua própria plenitude. A sua confiança em si é, como que de Adão, paradisíaca. O hermetismo nato da sua alma impede-o do que seria condição prévia para descobrir a sua insuficiência: comparar-se com outros seres. Comparar-se seria sair um instante de si mesmo e transferir-se para o próximo. Mas a alma medíocre é incapaz de transmigração - desporto supremo.
Encontramo-nos, pois, com a mesma diferença que existe entre o estúpido e o perspicaz.(...)"
Ortega y Gasset,[Tradução de Artur Guerra],
A Rebelião das Massas, Lisboa, Relógio D´Agua,s.d., pág. 82
13,09 euros (Feira do Livro, 2006)
Comecei a relê-lo ontem. Tem sido até, agora, um livro de novas e agradáveis surpresas, que me tem lembrado, em alguns dos seus excertos, outros textos, como o poema Homens que são como lugares mal situados de Daniel Faria ou os versos de Miguel Torga, que ditam que: "Um contra o mundo, é pouco.
Mesmo que seja louco,
É muito pouco ainda.
Mas que pode fazer o homem que endoidece
E se esquece
De medir o poder do seu tamanho? (...)"
(Luta, Miguel Torga)
segunda-feira, novembro 05, 2007
Do not go gentle into that good night
"Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light."
Dylan Thomas
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poesia
domingo, novembro 04, 2007
Brainstorming
Escrever muitas coisas.
Peça é a palavra que me ocorre
Sempre que penso em escrever muitas coisas.
E muitas coisas não se escrevem com cedilha.
Muitas coisas são muitas coisas.
Um sorriso perdido no espelho,
As velas do bolo que devias apagar hoje,
A certeza inquieta de que não vens,
A mania de me lembrar destas coisas,
O trim-trim anunciado do telefone
Que já nem toca assim,
Pessoas à janela,
Os tapetes de flores,
As pesadas palavras,
Que correm por dentro,
Como se fossem de verdade,
As graças que não têm piada,
As futuras idílicas maneiras
Das meninas do largo,
Saltitando em cordas coloridas,
Os carros de corda dos meninos,
As mal pronunciadas consoantes,
As vogais femininas,
Os verbos de raiz melodramática,
A sombra, a cara, o cabelo despenteado,
Cortado e amarrado.
Peça pronunciada com um [c] cedilhado e pesado.
Um traço do que poderia ter redigido num papel,
A lápis, afoga-se de desgosto.
Talvez tenha vergonha de me perder
Nas linhas cruzadas do verbo escrever.
Talvez não seja nada disso e a minha atrapalhação
Não passe de uma transitiva maneira de ser
Ou talvez também não seja nada disto.
Há muitas coisas que não fazem
Sentido no decorrer dos dias.
Onomatopeicos sons das portas a arrastarem-se
No chão como sapatos fechados.
Giz de quadro. Qualquer palavra indecifrável
Sumida num arraial de vozes.
As mãos que se vão indo.
A dor de carregá-las dentro,
Como se fossem de verdade as recordações.
Um carro parado sem ninguém lá dentro,
As chaves pousadas fora da porta, no chão,
A entrada vazia da casa, as flores que
Deixam crescer daninhas pelo meio,
Defensoras acérrimas da liberdade dos outros.
Vinha escrever muitas coisas.
Dizer isto. Aquilo
O outro que não chegou. A pasta amarela
De carregar livros.
Um copo, um vaso, uma bola de futebol,
O cesto, o lume, a galinha,
A árvore, a asa, o bico,
O grão, o vento, a mão,
A gente, os nós, as nozes.
O tempo, o medo, o mundo,
A mala, o resto, a sombra
E uma cedilha repetida
Em muitas coisas
Pesadas como as peças
Que me faltam para continuar.
Peça é a palavra que me ocorre
Sempre que penso em escrever muitas coisas.
E muitas coisas não se escrevem com cedilha.
Muitas coisas são muitas coisas.
Um sorriso perdido no espelho,
As velas do bolo que devias apagar hoje,
A certeza inquieta de que não vens,
A mania de me lembrar destas coisas,
O trim-trim anunciado do telefone
Que já nem toca assim,
Pessoas à janela,
Os tapetes de flores,
As pesadas palavras,
Que correm por dentro,
Como se fossem de verdade,
As graças que não têm piada,
As futuras idílicas maneiras
Das meninas do largo,
Saltitando em cordas coloridas,
Os carros de corda dos meninos,
As mal pronunciadas consoantes,
As vogais femininas,
Os verbos de raiz melodramática,
A sombra, a cara, o cabelo despenteado,
Cortado e amarrado.
Peça pronunciada com um [c] cedilhado e pesado.
Um traço do que poderia ter redigido num papel,
A lápis, afoga-se de desgosto.
Talvez tenha vergonha de me perder
Nas linhas cruzadas do verbo escrever.
Talvez não seja nada disso e a minha atrapalhação
Não passe de uma transitiva maneira de ser
Ou talvez também não seja nada disto.
Há muitas coisas que não fazem
Sentido no decorrer dos dias.
Onomatopeicos sons das portas a arrastarem-se
No chão como sapatos fechados.
Giz de quadro. Qualquer palavra indecifrável
Sumida num arraial de vozes.
As mãos que se vão indo.
A dor de carregá-las dentro,
Como se fossem de verdade as recordações.
Um carro parado sem ninguém lá dentro,
As chaves pousadas fora da porta, no chão,
A entrada vazia da casa, as flores que
Deixam crescer daninhas pelo meio,
Defensoras acérrimas da liberdade dos outros.
Vinha escrever muitas coisas.
Dizer isto. Aquilo
O outro que não chegou. A pasta amarela
De carregar livros.
Um copo, um vaso, uma bola de futebol,
O cesto, o lume, a galinha,
A árvore, a asa, o bico,
O grão, o vento, a mão,
A gente, os nós, as nozes.
O tempo, o medo, o mundo,
A mala, o resto, a sombra
E uma cedilha repetida
Em muitas coisas
Pesadas como as peças
Que me faltam para continuar.
sexta-feira, novembro 02, 2007
terça-feira, outubro 30, 2007
Outubro
Se não fosse o mar de Inverno a rebentar nos olhos das pessoas e o tempo a parecer que morre nas mãos mais depressa do que há três meses; se não fosse a chuva a escalar-nos a cara, de volta a baixo como as lágrimas de riso ou de tristeza (mais vagarosas as últimas) diria que talvez pudessem ainda ser inventadas novas formas de escrever Outubro. Mas, o mês é isto. Uma tonalidade amarela enche-nos a memória e os dias passam depressa até ao Novembro, que ameaça ser mais rijo (ou mais valente). Agora todas as folhas caídas destoam da cor dos passeios e, quando chegam ao chão fazem o barulho das palmas. Como, por vezes, acontece no Teatro, quando se acabam os papéis e cai o pano.
Dezembro não tarda e trará com ele o vermelho dos baldes da praia, onde antes era possível guardar o mar e uma praia inteira de castelos e conchas e, de quando em vez, pequenos reis (só de brincar). A mão da minha mãe a apertar a minha, o pé do meu pai calçado no chinelo e o vento de outro Outubro a levar-nos pelo ar.
Para o Suplemento de Cultura de Outubro convidei os colaboradores: Susana Rosa, Renata Botelho, João Henriques, Nuno Martins, Mário Homem; Alexandre Pascoal e Célia Machado. Destaco na agenda o Festival de Cultura, que decorre na Ilha Terceira – Outono Vivo – até ao dia 4 de Novembro; a Exposição de Eduardo Nery, no Centro Cultural da Caloura e a Exposição de Nina Medeiros na Academia de Artes.
Por fim, dedico este Suplemento aos que fazem anos hoje.
Boas Leituras e até Novembro.
Nota de Abertura, Suplemento de Cultura do jornal Açoriano Oriental, a 30/10/2007.
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fotografia Célia Machado
domingo, outubro 28, 2007
sábado, outubro 27, 2007
Croniqueta L ou o Fífia vai tornar-se Bailarino do Asfalto
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O Fífia lembra um cuco pendurado na porta de um relógio antigo, largo das molas, de asa caída e bico torcido para baixo. Se fosse um objecto não era um alicate. Se fosse um segredo não era um cofre. Era o contrário de um e de outro. Talvez um cadeado aberto sem código ou uma pá de batedeira; quiçá um envelope aberto ou uma torneira de quintal pingando a cada três segundos. Boiando dentro de si próprio, o nosso Fífia chega agora no fim do mês; suspenso de si mesmo, como um suplente, abraçando-se às poeiras do desconhecido, qual D. Sebastião ou Quixote do novo século. Iluminado dos pés, mas escurecido da face, o Fífia lembra uma “Joaninha” romântica de umas Viagens narradas em pleno século XIX. Preso à janela da sua própria vida, o Fífia espreita, acena, gesticula e cochicha, mas não se atreve a por pé fora da soleira da porta do casebre que o abriga. Corajoso!
Na livraria, ao Domingo, levado pela mão da Ivéti, de quem nunca arriscou separar-se, mesmo passados estes anos todos, compra os livros que estão no Top. E trá-los todos dentro dos sacos de uma só vez, enfileirando-os nas prateleiras da sala, como troféus. A literatura, como a música ou a pintura, são para ele, nada mais, nada menos, do que poderosos apêndices do saber adquirido por pagamento. Nada de conhecimento, pesquisa ou procura. “Dá muito trabalho”, pensa, mas não diz. Agora, vai comprar uma bicicleta para circular na cidade; pedalada acima, pedalada abaixo, entre os carros, cheio de “speed”, como se fosse uma ave veloz. Já comprou ténis abotinados com botões, porque não sabe dar laços e fato de treino de calças largas. A partir de Novembro, vai ser uma alegria. A mãe e as tias vão construir-lhe uma cesta para levar a Ivéti e transportar o rádio para ouvir todas as notícias de meia em meia hora. Nem pode esperar pelo dia em que escorregará nas ruas asfaltadas do centro da cidade; sentir-se como o bailarino que sempre sonhou ser. Um “bailarino do asfalto” leve e solto, como as palavras que soletra pausadamente como se fossem versos de um poema. Parecem versos, mas não são. Cidadão e filho da terra e da mãe, o Fífia fará uso do asfalto novo que “coroa” as ruas da cidade, como se de uma graça se tratasse. E, quando o virmos deslizando, enfiado no fato de treino vermelho, transportando a Ivéti e o rádio de antena em forma de palhinha, a gente quase que se esquecerá do olhar perdido dos condutores dos carros enfileirados nas ruas asfaltadas da cidade, secos de esperar que caia o verde…
sexta-feira, outubro 26, 2007
quarta-feira, outubro 24, 2007
terça-feira, outubro 23, 2007
José Cardoso Pires, caçador de enigmas
“Quando um escritor escreve um livro não quer que a história dê para contar, quer que dê para pensar”, escreveu Maria Lúcia Lepecki na conferência intitulada “Sobre José Cardoso Pires”, integrada na obra, que homenageia este escritor português do Século XX, intitulada: “Actas do 3º encontro de Professores de Português – A língua mãe e a Paixão de Aprender”. O livro, que escolho, nesta crónica, para recomendar chama-se O Delfim. Uma obra que tem, na minha opinião, a grande mais valia de não conduzir os leitores a um desfecho pontual, mas sim de levá-los a pensar como foi elaborada a trama e quais os papéis que o autor lhes estendeu na palma das mãos para que o lessem, estudassem e pensassem. Não esperar, por isso, que o autor ofereça o corpo do texto sem nenhum desafio é a lição primeira. Não esperar que a história aqui narrada se conte sem “pedir” nada em troca é a lição segunda.
O epíteto “caçador de enigmas” que uso para título desta crónica aparece porque penso que, para além da “caça” que está na implícita na acção do texto, ela está também presente como substantivo de atenta e cuidadosa procura; tornando-se mote de escrita do romance. José Cardoso Pires, o autor, é, assim um caçador; o sujeito que de caneta em punho vai enrolando o leitor, enquanto espalha personagens por dentro de histórias múltiplas que se sucedem e encadeiam tal qual como num enigma, que é, tão só, o mote da leitura. E, como não há duas sem três, entender que em cada leitura deve o leitor ter sempre presente a noção de que o autor procurou criar um leitor aberto às inovações do discurso, quer ao nível da técnica da escrita, quer ao nível dos conteúdos ficcionais é a lição terceira.
O livro permite seguir a linha do pensamento do escritor. Sabemo-la circular como a “lagoa”. Circular como um olho, a pedir que a leitura seja atenta, pausada e, sobretudo, pensada.
José Cardoso Pires nasceu em São João do Peso, em Vila do Rei, a 2 de Outubro de 1925. Foi oficial da Marinha Mercante, jornalista, redactor. Colaborador de várias publicações entre as quais a revista Almanaque, Diário de Lisboa, Gazeta Musical e Todas as Artes, Revista Afinidades. Escreveu mais de uma dezena de livros, dos quais se destacam, além da obra supracitada, as reconhecidas obras de arte: “Balada da Praia dos Cães”; “ De Profundis Valsa Lenta”; “Lisboa, livro de bordo”, entre outros. Algumas das suas obras, como “ O Delfim” foram adaptadas para o cinema. Ganhou em 1998, ano da sua morte, o Grande Prémio da Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
Termino, citando-o: “(…) Aqui tens, José, o homem que te interroga. Que te fuma e te duvida. Que te acredita. E com esta me despeço, adeus até outro dia, e que a terra nos seja leve por muitos anos e bons neste lugar e nesta companhia. Pá, apaga-me essas rugas. Riscam o espelho, não vês?” (in Cardoso Pires por Cardoso Pires, entrev. de Artur Portela, 1ª edição, Publicações D. Quixote, 1991, 124 p., pp. 89-94”
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publicada no jornal Correio do Norte
domingo, outubro 21, 2007
"Advice is a form of nostalgia."
Everyone Must See This! - Watch a funny movie here
Video baseado num artigo que saiu no Chicago Tribune, de Mary Schmich, em Junho de 1997.
sexta-feira, outubro 19, 2007
anotações...
"(...)In the face of a society that seems to unquestionably accept the deterioration of our modern quality of life, Carfree Cities is a beacon of sanity that offers a starting place to discuss practical solutions to the danger, pollution and breakdown of social systems which are a direct result of autocentrism. By rejecting the assumption that continued car use in cities is inescapable, Crawford takes us one step closer to the tantalizing possibility of returning to the natural human pattern of lively and productive street life enjoyed for thousands of years, and disrupted just 70 years ago with the advent of automobiles."
Daqui com mais anotações em www.carfree.com
quarta-feira, outubro 17, 2007
Comienza un Lunes
«La eternidad por fin comienza un lunes
y el día siguiente apenas tiene nombre
y el otro es el oscuro, el abolido.
Y en él se apagan todos los murmullos
y aquel rostro que amábamos se esfuma
y en vano es ya la espera, nadie viene.
La eternidad ignora las costumbres,
le da lo mismo rojo que azul tierno,
se inclina al gris, al humo, a la ceniza.
Nombre y fecha tú grabas en un mármol,
los roza displicente con el hombro,
ni un montoncillo de amargura deja.
Y sin embargo, ves, me aferro al lunes
y al día siguiente doy el nombre tuyo
y con la punta del cigarro escribo
en plena oscuridad: aquí he vivido.»
Eliseo Diego (1920/1994)
domingo, outubro 14, 2007
sexta-feira, outubro 12, 2007
Possibilidades
«Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando dos homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar
que a razão é a culpada de tudo.
Prefiro as excepções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o rídiculo de escrever poemas
ao rídiculo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não redondos
para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas,
que não prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingénua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter objecções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fadas de Grimm às manchetes dos jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
a outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila de algarismo.
Prefiro o tempo do insecto ao tempo das estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro levar em consideração até a possibilidade
do ser ter a sua razão.»
Wislawa Szymborska
poema incluído na antologia: Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim, Porto, 2001, pág. 1614.
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Poesia estrangeira
quinta-feira, outubro 11, 2007
quarta-feira, outubro 10, 2007
segunda-feira, outubro 08, 2007
domingo, outubro 07, 2007
Postal Pintado
Do coração se perde o traço
como se ao espaço breve da expressão - pertencer a alguma coisa -estivesse atado
um lenço branco com raízes de chuva e ilhas de vento para não doer mais esta coisa de se ser do meio do mar desarmado ou desalmado.
No refúgio quase inesgotável do que se escreve, há um eco sonoro, alto e farto que berra dentro como um grito queimado, apagado por um sopro infantil de quatro velas num bolo.
Batemos palmas, sorrimos e o coração sem traços não se desfia, porque é de pedra e dentro guarda um tesouro secreto.
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foto Célia Machado
sábado, outubro 06, 2007
Recomendação de Leitura
"(...) Ao contrário do que acontece com o futuro, não podemos "escolher" o nosso passado cultural biográfico; podemos esquecê-lo num gesto de amnésia histórica; podemos reconstruí-lo de modo a que se adeqúe aos nossos interesses presentes; ou podemos condensá-lo no presente; a fim de demonstrar a continuidade da tradição cultural como parte da confluência de uma história partilhada. (...) O passado cultural é uma presença incubatória nas nossas vidas (Gramsci): vivemos com ele ou de acordo com ele, conversamos com ele continuamente, e embora a forma como vemos o passado se modifique, ou o diálogo possa desenvolver-se de modos inesperados, o passado torna-se "nós", tal como o futuro nos toma.(...)"
"Ética e Estética do Globalismo: Uma Perspectiva Pós-Colonial", Homi K.Bhabha, pp. 29 e 30, recensão incluída na obra a urgência da teoria, resultante das conferências do Forum Cultural: Estado do Mundo, uma das iniciativas dos 50 anos da Fundação Calouste Gulbenkian. A obra contém as conferências de Homi K. Bhabha, Andy C. Pratt, Antonio Cicero, Bernard Stiegler, Danièle Cohn, Daniel Miller, Filipe Duarte Santos, Marc Ferro, Medhi Belhaj Kacem, Miguel Vale de Almeida, Paul D. Miller, Paul Gilroy e Pedro Magalhães.
Recomendo.
AAVV, a urgência da teoria, Lisboa, Tinta da China, 2007.
à venda na Livraria Solmar, 15 euros.
sexta-feira, outubro 05, 2007
quarta-feira, outubro 03, 2007
Muriel
«Às vezes se te lembras procurava-te
retinha-te esgotava-te e se te não perdia
era só por haver-te já perdido ao encontrar-te
Nada no fundo tinha que dizer-te
e para ver-te verdadeiramente
e na tua visão me comprazer
indispensável era evitar ter-te
Era tudo tão simples quando te esperava
tão disponível como então eu estava
Mas hoje há os papéis há as voltas dar
há gente à minha volta há a gravata
Misturei muitas coisas com a tua imagem
Tu és a mesma mas nem imaginas
como mudou aquele que te esperava
Tu sabes como era se soubesses como é
Numa vida tão curta mudei tanto
que é com certo espanto que no espelho da manhã
distraído diviso a cara que me resta
depois de tudo quanto o tempo me levou
Eu tinha uma cidade tinha o nome de madrid
havia as ruas as pessoas o anonimato
os bares os cinemas os museus
um dia vi-te e desde então madrid
se porventura tem ainda para mim sentido
é ser solidão que te rodeia a ti
Mas o preço que pago por te ter
é ter-te apenas quanto poder ver-te
e ao ver-te saber que vou deixar de ver-te
Sou muito pobre tenho só por mim
no meio destas ruas e do pão e dos jornais
este sol de Janeiro e alguns amigos mais
Mesmo agora te vejo e mesmo ao ver-te não te vejo
pois sei que dentro em pouco deixarei de ver-te
Eu aprendi a ver a minha infância
vim a saber mais tarde a importância desse verbo para os gregos
e penso que se bach hoje nascesse
em vez de ter composto aquele prelúdio e fuga em ré maior
que esta mesma tarde num concerto ouvi
teria concebido aqueles sweet hunters
que esta noite vi no cinema rosales
Vejo-te agora vi-te ontem e anteontem
E penso que se nunca a bem dizer te vejo
se fosse além de ver-te sem remédio te perdia
Mas eu dizia que te via aqui e acolá
e quando te não via dependia
do momento marcado para ver-te
Eu chegava primeiro e tinha de esperar-te
e antes de chegares já lá estavas
naquele preciso sítio combinado
onde sempre chegavas sempre tarde
ainda que antes mesmo de chegares lá estivesses
se ausente mais presente pela expectativa
por isso mais te via do que ao ter-te à minha frente
Mas sabia e sei que um dia não virás
que até duvidarei se tu estiveste onde estiveste
ou até se exististe ou se eu mesmo existi
pois na dúvida tenho a única certeza
Terá mesmo existido o sítio onde estivemos?
Aquela hora certa aquele lugar?
À força de o pensar penso que não
Na melhor das hipóteses estou longe
qualquer de nós terá talvez morrido
No fundo quem nos visse àquela hora
à saída do metro de serrano
sensivelmente em frente daquele bar
poderia pensar que éramos reais
pontos materiais de referência
como as árvores ou os candeeiros
Talvez pensasse que naqueles encontros
em que talvez no fundo procurássemos
o encontro profundo com nós mesmos
haveria entre nós um verdadeiro encontro
como o que apenas temos nos encontros
que vemos entre os outros onde só afinal somos felizes
Isso era por exemplo o que me acontecia
quando há anos nas manhãs de roma
entre os pinheiros ainda indecisos
do meu perdido parque de villa borghese
eu via essa mulher e esse homem
que naqueles encontros pontuais
Decerto não seriam tão felizes como neles eu
pois a felicidade para nós possível
é sempre a que sonhamos que há nos outros
Até que certo dia não sei bem
Ou não passei por lá ou eles não foram
nunca mais foram nunca mais passei por lá
Passamos como tudo sem remédio passa
e um dia decerto mesmo duvidamos
dia não tão distante como nós pensamos
se estivemos ali se madrid existiu
Se portanto chegares tu primeiro porventura
alguma vez daqui a alguns anos
junto de califórnia vinte e um
que não te admires se olhares e me não vires
Estarei longe talvez tenha envelhecido
Terei até talvez mesmo morrido
Não te deixes ficar sequer à minha espera
não telefones não marques o número
ele terá mudado a casa será outra
Nada penses ou faças vai-te embora
tu serás nessa altura jovem como agora
tu serás sempre a mesma fresca jovem pura
que alaga de luz todos os olhos
que exibe o sossego dos antigos templos
e que resiste ao tempo como a pedra
que vê passar os dias um por um
que contempla a sucessão de escuridão e luz
e assiste ao assalto pelo sol
daquele poder que pertencia à lua
que transfigura em luxo o próprio lixo
que tão de leve vive que nem dão por ela
as parcas implacáveis para os outros
que embora tudo mude nunca muda
ou se mudar que se não lembre de morrer
ou que enfim morra mas que não me desiluda
Dizia que ao chegar se olhares e não me vires
nada penses ou faças vai-te embora
eu não te faço falta e não tem sentido
esperares por quem talvez tenha morrido
ou nem sequer talvez tenha existido.»
terça-feira, outubro 02, 2007
segunda-feira, outubro 01, 2007
domingo, setembro 30, 2007
Nota
Anda há muito tempo, a teimosa letra [a] a tentar emancipar-se da aspirada letra [h] e levar-lhe acento e tudo. Pobre agá. Desaparecerá sem assento para descansar ou circunflexo para o proteger. Caso grave e agudo, pois que o tempo de existir é de haver com a letra [h]...
sexta-feira, setembro 28, 2007
quarta-feira, setembro 26, 2007
terça-feira, setembro 25, 2007
Vezes
Passados os meses de Verão é tempo de regressar.
Temos regressado aos poucos com a agilidade dos movimentos, nalguns casos perros, lembrando autênticas e, nem por isso, menos nobres, maquinarias de museu. Seja assim, que já não é mau, dirão alguns, enquanto uns outros, porventura os mais afoitos, exclamarão alto e em bom som: cuidado!
Do mês que se passou lembro a (inesperada) morte de Eduardo Prado Coelho, figura nobre da Cultura portuguesa do século XX, que ao país e aos portugueses fará a falta, quase essencial, que fazem as pessoas que pensam (e sentem) por conta própria.
Setembro está quase no fim. Daqui a nada será substituído por Outubro para que o mês amarelo nos conduza ao Natal, que é vermelho e branco. Lembrando o Natal, vem-me à memória por associação (talvez) o poeta português David Mourão Ferreira: “ E por vezes as noites duram meses/E por vezes os meses oceanos/E por vezes os braços que apertamos/nunca mais são os mesmos/ E por vezes (…) E por vezes sorrimos ou choramos/ E por vezes por vezes ah por vezes/ Num segundo se envolam tantos anos.”
O ano de 2007 está quase no fim. Resta-lhe, na algibeira, para tirar como sortes mais umas vezes, aonde se espera que, conscientemente, cheguemos à conclusão de que não queremos levar para 2008 pessoas que sejam como balcões encerrados para balanço; que ceguem como nós dados nos cordões dos sapatos; pessoas que pareçam de colar e de decalcar. Pessoas que sem vezes lembrem nada.
Boas leituras. Até Outubro.
Nota de Abertura, Suplemento de Cultura do Jornal Açoriano Oriental, 25.09.2007
Colaboram nesta edição Célia Machado, José Augusto Soares, André Rodrigues, Ana Teresa Almeida e Rogério Sousa.
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foto Célia Machado
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