segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Croniqueta X ou Fífia era conhecido por Cera



Comprou fato para o Baile, sapatos a condizer e lá foi o nosso Fífia pendurado nos seus óculos de armação doirada, enfiado no seu fatinho para peso pluma, encavalitado em cima da cesta. Fê-la com rodas para transportar melhor os chouriços e ele, que de si, parece uma linguiça, só que, longe das nossas tradicionais, não tem sal e sofre de falta de pimenta.
Ia bem vestido, para alegria da mãe, que ficou sentada no carro, a vê-lo entrar, brilhante e fino. Só lhe faltava uma Maria, que é como ele trata as Mulheres. Marias ou home divas (nome que aprendeu na Rádio, enquanto ouvia falar um deputado da Assembleia Legislativa Regional).
O baile correu mais ou menos. Passou a noite, seguindo as “estrelas” que por lá andavam e bebendo cerveja. Resultado, chegou ao fim acompanhado, não por Marias ou home divas, mas antes, por 15 ou 20 loirinhas espumantes, como disse ao pai, para alegrá-lo, não fosse ele pensar que o nosso Fífia tinha estado sozinho. O sonho dele, mesmo, era dançar com a presidente da Câmara Municipal, mas depois ficou com vergonha e optou por passar a noite reconhecendo o Coliseu Micaelense. Ainda não tinha ido ali depois das obras, por isso, ainda não vira quão bonito e brilhante estava todo aquele espaço, até dava para escorregar no chão, deslizar. Como gosta muito de deslizar, chegando mesmo, até na escola, a ser conhecido como o “cera” o nosso Fífia passou toda a noite a deslizar chão fora como se fosse uma libelinha.
Chegada a hora de ir para casa, pôs-se a beber cafés, mas mesmo assim, quando entrou no carro, soluçava e ria às gargalhadas: 20 Home Divas, mãe! Todas loiras! – gritava, enquanto a mãe assistia ao, como explicou às amigas: “ crescimento do meu Fífia”, acrescentando que moças loiras não o largavam no baile, deixando o coitado gasto.
Daí a razão de na Revista de Domingo ter saído o querido Fífia deslizando no corrimão do Coliseu Micaelense.

sábado, fevereiro 25, 2006

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Croniqueta IX ou o Fífia é um assobio de água ou as galinhas não têm dentes...



O Fífia é um homem de status. Quando fala parece que está em cima de um degrau de 4 metros. Cresce e torna-se tão grande e folheado como um chorão, aquelas plantas espadaúdas, magras e esbeltas, quais gazelas, mas de cujo tronco, nascem ramos leves, quebráveis ao primeiro sopro.
O Fífia é assim: um sujeito esganiçado que, quando atiçado pela liberdade dos outros, perde, rapidamente, a calma. Enfim…chorão.
Quando se lhe dá o vento, o Fífia parece um assobio, daqueles que para fazerem barulho, temos que por água dentro. Assim é o “nosso” Fífia metem-lhe água e começa a gritar. O Fífia parece um helicóptero com as hélices no ar. As mãos, ou as pás (para fazer valer a comparação!) agitam-se nervosas. Atira papéis. Salta e pronto está a popa desfeita, o tapete arrumado e o querido Fífia Aladino arruma as pinturas e é indescritível. Entorna-se o caldo (de galinha).
O Fífia tem ar de galinha. Bico de galinha. Não tem dentes. O Fífia é a regra.
Gosta de se ouvir falar. Debruça-se, dá um “nó” nos olhos, que é como quem diz, tenta enrola-los ou como quem diz tenta hipnotizar os presentes e fala, fala, fala, fala, mas só o ar acaba por dizer tudo. Das palavras nada a manifestar. Mas das gravatas…minha nossa senhora.
O Fífia compra gravatas nas lojas de marca. Tem de seda e linho para as pendurar caídas no seu gargalo fino de Fífia. Mas come de boca aberta…
Às vezes, parece que só elas o seguram à vida que leva.
O Fífia está lá preso pelo gargalo. O Fífia é uma aparência. O problema é que o Fífia será sempre boneco de palha, marionette, estátua de cera e outros epítetos comuns aos que andam sempre por aí vestindo Gant, usando perfumes caros, falando alto ao telemóvel, no meio da rua.
O Fífia é um sabonete de cesta da casa – de - banho. Mas, sem forma. Decorativo, cheiroso e mais nada.
O Fífia, já tinha dito, escreve para os jornais. 6000 caracteres não chegam para explicar uma ideia. Chegados ao fim. Ficamos sem perceber. Era sobre o quê?
O Fífia escreve sobre o que não interessa às pessoas.
O Fífia não escreve. Deita fora palavras como quem aponta mas não acerta.
O Fífia é um desacerto.
Uma agulha sem linha, cujo único motivo de regozijo é o aperto do elástico das cuecas.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Croniqueta VIII ou o Fífia é uma Enguia



O Fífia é rapaz de metro e qualquer coisa. Pouco regular nos pesos, mas frequentador assíduo de ginásios. Lá, corre nas passadeiras rolantes. Em casa, apanha ares na cadeira de balouço do século XVI, que guarda religiosamente. Uma relíquia diz, enquanto explica que: não é propriamente A Relíquia de Eça de Queirós, mas anda lá perto. E, depois, promete um dia fazer o percurso de Almeida Garrett, em Viagens na minha Terra, porque lhe parece ter havido ali um certo esquecimento. Então não é que o Dr. não incluiu na Viagem os Açores e a Madeira? Português que se preze inclui as Regiões Autónomas!- protesta na livraria, aonde compra todos os dias dois livros. Um Romance e uma Novela. Anda a ler de António Lobo Antunes: Os Cus de Judas, mas teve que forrar a capa por vergonha de estar nas esplanadas a ler aquilo diante das outras pessoas. Comprou-o pensando tratar-se de outra coisa. No final, enganou-se, vai a meio, e ainda não percebeu nada da história. Outro dia, indeciso entre comprar o Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago ou Madona de Natália Correia, acabou optando pelo segundo dado que: o primeiro é para os invisuais e neste, “sempre hei-de ficar a conhecer melhor a história da cantora”!Quando era pequeno, o Fífia queria ser bailarino, mas o pai zangou-se e a mãe chorou e depois ele desistiu logo; depois pensou ser actor. Entrar pelo palco dentro de cabeleira postiça, de bigode, às vezes, de barba outras, sentir todo aquele pêlo no rosto. Que vontade tinha! Porém, não foi actor. E nunca teve barba, bigode, pêra, ou sequer, mosca. De verdade ou a fingir!
Outro dia, foi comprar uns sapatos. Tenho o mundo aos meus pés. Preciso de uns sapatos angulares. Bicudos. Para além do mais, além de disso, só com sapatos desses sou capaz de adivinhar o futuro! A senhora fez-lhe a vontade. Comprou umas botas à cowboy. Anda feliz e agora até pensa arranjar um cavalo. Assim como assim, é defensor do ambiente e em vez de andar de bicicleta, a cansar-se e a gastar o alcatrão das ruas por onde passa, porque não arranjar um cavalo? Veremos.
Hoje foi à livraria e comprou, para variar, um manual de instruções, O Principezinho de Saint-Exupery.
Livro barato, pensou. A partir de agora é que vou saber como viviam os príncipes. Neste livro, até verei, como se faz um homem, príncipe, desde pequenino.Para além desse, levou a Conspiração de Dan Brown
Nunca se sabe quem pode conspirar contra nós. Mais vale prevenir do que remediar.
O Fífia é uma enguia!

domingo, fevereiro 19, 2006

Saudades






Para matar saudades há mais aqui.

sábado, fevereiro 18, 2006

Flik-Flak à rectaguarda

“ (…) Que fiquem todos esclarecidos (e, alguns, tranquilos): - nunca aceitaria ser Ministro da República para qualquer das Regiões Autónomas; jamais aceitaria ser Representante da República para qualquer das Regiões Autónomas. (…)”

Excerto de carta de João Bosco Mota Amaral publicada ontem no Jornal dos Açores.

Polivalências

"As aves migratórias não passam por Lisboa, quer dizer por Portugal", disse uma senhora, hoje, na plateia do Teatro Micaelense, enquanto assistíamos à peça Romeu e Julieta.
A isto chama-se polivalência.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Croniqueta VII ou os homens não se medem pela cor das gravatas

O Fífia deu bandeira.
Irritou-se, revoltou-se, tremeu...enganou-se. Agora, anda para aí "sujeitinho e tilento" enfiando, como se diz, os pés pelas mãos, pelas falas e pelas letras que, doido, escreve à noite, iluminado por uma vela, dramaticamente à moda do século XVI, tentando-se explicar, fazendo de conta que não quer o que realmente quer e julgando todos os presentes e os ausentes os mesmos seres tolos nos quais ele, qual mito engravatado de fina flor de nata especial, depositou, em tempos, algumas esperanças.
O Fífia vive de Memórias. Muito à semelhança da história da Condessa de Ségur. Só que mais afinado e aprumado. Cavalgando em cenas de glória, o Fífia não tem dormido bem de noite; acorda sobressaltado, gritando...Autónomo, quanto baste, o Fífia tem modus vivendi egocêntrico, abusando do uso dos pronomes possessivos como se tudo fosse dele. Só dele. Terei que chamá-lo, pai? Deus nos livre. Mas eu sei que ele gostava, que ia por aquele arzinho paternal e fofo de quem, por se julgar grande, atrevidamente comprido, pense que é pai de todos. Revela-se diariamente longe de todos.
O Fífia comprou um computador, que trouxe dentro da pasta um candeeirinho e uma pasta para guardar coisas. Que contente ficou. Provavelmente, guardará estes textos e todos os outros que falam dele ou, então, entrará nos comentários e escreverá nomes anónimos mandando-me "cavar batatas"; pode que se me mandasse catar gravatas, eu encontrasse a dele, preta e definhada enrolada numa bandeira. Triste e apodrecida. Historicamente emblemática.
O Fífia quer ter um Blog. Já arranjou quem lhe fizésse o Template. Mas vai assinar com pseudónimo. Vai chamá-lo Memórias do Fífia. Preparem os lenços. O Fífia vai contar das suas bandeiras. As que deram forma, corpo e alma fífado - a este Fífia!
Tenho sérias dúvidas de que tal venha a acontecer. O Fífia já não é o mesmo. Ou nunca foi. Desfia-se em projectos, mas não os cumpre. Diria que tenta a todo o custo "arrumar as botas"; às vezes zanga-se e parece um coelho feito de cartolina e fio.
Desterrado ou aterrado em terras palacianas alheias, o Fífia perdeu o norte. Parece que confunde as cores e trava batalhas, disfarçando-se, ao canto do ringue de D.Quixote, vendo na sua terra natal, uma espécie de Castelo imaginário, onde acabará rico e cheio de fortuna, entre os nativos - Sanchos Panças.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego, dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,

deixa passar a Vida!

O Sol nas Noites e o Luar nos Dias, II

Natália Correia

E o Fífia disse:

- Não quero brincar mais!
És má.
E eu disse:
- Pois sou.
E ele:
-Chata.
E eu:
-Ah pois.
E ele:
-Vou-me embora
E eu:
- Vai. Já vais tarde.
E ele:
-Burra!
E eu:
-Estúpido.
E ele:
-Adeus.
E eu:
-Até amanhã!
E ele:
- Vais levar uma chapada!
E eu:
-Dá.

E não é que ele deu?
Não posso falar mais do Fífia!

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Croniqueta VI ou o Fífia é um lugar comum




Para o Nuno Barata


Agora o Fífia diz que é poeta, artista, médico de palavras; que sabe fazer “rimas de estreia”, daquelas que dão à costa, quando um homem mal espera: uma dor que queda em lágrima e desaba num suspiro...
O Fífia é um ser cultural. Vagueia pela cidade como um til ~. Assim mesmo como sinal gráfico. O Fífia é um acento gráfico ondulado. Sem assento. Fanhoso como só o til torna as palavras. O Fífia é fanhoso, mas não sabe. Nunca se ouve. Eu ouço-o. Fanhoso no vestir, no andar, no falar, até no zangar. O Fífia é o rei dos fanhosos. Parece o apito da carrinha que vende chicharros aos Sábados.
O Fífia continua a pensar que é grande e passeia-se nas ruas, todo esticado, como se por cima da sua cabeça houvesse uma linha, que o tivesse preso pelas orelhas.
O Fífia está fora de moda. Mas não faz mal. Adora estórias e conta-as. Sempre as mesmas. Sempre iguais. Sempre com o mesmo ritmo e o mesmo arrastar das mesmas sílabas.
Agora é decorador, diz. Decorador de versos. É vê-lo, de noite, com a sua touca de dormir, o gato por espectador, dependurado em cima da poltrona, de olhos fechados, a dizer em tom silabado e esticado, melancólico, agri-doce, suculento e feio..: “ Ai! Dona Inês! Dona Inês! Quem foi que la matou?” ou “ Eu tenho um cavalo preto selado para ir ter contigo!”.
Este último verso di-lo em frente ao espelho apontando para o seu reflexo e sorrindo, manhoso, no arrastar da palavra: “contiiigo!”. O Fífia é um narciso. Eu comigo vou contigo ao Supermercado. Comprar pão para nós os dois. Diz isto todas as manhãs ao espelho. Fala de si e do seu reflexo. O Fífia é um egoísta! Não distingue poema de verso. Ele próprio do seu reflexo. O Fífia é um papel químico. Roxo. Gasto. Inadaptado. O Fífia é um pão a meias para dividir por dois dias e ser comido só por uma pessoa. Não conhece partilhas, conversas descontraídas e abertas. O Fífia não tem amigos. Tem a sua imagem no espelho. O seu gato e as suas fotografias nas revistas. Ele ouvindo um concerto. Ele no lançamento de um livro. Ele na fotografia do seu bilhete de identidade. O Fífia diz-se Democrata. Doador de graças, entendidas como os sorrisos automatos que distribui ao povo, quando "tilamente" desfila nas ruas.
Quer concorrer à Herança. O programa mais cultural, caracterizador da excelência da sociedade portuguesa, diz. O Fífia é um estudioso. Na estante, folhas e folhas de papel, projectos de livros que ele, coitado, um dia escreverá. (ao rumo que as coisas vão pode mesmo que escreva). Anda a ensaiar um pseudónimo. Podia escolher o primeiro nome de um escritor ou de uma escritora e mudar-lhe o sobrenome. Chegou à conclusão de que podia chamar-se Fífia Só por Si, sigla "F., SS".
Mandou fazer uma placa para pendurar ao pé do seu número da porta. Diz assim: Homem bom. Cidadão exemplar. Mora aqui. Diz ele que é para prevenir dos ladrões. Vai mandar fazer agora um acrescento a dizer: Fífia. Poeta e tudo relacionado.
Andou a ensaiar o resumo e chegou à conclusão de que “tudo relacionado” queria dizer:
Poeta Fífia. Homem de Cultura. Cais de amarração das palavras. Bons costumes. Tradição. Herança. Decorador de Versos. Justo. Amado pelo seu gato. Bem apresentado. Bom comunicador. Excelente actor. Profissional. Solteiro. Bom senhor (hesitou no rapaz, mas…descobriu um cabelo branco no sovaco e a ideia caiu por terra).
É sócio do clube de cartas e aos sábados enche-se de coragem e sai porta fora, faça chuva ou faça sol, de guarda-chuva para prevenir a água e a queimadura, porque a sua pele branca, quase cadavérica, não pode sofrer as agruras das manifestações da natureza. O Fífia não escapa a uma nortada, um sopro, um bafejo ou, quiçá, a um beijo.
O Fífia é uma flor de estufa. Um texto que se escreve para não se estar calada. Um comentário que se faz porque se quer dizer coisas. O Fífia é o excedente. A voz que grita. O Fífia é um resto de nada. Um flash de fotografia roubada. Uma luz. Uma gargalhada. Um astro caído. Uma mosca na sopa. Um lugar comum…qualquer coisa sempre mais do que um…
O Fífia está sempre a mais. É o que resta!

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Leio



"(...) Outro valor perdido é o da vergonha. Notaram que as pessoas já não têm vergonha e que, então, acontece que entre pessoas de bem se pode encontrar, de sorriso aberto, qualquer sujeito acusado das piores corrupções, como se nada fosse? Noutro tempo, a sua família ter-se-ia enclausurado, mas agora é tudo o mesmo e alguns programas de Televisão solicitam-no e tratam-no como um senhor.(...)"

Ernesto Sabato (pág.47)
Ensaios
Editora: Dom Quixote
Data: 2005
Título Original: La Resistencia
Trad: Carlos Aboim de Brito; 130 páginas

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Dúvida




Pergunta nº 1
Será que para o nosso João os Açores são um balão?!

Tipo:
O balão do João
Sobe, sobe pelo ar.
Está feliz o petiz
A cantarolar.
Veio o vento a soprar
Leva o balão pelo ar.
Fica então o João
A choramingar.

domingo, fevereiro 12, 2006

Croniqueta V ou a coluna do Fífia é feita de gama



Agora, o Fífia é Doutor. Com a chegada do Carnaval, já mandou fazer o fato e, pasme-se, talhou-o bem talhado, no desfile de vaidades, vai vestido de Super-Homem com meia e tudo a condizer…ah grande Fífia. Não fosse o olhar sibilino de sempre e até passava despercebido.
O Fífia continua a pensar que é grande. (A culpa é nossa).
Diz que é poeta e cronista, que escreve a metro. O Fífia diz que nasceu para as palavras. O Fífia é um resguardado; um lençol de seda mal dobrado, uma rima, que por ser estrela, desafina, ao canto do céu nublado.
O Fífia não tem charme nem chama. Fala de cor. Não acredita, mas pensa que sim...
Agora foi convidado para escrever para o jornal. Exigiu canto para a fotografia com legenda: “poeta, cronista e autor de cantigas mil, falador, comentador, membro distinto do grupo de música sacra feed-back”.
Entre nós, temos artista…mas não sabíamos. Acha-se herdeiro de Fernando, “o tipo dos óculos redondos”,como adjectiva Fernando Pessoa. Nas suas crónicas diz ser a pessoa que para nós tem uma mensagem; um nobre escrito, que nos namora.
O Fífia é um iletrado. Os textos que tem escrito com 3500 caracteres, plágios autênticos, fazem dele figura singular. Qualquer dia, vê-lo-emos, qual outra figura nacional, limpa do carácter e arejada pelas marés de mudança, destilando versos e miraculosas imagens sobre o Portugal de hoje. O Fífia conhece essa costumeira limpeza de carácter, fielmente portuguesa, orgulhosamente lusitana. Pobre Viriato.
A ele, o Fífia dedicou a crónica Voz dos Deuses e fez do autor, um personagem da sua crónica. Ninguém lhe chamou a atenção. Diz-se surfista das Brumas de Avalon, narrador dos Desastres de Sofia, mas ninguém o acusa de nada. Continua, vivo e fiel às "sete colinas" dos Açores, aonde inclui a lenda que diz ter inventado, das Sete Cidades.
Triste e enganado, o Fífia enche-se de um valor que não tem e aos Sábados fala da Mulher de Porto Pim, uma senhora, ou dama, que conhecera, em tempos, na Graciosa. Mentiroso.
O Fífia não vale nada, por isso empenha-se na agregação de calinadas para levar a jantares e fados aos Sábados à noite quando, em visita, a casa, se deixa juntar a velhos amigos de outras fortunas.
O Fífia não tem plural; é tão único como a palavra lápis com a diferença de que não escreve por si nem nunca se afia. O Fífia não alumia, não rejuvenesce, não se recria. O Fífia é único.
Em Lisboa acostuma-se aos Lisboetas, com ar de Guerra Junqueiro, óculos de Eça de Queirós, manha do personagem Carlos da Maia galopa em diversos cenários, qual figura de cera ou estátua de sal. Porém, descoberto como uma qualquer imagem desfocada de um pintor de terceira categoria. Crítico, mal aparentado com teorias pouco abonatórias, descritas num português do Brasil, o Fífia é uma versão mal copiada da geração de 70. Inventa palavras, discursa...
Já arranjou um marceneiro para lhe fazer um palanque, porque agora, segundo diz, quer ser Representante dos Oprimidos. Quer que seja iluminado com uma lâmpada vermelha por cima da cabeça de desligar e ligar, porque o queridinho Fífia diz ser poupado e atento às leis da poupança. Já anda a ensaiar para orador. Aos Domingos, no café, fala de Eduardo Lourenço e Prado Coelho, dizendo ter sido colega deles e de Agostinho da Silva.
O Fífia é uma cópia de gente.
Na discoteca, quando vai, faz poses.
Baixa os braços, levanta-os…Esquece-se e falha num rodar de olhos vesgos e nariz inenarrável. Gostava de ser o Patrick Swayze, talvez o John Travolta, mas o Fífia rodopia, dá a volta e não traz nada de novo. Uma desgraça.
O Fífia é uma parcela de gente, quase grande.
O Fífia confunde ideais com ideias, actos com palavras e demónio com democracia. Pela-se por corridas de carros e de cavalos, mas não tem equipa de futebol. Apoia a selecção e orgulha-se do Pauleta, mas entre os Açores e Lisboa, prefere o Terreiro do Paço.
O Fífia é um filósofo de pluma e rascunho. Um artista enganado na porta de entrada no palco, disfarçado de ponto e vírgula, atrasado no travessão, desgraçado pela anedota que ficou a ouvir, em vez de sair e não dar nas vistas. Deu, dá sempre.
O Fífia é um erro de escala. Um vazio, um reflexo mal reflectido.
Atirado ao papel, como agora, resume-se numa espécie de resto do qual, pensava, não ter restado nada, senão um vazio, nos braços dos calinadas. Afinal, enganei-me e o Fífia está vivo como um alecrim, esperto, vivo dos olhos sibilantes, que mesmo debaixo dos óculos escuros, versão rasca de Elton John, deixam antever um esgar de aflição...
O Fífia é um post escrito em dois dias, talvez não publicável…
O Fífia é uma desgraça ambulante, ainda pior, porque atrevida e cheia de espaço para se intitular como figura paternal de dona disto e daquilo.
O Fífia é um mortal não morto.
Um passo de ginástica em falso. Uma cambalhota de partir a espinha. A dele nunca endireita. Há quem diga que é de gama.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Serviço Público



Toranja
Dia 11 de Fevereiro, 21h30 no TEATRO MICAELENSE

Croniqueta IV ou "ora zumba na caneca"



E agora tudo tem que ser complicado. Tudo tem que ter um nome; da dor de cabeça passamos rapidamente, a esta enxaqueca, que nos dói nos olhos e molesta as assimetrias humanas. Que horror.
Andamos investidos de umas vestes de “complicâncias”, que administradas em propósito de etiquetas e colagens parecem ter qualquer coisa de semelhante, mas não têm.
Já tudo o que se aplica, complica; o dia que se festeja, a volta que se foi dar... Até a gramática, coitada, sofre nas mãos dos picaretas, ditos fonólogos ou estudiosos da fonética, diz-se dos sons, armados em grandes letrados, académicos encapuçados, comentadores, ases de roda e puma.
A vida, catrapumba, "zumba" como a caneca da música ("ora zumba na caneca, ora na caneca zumba, o diabo da caneca toda a noite catrapumba, pumba, pumba"...
A vida ( Life, mais erudito) tirada a pé coxinho da arca das maravilhas, quando por razões de espuma, nos damos todos (incluo as todas) aos cabos dos trabalhos para complicar mais um Fado e estragar a Fortuna da impaciência que se acende num bater de pé em fila de espera, num grito abafado de nervoso miudinho ou, tão somente, numa palmada que, complicada, mais parece um soco e dá queixa e polícia e mulheres a fazer o papel dos gritos e homens, o de sérios, e crianças em desfile nas ruas com sapatos descalços nos pés. Traduziu-se o acaso num “arrefio” cinematográfico, como no cinema, no fazer do filme, take 2, a cena da porta aberta e das pessoas dentro da casa com corações desfeitos e armas debaixo da cama para, pura e simplesmente, matar.
As coisas afinal são simples e há duas ou três gaivotas (há tempos que não falava delas), que pulam ou pincham, de acordo com a geografia, querendo dizer que saltam, com os bicos cheios de minhocas para alimentar os filhos que esfomeados sussurram de fraqueza, ou seja, estão quase mortos.
O mar chia, digo grita, digo espia, digo corre, digo está bravo, ou seja está mau e dentro dele há uns seres de escamas, a que, às vezes, quando não estou tão preocupada em embrulhar palavras para dar mais caracteres, se chamam peixes.
No céu há umas coisas a que se chamam nuvens que para as Pessoas da esfera terrestre fazem chover mas, que para mim, choram de vergonha da merda de texto que acabei de escrever, ou seja, desta porcaria…

Poemae

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

BASTA!

Escrever deveria ser um privilégio de quem tem algo de novo para transmitir, ou para quem consegue dizer algo de comum de uma forma diferente. No entanto, às vezes, pois não se deverá abusar deste formato, é necessário escrever o que já se sabe, mesmo da forma mais comum, para dar-mos voz e volume ao que julgamos, acreditamos ou cremos ser uma maioria silenciosa.
Com uma na Matriz da Ribeira Grande, uma em S. Roque, uma na Fajã de Baixo, duas na Calheta, uma em S. José, uma para abrir brevemente na Matriz e com uma grande percentagem de restaurantes e casas de entretimento nocturno durante a comemoração do dia dos Amigos e das Amigas, a ilha de S. Miguel está infestada com casas de strip, alterne ou coisa do género, em muitos casos geridos por gente obscura, com dinheiro obscuro, com uso e abuso de emigrantes ilegais.
BASTA!

sábado, fevereiro 04, 2006

Croniqueta III ou de como Achtung é interjeição de valor




Gosto de os ver passar naquela agonia lixada dos tipos que não comem gamas, mas mastigam pastilhas. É mais fino o verbo e o substantivo. Mastigar Pastilhas. Se forem elásticas, tanto melhor. Dá para ir e vir. Mudar de aspecto, de forma. Bocejar mais fino. Mastigar pastilhas. Apertar a pastilha entre os dentes como num sussurro de segredo e meia verdade. Gosto dos espíritos desalinhados reflectidos nas gravatas amarrotadas, curtas, presas por cima do cinto, à altura do umbigo. Gosto de as ver bolorentas de desuso, por dentro de samarras e casacos, encostadas às camisas, num “toque de caixa” descompassado. Gosto de ver as gravatas tristes, apagadas das suas cores, desenraizadas das caras e dos pescoços, que as transportam. Gosto dos ares de galãs dos engravatados, mal barbeados, mal perfumados, ou ao contrário, gravatas ilustrando os figurantes.
Aprecio os diálogos de oradores, as vogais esticadas, as mãos nos queixos, o ar atinado dos cabelos, os penteados de ondas, puxadas para cima, depois para o lado, tentando cobrir faltas, como se essas pudessem ser tapadas, só assim, no couro cabeludo. As faltas.
Não gosto dos seus diálogos veneradores. Dos seus ziguezagues de salamaleque, das suas jogadas disfarçadas, dos seus bafientos hálitos, que inundam o lugar.
Às vezes, dou por eles, presos em diálogos veneradores. Dou por eles perdidos num ziguezague de ases e bês e penso que não cabem mais camisas nos cabides das cidades; que as fotografias, as poses, os repuxos doirados e a água que não cai, por se distrair com a chegada do vento e se sentir bem mais confortável, em estar sempre a mudar de rumo, não vai escoar. Vamos chegar a uma altura em que ficará parada, servindo de espelho, sem reflexo, porque feito de água choca. Resta saber se saberá reflectir; se terá reflexos ou se, pura e simplesmente, um dia flectirá joelhos e colunas em direcção ao chão, deixando, no seu lugar, em substituição, um vendaval de cabides e corrimões; de varões de cortinas rasgadas e soleiras de portas com pés gastos de entrar e sair sem nunca permanecer.
Há falta de permanências; falta de saber ficar, falta de juízos que justifiquem meios e de ideias que se juntem com palavras e sejam mais do que meras aparências de cabelos esticados ao centímetro sem precisão de ideais, mas riscos de manobra.
Há necessidade de ficar por uma ideia.
É urgente encontrar-se novas formas de conjugação do verbo ser; sem conjecturas extraordinárias ou poemas enformados, que sem valerem perdão, estilhaçam-se nos dedos dos que nos esquecemos de informar, de dizer o nome ou, pura e simplesmente, de lembrar.

PS. Os Dias Não Estão Para Isso, o escritor já avisou.
Cito emprestado o título da última obra de NCS de quem não sou propriamente amiga; (sou mais fã), mas de quem se fosse amiga, devo dizê-lo, citava na mesma e, claro, dizia que era fã e amiga...

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Alhos trocados



Os jantares para meio milhar de pessoas não são concorrência desleal para com os Restaurantes de Ponta Delgada...Pois não.
Este responsável salienta que o Coliseu “não recebe um cêntimo que seja público da Câmara Municipal ou do Governo”, daí não haver “pretexto de concorrência desleal”. Bem pelo contrário. “Estamos em igualdade de circunstâncias”, advoga.
(José Andrade, hoje, ao Açoriano Oriental)

Claro que sim. Iguais, iguais, iguais. Aliás alguém terá dúvidas de que existe alguma diferença entre um qualquer restaurante do concelho e o Coliseu Micaelense? Nenhuma. Então não se está mesmo a ver?!...Que mania de complicar as coisas!!!
Afinal é tudo tão simples: o Coliseu Micaelense vai servir sopinhas e carninhas, porque o Coliseu Micaelense é tal e qual o Nacional, ou o Roberto, ou o Mexicano, ou o Bar Aliança, ou o Bataclan, ou o Cavalo Branco...ou qualquer outro Restaurante!!

Até sugiro que se passe a chamar: Coliseu Micaelense, armazém das sopas.

Leio



"Esse olho apresenta uma unicidade total com todas as nervuras nocturnas: sob a luz das estrelas, nunca serei uma delas, só tu és o meu olho inominável. Dar-te um nome é instituir a ordem da representação, nunca ressuscitarias de mim para me perdoares. És a fracção menor de um bicho que não chegou a tempo de se descriar, desnascido num voo inteiro, antes dos retratos repulsivos das coisas orgânicas. Não serás apenas uma consciência reflexiva de mim? Incansável, sem nome próprio, descubro-te na subtracção da última diferença, inatingível ao pronome eu. De nada me vale ser um sujeito de percepção objectiva atento a todos os fenómenos do teu desenvolvimento. Tu és um olho à solta metamorfoseado numa célula como uma apóstrofe."

António Ramos Rosa e Isabel Aguiar Barcelos, Bichos Instantâneos, Edições Quasi, Lisboa, 2005, pp.64.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Croniqueta II ou o Fífia pensa que é grande



A raiz do seu pensamento é “dito-dito”, traduzindo-se em “dito-feito” como se ao “dito-sabido” fosse proibida a vinda. Que vergonha. A verdade coxeia, não faz mal. O Fífia bem traçado não desanima. Para ele o verbo sujeitar não transita. É sujeito, sujeitado e entra na “sujeitice”, porque sujeitando-se assim acaba em Sujeitinho. Isso é que conta. Escondidinho.
Não interessa concordância, debate, quiçá conversa, tudo se faz por esquema, letra, projecção… Não sabe o Fífia, a concordância entre o diminutivo e o infinitivo; não quer o Fífia fazer boas rimas, interpoladas ou cruzadas. O Fífia risca. O Fífia arrisca e erra sempre. É Fífia.
Diante de tal acrobata, escritor de cartilha e lápis roubado ao patrono, eu pasmo. Não sei que lhe dizer, quando em ataques de fúria, se enche de uma falsa falta de ar, semi-cerra os olhos e começa a deambular de calinada em calinada, rompendo folhas, tentando levantar um voo, para o qual não tem, sequer, peso. Problemático, o Fífia escreve para os jornais. Desfia inventários, betoniza obras, sacraliza pessoas e, como bom Fífia que é, engana-se sempre. Perde-se num jogo vírgulas, tentando mostrar-se cultural, qualquer coisa “al” para parecer que é mais que um palito de esponja que verga conforme se lhe dá o vento. É um lamento. Parece às vezes que quer ser ode ou qualquer coisa que acorde o mal que lhe vai por dentro, uma epístola, um ziguezague de palavras que o espevitem, que o façam ter uma ideia, que seja mais que um boato. Mas o Fífia não consegue. Tem tudo escrito na sua “bíblia”; tem informadores, diz ele, que vivem asfixiados, que não respiram, que estão quase morrendo, coitados… A sua função é salvá-los e sujeitar-se à coisa de ser sujeitinho de sapatos bem polidos e biqueira do tamanho do arquipélago. Chega. O Fífia é um enganado. Uma sugestão pela metade. Uma aposta vencida.
Porém, o Fífia pensa que é grande, o que é muito mau e que os outros são todos tolos, com excepção, claro, dos que estão ao seu lado, os “calinadas”.
Recomenda-se visita ao resto do mundo, vistas largas e ar para que, de uma vez por todas, transite do peso da nuvem ao lado de lá, onde estão as pessoas. Fazê-lo é, não só uma exigência, do Tempo, como também, uma forma de, finalmente, mostrar a todos que está aqui, em trânsito, o que quer dizer, simplesmente, que se vai começar a mexer, medindo o que diz com o como diz...
Vamos a ver se é em Fevereiro que "Fífiazinho" acaba por tomar esta opção. Por mim, estou um bocadinho cansada de tanta acção intransitiva e inconsequente. Chega de cassetes riscadas.


Comprei hoje por 10 euros. Fiquei feliz.