sábado, abril 23, 2011

6 anos

Fez 6 anos o Ardemares a 18 de Abril. Nem me lembrei.

sexta-feira, abril 15, 2011

Defensa de la alegria

"Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias
y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias
y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas
de la retórica y los paros cardiacos
de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo
del relente y del oportunismo
de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte
de los apellidos y las lástimas
del azar
y también de la alegría"

Mário Benedetti

quarta-feira, abril 13, 2011

"Portugal, os mercados e o futuro da Zona Euro"



Com o pedido de ajuda externa de Portugal cai a última linha de defesa da desregulação nos mercados financeiros. Agora os mercados insaciáveis podem vir a morrer do seu próprio veneno.

A Irlanda, a Grécia e Portugal, mais do que por si próprios, acabaram por tombar perante o FMI, devido à desregulação dos mercados financeiros, que nunca deram verdadeiramente hipóteses a estes países de escaparem aos seus juros altos.


Sempre que um destes países aplicava uma medida de austeridade ou de contenção orçamental, como um sinal de que estava disposto, per si, a resolver os seus próprios problemas, no dia seguinte, os especuladores subiam o juro a que comprariam a dívida soberana destes países, sabendo que independentemente dos juros cobrados, o lucro era garantido, pois quando um país estivesse à beira do incumprimento, teria de pedir ajuda à União Europeia e ao FMI que prontamente assegurariam o pagamento aos credores.


Portugal foi o país que mais resistiu a este cenário e, se não fosse a traição dos partidos da oposição, provavelmente, com o PEC IV, tinha conseguido concretizar o acordo histórico de financiamento obtido com a União Europeia.


Com o nosso país submetido às políticas do FMI, os líderes europeus sabem que a Espanha e a Itália estão em dificuldades orçamentais e que também dificilmente poderão resistir a juros altos no mercado de financiamento. Só que, desta vez, há uma grande diferença face aos países já intervencionados: a dimensão das economias é exponencialmente maior!


Qualquer intervenção financeira num destes países teria um custo astronómico para a União Europeia, significando, provavelmente, o fim da Zona Euro, pois nenhum cidadão europeu, nem nenhum governo, está disposto a pagar este custo. Para se ter uma ideia do que falo, os jornais alemães e ingleses ponderavam, esta semana, a possibilidade destes países não ajudarem Portugal a financiar-se, devido aos custos imputados aos seus contribuintes.


Devido a este risco, os líderes europeus multiplicam-se em declarações abonatórias em relação à economia espanhola e à sua dívida, sabendo que a qualquer momento esta economia possa entrar nos alvos dos mercados.


Caso os mercados, avidamente, foquem as suas atenções para estes dois países, a União Europeia, atempadamente, terá forçosamente agir a três níveis:

Regulamentando o funcionamento dos mercados e das agências de rating, pondo fim à especulação e a práticas neste âmbito menos correctas;

Criando um conjunto de mecanismos que avaliem e disciplinem os estados das contas públicas e da economia dos seus estados membros;


Revendo o tipo de medidas de austeridade que são impostas aos Estados-Membros em dificuldades, de medidas que criem mais pobreza e recessão económica, para medidas que melhorem o rendimento e façam crescer a economia.

Enquanto isto não acontece, a Irlanda, a Grécia e Portugal, mesmo depois de intervencionados, vão continuando a recorrer a financiamento a preços exorbitantes, com enormes custos para os seus cidadãos e para as suas economias.

quarta-feira, abril 06, 2011

Exportação de pachecos

Portugal está mal porque os portugueses são maus, dizem os pachecos deste País.

Estamos mal na política porque a Nação degenerou desde os idos de 500; no Estado porque carecemos do pulso firme de um Sebastião José de Carvalho e Melo; no povo porque nos falta o arrojo dos tempos da guerra colonial, na economia porque a arraia-miúda esbanja uma parte e come o resto; na balança comercial porque não apostamos na exportação dos famigerados bens transaccionáveis e no défice porque ganhamos muito e produzimos nada. Socialmente estamos pior, garantem os pachecos: subsidiamos com o RSI quem não precisa; arcamos com subsídio de desemprego a quem não trabalha e na nossa mísera situação não poderemos desembolsar subsídio de férias e décimo terceiro mês a quem tão pouco faz. Os nossos pachecos insistem ainda que na bola estamos reduzidos à dimensão do rectângulo de jogo. Falta-nos sempre um bendito número dez e um trinco: o primeiro indispensável na condução do esférico pelo corredor central e naquelas coisas das transições ofensivas, e o segundo, absolutamente necessário na pressão alta, a ver se o adversário não se arrebata. Como perdemos quase sempre, afirmam os ditos pachecos e sempre do mesmo modo solene que tudo resulta da nossa íntima tacanhez lusa… Desses prodigiosos pachecos, conhecidos exclusivamente pelo seu talento, que opinam na banalidade e na barbaridade, que falam com a mesma sabedura de política europeia, das estratégias da alta finança internacional, de energia nuclear de tecnologia espacial ou do preço de venda do carapau, dizia Eça na sua Carta Ao SR. E. Mollinet, inserta na Correspondência de Fradique Mendes: “Eu casualmente conheci Pacheco. Tenho presente, como num resumo, a sua figura e a sua vida. Pacheco não deu ao seu país nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre unicamente porque tinha um imenso talento”(…) O único recurso que restou então aos devotos desse imenso talento (que já os tinha incontáveis) foi contemplar a testa de Pacheco – como se olha para o céu pela certeza que Deus está por trás, dispondo. A testa de Pacheco oferecia uma superfície escanteada, larga e lustrosa. E muitas vezes, junto dele, conselheiros e directores-gerais balbuciavam maravilhados: ”nem é preciso mais, basta ver aquela testa!” É desses e não de outros honrados pachecos de nome e de postura que falo. Falo dos pachecos comentadores sem ideias nem soluções, dos pachecos promovidos a talento pela pantalha, desses que tagarelam sobre tudo sem dizer nada. Falo dos abunbantes pachecos sem os quais Portugal teria um soluço de ânimo e um enorme suspiro de alívio. Equilibremos então as finanças, a economia, o défice e a balança comercial pela exportação de pachecos. O País ganha, os portugueses terão mais esperança e mercado não há-de faltar…basta ver aquelas testas.

terça-feira, abril 05, 2011

Uns decidem, outros encolhem-se



Num dos piores momentos desta crise que atinge Portugal, a oposição, em vez de fazer parte da solução, decidiu ser um factor de agravamento do problema. Já se sabia disso quando chumbou, em bloco, as medidas de actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento, forçando o Governo a apresentar a sua demissão ao Presidente da República.

Agora, depois do Presidente da República ter anunciado a convocação de eleições antecipadas, as primeiras reacções foram sintomáticas e bem demonstrativas do espírito da oposição neste processo político. Interessada em atacar o Governo e o PS, os partidos não quiseram ouvir o que disse Cavaco Silva, já que estavam a salivar para o ataque ao Governo e ao Partido Socialista.

O Presidente da República chamou a atenção para a necessidade de contenção e rigor neste período de campanha, mas as primeiras reacções mostraram bem uma oposição que vai fazer uma campanha baseada na crítica e no ataque, sem qualquer proposta concreta e exequível para a situação do país.

Com as agências de notação a cortarem o rating de Portugal, de empresas públicas e de bancos portugueses, a oposição não se lembra de dizer mais nada do que falar na inevitabilidade da entrada do FMI, sempre na constante e absurda tentativa de se manter à margem das responsabilidades políticas nacionais.

É preciso lembrar que a oposição teve, desde de 2009, todas as condições para fazer cair o Governo da República, através da aprovação de uma Moção de Censura. Na verdade, foram apresentadas duas moções sempre chumbadas, imagine-se, pela própria… oposição. Sempre por causa do PSD, que sempre mostrou medo dos custos políticos que esta viabilização acarretaria para o próprio partido.

A questão é a seguinte: estes partidos que, agora, se queixam do estado a que o país chegou o que é que fizeram, na prática, para evitar isso ao longo dos últimos anos? Nada. CDS tentou passar pelos pingos da chuva, na esperança que Passos Coelho continuasse incoerente, para se assumir como a verdadeiro partido da direita neoliberal. BE e PCP pautaram-se pelo habitual ciúme à esquerda, na tentativa de mostrar quem é mais amigo dos trabalhadores.

Por último, temos o PSD, cada vez mais incoerente com aquilo que defendeu há meses, e que nunca teve a coragem política de assumir as responsabilidades e viabilizar uma moção de censura. Falou mal do governo, achava que o Primeiro-Ministro era o pior da história de Portugal, mas, nos momentos decisivos, encolheu-se a lá arranjou uma desculpa qualquer para passarem ao lado das responsabilidades.

Pode-se concordar ou não com muitas das medidas tomadas pelo Governo de José Sócrates, pode-se considerar que era preferível optar por outras políticas, mas não se pode negar a coragem política e capacidade de resistência do Primeiro-Ministro, mesmo nos momentos mais difíceis, como a tomada de decisões muito duras para a vida dos portugueses.

Esta constatação obriga a que todos respondamos à seguinte questão: num momento crucial para nossa vida colectiva, o que é mais importante para cada um de nós: Alguém que assume responsabilidades e enfrenta as dificuldades ou alguém que se encolhe e assusta-se nos momentos de decisão, nunca dando o passo seguinte para a solução dos problemas? Mesmo para quem não goste de José Sócrates, a resposta é clara.

sábado, abril 02, 2011

I just stop to say hello (e ´tá bem bom)

O blogue mudou de cor. Voltei aqui e vinha escrever qualquer coisa, mas não me apetece (afinal).

müz´ka

sexta-feira, abril 01, 2011

A ambição, a irresponsabilidade e a agenda escondida



Na passada semana toda a oposição parlamentar, irresponsavelmente, agiu para provocar eleições antecipadas, sabendo à partida que esse acto poderia levar o país a uma situação de bloqueio financeiro e de colapso económico.

Muitos poderão pensar que estou a exagerar um bocadinho, mas basta olhar e verificar o ar incrédulo e surpreendido da maioria dos líderes europeus, ao constatarem que fomos incapazes de chegar a um acordo numa situação tão complicada, para percebermos o enorme risco do caminho escolhido pela oposição com o PSD à cabeça.

Tendo em conta as grandes dificuldades que Portugal estava a ter para se financiar a preços razoáveis e constatando que recorrer ao FMI poderia implicar um conjunto de medidas de austeridade sem precedentes - que poderiam passar, por exemplo, por despedir funcionários públicos - Sócrates optou por tentar convencer os seus parceiros europeus que apenas precisava de crédito mais barato proveniente do Fundo de Emergência Económica e Financeira da U.E. para financiar o cumprimento do OE de 2011.

Após duras negociações entre o Governo e o BCE, a Comissão e o Conselho Europeu (onde pontua a chanceler alemã), Portugal obteve uma vitória muito satisfatória, chegando a um acordo de financiamento externo a preços compatíveis, sob a condição de rever o seu Programa de Estabilidade e Crescimento que garantisse um aumento estável da receita para os próximos 3 anos.

O mais incrível é que o PSD, de Pedro Passos Coelho, percebeu que poderíamos estar num ponto de viragem na situação financeira do país e que se não agissem depressa, provocando eleições, este acordo poderia perigar uma sua chegada triunfante ao poder na altura da aprovação do próximo Orçamento de Estado.

Assim, justificando-se com a forma da apresentação, e nem sequer com o conteúdo, das medidas de austeridade do PEC IV, o PSD recusa negociar qualquer acordo para a sua aprovação e faz cair o Governo. Aliando-se à oposição radical, o PSD consegue ver aprovada uma resolução de rejeição ao PEC IV sem apresentar uma única – uma única! - solução alternativa face àquelas que dele constavam.

Os mercados financeiros reagiram de imediato negativamente, atingindo a nossa dívida no mercado secundário um valor histórico de mais 8%. O ratting da dívida portuguesa, baixou de imediato, arrastando consigo o das principais empresas públicas e todas as regiões mais saudáveis financeiramente do país, como os Açores (a Madeira ainda desceu mais que a diminuição geral de dois níveis). A generalidade dos líderes europeus criticaram claramente a oposição parlamentar portuguesa pela sua irresponsabilidade, adivinhando tempos difíceis para Portugal.

É nesta situação, de possível ruptura financeira, que o nosso país vai tentar renegociar divida pública em Abril, podendo não ter capacidade para o fazer nestas condições de instabilidade política, o que levará à bancarrota e ao fim do financiamento quer do estado quer dos privados. Repreendido em Bruxelas pelos líderes europeus, Passos Coelho tenda emendar a mão da rejeição do PEC IV e propõe, contradizendo uma promessa sua de poucos dias, aumentar o IVA de 23 para 25%, para crescer a receita do Estado.

O que o PSD não diz agora é o que disse no passado: que ao aumentarmos o IVA, afectamos todos aqueles que, independentemente do seu rendimento, consomem mais de 50 000 produtos básicos, sobretudo do ramo alimentar, calçado, vestuário e combustíveis.

O que o PSD não diz agora e não explica é porque é que no livro que preconiza o seu programa eleitoral, “Voltar a Crescer”, defende o fim da escola pública como base do nosso sistema de ensino, o despedimento de funcionários públicos e flexibilização do despedimento sem justa causa, o fim do Sistema Nacional de Saúde universal e tendencialmente gratuito ou a privatização da maior parte das empresas públicas, como sejam, a RTP, a TAP, CP ou parte da Caixa Geral de Depósitos.

Em suma: o PSD actual ataca o PS por este tomar medidas de austeridade que ele PSD teria que tomar se fosse governo; contradiz promessas claras feitas por si no passado, como seja, a recusa de aumento do IVA; e não explica aquilo que de mais importante e grave tem no seu programa eleitoral: o fim do Estado Social (não é um slogan – é, por exemplo dinheiro que as famílias passarão a pagar à saída da consulta externa e das urgências dos hospitais!).

Tudo isso pela ambição de chegar ao Poder!