quarta-feira, junho 30, 2010

Esta não é uma crónica sobre as pastas de dentes





Podia ser um resumo de novela, uma grelha de horóscopos, qualquer coisa, uma carta de amor, um ensaio sobre as asas das abelhas ou as guelras das abróteas, mas não é.
Nunca tinha pensado escrever uma crónica sobre pastas de dentes, até porque não é dentista, mas podia ocorrer-lhe falar disso, das pastas de dentes, da enorme variedade que há nas prateleiras dos supermercados. Falar disso ou de gelatinas. Disso ou de carros de corrida. Disso ou de jogos de computador. Enfim, disso ou doutra coisa qualquer.
(Há tantas coisas para escrever…).
Um dos seus escritores de eleição – Pedro Paixão – tem vários livros com variadíssimas crónicas sobre variadíssimas coisas, que falam de variadíssimas pessoas, de B., de M., de C. e de D. e de como em “Saudades de Nova Iorque”, por exemplo, estas anónimas personagens se entrecruzam, pelas ruas, e constroem juntas dezenas de peripécias.
Há dias deu por si a reparar nos títulos dos livros que tinha na secretária, por detrás do computador e ao lado de uma fotografia da casa dos avós. Uma fotografia a preto e branco com um cão amarelo. Sim, a fotografia era a preto e branco, mas o cão permanecera com a mesma cor. Olhou a fotografia e pensou: os cães conhecem-se, mesmo disfarçados, assim numa fotografia tão preta e tão branca! …
Mas, os títulos dos livros é que a fizeram parar. Havia um bem extenso, mas interessante, do ponto de vista até metafórico. Chamava-se “Auto-Retrato do Escritor enquanto corredor de fundo, um livro de memórias”. Lembrava-se perfeitamente do dia que o comprara, da expressão do autor Haruki Murakami, pendurado num poster dentro da livraria e da sensação que teve, algo estranha, por comprar um livro, que bem podia ser um qualquer tratado sobre atletismo.
Os títulos, pensou, enquanto lia a lombada do livro, editado pela “Casa das Letras”, podem enganar as pessoas (ou não). Mesmo assim, como quem não quer a coisa, comprou-o. E o livro, agora já lido, contava uma história sobre ganhar e perder, falando de provas de longa distância e triatlos e, também, de corridas.
A crítica chamou-o diário, ensaio autobiográfico, elogio da corrida…Mas, ela preferiu chamar-lhe livro. E chega.
A seguir a esse tinha outro, ao qual voltava de quando em vez, que era castanho da cor dos pianos. Sim, ela adorava pianos. Era fã de Bebo Valdês.
O livro de José Luís Peixoto chamava-se “Cemitério de pianos” e falava só disso.
Mais adiante, havia um livro branco com uma imagem a preto e branco de dois homens: um baixo e um alto. Chamava-se “Património” e, também quando o comprou, pensou tratar-se, à primeira vista, de um qualquer livro como o de Schwanitz, por exemplo, sobre museus, igrejas ou bibliotecas, mas não. Era sobre um pai e o património humano (em todos os sentidos) que um pai pode deixar a um filho também.
Bem, mas esta começou por ser das duas vezes em que foi escrita, sem contar com esta, uma crónica sobre Gonçalo Velho, a estátua das Portas da Cidade, que está agora rodeada por futebol por todos os lados, no mesmo sítio, onde antes houve (em 2008) um concerto de Vanessa da Mata, mas depois ela desistiu.
E desistiu porquê?
Porque ela pensou, olhando para a estante dos livros, que era muito mais interessante falar deles, do que perder tempo com minudências mediáticas de outros…
De Mário Cesariny para leitura de férias: “Uma grande Razão”; António Lobo Antunes: “Que Cavalos são aqueles que fazem sombras no mar?”; Nuno Júdice: “As coisas simples da vida”; de Pedro da Silveira: “Fui ao mar buscar laranjas” e, finalmente, para os dias de todos os dias: “Bichos instantâneos”, de António Ramos Rosa…Ou então: “A vertigem das listas” de Umberto Eco, sobre a história da Literatura de todos os tempos…
Esta não é, como se vê (e se lê) uma crónica sobre as pastas de dentes. Podia ser. Bastava que ela quisesse…

Catch me if you can (parte I)

O Repórter X - Alexandre Pascoal - está cheio de razão.
E quando assim é - neste blogue - a gente assume.

terça-feira, junho 29, 2010

Passar das Palavras aos Actos

O actual momento de crise internacional que o mundo atravessa e que, obviamente, afecta a nossa Região, coloca às instituições de Governo Próprio, um conjunto de novos desafios ao nível da criação de mecanismos de promoção do desenvolvimento económico. O aumento dos níveis de investimento público tradicional, por si só, não proporciona os efeitos multiplicadores, nem as externalidades positivas necessárias para ultrapassarmos os efeitos na nossa região da conjuntura internacional adversa.
A resposta a esses desafios exige um novo posicionamento de todos os agentes intervenientes na esfera económica, salientando-se em particular os empresários. O novo paradigma em que as empresas desenvolvem a sua actividade, caracteriza-se pelo ultrapassar das constantes dificuldades colocadas e pelo necessário aproveitamento das oportunidades decorrentes.
A “Grande Recessão” internacional fez com que a variante “risco” fosse exponenciada pelas instituições bancárias financiadoras, dificultando o acesso ao crédito aos jovens dispostos a arriscar uma oportunidade em novas áreas de negócio na nossa terra. Esta maior dificuldade de acesso ao crédito levou, ainda, a um maior receio dos jovens em investirem num mercado pouco estável.
Com objectivo de minorar estas dificuldades, os Deputados da JS propuseram, no último Plenário do Parlamento, a reformulação do Programa de Incentivo ao Empreendedorismo “Empreende Jovem” organizada em três eixos de acção: Ampliação e clarificação do âmbito do Programa; menos burocracia e mais rapidez processual; mais apoio e acompanhamento ao jovem empreendedor.
No primeiro eixo, ampliamos e clarificamos o âmbito de intervenção do Empreende Jovem, alargando substancialmente as áreas de actividade abrangidas, permitindo o acesso a jovens com outro tipo de qualificações e reduzindo a percentagem mínima de capital social do jovem empreendedor, a 50% do capital da empresa candidata ao projecto.
Relativamente ao segundo eixo de Acção, o Programa passa a exigir menos burocracia e mais rapidez de procedimentos, diminuindo o número de entidades intervenientes na análise das candidaturas, ao mesmo tempo que são estipulados prazos, a partir do momento em que são aprovadas as candidaturas, para resposta aos jovens e para serem feitos os respectivos pagamentos.
Quanto ao terceiro eixo de acção, a adequação concreta à crise internacional exigiu, também, que o montante de investimento sujeito a apoio, seja maior, oscilando entre os 15 mil e os 300 mil euros, foi também eliminado o empréstimo (subsidio reembolsável) e passa a existir, apenas, um subsídio não reembolsável aos jovens empreendedores que começa com uma base de 50% do seu investimento elegível.
Mas não ficamos apenas por aí, introduzimos inúmeras majorações com o objectivo de promover a qualificação, de direccionar o investimento e de aumentar a participação dos nossos jovens empreendedores nas empresas, que variam de 5 a 10%. Bem como, é concedida especial atenção à parentalidade jovem, introduzindo-se para o efeito medidas de descriminação positiva
Numa altura de uma tão forte crise internacional não basta falar de desemprego para que ele desapareça, ou vir a público, como a líder da Câmara de Ponta Delgada, apresentar/copiar uma proposta sobre Capital de Risco que os Deputados da Juventude Socialista apresentaram e propuseram ao Governo dos Açores há mais de um ano atrás, para que consiga dizer que se fez alguma coisa em prol do empreendedorismo.
Esta é mais uma iniciativa, associada a tantas outras postas em prática pelo PS onde fornecemos mais um instrumento, progressista, moderno, adequado e fundamental para a promoção da coesão da nossa terra, para o fomento ao emprego sustentado e para a criação de mais e melhores empresas.
Fica aqui o nosso contributo de facto.

sexta-feira, junho 25, 2010

BNP!


As obras de ampliação, a que a Biblioteca Nacional de Portugal tem sido sujeita, implicará, no final deste ano, o encerramento da sala de leitura durante um longo período de tempo.
Esta fase comportará consequências danosas para todos aqueles cujo trabalho passa pela investigação de exemplares, unicamente disponíveis nesta instituição.
Por conseguinte, circula neste momento uma petição que merece um minuto de atenção. Nela estão explicadas as razões pelas quais o grupo de signatários iniciou este processo, bem como as propostas alternativas ao futuro encerramento.
Deixo-vos o link. Leiam a petição e, caso concordem com ela, não deixem de manifestar a vossa posição assinando-a. Obrigado.

http://www.peticao.com.pt/encerramento-bnp

(Foto: Manuel Silveira Ramos)


terça-feira, junho 22, 2010

Pianinho

(Ela tocava piano. E dentro do piano havia um compasso e dentro do compasso uma espera e na espera uma ausência e na ausência um não sei quê de espanto e no espanto qualquer coisa que demorava e nessa demora uma caixa e dentro da caixa um pedal e no pedal um pé de ninguém…)
Um dia lera naqueles livros que estão expostos, por ordem das suas cores, nas tabacarias dos aeroportos, entre os galos de Barcelos, as carteiras da Hello Kitty e os jornais A Bola, que os “pianos são como pequenas caixas com gente dentro”.
Na altura rira a bandeiras despregadas com aquela espécie de metáfora de pacotilha elaborada por um tal de Alain qualquer coisa, que escrevera um livro de silogismos e metáforas, que custava pouco mais que cinco euros e que tinha citações de Voltaire na contracapa. Escrevia o tal Alain o que era um piano ou o que coisa podia ser esse objecto.
Impressionava-a a facilidade ou a ligeireza com que se punham livros assim à venda, com pessoas sorridentes nas badanas e biografias de muitas linhas e palavras despegadas umas das outras.
Impressionava-a isso e a confusão das tabacarias dos aeroportos, sempre cheias de muitas coisas para turistas, misturadas com pacotes de gamas americanas e pacotinhos de pulseiras e ganchos, copos com palitos a gritar o nome dos lugares, onde ficam os aeroportos, lenços cheios de golfinhos ou autocolantes para o frigorífico com palavras de ordem como: “Amo-te, isso basta-me”.
Os aeroportos são sítios cheios de gente a partir e de outra tanta a chegar. Faz confusão o mecânico da coisa: de se partir e de se chegar e se voltar a partir e se voltar a chegar.
Normalmente, os cidadãos que vão chegando e partindo, mais os outros que vão despedindo e deixando e largando e saindo não pensam nisso, mas ela pensava com frequência. Nisso e noutras coisas, como por exemplo na forma como as crianças que partem ou que chegam têm quase sempre um ar feliz e trazem ou levam, não raras vezes, uma mochila. Nos fumadores que fumam últimos cigarros à porta e nas mães a receber ou a deixar os filhos.
(Ela tocava piano. Tocava de tudo. Tocava piano rapidamente. Tocava piano porque achava graça.)
“Os pianos são caixas de música”, explicava o tal do Alain que ela comprou no aeroporto de Lisboa para ler qualquer coisa, que não fosse notícias do mundo a falar de coisas tristes e de mortes e de fomes e de crianças em desespero e de padres e de futebol ou de política e de coisas dessas. Comprou o livro com citações de Voltaire na contracapa e com uma fotografia de um autor que tinha um ar de vendedor de sumos Tang.
Os aeroportos são sítios bons para ler tipos como o Alain. Nunca se ouve ninguém a tocar piano num aeroporto. “Os pianos são como aviões a aterrar cheios de gente e malas”, explicava ele, o tal, penteado à moda de Alain Delon, mas com ar de vendedor de sumos de pacote com palhinha.
Nas tabacarias dos aeroportos revistas ensinam a bordar, outras mostram caras chiques e asfaltadas por quilómetros de cremes e pastas, mais vestidos e cores e sandálias.
Podia ter optado por comprar uma revista daquelas que ensinam a emagrecer em dez dias ou outra que falasse das mini férias de um Presidente da República, mas tudo isso comparado com um livro de silogismos e metáforas do Alain não sei das quantas que na biografia dizia que era orgulhosamente músico desde os três anos de idade, mas que não ousava tocar piano, não fazia sentido.
Afinal, o que pode ser melhor que ler coisas como “o piano é a planície das mãos”, quando comparado com as coisas que um Presidente da República diz (ou não diz) nas suas mini férias?
Nada.
(Ela tocava piano. E dentro do piano havia cordas. E nas cordas dois passarinhos. Um partia. O outro chegava…)

sábado, junho 19, 2010

rabiscos


Pode escrever-se o rosto de uma ilha a giz no canto de uma partitura
Qualquer que seja a entrada ou a estrada por onde forem percorrer os dedos...

Pode dizer-se saudade com espanto
Ou derramar nela a angústia de nos termos perdido.

Pode morrer-se lenta e vagarosamente como as últimas páginas de um livro e
Transmitir aos outros a linguagem simples das coisas.

E tudo isto, sendo apenas uma composição de frases juntas e encadeadas
Servir apenas para preencher folhas brancas

ou apenas
o lado B de grande parte do nosso tempo...

(Horta, junho)

domingo, junho 13, 2010

quinta-feira, junho 10, 2010

Orgulhosamente sós

Comecemos pelo óbvio: O processo de construção dos navios “Atlântida” e “Anticiclone” não correu bem. Por essa razão o Grupo Parlamentar do PS/Açores viabilizou a constituição da Comissão de Inquérito proposta por toda a oposição.

Na verdade, a Região não recebeu os navios que tinha encomendado aos Estaleiros Navais de Viana de Castelo, mas foi ressarcida em 40 milhões de euros, valor superior ao que já tinha pago a este construtor. Avancemos para os factos políticos: É inteiramente legítimo à oposição, neste caso em bloco, propor uma comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas de uma área da governação. Desde o início percebeu-se que havia várias oposições. Uma - composta pelo CDS, BE e PCP – interessada em esclarecer e apurar eventuais responsabilidades, dentro das competências do nosso Parlamento. Outra – o PSD/Açores – que apostava neste processo como a última bóia de salvação para esconder a sua incompetência política em apresentar um projecto válido para os Açores.

Aliás, o projecto que criava a Comissão pretendia ir mais além do que deve ser a fiscalização de um Parlamento, entrando por áreas exclusivamente reservadas ao Poder Judicial. Também neste caso foi preciso chamar o PSD/Açores à razão. Acrescentemos, agora, os desenvolvimentos: Entre o anúncio público e a apresentação da proposta para a criação formal da Comissão passou uma eternidade, porque o PSD/Açores quis arrastar no tempo este processo, o que gerou um desconforto notório entre alguns partidos da oposição, que se sentiram utilizados pela estratégia partidária social-democrata.

Depois, já quando a Comissão estava em funções, o PSD/Açores optou pelo discurso do “orgulhosamente sós”, acusando o PS de condicionar os trabalhos. Esqueceu-se, sempre, de dizer que nenhum dos nomes recusados para serem ouvidos o foi, apenas, pelo PS. Mais uma meia verdade social-democrata, rapidamente desmascarada.

Passemos, assim, aos episódios: O PSD/Açores, desde o início mostrou que não pretendia cumprir o acordo firmado na Comissão entre todos os partidos para o bom funcionamento dos trabalhos e que o próprio PSD concordou. Nunca resistiu aos microfones e às câmaras de televisão, transformando um entendimento unânime dos deputados numa palavra vã. Todos os restantes partidos reagiram, em conjunto, à quebra do acordo e o PSD/Açores, mais uma vez orgulhosamente só, deu umas desculpas que nem convenceram o próprio.

Mesmo assim, não aprendeu. Voltou à carga com uma conferência de imprensa, esta semana, que mais não pretendeu do que tentar arrastar o presidente do Governo Regional para este processo, sem nunca apresentar uma única prova, uma verdadeira razão concreta. E mais: percebendo que os factos podem não coincidir com as acusações que tem feito nos últimos meses, ameaça, agora, com o Ministério Público.

Fica provado que o PSD/Açores apenas queria esta Comissão para seu deleite partidário, sacrificando o respeito que deve ter pelo Parlamento e o sentido democrático que deve mostrar pelos outros partidos.

Acabemos com a conclusão evidente: O PSD/Açores está neste processo, unicamente, com intenções partidárias, tentando arrastar nesta estratégia todos os intervenientes: o interesse regional em primeiro lugar, mas também os restantes partidos da oposição, o Governo Regional e o PS. Este comportamento mostra que ser o maior partido da oposição não é uma responsabilidade que esteja à altura de todos. Neste capítulo, o PSD/Açores tem muito a aprender com os restantes partidos que compõem o nosso Parlamento

terça-feira, junho 08, 2010

Olhos que não vêem, coração que não sente

O PSD/Açores terminou a semana passada uma jornada de visita às ilhas do triângulo. Na circunstância e com pouca pompa, a líder lá ditou, como quem faz um ditado aos sociais-democratas, o que é que, em Ponta Delgada, se iria fazer para resolver o problema de ter casas a ruir.

Sobre o discurso de encerramento há assim dois factos a registar: um primeiro, que é o de estando no Pico a encerrar uma jornada de visita sobre Turismo no triângulo, ter-se falado de Reabilitação Urbana e um segundo que é o de falando nisso, se ter exactamente e, mais uma vez, contradito o que anunciara há meia dúzia de dias antes, o Vice-Presidente da autarquia.

Ao fim e ao cabo, a verdade é que ao que parece ninguém se entende e não se entendendo é o que se vê. Primeiro lembram-se sonhos antigos, depois Reviva para a frente e para trás, depois “ah, não é”, afinal Sociedade de Reabilitação Urbana e, por fim (ou se calhar não!), resolvemos o problema de Ponta Delgada. Como? Ah, já se sabe: O Governo dos Açores que pague.

Ora, depois de ter passado o dia dos Açores, no Pico, entre sopas, massa sovada e “vésperas”, bem que a líder do PSD/Açores podia ter optado por outra qualquer “coisinha”, que os companheiros picoenses, lhe recomendassem, que fosse bom de anunciar...

A semana passada também ficou marcada por outros acontecimentos tristes. Então não é que a constatação de que os municípios dos Açores se encontram numa situação económica e financeira má e o anúncio de que o Governo dos Açores tomara medidas de apoio específico de emergência a essas autarquias, levou a senhora Presidente da Câmara de Ponta Delgada, a ficar muito ofendida, e a nunca assumir o problema?

É. E é quase inacreditável o que aconteceu. Até parecia que ninguém podia falar do município de Ponta Delgada e que é mentira que este tem uma situação financeira preocupante. Como ninguém desmentiu, é mesmo verdade. E, pasme-se, a dívida bancária até aumentou, desde que Berta Cabral assumiu funções 388%. A autarquia de Ponta Delgada, fechou o ano de 2009 devendo 5,4 milhões de euros a mais de três centenas de empresas privadas!

Não se compreende o susto que o revelar de tais factos provocou, muito menos o calor das penas que motivou, quando afinal, qualquer pessoa de bom senso, espera de um partido, como o PSD/A, apenas e só, que assuma os seus erros, faça propostas, procure soluções…

Porém, hoje, como no passado, o PSD/A não assumiu os erros, não fez proposta nenhuma no âmbito do assunto, que se discutia e, pior, agiu como a menina mimada, a quem estragaram o laço do cabelo da boneca preferida.

Tal atitude, demonstradora, também, de escassa cultura democrática, só prova no PSD/A se vive um deserto de ideias…

É, pois inaceitável que assim seja, vindo de um partido que tem, agora, como líder, uma pessoa que já foi Secretária Regional das Finanças, além de ter sido, também, Presidente da SATA, Presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores ou Deputada Regional, por exemplo.

Dir-me-ão isso já foi há muito tempo! Ninguém se lembra. Lembra, claro que lembra. Em política, como aliás na vida, não vale tudo. Sendo que a memória é, sem dúvida alguma, uma relíquia, a estimar. Nesse sentido, também e em jeito de conclusão, é bom que fique muito claro, que não é o medo da sombra de ninguém, que aqui faz mover a pena, até porque sombras fazem as árvores, os guarda-sóis na praia e, como diz o povo, os burros.

A questão aqui é outra. Por isso, apenas resta esperar, serena e calmamente, neste espaço, como em todo o lado, que agora que a senhora Presidente, ultrapassa a fasquia de 30 (trinta) anos de vida pública – ocupando cargos políticos – um dia destes, chegue a um simples, mas essencial ditado da vida das pessoas comuns: Olhos que não vêem, coração que não sente.

Se não chegar, haja alguém que lhe diga. Se não for por amor aos Açores, ao menos que seja, por amor a Ponta Delgada.

quinta-feira, junho 03, 2010

As Culpas da Crise

Quando falamos da “Grande Recessão” internacional e financeira pensamos sempre em algo longínquo que acontece nos Estados Unidos da América e nos grandes países da Europa. Temos sempre a tendência para considerar as dificuldades que vivemos no nosso meio (continente e Açores), se devem a factores próprios da nossa economia, o que, a meu ver, na maior parte dos casos, não é verdade.

Penso ser interessante perceber, “grosso modo”, em que medida esses factores exógenos contribuíram para as nossas dificuldades, quais as nossas debilidades estruturais e quais as soluções que devemos apresentar para continuar a amenizar essas contingências e fazer com que a nossa terra saia mais cedo da crise.

A conjuntura internacional criou vários problemas à região, que resultaram em inúmeras dificuldades. Em primeiro lugar esta crise limitou o acesso ao crédito às empresas locais, impedindo-as de continuar os seus investimentos na mesma medida ou então obrigando-as a financiarem-se a custos proibitivos. Em segundo lugar, na maioria dos mercados internacionais existiu uma baixa generalizada dos preços dos produtos, ou seja, deflação, o que prejudicou, em alguma medida, a competitividade do nosso sector exportador e pelo facto do acesso ao crédito estar mais restritivo, não permitiu beneficiarmos de importações mais baratas. Em terceiro lugar, a região tinha em carteira um conjunto de investimentos externos, que por dificuldades nos seus mercados, pela dificuldade de acesso ao crédito e pela incerteza quanto ao futuro da economia nacional e internacional, preferiram suspender os seus investimentos para quando a conjuntura o permita. Em quarto lugar, a “Grande Recessão” atingiu fortemente, países, como o nosso, a Inglaterra, os países nórdicos ou a Alemanha, o que fez com que estes mercados emissores de fluxos turísticos para os Açores, sofressem uma grande contracção. Por último, a dificuldade de acesso ao crédito e a falta de confiança generalizada dos consumidores motivou com uma queda abruta no consumo e também, por exemplo, na compra de casas, o que motivou que muitas empresas ficassem numa situação de incumprimento com os seus fornecedores e trabalhadores, que por sua vez também ficaram em incumprimento perante outros, afectando assim toda a cadeia de valor.

É normal que muitos afirmem que a nossa economia já caminhava para estas dificuldades. É assim que funciona o jogo político. Mas tal afirmação carece, a meu ver, até hoje de sustentação. Sabemos que uma economia pequena e insular como a nossa devia sofrer, em larga medida, mais do que outras maiores e com mais história e por isso, com mais sustentação. Mas isso, como se comprova, não aconteceu. Apesar de antes da crise, muitas empresas já estarem no limite do endividamento, dos nossos sectores exportadores ainda carecerem de afirmação nos seus mercados, da maioria das Câmaras Municipais para além do seu endividamento, terem incentivado a um crescimento desmesurado do negocio imobiliário e do turismo ainda estar, na altura numa fase de crescimento ainda com pouca diversificação em termos de mercados emissores, o facto é que a nossa terra continua a ter uma taxa de desemprego abaixo da media nacional, um numero de falências reduzido e um crescimento económico acima do continente.

Mas para ultrapassarmos estas dificuldades todos temos de fazer o nosso papel. O Governo dos Açores, mantendo sempre o rigor na gestão contas públicas, imediatamente facilitou o acesso ao crédito lançando um conjunto de linhas de crédito às empresas e particulares de forma a estimular o consumo e o investimento privado, lançou programas de apoio ao emprego, na base da requalificação e reorientação profissional e aumentou o seu investimento público reprodutivo de forma a dar à economia regional e empresas regionais o estímulo económico que careciam. Ressalvo que de todas as adjudicações provenientes de investimento público governamental apenas 10,8% foram atribuídas a empresas de fora região. Infelizmente nem todos fizeram o seu papel. Alguns empresários optaram pela queixa permanente à espera que o Governo lhes fosse dar a mão. Outros, como a Câmara Municipal de Ponta Delgada, preferiam assobiar para o ar, como se não fosse nada com eles, passando o ónus da responsabilidade de competências suas, como a reabilitação urbana, para o Governo Regional, como se isso disfarçasse a sua total incompetência nessa área e fizesse os fornecedores esquecerem os milhões que lhes deve.

terça-feira, junho 01, 2010

Uma Solução Justa

O último mês marcou definitivamente o sistema capitalista a nível mundial. Estamos a assistir a um reajuste de toda a organização e estruturação do sistema económico e financeiro que levará inevitavelmente a mais regulação supranacional da política económica das instituições e dos países. Os Estados Unidos da América, como sempre na vanguarda das reformas económicas, aprovaram o maior pacote de regulação do sistema económico e financeiro desde a crise de 1929.

Na Europa o mesmo caminho começa a ser seguido. As instituições europeias finalmente perceberam, depois dos ataques das agências rating à moeda única, que só com uma política económica e financeira comum, devidamente apoiada pelo Banco Central Europeu, é possível a União Europeia ultrapassar as dificuldades advindas do endividamento de alguns Estados Membros e das fracas perspectivas de retoma da actividade económica. Assim, o Conselho Europeu obrigou, os Estados Membros a apresentarem planos de contenção do seu endividamento, quer este seja público ou privado, recomendando, contudo, que estes planos de austeridade não comprometam as perspectivas de crescimento económico desses mesmos países. A meu ver, é sempre bom lembrar, que exceptuando a situação específica da Grécia, que escondeu a sua divida durante décadas, os grandes défices dos Estados Membros da União Europeia é que salvaram a economia europeia da catástrofe, do desemprego e da depressão económica durante os últimos dois anos. É agora pois, a altura, de progressivamente retirar algum investimento público não reprodutivo e de cortar em alguma despesa do Estado de forma a que a “cura” não acabe por matar o “doente”.

O meu medo, em relação à economia portuguesa, é que esta pouco reformável e muito dada a promover situações demagógicas. Todos percebemos, quer pelas declarações, do Governo, da Comissão Europeia ou do líder do PSD, que é preciso cortar em algumas coisas na despesa do Estado. Mas infelizmente, o que todos defendem, PS inclusive, é que se corte em alguma coisa que não se perceba bem em quê, de forma a que nenhuma corporação fique afectada e as agencias de rating fiquem satisfeitas.

Ora esta premissa é impossível de ser satisfeita! Todos os protagonistas da actividade política, social e económica têm de se aperceber disso rapidamente, tendo sempre em conta que vivemos num país em que os rendimentos da generalidade trabalhadores são baixos. Vejamos alguns exemplos da irresponsabilidade que paira pelo nosso país:

O Governo anuncia uma sobretaxa no IRS de 1% e 1,5% que varia, consoante os rendimentos auferidos e logo alguns economistas cavaquistas, que ganham reformas milionárias vem sugerir um corte de 30% na maioria dos salários; O Governo anuncia uma redução de 5% nos salários dos políticos, situação que com muito orgulho aceito e logo alguns, professores universitários e magistrados, que ganham o dobro do que ganha a maioria da classe política e que mantêm o seu nível salarial, vêm dizer que o corte devia ser de 30 ou 40%; O Governo pretende incentivar o uso de medicamentos genéricos, demonstrando aos utentes do SNS as vantagens económicas para todos do uso dos genéricos e logo a Ordem dos Médicos e a Associação Nacional de Farmácias se manifesta contra por lesarem os seus interesses;

O que todos temos de perceber é que se verdadeiramente queremos resolver a nossa situação, temos de aceitar, TODOS, fazer sacrifícios de uma forma justa, sem dizer que se corte apenas no vizinho. Se assim não for, não haverá, então solução nem para as corporações nem para Portugal.