terça-feira, junho 01, 2010

Uma Solução Justa

O último mês marcou definitivamente o sistema capitalista a nível mundial. Estamos a assistir a um reajuste de toda a organização e estruturação do sistema económico e financeiro que levará inevitavelmente a mais regulação supranacional da política económica das instituições e dos países. Os Estados Unidos da América, como sempre na vanguarda das reformas económicas, aprovaram o maior pacote de regulação do sistema económico e financeiro desde a crise de 1929.

Na Europa o mesmo caminho começa a ser seguido. As instituições europeias finalmente perceberam, depois dos ataques das agências rating à moeda única, que só com uma política económica e financeira comum, devidamente apoiada pelo Banco Central Europeu, é possível a União Europeia ultrapassar as dificuldades advindas do endividamento de alguns Estados Membros e das fracas perspectivas de retoma da actividade económica. Assim, o Conselho Europeu obrigou, os Estados Membros a apresentarem planos de contenção do seu endividamento, quer este seja público ou privado, recomendando, contudo, que estes planos de austeridade não comprometam as perspectivas de crescimento económico desses mesmos países. A meu ver, é sempre bom lembrar, que exceptuando a situação específica da Grécia, que escondeu a sua divida durante décadas, os grandes défices dos Estados Membros da União Europeia é que salvaram a economia europeia da catástrofe, do desemprego e da depressão económica durante os últimos dois anos. É agora pois, a altura, de progressivamente retirar algum investimento público não reprodutivo e de cortar em alguma despesa do Estado de forma a que a “cura” não acabe por matar o “doente”.

O meu medo, em relação à economia portuguesa, é que esta pouco reformável e muito dada a promover situações demagógicas. Todos percebemos, quer pelas declarações, do Governo, da Comissão Europeia ou do líder do PSD, que é preciso cortar em algumas coisas na despesa do Estado. Mas infelizmente, o que todos defendem, PS inclusive, é que se corte em alguma coisa que não se perceba bem em quê, de forma a que nenhuma corporação fique afectada e as agencias de rating fiquem satisfeitas.

Ora esta premissa é impossível de ser satisfeita! Todos os protagonistas da actividade política, social e económica têm de se aperceber disso rapidamente, tendo sempre em conta que vivemos num país em que os rendimentos da generalidade trabalhadores são baixos. Vejamos alguns exemplos da irresponsabilidade que paira pelo nosso país:

O Governo anuncia uma sobretaxa no IRS de 1% e 1,5% que varia, consoante os rendimentos auferidos e logo alguns economistas cavaquistas, que ganham reformas milionárias vem sugerir um corte de 30% na maioria dos salários; O Governo anuncia uma redução de 5% nos salários dos políticos, situação que com muito orgulho aceito e logo alguns, professores universitários e magistrados, que ganham o dobro do que ganha a maioria da classe política e que mantêm o seu nível salarial, vêm dizer que o corte devia ser de 30 ou 40%; O Governo pretende incentivar o uso de medicamentos genéricos, demonstrando aos utentes do SNS as vantagens económicas para todos do uso dos genéricos e logo a Ordem dos Médicos e a Associação Nacional de Farmácias se manifesta contra por lesarem os seus interesses;

O que todos temos de perceber é que se verdadeiramente queremos resolver a nossa situação, temos de aceitar, TODOS, fazer sacrifícios de uma forma justa, sem dizer que se corte apenas no vizinho. Se assim não for, não haverá, então solução nem para as corporações nem para Portugal.

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