quinta-feira, julho 31, 2008

Cartão de Visita

Convida-me a Mariana Matos para que de vez em quando eu navegue à bolina nas águas límpidas deste seu Ardemares. Coisa que, bem sei, já faço em hora tardia, mas reconhecido pela consideração e amizade, até porque além do marujo do Fífias me cumprimentar cordialmente da amurada, disse-me ainda o rapaz que “a chama da escrita também arde pela discussão e partilha de ideias”... É Fífias, sim senhor, e nem tem ares de embarcadiço, pensei eu, mas mesmo assim todo ele é envernizado, cultivado e bem-educado.
E agora que Cavaco Silva se prepara para surpreender a nação com outros fogos, temo que aquela imagem decrépita de um Portugal visto do Terreiro do Paço nos venha por aí abaixo, para consolo de outros bimbos que se contentam no festejar da sua própria desgraça. Por isso e por hoje o melhor é esperar a ver se, afinal, o mar nos une ou se o centralismo nos separa.

...

vitae santorum

"O Zé falava com Deus e fingia o que não podia ter.
Travava duelos matinais com o Capitalismo, o Demónio Mudo e o PC. Segundo ele, estas três raivas eram responsáveis pelo começo do fim da civilização moralmente consciente!,(e pela teimosia da Tia 'sabelinha, que tinha a paciência abominável de lhe recusar o fiado para o vinho e torresmos, em estação de matança..).
Ainda assim, o Zé resistia.
Ajustava o boné sujo de campanha de um partido de direita, fechava o casaco até à maçã e mantinha o mesmo trajecto pelas ruas, barafustando com quem lhe parecesse menos penitente.
O Patrão já lhe havia sussurrado ao ouvido que aqueles pensamentos só poderiam garantir prosperidade.
E se o Patrão dizia, então só podia ser verdade."

segunda-feira, julho 28, 2008

De Malcolm de Chazal

"1.Todas as cavernas tossiram neste inverno.
2. A última sensação do enforcado é que lhe arrancaram os pés.
3. A sombra é a mala do espaço.
4. A água no dique tinha gestos de hipopótamo.
5. Cada pássaro tem a cor do seu grito.
6. O ovo todo queixos.
7. Fazia calor. A chuva deixou cair as calças.
8. Os animais sorriem quando bebem.
9. O horizonte nunca dá um passo a mais.
10. A água nunca deu um buraco total.
11. O remorso Sui Cidou-se.
12. Os Burgueses não conseguiram nunca emburguesar o penico.
13. O boi julga-se mosca quando o picam.
14. Os homens crúeis são um pouco palhaços.
15. Sua mais bela desordem eram as coxas.
16. A pedra fica surda quando é batida.
17. Nos quadros cubistas a luz joga ao loto.
18. Os pássaros presas do medo quando voam têm o ar de nadar.
19. O clarim é o galo que ultrapassou seu próprio grito.
20. Rir contrariado põe o dente magro."


De Malcolm de Chazal, um texto incluído na obra: "Uma coisa em Forma de Assim" de Alexandre O´Neill..
Gosto sobretudo dos números 5, 6, 12, 18 e 20. Pela imagem, que transmitem.

sábado, julho 26, 2008

quinta-feira, julho 24, 2008

Ardemares News

«No jogo há sempre quem lastime a derrota pela ausência da sorte.
Na vida há sempre quem se queixe da falta de liberdade pela incapacidade própria de ser livre. Num ou noutro caso só a santa paciência pode ajudar. Eu cá não sou santo e a minha paciência tem limites.»
Do extinto blogue D´Arrejeite em 23 de Junho de 2006.
2 anos passados, H.Galante está de volta.
É a partir de hoje blogger no Ardemares.

´Tá certo Alcides, queres favas ou pevides?

Quem mal entende, mal conta.

quarta-feira, julho 23, 2008

palavras com meias

“Meias palavras? As palavras não se calçam!”, pensou José Manuel dos Santos, enquanto tentava a custo, enfiar a palavra andar nas suas botas.
Não coube.
Talvez fosse da ambiguidade.

domingo, julho 20, 2008

Olhá Roqueira


imagem

Este ano e, curiosamente, contrariando o que aconteceu nos quatro anos anteriores, houve por parte da Câmara Municipal de Ponta Delgada, uma necessidade maior de fazer vingar a ideia de que as Festas do Espírito Santo, organizadas pela edilidade, são uma tradição. Por entre os meandros das reais intenções dessa insistência transparece uma fachada de espiritualidade, que me impressiona e intriga. Não esqueço, contudo que haverá, por certo, quem, levado pela fé (que não questiono) tê-las-á vivido como mais um momento de partilha e comunhão de sentimentos. Mas, na mesma medida e, por causa dessas mesmas pessoas, que respeito, não posso também, deixar de protestar veementemente, por mais sensatez e nobreza, no tratamento desta tradição do povo a que orgulhosamente pertenço.
As festas do Espírito Santo, as grandes festas de Ponta Delgada não são tradição coisíssima nenhuma! São espectáculo! São um aproveitamento propositado da espiritualidade de alguns para benefício de outros. Revelam uma atitude irresponsável e inqualificável. Ora, se dúvidas houvessem, olhe-se para as faixas colocadas nas paredes da Câmara, durante os dias da festa; olhe-se para a coroa sempre enorme, disforme, cheia de luzes, traduzindo, sem rodar, nem tocar música, mas só olhando para ela, uma espécie de “Futebol Espectáculo”. Pois bem, as tradições, às vezes, até dançam e balançam. Mas, neste caso, por mais voltas que se queira dar e rodas que se queira fazer, não há “pisca pisca” que lhes valha. Não são Tradição. Não falo de devoção, por respeito, mas não aceito e era isso que queria deixar hoje aqui escrito, que alguém ou alguns, por razões puramente propagandistas, queiram por força de sabe-se lá o quê, tomar uma Tradição, que é de todos os açorianos e reinventá-la, sem nenhum pudor.
Lamento, mas a vantagem de ser mordomo todos anos, mudando apenas a cor do fato; levar a coroa no procissão, fazer quartos do Espírito Santo, na própria Câmara Municipal, distribuir fatias de massa e fazer umas Sopas para distribuir ao povo, qual Rainha Santa Isabel, mesmo que repetindo o gesto cinco anos seguidos, não transforma ninguém, por mais fortes intenções, que tenha, em “alva pomba”.
Na vida real, as bênçãos de amor não estão ao alcance de todos. Por mais meiga que queira parecer ser a aparição. E, enquanto assim for, não há aproveitamento sem escrúpulos, que substitua a Tradição. Nem notícia que valha por centenas de coroações e mordomias que acontecem em centenas de lugares nos Açores e nas comunidades, há décadas e décadas. Muito menos, estou em crer, a devoção, seja de quem for, seja pelo que for…
A Tradição de que se fala é pois uma falácia!
E aqui se prova que, como diz o ditado, pode enganar-se alguns durante algum tempo, o que não se consegue é enganar-se todos para sempre. Para lá vamos.

quarta-feira, julho 16, 2008

Citação (importante)

"(...)Deus anda à beira de água de calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao frio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
Gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida."


Excerto do poema Orla Marítima de Ruy Belo.
Aqui dito por Luís Miguel Cintra

terça-feira, julho 15, 2008

segunda-feira, julho 14, 2008

Pintar a Manta

Farto de esperar por melhores dias, José Manuel dos Santos pintou na varanda da sala uma porta com chave e trinco. Feita a pintura, deu-lhe utilização. Então, rodou a chave, que estava pintada de castanho, abriu a porta, que era branca e fechou-a atrás de si, devagarinho para não acordar a mãe, que estava pintada no sofá.
Nunca mais ninguém o encontrou. Na manta da sala, à beirinha da janela, ficaram espalhadas e sem tampa, 36 canetas de feltro e um papel que dizia assim:

Acção 1 - Deixar canetas abertas em cima da manta da sala.
Acção 2 - Rodar a chave, abrir a porta pintada, sair, fechar a porta pintada.
Acção 3 - Sorrir. Melhores dias virão.

quinta-feira, julho 10, 2008

50 anos


imagem

Eles fazem 50 anos. Uma criação de Peyo (Pierre Culliford).
A Bélgica promete uma série de comemorações em todo o país, começando pelo que chamam de “invasão surpresa”. Para proclamar o “Feliz Dia Smurf”, pequenas estátuas dos diminutos personagens azuis estão sendo espalhadas por 20 cidades de 14 países europeus.
Algumas saudades destes bonequinhos azuis, que viviam em cogumelos. Tinham um inimigo. Chamava-se Gasganete. Belos tempos, esses.

sexta-feira, julho 04, 2008

Müz´ka



"(...)Dreamer, you stupid little dreamer;
So now you put your head in your hands, oh no!
I said "Far out, - What a day, a year, a laugh it is!"
You know, - Well you know you had it comin' to you,
Now there's not a lot I can do.(...)"

Adoro esta müz´ka. Podia dar-me pra pior...
Supertramp

Recomendaçã de Lêtüra


Ano de Edição: 2002
Preço:15,00

Crónicas para ler nas férias. Uma, por dia é a dose recomendada.
As minhas preferidas estas: "Sobre Deus", "Para José Cardoso Pires, ao ouvido","Espero por ti no meio das gaivotas" ou "É da tua mão que eu preciso agora"
Um excerto: "(...)Se eu tivesse começado a usar calças compridas mais cedo morava hoje,radiante,numa constelação de cucos e de despertadores de lata, em lugar do pó dos livros que faz mal aos pulmões e não diz as horas. E se alguma vez precisasse de um pace-maker o doutor enfiava-me no peito a caçarola de pendurar na cozinha, cujo ponteiro dos minutos é uma faca e cujo ponteiro dos segundos é um garfo. Se juntarmos a isso um anão da Branca de Neve em cima do frigorífico, que mais precisa um homem para se sentir feliz?"
"Na volta cá os espero", pp.117

Animação!