sexta-feira, abril 27, 2012

Qual foi a parte que escapou à Dra. Berta Cabral?

"Com as quatro horas nós não concordamos com esse figurino mas vamos aguardar o que é que se vai passar, porque eu também às vezes não sei bem, fala-se muita coisa e eu não sei bem o que é que já está determinado, se é que já está alguma coisa determinada. Vamos aguardar." Berta Cabral, Telejornal RTP/Açores a 26 de Abril de 2012

domingo, abril 22, 2012

Este “novo” país do PSD e do CDS/PP


Muitos se interrogam se os sacrifícios que nos estão a ser pedidos pelo Governo da República poderão evitar que o país entre em colapso financeiro e social.
A solução de austeridade defendida e aplicada, sem dó nem piedade, à classe média portuguesa, parte de um princípio que, infelizmente, ninguém se atreve a contestar: de que os portugueses viveram acima das suas possibilidades durante muitos anos.
Este princípio populista defendido de uma forma quase dogmática pela nossa pseudoelite de direita, tem um efeito perverso sobre a nossa sociedade, de divisão, de colocar parte de uma população a culpar e a ansiar por punição a uma outra parte da população.
Esta afirmação que se generalizou e que se instalou, como se de um sentimento de culpa se tratasse, inclusive em alguns segmentos da esquerda mais moderada, não nos tem permitido, com racionalidade, analisar as causas da nossa situação económica, o estado do nosso modelo de sociedade e a viabilidade do nosso futuro.
Neste momento não é “bem-aceite”, em Portugal, uma discussão séria sobre este assunto, há quase sempre radicalismo, os que estão contra as medidas de austeridade e os que são a favor. Ao invés da moderação, impera o jogo político dos que culpam o Governo anterior e dos que culpam a situação internacional.
Poucos abordam o problema de frente, de uma forma imparcial e séria, sem propósitos eleitoralistas, sem assumir que vivemos em 2008, provavelmente, a maior crise financeira e económica internacional das nossas vidas e que este facto prejudicou fortemente os tecidos económicos dos países com economias mais débeis, obrigando todos os Estados a cometerem o erro de aumentarem de uma forma exponencial a despesa pública, como forma de fomentarem o crescimento económico, sem regularem os mercados financeiros e sem terem em atenção ao consequente aumento das importações de bens, de serviços e de capital.
Não foi dito com clareza por ninguém com responsabilidades, quem é que verdadeiramente viveu acima das suas possibilidades,se o Estado, na sua componente de investimento para fomento do crescimento, se o Estado, na sua componente de fornecimento de serviços e de promoção da igualdade, se o Estado, na gestão das empresas públicas, que prestam serviços essenciais à população, se as instituições financeiras na promoção do crédito fácil, se as empresas ao exagerarem na sua alavancagem ou se as famílias, na sua luta por um nível de vida melhor.
Não se discute, se o problema está na gestão do Estado ou na função que este exerce na sociedade, como promotor da igualdade de oportunidades, do crescimento económico e da solidariedade.
Vivemos o tempo em que os direitos são privilégios, em que a descriminação positiva e a solidariedade do Estado é delito, pertencer à classe média é um estado momentâneo com derivada negativa, ser funcionário público é ser criminoso e ainda por cima, preguiçoso e a caridade é propagandeada, de uma forma que me cria repulsa, como se fosse digno ver infortunados a quem são servidos, com o nosso mais alto patrocínio, restos de comida “deixados” pelos ricos restaurantes da capital.
A receita da austeridade imposta a todo o país, incluído Regiões Autónomas, é para o Governo da República, inquestionável, mesmo que não seja necessária, quando se tratam de direitos, mesmo que nada dê certo, na contenção da despesa pública, na obtenção de receitas, no desemprego, nas falências, na criminalidade e até algumas instituições internacionais dão como certo um segundo resgate financeiro antes do final do ano.
Destroem-se serviços de saúde de referência, sem proveito para os utentes, cortam-se nos direitos às reformas antecipadas, dissimuladamente, aumentando assim os encargos futuros da Segurança Social, violam-se acordos com sindicatos, apenas para conseguir mais uma vitória sobre os direitos de quem trabalha e tornamos a escola pública elitista, desde os 9 anos de idade, para que não haja mistura nem de classes, nem de capacidades.
Em nome de quê aceitamos sem discutir este “novo” país do PSD e do CDS/PP?
Onde está o sucesso da austeridade social, económica e ideológica, que até o FMI agora contesta?

Respeito pelos Açorianos!



Vasco Cordeiro, numa decisão pessoal, decidiu deixar o cargo de Secretário Regional da Economia, a seis meses das eleições para a Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Não era obrigado a isso, mas optou pelo caminho da ética e da clareza. Nenhum Açoriano ficará com suspeições sobre o seu comportamento político até às eleições, o que constitui uma condição de transparência de grande relevância que mostra bem a ética do candidato do PS/Açores.

No anúncio público da sua decisão, Vasco Cordeiro realçou o seguinte: "A questão coloca-se no âmbito dos valores da Responsabilidade, da Verdade e da Confiança pelos quais sempre procurei conduzir a minha atividade política e que norteiam a minha candidatura a Presidente do Governo". Em poucas palavras, Vasco Cordeiro deu uma prova de grande respeito pelos Açorianos. É disso que deve ser feita uma campanha eleitoral.

"A maior apoiante de Passos Coelho"



O passado fim-de-semana foi bem sintomático do que vai estar em causa nas eleições de Outubro, com Berta Cabral, mais uma vez, orgulhosamente ao lado de Passos Coelho no Congresso do PSD/Açores.

Berta Cabral é, atualmente, a maior apoiante de Passos Coelho, o Primeiro-Ministro que até já aprova medidas nas costas dos portugueses, pela calada, como é o caso da decisão de acabar com as reformas antecipadas que prejudica milhares de pessoas.

A Presidente do PSD/Açores utiliza todas as oportunidades que dispõe para aparecer, vaidosa e sorridente, ao lado de Pedro Passos Coelho, que está a atirar milhares de portugueses para a desproteção social, a destruir empresas, a sufocar a economia, através de cortes em apoios e em direitos que nem a própria troika se atreveu a tocar.

Em boa verdade, Berta Cabral poderia manter a sua fidelidade ao líder nacional do PSD, mas a questão é que o faz por gosto e orgulho, o que já não é de agora. Em Maio de 2011, Berta Cabral afirmava que “Pedro Passos Coelho é o primeiro-ministro que Portugal precisa e que os Açores merecem”. Desde então, não mostrou qualquer sinal de arrependimento por estas afirmações que são, diariamente, desmentidas pelos factos e pelas duríssimas medidas que a tornar muito mais dura a vida dos Açorianos.

Assim sendo, fica claro que, nas próximas eleições, a escolha vai recair entre Berta Cabral, que acha que está certo o que Pedro Passos Coelho está a fazer ao país e aos Açorianos, e Vasco Cordeiro e Carlos César, que já demonstraram que defendem os Açores, que tomam medidas de proteção das famílias e de apoio às empresas.

Esta é a base dos dois projetos políticos que serão sufragados em Outubro pelos Açorianos. Numa altura em que as famílias e as empresas mais precisam de apoio, não será, com certeza, avisado escolher quem apoia mais austeridade e que, acima de tudo, mostra orgulho nesta estratégia.

PSD: Partido Sem Decoro



Sempre foi claro que o PSD/Açores iria aplicar, na Região, a estratégia de campanha de Passos Coelho contra José Sócrates: "a governação socialista desgraçou as finanças públicas e, consequentemente, a economia".
Os estrategas do PSD/Açores estavam convencidos que seria uma estratégia infalível. Esqueceram-se, porém, que, nos Açores, a situação das finanças públicas regionais era totalmente diferente da nacional, onde, durante várias décadas, se foram deteriorando.
Nos Açores, apesar das inúmeras dificuldades em que vivemos, sobretudo, devido à escassez do crédito bancário, a boa gestão das nossas finanças públicas é validada, reconhecida e elogiada por um conjunto de instituições como o Instituto Nacional de Estatística, Governo da República, Comissão Europeia, Eurostat, a Missão da Troika em Portugal e, mais recentemente, pelo próprio Presidente da República.
Pelo contrário, esta táctica politiqueira do PSD, de a torto e a direito, tentar demonstrar que a nossa terra está à beira da ruína financeira, começa a parecer uma brincadeira de mau gosto, que, aparentemente, já incomoda a Secção Regional dos Açores do Tribunal de Contas, alguns dirigentes nacionais do PSD, membros do Governo da República e muitos empresários açorianos.
Para quem dúvidas tivesse do incómodo do Tribunal de Contas sobre a possibilidade de estar a ser instrumentalizado politicamente, bastaria observar o pronto desmentido do seu responsável máximo nos Açores ao Deputado do PSD, António Marinho, que tentava colar este órgão às contas de responsabilidades futuras da Região, de 3.300 milhões de euros inventadas pelo PSD: "Estas contas são suas, o Tribunal de Contas não apresenta nos seus relatórios o valor que refere!"
Aliás, nesta mesma audição parlamentar, a Secção Regional dos Açores do Tribunal de Contas acaba por reconhecer que os valores apresentados pelo Governo dos Açores sobre o custo das SCUT e do Hospital de Angra do Heroísmo não estão errados, embaraçando, involuntariamente, mais uma vez, o Partido Social Democrata.
Esta política do "vale-tudo" contra o Governo dos Açores, acaba também por criar constrangimentos ao Governo da República e ao próprio PSD nacional, pois, numa altura em que se quer distanciar da possibilidade de um segundo resgate a Portugal, a última coisa que necessita é que se levantem dúvidas sobre a veracidade das contas públicas nacionais, onde se incluem obviamente as contas da Região Autónoma dos Açores.
Só quem não conhece minimamente o funcionamento da economia regional é que pode afirmar que este tipo de afirmações irresponsáveis e mentirosas do PSD sobre o estado das contas públicas açorianas não afecta a actividade das empresas.
As empresas regionais já se debatem com inúmeras dificuldades em obter financiamento bancário e em conseguirem boas condições de pagamento aos seus fornecedores, devido à situação de falência em que o país se encontra e devido à má fama que o caos financeiro da Madeira trouxe às Regiões Autónomas, sendo que boatos como estes apenas contribuem negativamente para o normal funcionamento da nossa economia.
Assim, verificamos que as afirmações de Berta Cabral e do seu concorrente interno, Duarte Freitas, a dizer que os Açores precisam de um plano de resgate imediato não são apenas conversas de campanha eleitoral para convencer os eleitores menos atentos, são actos reflectidos e preparados com consequências que vão para além do governo socialista que tanto odeiam.
Numa altura em que o país está a sob observação atenta de instituições internacionais e dos seus credores, estas acções prejudicam o bom nome do país e sobretudo a economia  da nossa terra.
A irresponsabilidade tem limites!
Em política não vale tudo!

Os Açorianos merecem mais!



É normal em democracia um partido político levar ao Parlamento, um determinado tema ou assunto da responsabilidade do Governo, para sabermos mais concretamente os resultados da condução de uma determinada política pública, bem como, das alternativas propostas pela oposição parlamentar para este mesmo tema.
É esse o papel que cabe a um Parlamento:
Ser o centro da fiscalização da atividade do Governo;
Ser o centro da representação das vontades e das necessidades das populações;
E ser o centro de debate de ideias e de diferentes pontos de vista.
Espero de qualquer partido com representação parlamentar, uma crítica feroz e construtiva à atuação do Governo como também espero, perceber, destes mesmo partidos, o que pensam e propõem sobre os assuntos que são levados à discussão.
Na passada semana, o PSD propôs uma interpelação ao Secretário Regional da Economia sobre turismo, onde fez exatamente o contrário que se espera do maior partido da oposição.
Tentou criar um triste espetáculo de ataque ao Secretário Regional da Economia, Vasco Cordeiro, que é também candidato a Presidente do Governo dos Açores pelo Partido Socialista, acusando-o de ser responsável pela queda dos números do turismo, pelo custo dos transportes aéreos e pelas dificuldades das empresas.
Estas acusações foram realizadas de forma gratuita e em alguns casos, de forma falsa, por um partido que não consegue lidar com o seu passado de falhanço na implementação do turismo na nossa terra.
Um partido, desorientado, que acusou o Governo, em 2009, de ter reduzido as verbas da promoção turística da Região e que hoje considera que o dinheiro gasto nesta mesma promoção é excessivo.
Um partido que acha anormal, que, quando o país está falido, cheio de medidas de austeridade, sem saber o seu destino próximo, que os continentais reduzam as suas férias, nomeadamente para os Açores.
Um partido que ignora propositadamente o trabalho feito pelo Governo em trazer turistas estrangeiros para os Açores, com taxas de crescimento que em certos meses ultrapassam os 80%, com o objectivo de compensar a quebra nos turistas nacionais. Felizmente este objetivo foi conseguido, as dormidas estabilizaram em -0,1%, atingindo os turistas estrangeiros, pela primeira vez, o nível histórico de mais de 50% das nossas dormidas no ano de 2011.
Um partido que até há pouco tempo não conhecia nos Açores, porque os ignorou durante vinte anos, conceitos como o turismo de experiência: whalewatching, mergulho com tubarões, mergulho subaquático, pedestrianismo, birdwhaching, o surf, a espeleologia, os vulcões, etc..
E um partido que as únicas propostas que apresentou para solucionar os problemas que atravessamos é a criação de mais um conselho consultivo para discutir turismo ou de um programa de apoio aos transportes aéreos copiado de uma proposta do Governo Regional.
Para o Partido Social Democrata, a aposta na tática política mais básica, foi o seu principal objetivo: enquanto o seu grupo parlamentar atacava o candidato do PS no Parlamento, Berta Cabral arranjava, à pressa, uma inauguração de um parque de campismo, enquanto presidente de câmara, para tentar demonstrar que no seu município tinha trabalho feito na área do turismo.
Mas a tática em política, como em tudo na vida, nada vale sem substância e neste caso propositura séria sobre a matéria em discussão.
E como seria importante nos momentos difíceis que atravessamos, termos o contributo do maior partido da oposição, que, infelizmente, tudo critica e pouco ou nada propõe.
Os açorianos merecem mais!

“Um Projeto de Sociedade”



Em 1996, o Partido Socialista dos Açores ganhou as eleições Regionais porque teve a capacidade de apresentar um projeto de mudança profunda na sociedade açoriana.
Era um projeto conjunto do Partido Socialista com a Sociedade Civil, que prometia, o fim do domínio partidário nos empregos e na economia, uma abertura da economia ao investimento privado interno e externo, a criação de um mercado interno através da melhoria das acessibilidades, a aposta na modernização dos sectores tradicionais exportadores, como sejam, a agricultura e as pescas, a criação de infraestruturas e de apoios específicos, em todo o arquipélago, por forma a tentar proporcionar, à partida, uma igualdade de oportunidades a todos os açorianos, quer estes vivam nas Flores ou em São Miguel, assumir o turismo como o terceiro pilar exportador da economia açoriana e proporcionar um Estado Social universal, que fuja da conceção da caridade, que evite a exclusão e promova a recuperação e reintegração do indivíduo de uma forma plena na sociedade em que vive.
Ninguém no seu perfeito juízo pode dizer que este projeto falhou. Tal como ninguém no seu perfeito juízo pode dizer que todos os objetivos traçados então, estão plenamente concretizados. O objetivo da promoção da igualdade de oportunidades não é concretizável num determinado momento, como seja a construção de um edifício que tem um término específico. Tal como um Estado Social universal é um objetivo qualitativo e não quantitativo.
Mas mesmo os Velhos do Restelo de então, que criticavam este projeto e que, curiosamente, são exatamente os mesmos que o criticam hoje, reconhecem à “boca pequena” que tivemos sucesso, que se deram largos passos para a concretização dos nossos objetivos e que hoje os Açores são uma Região muito diferente, para melhor, do que eram em 1996.
Mas estes dividendos serão suficientes para a afirmação de um novo projeto político do Partido Socialista, protagonizado por Vasco Cordeiro?
Não! Vasco Cordeiro, com a sua equipa, desde cedo percebeu que precisávamos de ir mais além, de melhorar objetivos antigos (que continuam atuais), como também preparar a nossa terra para os novos desafios que o presente e o futuro nos trazem.
Vasco Cordeiro percebeu que o ciclo da infraestruturação dos Açores está perto do fim e que nesta área, devemos, sobretudo, incidir a ação dos poderes públicos em investimentos que gerem retorno à economia, como sejam portos, aeroportos (melhoria das acessibilidades) e equipamentos de apoio às empresas.
Vasco Cordeiro percebeu, que a aposta nas empresas que produzem bens transacionáveis (para exportação e substituição de importações) deve ser feita sobretudo em áreas onde podemos competir pela ausência de concorrente direto ou em outras áreas onde a qualidade dos nossos produtos se evidenciem, passando pelos sectores tradicionais como a agricultura ou em sectores mais alternativos na área do conhecimento.
Vasco Cordeiro percebeu que num Governo liderado por si, a principal prioridade deve ir para a criação de emprego e a qualificação adequada dos seus ativos.
Vasco Cordeiro e o PS assumiram desde cedo, que o futuro dos Açores não pode passar ao lado do seu maior recurso: o Mar!
Vasco Cordeiro percebeu que um partido fechado sobre si, envelhecido, não conhece a realidade onde vive e ignora os problemas das pessoas. Não é possível ter sucesso quando os principais responsáveis de um partido, como acontece com o PSD, são políticos a tempo inteiro há mais de 20 ou 30 anos. Como também não é possível protagonizar um projeto de governo para as pessoas onde todos os protagonistas sejam inexperientes.
É importante apresentar uma equipa e um projeto credíveis para os Açores, com um misto de experiência, com juventude qualificada, aberta à sociedade civil em todas as áreas.
Enquanto o PSD e a sua líder se preocupavam com questões partidárias internas, há muito já resolvidas no Partido Socialista, Vasco Cordeiro recebia, para já, o apoio e o contributo de mais de 1000 independentes.
Empresários dos sectores tradicionais e da inovação, a maior parte dos agentes do sector turístico do Açores, artistas, professores universitários e do secundário, trabalhadores e dirigentes de IPSS´s, médicos, trabalhadores por conta de outrem, juntaram-se no sentido de dar o seu apoio e contributo ao projeto do Partido Socialista para a nossa terra.
Porque afinal, é assim que deve ser: uma ideia e um projeto de sociedade, feito com o contributo desta mesma sociedade!

quarta-feira, abril 11, 2012

A "altura certa"

"Berta Cabral, reafirmou hoje que anunciará na "altura certa" a saída da Câmara de Ponta Delgada." Açoriano Oriental, 11 de Abril de 2012

Dar o dito pelo lapso (Serenamente, AO 10 de Abril de 2012)

Podia não ser muito grave se o país fosse uma espécie de réplica do “Portugal dos pequeninos”, com casinhas de fingir e janelas de espreitar para tirar fotografias e ruas de brincar e comida de plástico para enfeitar cestas e pratos e muita gente a rir e todos satisfeitos e por aí afora, mas não é. Portugal é um caso sério. É. Mesmo que os acontecimentos dos últimos dias, como o anúncio de que os subsídios de férias e de Natal só voltam a ser repostos, gradualmente, a partir de 2015, ano de eleições legislativas, ou a suspensão das reformas antecipadas pudessem fazer pensar ao mais comum dos cidadãos que Portugal é um país de faz de conta com políticos que se disformam como os espelhos do jardim zoológico... Parece que andam todos a brincar com a vida das pessoas. As notícias dão-nos conta de que o rendimento dos funcionários públicos vai sofrer uma redução de 3, 4 milhões de euros com o corte de dois subsídios e que cada um dos 400 mil trabalhadores perde, em média, 8500 euros em remunerações. Os governantes da República calam-se e quando falam dizem, com leviana leveza: “Foi um lapso!” Um lapso, senhoras e senhores. Por menos já vimos um Ministro ser mandado embora. Pois este “lapso” adia para dois anos à frente, a concretização de uma promessa que não é uma coisa qualquer, que mexe com a vida das pessoas, com a economia dos lugares, mas que a avaliar pelo silêncio soturno, só quebrado por Miguel Relvas, não interessa nada a quem governa o país. Não interessa (também) nada ao Presidente da República que, em vésperas de Sexta-Feira Santa, promulgou a lei que proíbe as reformadas antecipadas até 2014 para todos os que tiverem mais de 57 anos de idade e no mínimo 30 anos de descontos. Esta decisão sendo contra os trabalhadores é também contra as empresas. Por toda a Europa muitas empresas utilizam este sistema para renovar os seus quadros e manter as empresas competitivas. Em Portugal vai-se fazer exactamente o contrário. Li num artigo de opinião publicado no fim de semana da Páscoa que “as reformas antecipadas na Volkswagen alemã permitem a admissão anual de mais de 1500 jovens com contratos permanentes, jovens, cujo salário admissão sendo inferior ao salario do trabalhador que sai, permite por um lado a empresa subsidiar parte da pré-reforma e por outro, reduzir custos e fruto da idade e capacidade dos jovens admitidos aumentar a produtividade” (António Chora, Diário Digital, Rostos.pt). Ora o nosso Primeiro-Ministro podia ter olhado para a Alemanha, antes de tomar esta decisão que vai prejudicar mais ainda os trabalhadores e as empresas, juntando-se a uma série de outras más medidas que têm vindo a ser impostas. O lapso eleitoralista do Governo de Passos Coelho é uma mentira grande, pregada aos portugueses sem qualquer tipo de escrúpulo. Escreveu Medeiros Ferreira, no Correio da Manhã, a semana passada, que “ (…) Tudo ponderado é caso para dizer que este governo segue um caminho errado e ainda toma piores atalhos.” É bem verdade. Nunca se viu tanto lapso junto, ajustado a um calendário próprio e eleitoral de quem governa o país. Além da desgraça real que estes timings impõem, há a outra que afasta os cidadãos (mais ainda) dos políticos, que desanima os cidadãos (mais ainda) em relação à política e que nos prejudica a todos, sejamos políticos ou não. Quando políticos destes, representantes do Estado português, se negam a ajudar o Povo do seu país em detrimento das suas próprias agendas, podemos pensar tudo. Fazer qualquer coisa. Só não podemos ficar a assistir impávidos e serenos, enquanto nos roem os ossos e nos tomam por tolos.