sexta-feira, dezembro 24, 2010

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Bigodes, Maçaroca e Pirilampo


[O desafio lançado fez-me já escrever e apagar uns dez parágrafos de entrada. É um texto, o que se segue, muito diferente dos que é hábito escrever, com a responsabilidade acrescida de ser ilustrado pelo Álvaro Matos, que tem 3 anos e para quem o Natal é uma aventura e muito bom em casa do avô e da avó.
A ver se não lhe destruo a magia, já que o recado dele ao bom velhinho foi “manda-lhe um puxão nas barbas” que eu, por receio da reacção do senhor, não fui capaz de dar…]

Ora então, comecemos pelo duende “Bigodes”, o duende “Maçaroca” e o duende “Pirilampo” que são os três melhores amigos do Pai Natal, companheiros em todas as tarefas que têm que ser feitas, antes de irem entregar as ofertas às casas dos meninos e das meninas de todo o mundo.
Eles fazem brinquedos. Fazem todos. Fazem espadas, bonecas, princesas, pistas de carros de corridas e jogos de computador. Fazem cartas de jogar, livros de pintar, tractores, bicicletas e triciclos, bolas de futebol do Benfica, camisas de jogadores e televisões.
O Pai Natal tem uma fábrica de brinquedos. Fica no meio das nuvens por cima das nossas casas. É uma casa grande de onde ele costuma mandar beijinhos de boa noite aos meninos e às meninas de todo o mundo e de onde ele também vigia a ver se eles se estão a portar bem para saber se depois pode, ou não, trazer os brinquedos no Natal.
Este Natal já começou a azáfama. Tem sido uma trabalheira. É preciso separar as cartas por temas e depois fazer todos os brinquedos para não faltar nenhum. E são tantos os pedidos, que ele mandou vir mais duendes das outras ilhas para o ajudarem. E eles vieram de todo o lado. Alguns vieram na SATA à boleia, dentro das malas dos senhores e das senhoras e outros vieram de barco dentro de caixotes. Mas, já chegaram todos e agora tem sido um tal trabalhar.
Os duendes são muito pequeninos. Do tamanho de um dedo mindinho e moram nos parapeitos das janelas, dentro do frigorífico ou debaixo das nossas camas. Só os meninos e as meninas é que, às vezes, os conseguem ver, quando eles, no Verão, vestem os fatos de banho e vão nadar para as pocinhas na praia, ou então, quando os meninos e as meninas estão doentes e eles vão à beira das suas caminhas fazer-lhes festinhas para eles ficarem melhores.
São eles que abrem os caminhos nas chaminés para o Pai Natal descer e às vezes é preciso serrar como o “Bob, o construtor” os tectos das casas que não têm chaminé e depois por tudo como estava.
São eles que fazem os laços nas ofertas e que escrevem os nomes dos meninos e das meninas e são também eles que lembram ao Pai Natal onde mora o Álvaro e todos os outros meninos e meninas do mundo…
O Pai Natal, como os duendes, nunca se vai embora e nós sabemos sempre que ele quando se vai embora, volta. Gosta de futebol, mas não tem uma equipa só. É de todas. E usa óculos, como a avó para ler e jogar jogos no computador. Gosta de sopa de letras e de bolo de chocolate. De iogurtes de banana e de papa Nestum. É muito gordinho e toca piano.
As renas do Pai Natal são castanhas como o cão do avô. Voam como o Super-Homem e na noite de Natal é possível vê-las passar a tocar nas estrelas e a rir, a rir muito porque elas estão sempre felizes e contentes. Gostam de erva fresca como o coelho e de leite com chocolate e bolachas.
Os três melhores amigos do Pai Natal – Bigodes, Maçaroca e Pirilampo – gostam de ver desenhos animados, sabem cantar todas as músicas infantis e moram nos arbustos do jardim. Andam de tractor e gostam de corridas de carros. Comem gomas e gamas. Adoram ovos kinder!
Nestes dias costumam vir às nossas casas ver se já está tudo pronto para o Natal e passeiam nos presépios, pelas ruas pequeninas, saltitando, entre o musgo, a ver o Menino Jesus, a vaquinha e o burrinho a dormir. Fazem corridas nos troncos das árvores e jogam futebol com as bolas e os sinos que estão pendurados nos galhos.
… (Agora, que a história está a acabar vê lá se não os vês aos pulinhos por ali afora, vão andando alegremente nos risquinhos do chão, já com os seus cobertores e escovas de dentes, as chuchinhas e as fraldinhas, debaixo do braço. É tarde e eles vão dormir. Amanhã é dia de preparar as mochilas com pacotes de leite e sumo, bolachas e pão com queijo para começar a trabalhar).
Maçaroca, Pirilampo e Bigodes vão descer e subir todas as chaminés, abrir e fechar tectos de apartamentos para deixar tudo o que todos os meninos e todas as meninas do mundo pediram para ter este Natal.
[E eu que não dei o recado do Álvaro ao Pai Natal – o tal do “puxão nas barbas” ficarei à espera – pacientemente – a ver se não haverá mesmo motivo para lhe arrancar um ou outro cabelinho.
Há muitos anos que não vejo um duende que seja, não ouço as renas rir, nem sequer as vejo a rasgar o céu. Esta é a parte da história que não lhe lerei. Tem tempo para se desiludir e não será agora quando cheio de boa vontade e alegria contagiante me ofereceu esta árvore da sua casa com bolas, luzes, o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José, todos pintados a verde para “a história que tu me vais escrever no jornal”, como disse…]


* ilustrado por Álvaro Matos, 3 anos.

Irrepreensível

Roubado ao Repórter X

"«(...) Quando criámos a Remuneração Complementar para mais de 6500 funcionários públicos, nunca se duvidou da nossa competência e nunca se considerou uma quebra de solidariedade nacional. E agora que a aumentamos em 2,1%, estamos a não ser solidários? Quando aprovámos um Salário Mínimo Regional mais elevado, que beneficia cerca de sete mil trabalhadores do sector privado, também era eticamente condenável? E o Complemento para Aquisição de Medicamentos, que ajuda 12 mil idosos a comprar medicamentos mais baratos, também é uma falta de solidariedade com o Continente? E o Complemento Açoriano ao Abono de Família para 80 mil Crianças e Jovens, que aumentámos este ano, também é inconstitucional por falha de solidarização? E o Complemento de Pensão – o chamado "cheque pequeno" –, que representa 24 milhões de euros, que aumentámos e abrange cerca de 35 mil pensionistas, que ficam com uma pensão um pouco maior do que a que teriam no Continente, é, como diz o Senhor Representante da República, uma medida de "incompreensível egoísmo"? E se apoiarmos mais, como acontece, os nossos jovens no emprego, estaremos a proceder mal? E o IRS já inferior entre 20 a 30% ao Continente, também, como diz o Representante, é um "desprezo" pelo país? (...)»

Carlos César
Para ler/ouvir a intervenção na íntegra é clicar aqui

Não se pode trocar a Autonomia por uns votos!


A demagogia, a ignorância e a má fé têm de ter limites. Estes limites terão de ser impostos naturalmente, quando está em causa uma questão que está acima dos partidos políticos,como seja a Autonomia dos Açores, prevista na Constituição e num Estatuto próprio.

Não se pode considerar de somenos importância as atrocidades que têm sido ditas, a nível nacional, sobre a decisão do Governo Regional de compensar funcionários públicos pelos cortes que vão sofrer nos seus salários, determinados pelas medidas de equilíbrio das finanças públicas nacionais.

Aproveito, por isso, este espaço para repor algumas verdades sobre esta matéria, numa humilde tentativa de contribuir para o fim da contra-informação que os açorianos têm sido alvo por parte de políticos nacionais, de vários partidos, que deviam respeitar melhor a autonomia e ter uma noção muito mais clara da arquitectura do Estado em Portugal.

Em primeiro lugar, os funcionários públicos que auferem, mensalmente, menos de 1.500 euros não vão ter cortes de vencimentos, recebendo alguns, inclusive, outro tipo de complementos e de apoios ao seu vencimento. Justifica-se assim, facilmente, a opção Governo de compensar a faixa de funcionários da Administração Regional que ganha entre os 1.500 e os 2.000 euros, por serem aqueles, que sofrendo as medidas de austeridade, correm maior risco social.

Depois, como é óbvio, o Governo Regional não pode determinar salários, e muito menos complementos, que um empresário privado, eventualmente, queira aplicar na sua empresa. Esta é matéria da sua competência, enquanto empregador, que o Governo não se deve imiscuir.

Terceiro, não é verdade que os funcionários públicos regionais, que ganham entre os 1.500 e os 2.000, não sofram os cortes, como os seus colegas do Continente. Aliás, a compensação é por isso mesmo. Para compensar os cortes de vencimento que vão sofrer.

Em quarto lugar, é uma grande falácia querer passar a ideia de que os Açores têm verbas a mais e que, por essa razão, podem compensar os funcionários públicos. O Governo Regional vai receber menos dinheiro do Orçamento de Estado. Isso implicou que se redefinissem prioridades. Uma dela foi, exactamente, a da criação desta remuneração compensatória, que não é aplicada à custa de nenhum português, viva ele no Continente, na Madeira ou nos Açores. É aplicada, sim, à custa das verbas que estavam, inicialmente, previstas para melhoramentos no estádio de São Miguel e que, agora, passam a suportar esta compensação.

Estas são algumas verdades que precisam de ser repostas, sobre pena da contra-informação nacional, acolhida por alguns silêncios ensurdecedores a nível regional, poder causar danos irreparáveis na nossa Autonomia.

Aliás, é preciso esclarecer um outro ponto. O que o Governo dos Açores está a fazer com esta remuneração compensatória, mas também com as outras medidas já anunciadas para as famílias e as empresas regionais, não é mais do que até tinha pedido o PSD/Açores. Foi a própria líder do PSD/Açores que, no encerramento das jornadas parlamentares, reclamava do Governo Regional a “devolução” aos açorianos de verbas que minimizassem os efeitos da austeridade nacional.

Todos os partidos e mesmo sindicatos defenderam os Açores nesta questão autonómica. A única voz que não se fez ouvir foi o PSD/Açores, que se manteve em silêncio, enquanto os Açores eram denegridos na praça pública nacional.

Percebemos, apesar de tudo, que Berta Cabral apoie Cavaco Silva nas eleições presidenciais de Janeiro. O que já não compreendemos é que este apoio político se faça à custa dos Açores. Não se pode trocar a Autonomia por uns votos!

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Maiz´um colaboradô!

A partir de hoje e enquanto quiser o José Couto (também) posta aqui!
Boas Festas!

Dos Cortes à Compensação

Tenho ouvido, com algum pasmo, alguns reputados juristas da nação falar da inconstitucionalidade da remuneração compensatória que cobrirá integralmente a perda de vencimento dos funcionários da administração pública regional.
E ainda mais pasmo fico quando o Representante da República, ao exercer o seu direito de veto político nesta matéria, não se exime de fazer considerações jurídicas sobre a constitucionalidade da medida.
Não obstante o veto político do Representante da República ao Orçamento Regional afastar a possibilidade de fiscalização preventiva depois da confirmação do diploma pela ALRAA, nada impede que a questão da constitucionalidade seja colocada a título sucessivo.
Falemos então de inconstitucionalidades. Mas falemos de tudo, não apenas de algumas coisas que só servem concepções arcaicas e centralistas que em nada se suportam constitucionalmente.
Quando vejo José Sócrates inserir no Orçamento de Estado uma norma que determina o abaixamento unilateral e generalizado das remunerações dos trabalhadores da Administração Pública e a manutenção desse abaixamento por um período plurianual, ultrapassando portanto todos os limites do ano económico, fico perplexo ao verificar que estes mesmos zeladores da constituição não abram a boca para dizer rigorosamente nada acerca inconstitucionalidade material clara (por violação dos artigos 105º, nºs 1 e 3 e 106º, nº 1 da Constituição) que tal norma representa.
A estes constitucionalistas não impressionou que tal norma comprometesse as legitimas expectativas à integralidade e não redutibilidade remuneratória com base nas quais os trabalhadores visados oportunamente fizeram as suas opções e contraíram as suas obrigações. A eles não impressiona que de forma violenta, grave e desproporcionada se afectasse situações jurídicas anteriormente constituídas e se fizesse tábua rasa do princípio da confiança ínsito na ideia de Estado de direito (artigo 2º da CRP), nem tão pouco que esta norma consubstanciasse uma verdadeira restrição ou suspensão dum direito constitucional fundamental: o direito ao salário, consagrado no artigo 59º, nº 1 al. a) da CRP.
Estes exímios constitucionalistas só conseguiram ver inconstitucionalidades numa norma que repõe a justiça salarial nos Açores, numa opção política clara de encontrar soluções para a crise económica que não passam exclusivamente pelo sacrifício das pessoas e do seu nível de vida.
O que Carlos César provou é que havia outras opções e que não estão verificados os pressupostos da redução salarial que princípio da necessidade impõe nestas situações. É isto que incomoda tanto Lisboa, os Cavacos, os Sócrates, os Marcelos, os Jorges Mirandas e, por fim, o Representante da República… é isto que incomoda os arautos das teses neoliberais. Atrapalha a atitude de César, porque põe a nú a hipocrisia dos governantes que exigem sacrifícios do salário, emprego, saúde, segurança social de todos os portugueses, mas que ao mesmo tempo não exigem sacrifícios com as mais-valias e dividendos de alguns privilegiados.
Falemos claro, porque é isto que está em causa!
Os Açores têm autonomia política e financeira e as opções feitas são-no no quadro dos seus poderes e prerrogativas constitucionais e estatutárias. A medida em questão não custa um cêntimo a mais que seja ao Estado; trata-se apenas de uma opção legítima e justa que o Estado não soube fazer no seu Orçamento e que os Açores, sacrificando outros investimentos, se viram obrigados a compensar. Considerar isto uma violação dos princípios da igualdade e da solidariedade nacional é não perceber as bases do regime autonómico, fundado nas especificidades geográficas, económicas, sociais e culturais das populações insulares (artigo 225.º, n.º 1 CRP). Quem não tiver imaginação para mais, basta que pense que os custos nos Açores não são iguais aos do continente, nem tão pouco aos da Madeira (que tem apenas duas ilhas), e que uma redução salarial poderia conduzir a uma fuga de cérebros para sítios onde estes constrangimentos não se verificam. E é justamente por esta razão que o próprio Estado confere subsídios aos funcionários da administração central que trabalham nos Açores. Ou não é assim? Falar de falta de solidariedade dos Açores para com o restante país ou é brincadeira ou é ultraje: Brincadeira, porque se as opções fossem outras não reverteria um cêntimo que seja para o OE; Ultraje, porque há uma pesada factura histórica da República para com a Região que está longe de estar paga… Haja coerência!
Por todas estas razões só posso concluir que este “alevanto” político e jurídico contra as medidas do Governo dos Açores não são mais que uma tentativa de desviar as atenções dos problemas constitucionais do próprio OE, apontar o dedo à Autonomia como “bode expiatório” dos problemas estruturais do país e atacar aqueles que, como César, ainda acreditam no modelo social de Estado.

“O mar também é terra onde morar”

Normalmente, sem que isso represente qualquer tipo de menoridade, ou mesmo de anormalidade, dizemos da “nossa terra” que ela é nossa e linda, que não há outra como ela e que vivemos por aqui porque gostamos e porque assim escolhemos.
Somos os seus maiores admiradores e os seus maiores críticos. E porque somos daqui – “filhos” dela – podemos usufruir desse relacionamento saudável…
Quando estamos longe para estudar, para trabalhar ou mesmo porque escolhemos viver noutro lugar, continuamos a achar que ela é linda, que não há outra melhor e que é nossa.
O sentimento de pertença a um lugar tem um lado bom e um lado mau, é certo, mas não deixa de ser também uma grande responsabilidade.
O amor à nossa terra é um amor incondicional, que não se distrai com minudências ou se eclipsa sobre a vantagem de outros valores ou por medo de embates. Sendo incondicional, ele – o amor e ela – a terra esperam, mesmo assim, que sejamos capazes de os defender a ambos e de estar à altura disso quando, por uma razão, ou mais, formos chamados a dar um passo em frente.
A época de Natal – sendo grande em consumismo e intermitências de luzes – não deixa de ser também um bom momento para por as fitas de parte, para sacudir os papéis de embrulho e olhar (serenamente) para a nossa terra e para o amor que lhe podemos ou queremos dispensar. Somos livres de escolher.
É bom que se quantifique as vezes que fomos capazes de vibrar pelo sucesso das nossas gentes, onde quer que estejam, espalhadas pelo mundo, aqui, numa das ilhas do arquipélago, em todas…Afinal de contas diz-se e nisso eu acredito que existimos uns pelos outros, de uns para outros e uns com os outros.
À beirinha do Natal, já acesas todas as luzes e todas as palavras que anunciam as boas festas é com orgulho, que lemos sobre os Açores, o que diz, por exemplo, a revista Forbes: “um dos cinco destinos do mundo capazes de oferecer uma experiência única”…
Concordamos.
A terminar recomendamos o CD e DVD do projecto dedicado aos 25 anos de música original feita nos Açores.
Como (bem) lembrou um dos protagonistas no documentário de Zeca Medeiros – exactamente sobre os 25 anos de música original feita nos Açores – apresentado recentemente no Teatro Micaelense, citando o poeta Marcolino Candeias, o mote é: “Largar amarras./Ir decifrando/quantos portulanos na vida houver a decifrar./E se no fim faltar o cais para a chegada/o mar também é terra onde morar.” (excerto do poema Rota de Ítaca).
Boas Festas.

terça-feira, dezembro 21, 2010

NÃO PERCEBI

"Protesta PSD-A

SUSPENSÃO DE 5% ÀS AUTARQUIAS É “ATAQUE À AUTONOMIA”
O PSD-Açores, pela voz do seu vice-presidente, veio a público manifestar o descontentamento do partido sobre a suspensão das transferências financeiras de 5 por cento às autarquias dos Açores do IRS gerado na região, imposta pelo Governo da República
"

Jornal A UNIÃO

Enquanto Clélio Meneses acusa a República, Berta Cabral prefere doirar a pílula.
Coro de desafinados ou melhor, de finados.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

ACIMA DAS PARTIDARITES

"Reis Leite apela ao voto unânime da Assembleia Legislativa contra o veto político do Representante da República referente à renumeração complementar. O antigo líder do Parlamento, e comentador da Antena1/Açores entende que só assim é que a Região se afirma e marca uma posição sobre os seus poderes próprios. "
Antena 1/Açores - 13h.

domingo, dezembro 12, 2010

Mais do que uma opção, uma obrigação

Sempre considerei que a primeira responsabilidade de um político é saber estabelecer opções correctas e fundamentadas, sobretudo num contexto de crise, que cria grandes dificuldades a sustentar qualquer decisão que seja tomada.

Foi assim que aceitei como uma inevitabilidade a decisão do Governo da República, apoiado pelo PS e pelo PSD, de impor um conjunto de medidas de austeridade aos portugueses para salvar a nossa economia de um mal muito maior.

É correcto pensar, a meu ver, ou talvez não, que o Governo da República considerou que anular um investimento público, ou outras despesas correntes, até no valor de mais de mil milhões de euros traria mais problemas para a economia portuguesa do que a diminuição dos salários dos funcionários públicos (sensivelmente o mesmo valor) que ganham mais do que 1500 euros. É uma opção que lhe assiste e que pode ser compreendida com a necessidade de diminuir a despesa corrente primária e de manter um investimento público que estimule a actividade das empresas. Aliás não compreendo outra justificação para tomar uma medida tão grave como diminuir os salários da administração pública. O próprio Primeiro-Ministro salientou que, apesar de esta decisão não ser do seu agrado, sendo inevitável, era aquela que menos penalizava economia portuguesa no seu cômputo global.

Ora, na Região Autónoma dos Açores, o processo que orientou a construção do Orçamento Regional para 2011 foi muito semelhante. Tendo como objectivo a consolidação das nossas contas públicas, cortámos 10,5% nos consumos intermédios da administração entre 2009 e 2011 e, também, nas despesas com pessoal, através da redução do número de funcionários e das horas extraordinárias e de horários acrescidos, e da redução, nos últimos anos, de cargos de chefia e iniciamos um programa de poupanças no Serviço Regional de Saúde que permitirá reduzir encargos na ordem dos 14 milhões de euros.

Apesar de para o ano de 2011 o Governo da República nos transferir menos 20 milhões de euros, no âmbito da Segurança Social, e menos 9 milhões de euros, ao abrigo da Lei de Finanças Regionais, tendo em conta o espírito de solidariedade nacional que assumimos e partilhamos, prescindimos, por nossa iniciativa, do pagamento, em 2011, de uma verba de 16 milhões de euros relativa à recuperação de anos anteriores de má aplicação da Lei de Finanças Regionais.

Assumimos claramente, perante os açorianos, que ainda existiam opções disponíveis, que permitiam evitar cortar salários a grande parte da administração pública, sobretudo aqueles que mais seriam afectados pelas medidas de austeridade, sem prejudicar todo esforço de consolidação orçamental nacional com que nos comprometemos. Para isso bastava, cancelar a construção de um estádio de futebol e a cobertura de outro.

Assim, tendo em conta da importância do que está em causa, assumimos que seria uma irresponsabilidade da nossa parte não agir como agimos: prescindimos de investimentos, para já, pouco reprodutivos, salvaguardando o rendimento de 3700 famílias açorianas.

Pouco me importa se o Presidente da República quer aproveitar este momento para ganhar votos à custa do seu velho ódio pelas autonomias, se o PSD/Açores quer colocar os açorianos uns contra os outros e se alguns socialistas do continente são ignorantes sobre o nosso sistema autonómico. Se a autonomia dos Açores e Madeira não suporta este tipo de decisões sobre o nosso futuro, então para que é que serve?

Mas, se é certo que a nossa autonomia nos permite optar por atenuar os efeitos das medidas de austeridade, considero que devemos explicar claramente as nossas decisões.

Decidimos ajudar as famílias e as empresas, porque tendo a garantia de não afectar o esforço de consolidação orçamental regional e nacional, seria uma irresponsabilidade não o fazer.

Nos momentos de dificuldade, temos orgulho em trocar uma obra num campo de futebol pelo apoio aos açorianos. Foi para um Governo Regional ter esta capacidade de opção que gerações de açorianos lutaram. Pela parte do PS/Açores, a luta vai continuar!

quinta-feira, dezembro 09, 2010

DISCRIMINAÇÕES


Algumas avantesmas da política nacional e regional tendem a ver discriminação, pressuponho que positiva, na decisão do Presidente do Governo Regional ao atribuir a famigerada compensação salarial a parte dos trabalhadores da administração pública nos Açores.
Não conta aqui o habitual escarcéu, da direita e da esquerda, a reclamar melhor distribuição de riqueza, a perorar 10 anos pela de perda de rendimento na função pública ou a protestar os custos da insularidade. Estas, pelos vistos, eram outras discriminações…
Como não se trata de partidarismo, mas sim de açorianidade, neste contexto entra em conta a História e a Autonomia destas ilhas, se bem que a dois mil quilómetros de distância sempre foi difícil ver um boi das duas coisas. Quando muito, lá do aconchego do Terreiro do Paço, viam os cascos do animal e entendiam logo a parte pelo todo.
Da História somos centenários credores pelo sangue que nos sugaram enquanto escravos de serviço aos celeiros do reino, que fazendo cruzes à boca abarrotavamos de cereais os porões das naus do império;
Somos credores do ouro, das pedras preciosas e das especiarias que atulhavam de proventos os cofres de um poder ostensivo e distante, sem qualquer investimento nestas ilhas.
Somos credores dos senhores dos donatários pelas barbaridades aqui cometidas, das quais o suserano guardava apenas para si a decisão sobre a pena de morte e do “talhamento de membros”. Mesmo assim houve quem ficasse sem orelhas, sem dedos ou mesmo sem mãos a aguardar resposta dos sempre ignorados pedidos de justiça à Coroa distante.
Somos credores dos cegos e cruéis impostos lançados durante séculos sobre o nosso trabalho e as nossas exportações.
Somos credores das obras públicas feitas por mãos açorianas e pagas com o nosso suor.
Fomos solidários, sempre e sempre, nos contingentes para a morte nas guerras “santas” dos impérios da Monarquia e da República.
Da Autonomia clamamos por ela mesmo antes de 1895. Queríamos apenas ser Portugal aqui, nos mesmos direitos, liberdades e garantias, já que portugueses sempre o fomos e de modo exemplar.
Não reclamamos dos Jerónimos, do Centro Cultural de Belém, da ponte Vasco da Gama, do Metro, da EXPO 98 nem sequer do possível TGV. Contra a obsessão centralista ambicionamos tão só justiça numa administração regional, porque conhecedora da nossa realidade insular e porque vivendo de perto com ilhéus que até há pouco não conheciam os açorianos de outras ilhas.
Queremos a Autonomia pela melhor condução dos nossos destinos, pela resolução dos nossos problemas, pelo direito e igualdade de tratamento na Saúde, na Educação, no Desenvolvimento e no Progresso. A tudo isso edurante séculos nos reponderam com indiferença e verdadeira discriminação.
Agora e apesar desta insolúvel dívida, aqueles que nunca viram Portugal nos Açores acusam-nos, uns de traição à Pátria e outros de eleitoralismo, pelo simples facto de gerirmos melhor do que eles e com mais justiça o nosso próprio orçamento.
Nós, que até já os descriminamos, vemos que essas avantesmas ainda insistem nas discriminações.