quarta-feira, dezembro 31, 2008

Müz´ka



"(...) we´ll keep on fighting till the end!"
Queen

Bons Dias

"É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer Aurora"


No último dia do ano de 2008 escolhi Mário Cesariny, Exercício Espiritual.
Bom ano [ou bons dias, que é como quem diz "O Dia em vez de dizer Um Ano"]

terça-feira, dezembro 30, 2008

post it

Está promulgado o nosso Estatuto.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Óscares

José Manuel dos Santos olhou, aflito, as estrelas. De todas as que via nenhuma tinha vírgulas, assentos de expressão; um rasgo no olhar; um ar que entremeasse a vista e o alcance; travessões que lhes apoiassem a existência; um ponto e vírgula abraçados; palavras caídas e empastadas, partidas e desengonçadas, roubadas e desenhadas, traídas e despedaçadas, solenes e demoradas, gritadas e faladas, não houve uma, uma só, que sobressaísse no desfilar de vestidos brilhantes. Apagou a televisão.

Tirou dos bolsos os lápis de cor.

Desenhou na parede uma chaminé; na chaminé um sapatinho, no sapatinho um rebuçado, no chão ao pé do lume da chaminé, que também desenhou, um menino e uma mãe. Na mão do menino a mão da mãe. Nas outras mãos, que eram duas, uma estrela em cada uma. Chamou ao desenho: verdadeira noite de Óscares.

(E foi-se deitar com medo das represálias).

quarta-feira, dezembro 24, 2008

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Talvez seja Dezembro na memória

Escrevo no dia das montras, que é o dia 8 de Dezembro. Feriado. Dia, em que, durante muitos e bons anos, escrevia a carta para o velho de natal, enumerando, por ordem de vontades, as bonecas, as roupas e os sapatos que queria ter debaixo da árvore, a 24 de Dezembro. Lembro-me, como se fosse hoje, de tentar furar pelo meio das pessoas para ver o velho de Natal da Lusitânia (que para mim era o verdadeiro) ou de procurar chegar à montra dos Alemães (Loja da Preta) para ver a boneca que lá tinham (e penso que ainda têm) a fazer acrobacias. Também me lembro do cheiro das pipocas na rua, de comer das de açúcar vermelho, do brilho das luzes, que não eram tantas, do riso engraçado dos bonecos da Disney que apareciam naquele tempo, espalhados no jardim da Zenite e em frente ao Tribunal: a pata Margarida, o Donald; se não me engano o Bambi, a Branca de Neve e os sete anões. Lembro-me de quase tudo: do frio que nos lembrava natal; da roupa nova para levar a casa da avó, do cheiro novo da borracha das bonecas; da Joana que fazia bolas de sabão; de ver o velho de Natal no Alto da Barrosa; de pensar que ele vinha mesmo e que descia a chaminé e que comia do bolo e que escrevia beijos nos papéis que vinham dentro das ofertas. Lembro-me do dia em que me disseram que ele não existia; do primeiro contacto que tive com a ausência. A dele. De querer vê-lo e já não vê-lo; de ver a luz da Barrosa, que era só isso e mais nada, de perceber que já não havia nem renas voadoras, nem fábricas de brinquedos, nem duendes engraçados que saltitavam no telhado da nossa casa; nem nada… Nada. Só apenas a memória de o ter visto um dia sentado no nosso jardim…
Talvez seja Dezembro na memória foi a frase que me ocorreu, quando me convidaram para escrever sobre o natal…Ainda não tenho nem a árvore nem o presépio feitos. Luto (cada vez mais) para trazer Dezembro na memória. Um mês quietinho, frio a média luz; onde me vejo sempre a correr, pé ante pé, para junto deles. E eles com uns olhos grandes só para nós e umas mãos enormes amparadas e juntas fazendo a nossa casa. A lareira acesa de Dezembro, um avião, às vezes para apanhar, três fatias de bolo de fruta mais três cálices de aguardente. Há no mês de Dezembro esta nostalgia. Não sei se por causa das árvores ou do cheiro a azevinho. Sei, apenas, que por via das dúvidas, é natal outra vez, como tem sido há muitos, muitos anos para mim. A neve que não cai, senão nos filmes; a rena que não vem, porque não a vejo e esta sensação de ser Dezembro. As luzes a forrar a estrada, o resto de um ano a acabar, a mesa que se põe e não se tira, o cheiro a molha quente, o licor de café e a memória, enfim, a minha pouca, cheia de Dezembro. Dezembro que se acaba e não recomeça. Dezembro, que é Dezembro na memória. Que talvez seja assim ou talvez não.

sábado, dezembro 20, 2008

On Ice



A abstenção dos deputados do PSD na nação provou que não há “patinadora”, por mais rodas, que dê no “ice” improvisado, que consiga por cobro a tamanha vergonha (dela e dos seus). Todos os argumentos de defesa disto e daquilo que têm vindo à “pista” depois da votação de ontem são vagos e (incrivelmente) inábeis.
Não se está, para sempre, “on ice”… Às tantas começa-se a meter água, que é como quem diz a descongelar. No resto, a conservação do produto depende das temperaturas...
Espero agora pelo desenrolar das próximas “rodas”. Espero pouco, mas provo muito: falta sal nesse gelo todo e uma pimenta da terra.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

quinta-feira, dezembro 18, 2008

terça-feira, dezembro 16, 2008

segunda-feira, dezembro 15, 2008

domingo, dezembro 14, 2008

São as mais estranhas árvores

Para o Manuel Hermínio Monteiro.

" São as mais estranhas árvores, as que descem até às raízes;
pela última vez te visitam, antes que venha uma nuvem
ou que os animais te despertem a meio da noite. Estremeces
de tão pouco cuidado teres com essa maneira dos pássaros

se transformarem em fantasmas. A sombra poisa devagar
no teu ombro, como uma suspeita. Sofre-se muito: dois dias
depois lembra-se a passagem do tempo, a doçura das coisas,
como a da chuva a cair sobre os montes, a geometria

do mundo, as clareiras dos bosques, os muros das aldeias,
músicas que ouvimos antes. Teríamos sabido da morte de outra
maneira? A luz é muito diferente, nessa paisagem; escreveste-a
em silêncio, em cadernos que te chamam como uma despedida

até ao próximo Verão. Um relâmpago no céu, um rio ao fundo
da montanha: lugar tão perfeito como se de um geógrafo
se aproximassem os campos, os canais junto dos vales, as palavras
amadas. Teríamos sabido da morte de outra maneira?"

Francisco José Viegas

Não, não é possível


"Não - não é possível qualquer sono
com versos que não rasguem bem por dentro
a raiva das ruínas que se bebem
com ceifadas luas ou rosados sonhos.

Não - não é possível esse vento
que não levasse o ar até à vida:
fosse ela flor em crista de subida,
como alor de criança em crescimento,
fosse ela a faca lenta da descida
que vai de um fio de água ao desalento.

Não- não é possível ser esquecida
quanta matéria voga em cada dia,
o quanto fio perfaz nossa existência."


João Rui de Sousa, "Quarteto para as próximas chuvas"



sábado, dezembro 13, 2008

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Quem dá mais!!!

Às vezes temos coisas que já foram importantes na nossa vida, ou na vida dos nossos, coisas que já tiveram um valor elevado e uma utilidade constante.
Tempos depois olhamos para essas coisas, abandonadas, a ganhar bolor e a desvalorizar constantemente, mas sentimos uma réstia de nostalgismo, mesmo gratidão, pela vida que dividimos, e torna-se impossível de nos separamos desses nossos zombiados bens.
Mas ele há dias em que precisamos de criar coragem, de nos erguermos como Homens que somos e permitir que se valorize, através de outros e outras vidas, aquilo que já foi parte da nossa vida. Ele há dias que temos que assumir a palavra reciclagem, e acreditar que o lixo de uns pode ser o bem de outros, que aquilo para o qual não temos uso pode ter um valor de uso, ou mesmo um valor de troca.
Por isso, e portanto, decidi leiloar o Partido Social Democrata em hasta pública. Não tenho uso para semelhante bem, como está deteriora-se a olhos vistos, mas tenho esperança que alguém dê algum valor por aquilo que já foi, para alguns, uma “jóia da coroa”.
Pois minha gente! Quem dá mais!!!
Vamos começar com 100… 100… 100… E 100 vai uma!!!!

A senhora In@rq, ali à esquerda, baixou a licitação para 2 , como mais ninguém apresentou oferta vamos aceitar começar a 2.
E vão 2... 2 para a senhora In@rq! E vão 2!?!
Mais ninguém na sala acredita em reciclagem???
E vão 2... E vão 2 uma!?!?!?

Ningém interessado??!??
E 2 vão duas... e vão duas!?!
O Sr. aí atrás com falta de oxigénio! Não? Nada?

segunda-feira, dezembro 08, 2008

O escritor sem vergonha dos afectos


«Ensaísta e ficcionista, António Alçada Baptista, hoje falecido em Lisboa, aos 81 anos, admitiu ter na sua escrita uma sensibilidade feminina e ser dos poucos escritores que não tinha vergonha dos afectos.

"A minha obra escrita vende-se muito por uma razão simples, porque eu sou talvez o primeiro escritor que não teve vergonha dos afectos", disse um dia o escritor sobre a sua obra - ao todo 14 títulos - que percorreu o ensaio, crónica, novela e o romance.

Nascido na Covilhã em 1927, frequentou o colégio de jesuítas, onde foi profundamente influenciado pelo Cristianismo e por pensadores como Emmanuel Mounier e Teillard de Chardin, vindo a formar-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e exerceu advocacia entre 1950 e 1957.

"A Pesca à Linha - Algumas Memórias", obra assumidamente de memórias e recordações, revelou o profundo sentido afectivo que caracteriza a escrita de Alçada Baptista, enquanto em "Um Olhar à Nossa Volta" deixou o testemunho de uma vivência colectiva registada na década de 70 e 80 marcada por inquietações político-sociais.

Mas foi com "Peregrinação Interior - Reflexões sobre Deus" (1971) e "Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança" (1982) que obteve a unanimidade da crítica e do público.

Da sua obra constam ainda "Documentos Políticos" (crónicas e ensaios, 1970), "O Tempo das Palavras" (1973), "Conversas com Marcello Caetano" (1973), "Os Nós e os Laços" (romance, 1985), "Catarina ou o Sabor da Maçã" (novela, 1988), "Tia Suzana, meu Amor" (romance, 1989) e "O Riso de Deus" (romance, 1994).

Em 1961 e 1969 foi candidato pela Oposição Democrática nas eleições para a Assembleia Nacional e, de 1971 a 1974, foi assessor para a Cultura do então ministro da Educação Nacional, Veiga Simão.

Funcionário da Secretaria de Estado da Cultura desde 1978, presidiu aos trabalhos da criação do Instituto Português do Livro, a que presidiu até 1986.

Recebeu das mãos do Presidente da República Ramalho Eanes a Ordem Militar de Cristo, em 1983, e a Grã-Cruz da Ordem do Infante entregue pelo Presidente Mário Soares, em 1995, de quem foi colaborador.

Escreveu inúmeras crónicas na rádio, na televisão e em diversos jornais e revistas.

Sócio da Academia Brasileira de Letras, da Academia das Ciências de Lisboa, e da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, foi também presidente da Comissão de Avaliação do Mérito Cultural e administrador da Fundação Oriente.»


in "Lusa" (7.Dez.08, 19.46)

sábado, dezembro 06, 2008

Este nunca foi o nosso Portugal. Somos filhos de uma Mátria morta. Orfãos de um Quinto Império

Em declarações aos jornalistas, à margem de um seminário na Escola de Direito da Universidade do Minho, Freitas do Amaral afirmou que o diferendo à volta do Estatuto dos Açores é "uma questão delicada, que põe em causa o modelo de Estado unitário, com regiões autónomas insulares, criado pela Constituição de 1976 e que não é um estado federal".

O professor de Direito diz que Cavaco Silva "não pode ceder" na questão do estatuto dos Açores porque por se tratar de uma questão que põe em causa "a unidade da Pátria".

"Não é esta a forma de tocar em problemas tão delicados", observou, dizendo não ser aceitável que, "com os problemas financeiros, económicos e sociais que o país atravessa, se façam braços de ferro entre órgãos de soberania por causa das regiões insulares".

"Os órgãos regionais devem meditar sobre se este procedimento desencadeado a partir dos Açores é tão necessário assim, e se não nos Açores não há, ainda, problemas sociais nas camadas mais desfavorecidas que exijam apoio do Governo central", declarou.
Lusa, 05 de Dezembro de 2008, 16:13


Este nunca foi o nosso Portugal.
Somos filhos de uma Mátria morta.
Somos orfãos do Quinto Império

Müz´ka


Promises - THE CRANBERRIES

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Parabéns



Parabéns, An7ónio.

Muros

"Sem piedade e sem pudor, sem dó e sem cuidado
à minha volta espessos muros tão altos quem teceu?

E eis­‑me agora aqui na sorte a que fui dado,
em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.

Lá fora há tanto que fazer - tudo ruído!
E, se estes muros construíram, porque não dei por tal?

Não ouvi de pedreiro nem voz nem ruído
E sem saber fiquei fechado, sem vista e sem portal."


Ocorrências

"Aí o homem sério entrou e disse: bom dia.
Aí outro homem sério respondeu: bom dia.
Aí a mulher séria respondeu: bom dia.
Aí a menininha no chão respondeu: bom dia.
Aí todos riram de uma vez
Menos as duas cadeiras, a mesa, o jarro, as flores
as paredes, o relógio, a lâmpada, o retrato, os livros
o mata-borrão, os sapatos, as gravatas, as camisas, os lenços."



Ferreira Gullar