domingo, dezembro 31, 2006

Citação (importante)




"Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Amen."


Natália Correia
"Poesia Completa", Publicações Dom Quixote, 1999.

sábado, dezembro 30, 2006

Bom ano!

Se danço avanço e lanço o verbo alcanço.
Não fosse o ruído dos ossos
E isto era um balanço.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Aos Amigos

Por esta altura o velho de Natal já esteve nas vossas casas; prometendo voltar para o ano; escorregando pela chaminé abaixo ou, então, como me explicou a Rita, que tem 4 anos e mora num apartamento, furando o tecto com os seus sapatos especiais. Concordei. Afinal, que seria do Natal se não fosse a nossa imaginação? Felizmente que nem a Rita nem nenhuma das crianças que conheço dá muita importância à mãe Natal, essa figura que, agora não sei porquê (?), resolveu começar a aparecer. No meu tempo, a mãe Natal não acompanhava o velho de Natal na distribuição das ofertas. Só as renas. Nem se passeava com ele pelas ruas. Penso que essa novidade não veio acrescentar nada de interessante. A ver vamos.
Despeço-me aqui de 2006. Despedir um ano é das despedidas mais alegres. Creio. De uma forma ou de outra, mesmo que não os rebentemos, foguetes cairão sobre as nossas cabeças, fazendo com que, mesmo interiormente e inconscientemente, façamos planos para 2007. É humano.
Nunca gostei de despedidas. Mas, desta gosto. Despedir um ano não é a mesma coisa que despedir de um lugar ou de um amigo. Por isso também, quero dedicar esta nota de abertura aos meus amigos que “ficaram” em 2006. De alguns, consegui despedir-me. De outros, não tive ocasião. Mesmo assim são para eles estas linhas. Sendo certo que, como a Rita, eu ainda sou capaz de acreditar que, se puderem, eles hão-de furar o tecto da minha casa para me visitar. Daqui a três dias chega 2007. Para o novo ano, uns mais que outros, preparam artilharias de boa disposição, pastilhas de saúde ou bolachas de investimentos.
Sejam quais forem os planos dos leitores/colaboradores deste Suplemento, aos quais agradeço toda a colaboração e apoio, desejo um bom ano 2007. Portem-se bem. Ás vezes resulta…


Nota de Abertura publicada hoje, dia 28-12-2006 na edição do Suplemento de Cultura do jornal Açoriano Oriental
Colaboram nesta edição: Mónica Goulart, Susana Rosa, Mário Homem, António Melo Sousa e Nuno Barata. Fotografias: Paula Leal e Augusto Macedo.

Reparo de fim d´ano




Se no Teatro Micaelense se vendesse Hamburguers, o que é que acontecia ás obras circundantes?!

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Último Poema

"É Natal, nunca estive tão só.
Nem sequer neva como nos versos
do Pessoa ou nos bosques
da Nova Inglaterra.
Deixo os olhos correr
entre o fulgor dos cravos
e os dióspiros ardendo na sombra.
Quem assim tem o verão
dentro de casa
não devia queixar-se de estar só,
não devia."

Eugénio de Andrade, Rente ao Dizer (1992)

sexta-feira, dezembro 22, 2006

CARTA

“ (…) não devemos malquerer às mitologias assim,
porque são das pessoas
e, neste assunto de pessoas,
amá-las é que é bom(…)”
(
Herberto Hélder, in Revista Via Latina, 1991)

Querido.
Começo por te chamar querido, porque o és e, também, porque acredito que, sempre que quisermos chamar isso aos outros devemos fazê-lo, sob pena de perdermos a vez. A seguir, quero saber se estás bom e se passaste bem o ano, que está quase a acabar?
Pode que me respondas. Pode que me escrevas outra carta. Portei-me bem este ano. (Ponto).
Eu gosto tanto de receber uma carta, de abrir o envelope e ver as palavras todas arrumadas nas linhas. Gosto de desfiá-las uma a uma, como contas de um rosário ou, então ervilhas ou, ainda, pequenas pérolas de um colar rebentado há muitos anos na garagem da avó. Guardado como um segredo. (As pérolas caindo no chão como lágrimas. Fazendo aquele som, que só as onomatopeias sabem pronunciar).
Agora, sim, depois de tudo isto; de te perguntar pelo ano passado e o novo, de te dizer que me portei bem e de divagar um bocadinho como quem saltita num rolo de fita e agarra a rima num golpe de esgrima; passava a dizer-te como foi bom receber resposta às cartas que te escrevi ano após ano. Cartas para todos os gostos. Cartas sem linhas. Linhas com cartas. Cartas com quadrados; cartas enquadradas; cartas cortadas; incompletas; repetitivas. Os rebuçados que te mandei nas cartas. As gamas e as cores dos tecidos das saias e das blusas para as minhas bonecas; a lista infindável de nomes de livros e discos. Muitas cartas. A todas elas tive resposta em 1994. Tinha 18 anos. E, por falar em idades e datas, lembrei-me dos anos da Rosa.
Não sei se algum dia a Rosa te escreveu uma carta. Mas, conhece-la de certeza. A Rosa fez 100 anos o mês passado e apareceu muito bonita a falar na Televisão, com o seu sorriso grande e brilhante; onde sempre soube, que se lhe pedisse, cabia lá por inteiro. Talvez tenha sido a primeira vez, que a Rosa falou de si. Ela, que como explicou à senhora jornalista que a entrevistou: “nunca fez mal a ninguém”. E depois, não sei se viste (?), “bailhou” a Chamarrita. Tenho saudades do tempo de vigia da Rosa; da época, em que ela te substituía na tarefa de ver se nos portávamos bem. Eu, os meus irmãos e primos. (Minha querida Rosa. Digo). E lembro-me dela na Televisão e imagino-a nas ruas para cima e para baixo. Os seus óculos de massa, o lenço sempre na cabeça, o casaco de malha, a sua passada curta e um amor, um amor muito grande para dar sem “fazer mal a ninguém”.
Não quero parecer-te muito desorganizada por andar sempre atrás e adiante, mas ainda antes de recuar a 1994, quando me mandaste a carta escrita, a resposta a todas as outras cartas de há anos, naquele dia chuvoso e triste, deixa-me falar-te da primeira boneca que eu tive: a “Joana”. Não sei se te lembras? Deste-ma em 1979 e ela caiu de cima do sofá de casa do avô para o chão e ficou logo sem tomar leite. Tive que ta devolver. Voltou, meses depois, como nova. Fui buscá-la a casa dos avós, numa caixa, que imitava uma caminha e tinha um laço vermelho. Era linda. Ainda a tenho. Pode ser que o bebé que chega para o ano queira brincar com ela. Não sei. Se não quiser, pode brincar com o mini vermelho, que me deste, quase igual ao do pai, que era branco, ou então, com a bola de lã vermelha, que me ofereceste, quando nasceu o meu irmão. (Uma bola à Benfica). (Como vês, 2006 tem sido um ano de emoções). Voltando, a 1994 e à resposta da tua carta escrita em papel reciclado, uma folha. Foi um consolo. Abri-la e ler-te. Saber que não te vendo, estavas lá tu a ver-me. Saber que me ouvias, que me vias, que me lias; saber o que procurava há tantos anos. E, agora, deves estar a perguntar a ti próprio o que me leva, passados 12 anos, a escrever-te esta carta?
Tenho que me voltar a lembrar como é que se voa a fingir? Onde moram as fadas que curam as doenças? De que cor são os casacos dos duendes? Quem é a Carochinha? Como é que eu chego à lua?
E sei, que a estas perguntas, só tu me podes responder.
De modo que, a carta que me escreveste em 1994 e que era uma resposta a todas as que te enviei, desde 1978; primeiro com a letra da mãe e depois com a minha, vinha escrita pela tua mão e era curta e enorme ao mesmo tempo. Chegou num dia triste de Inverno. Ainda não era Natal. “Querida. Existe e Insiste. Um beijo do velho de Natal.” (Janeiro, 1994). A carta era esta.
Por isso, estou, com a devida distância - como o poeta -: “Com medo de o perder nomeio o mundo (…)” (Vitorino Nemésio) e é esta a razão para te escrever. (Simples, parece-me). Preciso de saber tudo o que já te disse e mais coisas. Onde se encontram as poções mágicas do Asterix e os espinafres do Popeye? As estrelas dormem?
Preciso de saber (também isto) para continuar a existir e a insistir. Por isso, aqui estou e aqui deixo escrito: com medo de te perder, nomeio-te: Querido Velho de Natal. (E chamo-te “querido” para não perder a vez )…

Texto publicado no dia 22 de Dezembro de 2006, jornal Açoriano Oriental, Suplemento de Natal

Boas Festas! (3)

Ó Gente da Minha ...



Mariza

Boas Festas! (2)

Tabacaria.mp3


"Tabacaria", Álvaro de Campos, dito por João Villaret

quinta-feira, dezembro 21, 2006

domingo, dezembro 17, 2006

Cerco


Foto:A.Pascoal

O «weekend postcards» do Alexandre retoma uma questão que foi referida no programa Estado da Região e, cuja resposta ficou por se saber...
As obras do parque em frente ao TM são hoje uma espécie de "cerco" ao espaço e, por via disso, dificultam em demasia quem quer assistir a um espectáculo naquele imóvel.
Será que se irá passar o mesmo nas Portas do Mar?
E se as obras fossem do Governo e estivessem a decorrer na Rua de Lisboa e na Avenida Roberto Ivens?

Para ouvir


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"Queria de ti um país de bondade e de bruma
Queria de ti o mar de uma rosa de espuma."


Mário Cesariny
Sinais (TSF)

sábado, dezembro 16, 2006

Trapézio



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«Contamos segundos
Instantes escassos
Caímos mil vezes
Seguidas de abraços ;
A dança é divina
Ela vive no ar
Ela voa sem asas
Não quer aterrar

É bom arriscar o salto,
Planar,
Sentir de novo emoção...
É tão bom
Saber que a morte
É falhar
Voar de encontro à tua mão

Aqui, no trapézio,
A rede é distante
O meu horizonte
É um braço errante ;
Despimos as horas
Perdidos no espaço,
Entre o rugir de um leão
E o choro de um palhaço

É bom arriscar o salto,
Planar,
Sentir de novo emoção...
É tão bom
Saber que a morte
É falhar
Voar de encontro à tua mão»


Jorge Palma
A ouvir aqui

sexta-feira, dezembro 15, 2006

quinta-feira, dezembro 14, 2006

ES VERDAD

"Ay qué trabajo me cuesta
quererte como te quiero!

Por tu amor me duele el aire,
el corazón
y el sombrero.

Quién me compraría a mí,
este cintillo que tengo
y esta tristeza de hilo
blanco, para hacer pañuelos?

Ay qué trabajo me cuesta
quererte como te quiero!"


Frederico García Lorca

segunda-feira, dezembro 11, 2006

www.tvnet.pt



Está de volta a primeira Televisão Nacional na Internet

domingo, dezembro 10, 2006

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Bom Fim-de-Semana!

"We are the champions - my friends
And we'll keep on fighting - till the end
We are the champions -
We are the champions
No time for losers
'Cause we are the champions - of the world"


Original: Queen
Versão que estava aqui antes; encontra-se aqui agora

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Citação (porque sim)


Foto: Cláudia M.
«Somos nós
As humanas cigarras!
Nós,
Desde os tempos de Esopo conhecidos.
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.
Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos
A passar!...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras,
Asas que em certas horas
Palpitam,
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura!
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz!
Vinho que não é meu,
mas sim do mosto que a beleza traz!

E vos digo e conjuro que canteis!
Que sejais menestreis
De uma gesta de amor universal!
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural!
Homens de toda a terra sem fronteiras!
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!
Crias de Adão e Eva verdadeiras!
Homens da torre de Babel!

Homens do dia a dia
Que levantem paredes de ilusão!
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão


Aos Poetas, Miguel Torga

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Citação (importante)

«(...) Simon de Beauvoir: E voltando ao Prémio Nobel, a que foi então a mais escandalosa das suas recusas, a que foi mais conhecida, a mais comentada?
J.P.Sartre: (...) O Prémio Nobel consiste em dar um prémio todos os anos. A que corresponde esse prémio? Que significa um escritor que recebeu o prémio em 1974, o que quer isso dizer em relação aos homens que o receberam antes, ou áqueles que não o receberam mas que escrevem como ele e que são, talvez, melhores? Que significa esse prémio? Pode-se dizer verdadeiramente que no ano em que mo deram eu era superior aos meus colegas, os outros escritores, e que no ano seguinte foi outro que o foi? Devemos verdadeiramente considerar a literatura desta maneira? Como pessoas que são um ano superiores, ou então que o são há muito tempo, mas que serão reconhecidas nesse ano como superiores? É absurdo. É mais do que evidente que um escritor não é alguém que, num dado momento, é superior aos outros. Ele é igual aos melhores, quando muito. E «os melhores» continua a ser uma fórmula errada. Ele é igual áqueles que fizeram realmente bons livros, e além disso é-o para sempre. Fez aquela obra, talvez cinco anos antes, talvez dez anos antes. É preciso qualquer coisinha nova para que nos dêem o Prémio Nobel. Eu tinha publicado Les Mots; eles acharam aquilo válido e deram-me o prémio um ano depois. Para eles, aquilo dava um novo valor à minha obra. Mas deveremos concluir daí que, no ano anterior, quando eu não tinha publicado essa obra, valia muito menos? É uma noção absurda; essa ideia de colocar a literatura em hierarquia é uma ideia completamente contrária à ideia literária, e pelo contrário perfeitamente conveniente para uma sociedade burguesa que quer integrar tudo. (...) E foi por isso que eu recusei o Prémio Nobel, porque não queria de maneira nenhuma ser considerado como um igual a Hemingway, por exemplo. Gostava muito de Hemingway, conhecia-o pessoalmente, tinha ido vê-lo a Cuba, mas a ideia de ser comparado com ele, de estar numa categoria qualquer em relação a ele, estava muito longe do meu pensamento.
Há nisto uma ideia que acho ingénua e estúpida. (...)»


Excerto de Conversas com Jean Paul Sartre, incluídas na obra de Simone de Beauvoir "A Cerimónia do Adeus", ( tradução: Helena M. dos Santos), Bertrand, 2ª edição, Lisboa, 1991, pp. 233, 234.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Festa sem pipocas e balões...


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Venda na rua proibida durante o dia das montras

«A Câmara Municipal de Ponta Delgada emitiu um edital a informar que é expressamente proibido a venda ambulante na baixa de Ponta Delgada a 8 deDezembro, durante a festa das montras.
O edital, assinado por Berta Cabral, presidente da autarquia de Ponta Delgada refere que “fica proibido o exercício de qualquer actividade de venda ambulante durante o próximo dia 8 deDezembro, nas ruas António José de Almeida, Hintze Ribeiro, Manuel Inácio Correia, bem como em toda a zona circundante à igreja Matriz de São Sebastião e Praça Gonçalo Velho”, declara o edital.
Desta forma o único local onde poderá haver venda ambulante no dia das montras será nas áreas periféricas à baixa de Ponta Delgada.»

Açoriano Oriental, 4 de Dezembro de 2006, pag.8

Depois da Batalha das Limas e das Festas do Sr. Santo Cristo chegou a vez do Dia das Montras também sofrer a sua "adaptaçãozinha"....
Haja saúde e paciência!

domingo, dezembro 03, 2006

Citação (importante)

«e é preciso correr é preciso ligar é preciso sorrir
é preciso suor
é preciso ser livre é preciso ser fácil é preciso a roda
o fogo de artifício
é preciso o demónio ainda corpolento
é preciso a rosa sob o cavalinho
é preciso o revólver de um só tiro na boca
é preciso o amor de repente de graça
é preciso a relva de bichos ignotos
e o lago é preciso digam que é preciso
é preciso comprar movimentar comércio
é preciso ter feira nas vértebras todas
é preciso o fato é preciso a vida
da mulher cadáver até de manhã
é preciso um risco na boca do pobre
para averiguar de como é que eles entram
é preciso a máquina a quatro mil vóltios
é preciso a ponte rolante no espaço
é preciso o porco é preciso a valsa
o estrídulo o roxo o palavrão de costas
é preciso uma vista para ver sem perfume
e outra menos vista para olhar em silêncio
é preciso o lôgro a infância depressa
o peso de um homem é demais aqui
é preciso a faca é preciso o touro
é preciso o miúdo despenhado no túnel
é preciso forças para a hemoptise
é preciso a mosca um por cento doméstica
é preciso o braço coberto de espuma
a luz o grito o grande olho gelado

e é preciso gente para a debandada
é preciso o raio a cabeça o trovão
a rua a memória a panóplia das árvores
é preciso a chuva para correres ainda
é preciso ainda que caias de borco
na cama no choro no rogo na treva
é precisa a treva para ficar um verme
roendo cidades de trapo sem pernas»

Mário Cesariny, "Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano", in manual de prestidigitação, Lisboa, Assírio e Alvim, 1981.

sábado, dezembro 02, 2006

É da vida....



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Croniqueta XLV ou O Fífia é um cidadão com C grande e, só não o é com S, porque seria erro duplo...



O Fífia é um cidadão exemplar. Vai às compras todos os dias. Não fica fechado em casa.
O Fífia é um cidadão que se recomenda, um pirilampo, cujo rabo luz, por festejo, associado à iluminação da sua cidade, por dever e respeito aos seus concidadãos.
O Fífia é um cidadão com C grande e, só não o é com S, porque seria erro duplo!
O Fífia é um tapete vermelho; deitado no chão, parece de rolo, em pé, até podia forrar as estátuas ou fazer laços.
Cheguem-se a ele varandas, escadas, paredes, janelas ou até vidros, que ele, sem dó nem piedade, esguicha luz do seu rabo iluminado. Certeiro, como uma seta e astuto como um disparo à moda do Robin dos Bosques, anda, atarefado em compras. Já comprou meias para a mãe; agulhas para as Tias e umas barbatanas para a namorada. Umas lindas e verdes barbatanas fluorescentes para daqui a ano e meio, ele e a Iveti irem passear nos parques subterrâneos da avenida marginal. Os dois cidadãos exemplares, que não andam de Mini-Bus, mas que, de certeza, trarão o carro para debaixo do chão da avenida; contribuindo assim, para o desafogo do centro urbano.
Mas, voltemos às compras do Fífia. As lojas cheias de novidade e os anúncios na TV deixam o seu coração aos pulos. Viajar. Ir comprar ao continente.
O Fífia, cidadão exemplar, que compra todos os dias, nem que seja um copo de água, a 0,14 cêntimos no Hiper, e sai de casa para passear tranquilo, às 5 da tarde, no Campo de São Francisco, vai ao continente e quando chegar espera ter à sua espera: um Diploma. Afinal, ele é o cidadão mais exemplar com o rabo mais luminoso, que os anjos da matriz. Ele é o nosso Fífia, que já leu o Verdadeiro Método de Estudar, e até se sente Verney. Desta vez, neste Natal, quer, nada mais nada menos, do que um Diploma de Cidadão Exemplar; ele que sai de casa todos os dias; ele que fotografa os buracos da cidade; ele que atravessa todas as ruas da cidade, mesmo as mal iluminadas, às 8 horas da noite mais a sua Iveti; ele que já se ofereceu para ser cartaz turístico, vestido de Toupeira; ele que, nas Festas do Espírito Santo, até andou de coroa giratória e musical, ele, sim, só ele, merece receber um Diploma.(Para mais tarde fica o nome de rua).
É um cidadão exemplar. Agora, que fez o pedido e, porque é cuidadoso, vai esperar que a edilidade o anuncie mesmo, com provas e tudo, que é para ter a certeza, que o que recebe não é, apenas, um prémio de consolação pelo esforço.
E, claro que, também espera ser convidado para a sessão; em caso de ele não estar, por estar a cumprir a sua cidadania exemplar e estar, quem sabe, no Porto ou em Leiria, a fazer compras, pode, sempre, fazer-se substituir pelas tias.
Isto, para depois não se dizer, por lá, que ele não confirmou a sua presença. Não estaria certo. Porém, o Fífia tem confiança e sabe que tudo correrá bem.
Ele há-de estar e receber beijinhos e, quem sabe, até se não leva uma medalha.
Aguarda, agora, a chegada do primo “jerIMIas”. O primo que vem da Europa para ficar alojado durante 3 anos, em casa das tias. Vem de surpresa. Só o Fífia sabe as razões da sua vinda e está muito contente com isso. Afinal, não é todos os dias que se tem a oportunidade de ter um primo "jerIMIas". Um primo Europeu, que há-de trazer novas modas. Um primo que, ao telefone, lhe perguntou: há aí estacionamento para bicicletas? Um primo, sem sombra de dúvidas, bom. Em casa das Tias, "jerIMIas" ficará de graça. Parece que o rabo dele também luz. E que as lâmpadas que lhe coroam o dito têm autonomia suficiente para se manter aceso nos próximos 3 anos. Uma sorte, pensou o Fífia acerca desta novidade. As tias ficam a ganhar.
Ele também.

!!!


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