sábado, agosto 30, 2008

Agenda: Mostra Labjovem



Programa:
Exposição (BD/Design Gráfico/Fotografia/Artes Plásticas) 29/08 a 21/09
Performance 30/08
Vídeo 11/09
Música 12/09
Café Literário 18/09

Mais informações aqui

quarta-feira, agosto 27, 2008

A FOME É INIMIGA DA HONESTIDADE


São quase permanentes as notícias sobre a criminalidade e a violência neste mundo de hoje. Por via directa, por via da comunicação social ou da internet, o cidadão comum está em contacto directo e diário com este fenómeno conjunto que tende a expandir-se, sem controlo aparente das autoridades nem solução à vista por parte dos governos.
Não será, com certeza, fácil obter uma resposta eficaz ao problema que se constitui no crime e na violência. Mas o que nos salta aos olhos é o modo superficial e institucionalizado com que se procura o êxito apenas pelas aparências, pelas estatísticas e, obviamente, no fim da linha deste complexo processo. Quero com isto dizer que as propostas de solução anunciadas visam, quase sempre, a acção das forças de segurança, o aumento dos efectivos policias e a maior duração e severidade nos castigos aos prevaricadores. Ora, se considerarmos a pobreza como a base geradora de grande parte do crime, da violência e, naturalmente, da insegurança, no âmbito internacional, talvez por aí se compreenda melhor a questão. Primeiro porque, dizem os especialistas, se pega no assunto pela raiz; segundo porque melhor do que conjecturar sobre o preço de cada homem, será pensarmos que cada ser humano tem o seu limite de sofrimento, sabendo-se, por vezes, o quanto a honestidade depende da fome.

Poema

"Homens que são como lugares mal situados
Homens que são como casas saqueadas
Que são como sítios fora dos mapas
Como pedras fora do chão
Como crianças órfãs
Homens sem fuso horário
Homens agitados sem bússola onde repousem

Homens que são como fronteiras invadidas
Que são como caminhos barricados
Homens que querem passar pelos atalhos sufocados
Homens sulfatados por todos os destinos
Desempregados das suas vidas

Homens que são como a negação das estratégias
Que são como os esconderijos dos contrabandistas
Homens encarcerados abrindo-se com facas

Homens que são como danos irreparáveis
Homens que são sobreviventes vivos
Homens que são como sítios desviados
Do lugar."


De Daniel Faria, roubado daqui.

terça-feira, agosto 26, 2008

Quote

"Não há revolta no homem
que se revolta calçado.[...]"


excerto poema: "Do Sentimento Trágico da Vida", Natália Correia

segunda-feira, agosto 18, 2008

Soneto à la minute

Transforma-se um José em coisa pouca
Anónima, sem nome e sem espinha.
Careca, gorda, magra, voz fininha.
Baixinha, meia-leca ou voz rouca.

E nela cresce a alma transformada,
Meia mascarada com poses de travesti.
Boneca de duas faces que chora e ri.
É coisa pouca, é José e não é nada.

Mas esta feia e grotesca criatura,
Que deixa o seu veneno onde passa
Tem sujos os sapatos, fraca imagem.

Morrendo só na praia, triste figura.
Não vira o disco e é bobo de praça
É tolo, é tanso, é ele: é um selvagem.


(baseado no Soneto de Luis Vaz de Camões: Transforma-se o amador na cousa amada)

sábado, agosto 16, 2008

Os Colombos

«Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.»


Fernando Pessoa ( II parte, " Mar Português", Mensagem)

sexta-feira, agosto 15, 2008

Fim de Tarde em Santo Amaro


...E eu conto continuar por aqui!...

FIM DE TARDE


Este fim-de-semana conto estar por aqui.

quinta-feira, agosto 14, 2008

(IN)COERÊNCIAS




Um homem hoje tem de saber de antemão onde botar os pés. Há sempre um compadre à espreita, de língua afiada e veleiro de caneta que, mal a gente trambique nos tamancos, ele estende de pronto a biqueira fina do seu sapato para nos ajudar no trambolhão. E o pior, pior é que o corisco é criatura de estudos, rapaz de outros meios que forte com a minha fraqueza começou logo numa arenga comigo só porque eu pedi “coerência” aos políticos. Foi tudo por causa disso… Mais nada!
Ora, no meu fagueiro entender e julgando que os políticos, quer se dizer, os deputados, são gente como a gente, esse palavra cara da “coerência” era só para dizer que um homem que se preze, tal como meu pai que foi carpinteiro me ensinou, deve ter uma certa coisa, como é que eu hei-de dizer… Uma certa carreirinha, assim como se fosse um atilho a que se amarra numa ponta o que se diz, na outra o que se pensa e ao meio faz-se dois nós cegos, bem apertados, para engatar o que se sente e o que se faz. Não sei se me fiz perceber…? Lá no fundo, tenho cá na minha que o que meu pai me queria dizer era que se deve fazer as coisas da maneira a que a gente se respeite a nós próprios e acredite que é o melhor e o mais justo para os outros. Aquilo era só para lembrar que um homem não é só corpo e paleio, é também alma e pelo menos uma pisca de dignidade que o leva a decidir conforme, e não contra, a realidade. A gente sabe todos que há deputados que ainda pensam – poucos - outros que falam sem pensar – estes são mais - e há ainda aqueles especialistas no meneio da cabeça e na leitura de votos de louvor ou de pesar – estes são mais do que um magote de coriscos. Meu compadre, que já por lá andou, sabe bem o que eu estou dizendo, mesmo sem fazer ameaços.
É claro que essa coisa da “coerência” tem um bocadinho a ver com o berço e com os cueiros da nossa educação e não atafulha, nem por sombras, que um homem mude de ideias e de opinião, desde que para coisa melhor e, bem entendido, de justa causa, lá está, de “coerência” e não de conveniência.
Eu sei, até pela boca santa de meu compadre que o povo sábio fala que “só não mudam de opinião os burros” e também sei que meu compadre diz que quando os socialistas mudam de opinião, mesmo sendo pela Autonomia, são troca-tintas e serôdios, porque os temporãs se julgam donos dela. Pois é levar… Mas isso nem sequer é incoerência, não senhor. O povo é o povo e meu compadre é o meu compadre, já foi deputado e daí poder e saber mandar às malvas os atilhos, barbantes e amarrilhos que nos prendem a esta coisa tosca e inútil que parece ser a consciência.
Incoerência, incoerência, daquela de arder, mesmo de ferir lume, é o meu rico compadre na primeira metade de um minuto dizer que está “totalmente de acordo” com o meu texto e nos restantes trinta segundos não consentir em nada com o que está lá escrito.
Fogotabrase mais à "coerência" na política, que ficando eu sem saber o que ela vale, o melhor mesmo é deixar de saber o que ela é.







Resposta ao Desafio

Propõe-me Paulo Pereira do blogue Basalto Negro, que trace um circuito virtual à ilhas do triângulo. Confesso que me é muito mais fácil fazê-lo na ilha do Pico, porque a conheço melhor. Tudo fiz para que São Jorge e Faial não ficassem atrás. Contudo uma coisa é certa e posso afiançar aqui encontra-se peixe, carne, vinho e leite dos melhores dos Açores. Para não falar das Espécies de São Jorge, do bolo de milho do pico, das bolachas da Padaria Popular, no Faial. Da angelica. Da belíssima angelica, da salsicha e da linguiça e do limão tangerino. Aqui fica então a minha proposta de circuito:


1º Dia-
Viaje para a ilha do Pico, a partir de Lisboa, através de Ponta Delgada. Deverá chegar a Ponta Delgada, à noite. Aproveite para jantar na cidade. Escolha uma das residenciais locais para dormir. A Carvalho Araújo, por exemplo.
2º Dia-Na manhã seguinte, embarque nas Portas do Mar, no novo terminal de passageiros, no navio da Atlanticoline. Comece a desfrutar da vista das ilhas do triângulo a partir da saída da ilha Terceira, quando vir São Jorge com o Pico, por cima. Com sorte, numa das suas visitas ao tombadilho do navio, vai ter oportunidade de avistar cardumes de golfinhos, baleias e tartarugas.
O navio chega ao Pico por volta das 20 horas. Dirija-se até à freguesia da Prainha, onde se pode instalar nas unidades de Turismo Rural: Quinta da Ribeira da Urze, ou Abegoaria, por exemplo. Depois de instalado, dirija-se ao Restaurante Casa do Paço, que fica na mesma freguesia e está aberto até mais tarde. Jante. Depois do jantar, aproveite para dar uma volta na festa da freguesia, que acontece entre os dias 12 e 15 de Agosto. Ouça a filarmónica local. Compre rifas na quermesse. Com sorte, sair-lhe-á uma peça única de artesanato local. De seguida, vá-se deitar. Adormeça ao som das cagarras.
3º Dia-09h00 é hora de acordar. Espera-o um pequeno-almoço com produtos regionais. Pão, Massa sovada e queijo da padaria e queijaria locais. Depois do pequeno-almoço, saia em direcção à freguesia vizinha: Santo Amaro. Visite a Escola Regional de Artesanato e o Museu Marítimo. Tome um banho no porto de Santo Amaro e à hora do almoço pode optar por almoçar uma sopa, mesmo no porto desta freguesia. Se preferir comer de faca e garfo dirija-se ao novo Restaurante do Caisinho, em Santo Amaro também, ou então à freguesia da Piedade, onde encontra bons restaurantes.À tarde, depois do almoço, visite o oleiro na Piedade. Depois regresse à Prainha. Na cruz da Terra Alta, entre na estrada de meia encosta. Desfrute da vista para São Jorge, Graciosa e Terceira. Saia na Prainha de Cima. Dirija-se ao seu alojamento. Tem marcado um percurso pedestre: o Trilho da Baía de Canas, por exemplo. São 17 horas, quando acabar. Tome um banho de mar nas Poças da Prainha. Depois dirija-se a São Roque do Pico, visite o Museu da Indústria Baleeira. Siga, depois, para a Madalena. Tome a estrada regional. Em Santa Luzia, desça para os Arcos, chegará à zona da Barca. Dirija-se ao centro da Madalena. Jante no Restaurante, a Parisiana, por exemplo. De seguida, dirija-se novamente para a Prainha. É dia de Chamarrita. Aprenda a “bailhar”. Adormeça novamente ao som das cagarras. Estão por aqui todos os dias.
4º Dia-Saia logo de manhã da Prainha, em direcção à montanha do Pico, pelo caminho da transversal. A caminho da gruta das Torres, visite a Lagoa do Capitão. Após a visita à gruta das Torres, dirija-se às Lajes. Pare para almoçar na Aldeia da Fonte, por exemplo. Depois, visite o Museu dos Baleeiros e o Espaço Talassa, na vila. Regresse à Prainha, pela ponta da ilha. Tome um banho na piscina natural de Santa Cruz das Ribeiras. Lanche na Geladaria das Pontas Negras. Vá jantar a Santo António, no Restaurante Rochedo, por exemplo. Depois dirija-se à Prainha, deite-se cedo. Amanhã de manhã, apanhará o barco para o Faial, na Madalena.
5º Dia-No Faial, vá ao Vulcão, tome banho no varadouro, almoce. Escolha um restaurante, no centro da cidade. Tome café ou um gin no Peter. Admire a vista para o Pico. Suba ao Monte da Guia, veja a cidade a partir daí. Aprecie os barcos e as pinturas na Marina. Visite o Jardim Botânico do Faial na Quinta de São Lourenço, o Museu Etnográfico dos Cedros, o Museu de Scrimshaw do Peter ou a antiga Fábrica da Baleia, em Porto Pim. Durma no Faial, na Estalagem de Santa Cruz, por exemplo. Mas, antes jante no restaurante Canto da Doca ou noutro que escolher. Depois do jantar, tome um café no bar do Teatro Faialense, por exemplo.
6º Dia-Apanhe o barco para São Jorge. Dirija-se à Fajã dos Vimes. Prove do café que lá se produz. Visite os teares artesanais, ainda nesta Fajã. Almoce no Restaurante Fornos de Lava, por exemplo e de lá aprecie a vista para o Pico. Depois do almoço visite o Museu de São Jorge. Depois, espera-o uma viagem inesquecível até à Fajã do Santo Cristo. Aprecie a Lagoa de água quente. Escolha um bom sítio para instalar a sua tenda. Acampe. Jante, se possível, umas amêijoas da lagoa. Coma o queijo todo que quiser.
Repare como as estrelas se acendem e apagam no céu. As cagarras também estão presentes.
7º Dia-Apanhe o avião que o levará de São Jorge à Terceira. Aprecie a viagem. Fotografe as ilhas. Aproveite para almoçar na Terceira, no Restaurante Boca Negra, no Porto Judeu, por exemplo, e para passear em Angra do Heroísmo, cidade património. Compre para levar de oferta aos amigos Donas Amélias ou pombinhas de alfenim. À noite, apanhe o avião para Lisboa.

segunda-feira, agosto 11, 2008

A PARTIDARIZAÇÃO DA AUTONOMIA



Se alguma coisa o cidadão comum deve exigir dos poderes e dos partidos políticos é coerência.
Neste momento, que pressuponho histórico, em que se discute a aprovação de uma proposta de revisão do Estatuto Político Administrativo dos Açores, o nexo e o senso parecem-me mal distribuídos por alguns representantes da classe política nacional e açoriana.
A tendência para a partidarização tosca e mesquinha do Estatuto dos Açores e a consequente ideia de partidarização da Autonomia são, parece-me, meio caminho andado para que o cidadão entenda que os interesses dos Açores, e os seus próprios, tenham sido menos obra nossa e mais fruto de um certo acaso, resultante da intriga entre poderes e entre políticos.
Pouco interessa a quem vive, trabalha e luta nestas e por estas ilhas que a comunicação de Sua Excelência o Presidente da República aos portugueses se tenha revelado numa fantasia pirosa e numa perturbação social absolutamente grotesca. Sua Excelência tem esse privilégio político da comunicação suspensa, que é dele, e até tem outros que sendo ou não constitucionais lhe permitem proibir, por exemplo, a circulação no espaço aéreo próximo da sua residência no Algarve ou convocar um batalhão de policias para segurança pessoal numa festa de aldeia. A mim, açoriano e micaelense, natural da remota “república da água azeda”, cabe respeitar o direito à segurança, ao descanso e ao merecido lazer do mais alto dignitário da Nação. Agora, o que eu sei é que naquela paternal invençao de desconsolo ao País, Sua Excelência não apenas referiu que oito normas do Estatuto Político Administrativo dos Açores eram inconstitucionais, e por isso a alterar pelos poderes legislativos. Evidenciou e sublinhou, também, que outras quatro, de índole e visão política presidencial e cunho centralista pessoal, deveriam ser atendidas, não em nome de um pseudo-equilíbrio de poderes, mas sim pela supremacia de um poder, o dele, sobre todos os outros.
Ora, neste contexto e neste momento que, repito, julgo históricos, vejo já alguns representantes do povo na Assembleia da República e na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, socialistas, social-democratas e outros, armados em ananases de estufa e tão dispostos a corrigir as inconstitucionalidades do Estatuto como a curvar a cervical na fuga ao conflito com a Presidência da República.
Penso que se alguma diferença existe entre a decisão política consciente e a opção banal na escolha de uma empresa de mudanças, tal diferença reside, no primeiro caso, na defesa arrojada, corajosa e justa dos interesses dos eleitores. No segundo caso, a preocupação fica-se pelos cuidados a ter com o verniz dos móveis ou com o seguro dos cristais...se os houver.
Se a actual proposta de Estatuto foi aprovada por unanimidade nos parlamentos nacional e regional, se não se tratou, de facto, de uma simples mudança na mobília, se a ideia, como acredito, não foi lançar paranhos às vistas dos açorianos, então exige-se coerência para com as decisões já tomadas, pede-se dignidade para com os eleitos e reclama-se carácter nas instituições. Porque nem a Autonomia se faz fechando os olhos à luta, nem o Estatuto Político Administrativo dos Açores pode ser um eterno pessegueiro constitucional, por mais que convenha ao comodismo partidário e por mais que o entenda o centralismo tacanho de Sua Excelência o Presidente da República.

Dúvida de férias: vai bugiar!

Primeiro pensei que o verbo tivésse origem na ilha do Búgio. E, que, por isso, existisse como derivação. Mas, depois de uma pesquisa pela internet, encontrei várias origens para a palavra. Já me imaginava a mandar alguém formigar. Vai formigar! Mas, não. Como se vê pelo que se pode ler no Ciberdúvidas o termo até remonta aos macacos! Ora, sem mandar ninguém bugiar, pelo menos, por hoje, deixo um texto escrito pelo Cavaleiro de Oliveira, em Viena, que é, na minha opinião, delicioso:
“O menino manda bugiar o velho, com a mesma liberdade com que o ancião manda bugiar uma criança. Tanto se manda bugiar pela manhã, como à tarde; de dia, como de noite. O cavalheiro tem licença para mandar bugiar o vilão, e o plebeu não tem impedimento para mandar bugiar o fidalgo. O homem manda bugiar algumas mulheres, e uma mulher manda bugiar todos os homens. Quanto aos casados, mandam-se bugiar reciprocamente, e, por causa do grande amor que devem ter entre si, correspondem-se pela maior parte com mui igual tratamento nesta matéria (...). O príncipe quer só para si o privilégio de usar do termo e por essa razão capacitou a V. Senhoria que era obsceno. É próprio, natural, composto, e nas ocasiões necessárias é muito honesto e aprovado. Fie-se V. S. no que lhe digo e creia que são verdadeiros e mui dignos de se imitarem os exemplos que lhe refiro. Para mostrar a V. S. ultimamente que o termo é legítimo, estava para acabar a carta mandando bugiar a V. S.”
Daqui

Ilha (sempre) em frente

sábado, agosto 09, 2008

Mãe Ilha




"Nessa manhã as garças não voaram
E dos confins da luz um deus chamou.
Docemente teus cílios se fecharam
Sobre o olhar onde tudo começou.

A terra uivou. Todas as cores mudaram
O mar emudeceu. O ar parou.
Escuros véus de pranto o sol taparam
De azáleas lívidas a ilha se cercou.

A que pélago o esquife te levava?
Não ao termo. A não chorar os mortos.
Teu sumo espiritual florido ensina.

E se o mundo em ti principiava,
No teu mistério entre astros absortos,
Suavemente, ó mãe, tudo termina."

Natália Correia

sexta-feira, agosto 08, 2008

O QUE SOMOS

O assalto à delegação do BES, em Campolide, e a impecável actuação da PSP não deixam de nos dar conta de uma humanidade que se encontra na circunstância de gerar, criar, provocar e sustentar o crime, para depois ter como única solução o abate do criminoso.
Tudo ao vivo e em directo.

Crochet

O que é que a Sónia de 23 anos, que trabalha num bar, que mora num prédio da avenida marginal, de Ponta Delgada, com o IMI liquidado, terá pensado, quando, ao dirigir-se apressada para a casa, ontem à noite, porque estava na hora de alimentar o filho de três meses, se viu impedida de chegar à porta de casa, através da via pública, com o carro, que paga todos os meses ao banco, cujo imposto municipal de circulação, também está em dia?
O que é que terá pensado a Sónia?

quarta-feira, agosto 06, 2008

domingo, agosto 03, 2008

viagens



"Quando partires, em direcção a Ítaca,
que a tua jornada seja longa
repleta de aventuras, plena de conhecimento.


Não temas Lestrígones e Ciclopes nem o furioso Poseidon;
não irás encontrá-los durante o caminho, se
o pensamento estiver elevado, se a emoção
jamais abandonar o teu corpo e o teu espírito.
Lestrígones e Ciclopes e o furioso Poseidon

não estarão no teu caminho
se não os levares na tua alma,
se a tua alma não os colocar diante dos teus passos.


Espero que a tua estrada seja longa.
Que sejam muitas as manhãs de Verão,
que o prazer de ver os primeiros portos

traga alegria nunca vista.
Procura visitar os empórios da Fenícia
recolhe o que há de melhor.
Vai às cidades do Egito,
aprende com um povo que tem tanto a ensinar.


Não percas Ítaca de vista,
pois chegar lá é o teu destino.

Mas não apresses os teus passos;
é melhor que a jornada dure muito anos
e o teu barco só ancore na ilha
quando já estiveres enriquecido
com o que conheceste no caminho.


Não esperes que Ítaca te dê mais riquezas.

Ítaca já te deu uma bela viagem;
sem Ítaca, jamais terias partido.
Ela já te deu tudo, e nada mais te pode dar.


Se, no final, achares que Ítaca é pobre,
não penses que ela te enganou.
Porque te tornaste um sábio, viveste uma vida intensa,

e este é o significado de Ítaca."


Konstantinos Kavafis


Vou ali...



...num instante e já venho. Boas férias ou bom trabalho, conforme o caso.
Aufwiedersehen!

sexta-feira, agosto 01, 2008

SEM ONDAS

Antes, Portugal parou angustiado na espera à mais dramática declaração de Cavaco Silva. Depois, os portugueses ficaram simplesmente embasbacados e a seguir riram da cómica encenação criada pelo Presidente da República.
Não vejo a surpresa. Falamos do mesmo Cavaco, um tal Primeiro-ministro que ascendeu a Presidente sem alterar a sua estreiteza de vista nem nunca despir a farda de combate às autonomias regionais. Não estranho as suas declarações nem me admira o recuo traiçoeiro de outros, ditos históricos, desta e até de outras praças, que antes berravam por um Estatuto arrojado e agora encolhem, cobardemente, por um estatuto “sem ondas”.
A livre administração dos Açores pelos açorianos é uma luta viva e um direito permanente que se conquista olho no olho e sem gravata preta, mas se alguma coisa nos ensina a geração de 1895, e que o Povo dos Açores deve ajuizar, é que para se entender e apoiar uma verdadeira Autonomia, como o melhor instrumento para a unidade do Estado, não é condição indispensável ter-se nascido ou vivido nestas Ilhas. Basta ser-se bom português, mesmo quando se desempenha os mais altos cargos na magistratura da Nação.