sexta-feira, novembro 30, 2007

segunda-feira, novembro 26, 2007

domingo, novembro 25, 2007

Repreensão

"Depois de fuzilado
ao levar
o tiro na nuca para acabar
chateou-se
e viu-se obrigado
a explicar
ao major
que comandava o pelotão
que o tinha fuzilado
por favor
preste atenção
e não me obrigue a repetir
a repreensão
na próxima vez
que mandar matar
dê tempo ao morto
para gritar
convicto
um último viva a revolução."


Poema, incluído no livro Contos do Gin-Tónico, da autoria de Mário-Henrique Leiria.
Publicado pela Editorial Estampa. O que tenho é a 6ª edição de Fevereiro de 2007. Comprei-o na livraria Bertrand, por 9,89.

Cheers



James

sábado, novembro 24, 2007

Everybody's Gotta Learn Sometimes



Beck-Beck

Conversar - poema de Octavio Paz

«E num poema leio:
conversar é divino.
Os deuses, contudo, não falam:
fazem, desfazem mundos,
enquanto falam os homens.
Que os deuses, sem palavras,
jogam terríveis jogos.

O espírito desce,
e desata as línguas,
palavras, porém não fala:
fala lume. A linguagem
pelo deus acendida,
é uma profecia
de chamas e um cair
de sílabas queimadas:
cinza sem sentido.

A palavra do homem
é bem filha da morte.
Falamos porque somos
mortais: e as palavras
não são signos, são anos.
Ao dizer o que dizem,
os nomes que dizemos
dizem tempo: nos dizem,
somos nomes do tempo.
Conversar é humano."

tradução de Luís Alves da Costa
roubado daqui

quinta-feira, novembro 22, 2007

Tonight, Tonight



The Smashing Pumpkins

E o mar inteiro a enrolar-se

Primeira onda - Lá ao longe, debaixo das árvores, um homem e uma mulher estão sentados. Mas, não sentados de uma maneira qualquer. Estão sentados como se sentam as pessoas incomodadas com a sua própria presença. Muito calados. Muito direitos e com as pernas muito sentadas nas cadeiras. Com os casacos muito vestidos, os cachecóis muito apertados ao pescoço. Ela parece estar quase a dormir e ele olha com os olhos muito fechados para a palma das mãos fechadas. Espreita.
Segunda onda - [Imagina que não se tinha passado nada e tu tinhas só viajado e havia no sítio aonde tinhas ido muitas borboletas que falavam e riam e brincavam e não pareciam estas pessoas muito sentadas na vida!]
Terceira onda - Parece que têm frio nos ossos.
Quarta onda - Comprei três livros de uma vez só.
Quinta onda - Havia qualquer coisa de combinado naquele espaço. Não sei se eram as cores, as plantas, que pareciam dançar nos vasos, quando o vento assobiava nas montras da loja. Uma boneca de pano dançava, pendurada pelos braços a uma espécie de arco.
Sexta onda - Há bolas e balões suspensos nas entrelinhas do texto; nada de claramente perfeito; nada que consigamos ver, nada que declare alto e bom som: “estou aqui”, como as pessoas que não se sentam na vida. Um dia destes devias escrever uma história infantil daquelas que têm árvores falantes e coelhos risonhos; magias de espelhos; artes várias. Pintores, malabaristas, palhaços de sapatos grandes, que não cabem em armários. Um dia destes devias escrever sobre bolos de anos, fitas e balões. Ou então, escreve da tristeza e dos versos derramados no papel branco e da lua vidrada nos pés das plantas, quando à noite as gaivotas passam de chocalhos nos bicos e anéis nas asas para casar com os cometas.
Sétima Onda - Diz-se do céu das gaivotas que é do tamanho das ilhas e que a massa circundante é toda feita de água e sal. À noite enche-se de ondas para delícia destas damas, que vestem os seus biquinis e dão mergulhos brilhantes. Há quem diga cá por baixo, que cada exibição vale uma estrela cadente.
Oitava onda - [O meu poema é ter inteira a recordação de todos os dias aqui. Tu?]
Nona onda - O meu poema sou eu a desafiar o esquema. Com a corda. Sem acordo. Prisioneira, do meu poema, morro como morrem no espelho as lágrimas do Vapor, que acaba por não se ir embora.
Décima onda - [E o mar inteiro a enrolar-se.]

Música

terça-feira, novembro 20, 2007

Fragmentos



«1. Aceita o transitório;
nada do que é definitivo, e dura, te pode atingir.
2. Algo de visível
perpassa nos limites do ser.
3. De noite, o vento partiu
um dos vidros da traseira.
4. Só o ruído da noite sobrevive
à luz e ao furor matinais.
5. (Se aquelas nuvens, no horizonte,
chegassem até mim...)
6. O fragmento, porém, exprime
o estilhaçar da intensidade.
7. No último fragmento, fixa
o efémero e repousa.

Nuno Júdice

Vale Tudo...



Há as linhas amarelas; os objectos de cimento não identificados ("ocnis"); os parquímetros; os parques subterrâneos; as multas e há também os baldímetros - essa (nova)espécie de ocupador de espaço de estacionamento sem pedir e sem pagar licença para obras.

Night & Day



Friedrich Gulda e Herbie Hancock

domingo, novembro 18, 2007

Muzka



...para apagar o barulho da chuva e outros barulhos...

sábado, novembro 17, 2007

Curiosidade

Se as moreias comem polvos e os polvos comem cavacos e os cavacos comem moreias, para quê meter os três dentro do mesmo aquário?!
Diz a sabedoria popular que quando metidas dentro do mesmo aquário, as três espécies não se atacam.
Foi mal entendida a lição.
Pobre moreia desdentada que já nem usa a razão.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Perguntas

«Onde estavas tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teenagers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
OuAlende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.»

Muzka



Não postei esta música à procura da batida perfeita.
Gosto.

quarta-feira, novembro 14, 2007

25 anos - Música Original nos Açores



A 16 e 17 de Novembro, às 21h30, no Teatro Micaelense

Blowin´in The Wind ( Bob Dylan)



Aqui está o meu contributo para a mixtape, que está sendo composta aqui, aqui e aqui.Blowin´in the Wind, original de Bob Dylan, aqui interpretado por Katie Melua

segunda-feira, novembro 12, 2007

sexta-feira, novembro 09, 2007

Correnteza


imagem

Respondendo ao desafio da Clara

"Adolfo Casais Monteiro, José Régio, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner, Manuel da Fonseca, deveriam pagar tributo a Ezra Pound?"


Cesariny, Mário, "Ezra Pound (e os poetas)", in as mãos na água, a cabeça no mar, lisboa, assírio e alvim, 1985, p.161



"Nos edíficios sumptuosos mandados construir pelas pessoas mais notoriamente abastadas o arquitecto por um esforço violento da imaginação salpica o muro que deita para a rua com alguns dos ornatos interiores das casas"


Queiroz, Eça et Ortigão, Ramalho [coordenação de Maria Filomena Mónica], As Farpas - Crónica mensal da política, das letras e dos costumes,Lisboa, Principia, 2004, p. 161.

Passo o desafio ao Rodrigo, à Fátima e à Helena

161º página (s), 5ª frase (s) de livros, que estejam por perto.

Outra Vida



"Quero ser noutra vida mensageiro de emoções
De elefantes, baleias, cais e canções
Na preguiça do panda, na destreza do lince
Vou abrir a Pandora onde Deus não existe
Entre tudo e nada, saber quem sou

Quero ser noutra vida mensageiro de emoções
De golfinhos e águias, do silêncio das águas
Regressado aos sentidos e à razão dos bichos
Dos espaços perdidos, na asa de condor
No fundo do mar, saber quem sou

Quero ser noutra vida mensageiro de emoções
Porta-voz de ondas, tradutor de ilusões
Ser menos ainda que um pequeno carreiro
Descobrir o mistério do Universo inteiro
Emprestar a vida, descobrir quem sou."

quarta-feira, novembro 07, 2007

Trip(l)as à moda do PSD ou Juntaram-se os dois à esquina…

1- Depois de ouvir o debate na RTP/Açores entre os dois candidatos à liderança do partido social democrata pergunto: se para “9 ilhas, 9 programas eleitorais” (Costa Neves), também 9 bandeiras, 9 hinos e 9 governos?
E o candidato estará (mesmo) “de fato completo, com as sapatilhas calçadas, casaco e gravata”? (Natalino Viveiros)
Em todas as ruas e atalhos que Costa Neves diz conhecer, ter-lhe-ão faltado as que levam à Câmara Municipal de Angra do Heroísmo? Seguramente que sim.
Frase da noite: “ No PSD/A respira-se bem.”(Costa Neves)
Paciência.

2- Na RTP/Açores, a reportagem transmitida a semana passada sobre uma missa rezada num local, a que não vou há muitos anos, reproduz uma ideia dos novos tempos: a limpeza por fora justifica a porcaria por dentro.
Tratava-se (isto para quem não souber) de uma reportagem sobre a ermida do Cemitério de São Joaquim, em Ponta Delgada, que estava imunda, por dentro, no dia de todos os santos. Fez-me lembrar outros Carnavais, ou devo dizer armazéns?

3 - Lá em cima está o tiroliroliro
Cá em baixo está o tiroliroló
Lá em cima está o tiroliroliro
Cá em baixo está o tiroliroló

Pelo tanto que me apetecia dançar



até cantava na rua, debaixo de chuva.

terça-feira, novembro 06, 2007

Recomendação de Leitura



"(...) O homem massa sente-se perfeito. Um homem de eleição, para sentir-se perfeito precisa de ser especialmente vaidoso, e a crença na sua perfeição não está unida consubstancialmente a ele, nem é ingénua, antes lhe vem da sua vaidade, e até para ele mesmo tem um carácter fictício, imaginário e problemático. Por isso, o vaidoso necessita dos outros, procura neles a confirmação da ideia que quer ter de si mesmo. De sorte que nem mesmo neste caso morboso, nem mesmo "cego" pela vaidade o homem nobre consegue sentir-se na verdade completo. Pelo contrário, ao homem medíocre dos nossos dias, ao novo Adão, não lhe ocorre duvidar da sua própria plenitude. A sua confiança em si é, como que de Adão, paradisíaca. O hermetismo nato da sua alma impede-o do que seria condição prévia para descobrir a sua insuficiência: comparar-se com outros seres. Comparar-se seria sair um instante de si mesmo e transferir-se para o próximo. Mas a alma medíocre é incapaz de transmigração - desporto supremo.
Encontramo-nos, pois, com a mesma diferença que existe entre o estúpido e o perspicaz.(...)"


Ortega y Gasset,[Tradução de Artur Guerra],
A Rebelião das Massas, Lisboa, Relógio D´Agua,s.d., pág. 82
13,09 euros (Feira do Livro, 2006)

Comecei a relê-lo ontem. Tem sido até, agora, um livro de novas e agradáveis surpresas, que me tem lembrado, em alguns dos seus excertos, outros textos, como o poema Homens que são como lugares mal situados de Daniel Faria ou os versos de Miguel Torga, que ditam que: "Um contra o mundo, é pouco.
Mesmo que seja louco,
É muito pouco ainda.
Mas que pode fazer o homem que endoidece
E se esquece
De medir o poder do seu tamanho? (...)"
(Luta, Miguel Torga)

segunda-feira, novembro 05, 2007

Do not go gentle into that good night

"Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.

Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.

Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.

Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.

Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.

And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light."


Dylan Thomas

domingo, novembro 04, 2007

Domingo

Brainstorming

Escrever muitas coisas.
Peça é a palavra que me ocorre
Sempre que penso em escrever muitas coisas.
E muitas coisas não se escrevem com cedilha.
Muitas coisas são muitas coisas.
Um sorriso perdido no espelho,
As velas do bolo que devias apagar hoje,
A certeza inquieta de que não vens,
A mania de me lembrar destas coisas,
O trim-trim anunciado do telefone
Que já nem toca assim,
Pessoas à janela,
Os tapetes de flores,
As pesadas palavras,
Que correm por dentro,
Como se fossem de verdade,
As graças que não têm piada,
As futuras idílicas maneiras
Das meninas do largo,
Saltitando em cordas coloridas,
Os carros de corda dos meninos,
As mal pronunciadas consoantes,
As vogais femininas,
Os verbos de raiz melodramática,
A sombra, a cara, o cabelo despenteado,
Cortado e amarrado.
Peça pronunciada com um [c] cedilhado e pesado.
Um traço do que poderia ter redigido num papel,
A lápis, afoga-se de desgosto.
Talvez tenha vergonha de me perder
Nas linhas cruzadas do verbo escrever.
Talvez não seja nada disso e a minha atrapalhação
Não passe de uma transitiva maneira de ser
Ou talvez também não seja nada disto.
Há muitas coisas que não fazem
Sentido no decorrer dos dias.
Onomatopeicos sons das portas a arrastarem-se
No chão como sapatos fechados.
Giz de quadro. Qualquer palavra indecifrável
Sumida num arraial de vozes.
As mãos que se vão indo.
A dor de carregá-las dentro,
Como se fossem de verdade as recordações.
Um carro parado sem ninguém lá dentro,
As chaves pousadas fora da porta, no chão,
A entrada vazia da casa, as flores que
Deixam crescer daninhas pelo meio,
Defensoras acérrimas da liberdade dos outros.
Vinha escrever muitas coisas.
Dizer isto. Aquilo
O outro que não chegou. A pasta amarela
De carregar livros.
Um copo, um vaso, uma bola de futebol,
O cesto, o lume, a galinha,
A árvore, a asa, o bico,
O grão, o vento, a mão,
A gente, os nós, as nozes.
O tempo, o medo, o mundo,
A mala, o resto, a sombra
E uma cedilha repetida
Em muitas coisas
Pesadas como as peças
Que me faltam para continuar.

sexta-feira, novembro 02, 2007