quinta-feira, janeiro 31, 2008

Yes he can

"Study: Obama most liberal senator last year
Posted: 04:05 PM ET

A new study suggests Obama had the most liberal voting record in 2007.

(CNN) — Barack Obama has demonstrated his appeal to independent voters and even some Republicans as he campaigns for president, though a just-released study from the National Journal indicates the Illinois Democrat was the most liberal senator in 2007.
Chief rival Hillary Clinton held the 16th most liberal voting record last year, the non-partisan survey of 99 major Senate votes found.
..."

Yes he can... be all that he can be, Reagan one week, liberal the next.
Há algo de não honesto no discurso deste homem, um inalar que não fuma, um dizer o que eu quero ouvir, uma hamburger sem bife, um não ter palavras para descrever.
Nenhum dos outros candidatos será melhor, mas nenhum baseia tanto a sua campanha no slogan, branco mais branco não há, do que Obama, por isso a desilusão é maior.

Hipálage



Fumando um pensativo cigarro.

terça-feira, janeiro 29, 2008

segunda-feira, janeiro 28, 2008

CARTA DA INFÂNCIA

"Amigo Luar:
Estou fechado no quarto escuro
e tenho chorado muito.
Quando choro lá fora
ainda posso ver as lágrimas caírem na palma das
minhas mãos e brincar com elas ao orvalho
nas flores pela manhã.
Mas aqui é tudo por demais escuro
e eu nem sequer tenho duas estrelas nos meus olhos.
Lembro-me das noites em que me fazem deitar tão
cedo e te oiço bater, chamar e bater, na fresta
da minha janela.
Pelo muito que te tenho perdido enquanto durmo
vem agora,
no bico dos pés
para que eles te não sintam lá dentro,
brincar comigo aos presos no segredo
quando se abre a porta de ferro e a luz diz:
bons dias, amigo."

Yes he can...

CHICAGO, Illinois (CNN) -- Indicted real estate developer and political fundraiser Tony Rezko, whose links to Sen. Barack Obama have brought his name into the national spotlight, was arrested Monday morning, an FBI spokesman said.
Tony Rezko is facing federal charges of conspiracy, influence peddling and demanding kickbacks.
Rezko was taken into custody by the FBI at his Wilmette, Illinois, home just outside Chicago following a government motion to revoke his bond, said FBI spokesman Tom Simon.
Rezko -- whom Sen. Hillary Clinton referred to in a debate as having run a "slum landlord business" -- has pleaded not guilty to federal charges of conspiracy, influence peddling and demanding kickbacks from companies seeking Illinois state business.
Obama, speaking Sunday to ABC's "This Week," described Rezko as "a friend of mine, a supporter, who I've known for 20 years."
Rezko has contributed to the campaigns of numerous Democrats, including Obama -- though the Illinois senator has vowed to give up all funds connected to Rezko.
Obama has already given to charity more than $80,000 in campaign contributions linked to Rezko.
When asked about news reports suggesting he may have received more money than that connected to Rezko, Obama said, "What we've done is we've traced any funds that we know of that we think were connected to him. And if there any other funds that were connected to him that we're not aware of, then we will certainly return them. It's in our interest to do so."
Obama said in a debate that as an attorney he did just about five hours of work for a Rezko project. Obama has not been accused of any legal wrongdoing.
"I did make a mistake by purchasing a small strip of property from him, at a time where, at that point, he was under the cloud of a potential investigation," Obama told ABC Sunday.
Shortly after his election to the U.S. Senate, Obama bought a house for $300,000 below the asking price. The same day, Rezko's wife bought the lot next door for full price. Months later, Obama bought a sliver of the Rezko land to expand his yard.
As a state senator, Obama wrote letters supporting some Rezko deals.
Obama told ABC Sunday he has "provided all the information that's out there" about his involvement with Rezko

Woody Allen???


Marta – (Ofegante, de olhos fechados.)
Eu – Querida? (Olhando o tecto.)
Marta – Sim? (Ofegante)
Eu – Foi bom?
Marta – Sim! Sim!

Eu – Marta? (Olhando o tecto.)
Marta – Sim! (Olhando o tecto.)
Eu – Durante o orgasmo, pensaste em mim?
Marta – Como? (Olha para mim.)
Eu – Quando estás a ter um orgasmo, pensas em mim? (Olho para a Marta.)
Marta – Não… não sei… talvez… mas acho que não! (Olha para o tecto.)

Eu – Marta? (Olhando o tecto.)
Marta – O que é? (Vira-me as costas)
Eu – Depois de um orgasmo, amas-me mais?
Marta – O quê? … Sabes o que é que eu acho?
Eu – (Olho as costas da Marta.)
Marta – Acho que andas a ver filmes do Woody Allen a mais!... É o que acho! Boa noite!
Eu – Boa noite? Ainda não é meio-dia!
Marta – Exactamente! A gente vê-se amanhã! (Vira-se e olha-me nos olhos.)

domingo, janeiro 27, 2008

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Poema em linha recta


"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."


Álvaro de Campos

terça-feira, janeiro 22, 2008

segunda-feira, janeiro 21, 2008

O maior acto de terrorismo em solo Americano desde 9/11

Tenho pena que a “primária” de Louisiana não seja uma das anteriores a 5 de Fevereiro. Quando chegar já poderá estar tudo decidido e assim sendo vai ser mais fácil aos candidatos ajoelharem sem terem de rezar.
Mais cedo ou mais tarde os candidatos vão ter que discutir sobre o maior acto de terrorismo em solo americano desde 9/11, sobre o ataque do furacão Katrina a New Orleans. Vai ser difícil e vai doer, principalmente aos republicanos, mas vai ter que ser e se for feito na dose e medida certa até poderá funcionar como curativo.
Falar de New Orleans é falar de três temas de que muito temem os candidatos, terrorismo, racismo e ambiente. Será um enorme erro político por parte de Obama se não tiver a coragem de iniciar e liderar esta discussão. Se for de sua iniciativa poderá subir a este banco garantido à partida que tem os três pés, a (in)capacidade da América em responder a um desastre, as questões sociais que poderão ter tido influência na forma da resposta do governo americano e a responsabilidade da América sobre este tipo de desastre. Se a iniciativa não for de Obama e for de outro candidato que o obrigue a subir a um banco só com o pé do racismo, Obama poderá desequilibrar-se e cair.
Obama deveria discutir, sempre, as questões raciais americanas de frente mas não deverá ser obrigado a torná-las o centro da sua campanha.

Obalice no País das Maravilhas

Obama não tem a coragem de não ser o que não é, ele tem a herança de ser um afro-americano mas não tem a bagagem e fica perdido a meio dessa viagem com a sua bagagem mas sem os pontos.
A relação dele, durante esta campanha, com o facto de ser e não ser Afro-americano é, a nível de respeito pela inteligência do eleitor, como a erva que Clinton fumou mas não inalou.
Numa entrevista ao programa de informação 60 minutes, quando lhe perguntam se acha que os americanos o vêm como negro, Obama responde que por experiência sabe que pelo menos os taxistas o vêm como negro. À mulher quando lhe perguntam se não tem medo que um maluco qualquer com uma arma venha a disparar sobre o marido por ser um candidato negro, ela responde que sendo o marido um negro nos EUA, basta sair de casa e ir a uma bomba de gasolina para poder levar um tiro. Esta é uma versão mais light possível de uma família afro-americana, com sucesso e vivendo numa bolha protegida do sonho americano. Esta é a realidade e enquanto Obama não a enfrentar de forma clara e com o mesmo ênfase com que se discute outros temas que ensombram o sonho americano, ele é e será lembrado como Obalice no país das maravilhas.

Muz´ka



Don´t Panic
, Coldplay

domingo, janeiro 20, 2008

quinta-feira, janeiro 17, 2008

bom dia de amigas



Às minhas amigas e às amigas das minhas amigas e às amigas das amigas das minhas amigas. Bom dia de amigas, também, às amigas dos meus amigos e aos amigos das minhas amigas.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Yes we can... No we can´t...

DERRICK Z. JACKSON / BOSTON GLOBE
On prisons, blacks, HIV
By Derrick Z. Jackson August 19, 2006

Seventeen years ago, time enough for a new generation to start the next generation, Robert Fullilove tried to warn the nation about the rising impact of AIDS on black people...

...Fullilove, 62, now at Columbia University, cited a study of HIV transmission in Georgia's prisons from 1992 to 2005, published in April in the Centers for Disease Control's Morbidity and Mortality Weekly Report. The study found that the prevalence of HIV infection among inmates is nearly 5 times the rate of the general population. While black inmates make up 63 percent of the Georgia prison population, they accounted for 86 percent of inmates who were infected with HIV before entering jail...

...With 1 out of every 3 black males facing the chance of prison in their lifetimes, according to The Sentencing Project, a nonprofit group that promotes sentencing alternatives, Fullilove said that if prisons do not make changes soon, the loaded dice will explode in many more transmissions...

“Há dezassete anos, tempo bastante para a nova geração começar a próxima geração, Robert Fullilove, tentou prevenir a nação sobre o aumento do impacto da SIDA nos negros...

...Fullilove, 62, agora na Universidade da Columbia, fez referencia sobre um estudo de transmissão de HIV em prisões na Georgia de 1992 a 2005, publicado em Abril no Centers for Disease Control's Morbidity and Mortality Weekly Report. O estudo detectou que a prevalência de infecções de HIV entre pessoas em prisões é aproximadamente 5 vezes a média da população em geral. Enquanto que negros na prisão fazem cerca de 63 por cento da população prisional na Geórgia, eles compõem 86 por cento das pessoas nas prisões infectados com HIV antes da entrada na prisão…

… Com 1 em cada 3 homens negros confrontados com a possibilidade emprisionamento durante a sua vida, segundo o The Sentencing Project, uma organização sem fins lucrativos que promove sentenças alternativas, Fullilove diz que se as prisões não mudarem brevemente, o dado lançado explodirá explodirá em muitas mais transmissões...”

As percentagens referentes a dados da sociedade americana sobre questões sociais que envolvem a população negra sempre foram para mim como o comprimido da Alice no país das maravilhas que a diminuía.

Dia do Padroeiro


Em memória de todos os grandes homens e mulheres
das freguesias de Santo Amaro,
dos seus feitos,
dos seus nomes.

Hoje fazemos anos


Na minha terra não havia avenidas. Nem aeroportos. Nem edifícios com oito andares. Havia ruas que conhecíamos pelo número de arranhões que ganhávamos nos carros de esferas (negociadas na escola em troco de outro material precioso). Havia um aeródromo que cristalizava sonhos e viagens imaginadas do como seria estar com os pés por cima dos tectos das nossas casas. Essas... a casa dos nossos pais, a casa dos avós de cima (o que supunha a correspondente dos avós de baixo), as casas dos amigos, a escola, a igreja, a venda da Tia Isabelinha (onde as gamas e as bolachas recheadas eram tão baratas..) mais os recantos das brincadeiras.
Na minha terra a noite não fazia barulho, e o mantrasto incensava-a até à madrugada. E o sono era tão doce, como o acordar prometia.
Na minha terra o tempo durava tanto. . Dava para a escola, para os trabalhos de casa, para as obrigações que a mãe estipulava, para desenhar mapas do tesouro e caçá-los até quase à noitinha, para as brigas, para as lágrimas, para as prendas, para as memórias e os contos.
Na minha terra o espaço era infinito em cima dos montes, e as ilhas em volta eram só casas de vizinhos, mais o farol da Ribeirinha (que um dia se apagou, e todos ficaram tristes..).
Hoje, os nossos pés cresceram. Pisam as mesmas ruas e lembramos, exactamente, o metro em que tropeçámos, a hora, depois da escola, em que brigámos por coisas sem importância, o dia de tempestade que incendiou os fios de electricidade.
Hoje, os nossos olhos vêem-nos, uns aos outros, maiores, transformados pelo tempo que, afinal, não dura assim tanto; os pinheiros que plantámos num dia de escola, quando tínhamos nove anos, e que agora atingem o tecto do 1º andar.
Hoje, as nossas mãos apertam-se de outra maneira. A cumplicidade dos segredos prometidos em pactos de sangue existe só para ser lembrada, porque cada um se fechou dentro da sua própria casa, depois de assumir o seu papel de adulto conforme.
Hoje, apesar do tempo, as noites continuam as mais doces, e o mantrasto perfuma os dedos dos pés dos deuses que nos vigiam, a nós, e aos vizinhos que, nas outras ilhas, acenderam luzes mais fortes.
Hoje, só nós não somos os mesmos. Porque fazemos anos.
Anos??
Sim, anos.. Hoje faz quinze anos que não havia escolas secundárias na maior parte das nossas ilhas.. que tivémos de voar, provavelmente pela primeira vez, sobre o tecto das nossas casas, sobre o tecto de casas muito maiores, rodeadas de avenidas, luzes fortes, sem noites doces e sem mantrasto. Hoje faz anos que os nossos pais e mães nos viram chegar e partir, vezes sem conta, com as mãos coladas aos vidros dos aeródromos e aeroportos açorianos, com medo de mandar os filhos para o mundo (e a sua respiração gravava neles o adeus, não vás embora.. ou o vai, porque será melhor para ti, e terás o que eu nunca tive...). Hoje também fazem anos os que não tiveram coragem de partir, ou não tiveram o dinheiro escasso para andar com os pés no céu. E os que partiram de outra forma, sem que pudéssemos dizer gosto de ti, zela por mim, onde quer que estejas.
Hoje fazem anos os que arrumaram a adolescência numa caixa de cartão, porque o tempo lhe deu outras tarefas mais importantes.
Hoje fazem anos todos os valentes que, com catorze ou quinze anos, saíram de casa para serem um pouco mais, em 1992.
Esses açorianitos, hoje homens e mulheres, fazem anos.
E ninguém fala disso.
Ninguém se lembra.

A missão das folhas

«Naquela tarde quebrada
contra o meu ouvido atento
eu soube que a missão das folhas
é definir o vento.»
Ruy Belo

segunda-feira, janeiro 14, 2008

sábado, janeiro 12, 2008

Preciso de algo especial

Sarkozy – Jean!

Jarbas – Sim Mi Lord?!

Sarkozy – Preciso de algo.

Jarbas – Diga Mi Lord?!

Sarkozy – Preciso de algo especial.

Jarbas – Permita-me sugerir mudar-se para um palácio estonteante…

Sarkozy – Já fiz isso Jean!!! Preciso de algo muito especial!!!

Jarbas – Poderá… talvez… livrar-se da sua mulher!?!

Sarkozy – Também já fiz isso Jean. Procuro algo verdadeiramente espectacular!!!

Jarbas – Que tal umas férias milionárias na América?!

Sarkozy – Feito!

Jarbas – Disney World?!

Sarkozy – Feito!

Jarbas – Ao esplendoroso Egipto?!

Sarkozy – Feito!

Jarbas – Que tal se forem grátis?! Oferta de um multimilionário amigo!?!

Sarkozy – Foram!

Jarbas – Mi Lord é realmente um desafio… Mas… que tal namorar uma super-model???

Sarkozy – Já cá canta, escolhida numa sondagem feita ao povo francês!

Jarbas – Isso, isso!!!! Que cante!

Sarkozy – Ela diz que sim.

Jarbas – De esquerda e vinte anos mais nova!?!

Sarkozy – E parece-o!

Jarbas – Mi Lord mata-me… Já sei!!!!!!! Mi Lord, já sei o que mais precisa!!!

Sarkozy – Diga Jean!!! Diga!!!

Jarbas – Vergonha Mi Lord, VERGONHA!!!

sexta-feira, janeiro 11, 2008

quarta-feira, janeiro 09, 2008

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Arquipélago

Num baú, numa caixa,
No trabalho celeste das linhas que se entornam no mundo
Nas nuvens, nas ondas, nas vagas, no tempo,
Na voz, nos anos que passam, na noção enfeitada das metáforas,
Na claríssima evidência
Das circunstâncias,
Na vela soprada dos nossos anos,
No bordado branco, no escaparate,
Na mesa de escrever sem folhas,
Na caneta sem tinta,
Na redoma onde pousamos
Os olhos para não morrer de desgosto,
No sorriso do velho do algodão doce,
Nos olhos de um peixe,
No altifalante monocórdico da rua,
Na passagem aflita dos carros,
No ranger das rodas, no espinho das rosas,
Na ferida dorida da ausência,
Nos vocábulos não ditos,
Nos sussurros que não chegam,
No redemoinho das palavras tristes,
No piscar dos olhos, no elevar das sobrancelhas,
No soluço demorado
De um lábio tremido,
Na falsa verdade,
Na mentira disfarçada de pirilampo reluzente,
No cadente voo de uma estrela
Ou na passagem de um cometa,
Na haste pontiaguda de uns óculos
No alto de uma montanha,
Na boca aberta de um cão de fila,
Na lente de uma máquina fotográfica,
Numa noite de Natal sem data,
No coaxar das rãs num lago,
No mugir das vacas,
No sotaque cantado ou fechado,
No mover das ondas, nos gestos de um músico
De filarmónica,
Na cantiga embalada,
No coxear lento, muito lento do tempo
Na demora de um segundo
Estás tu.
Tu sempre. Tu.
Sempre a aparecer
Como uma possibilidade.
No lugar majestoso do espaço que ocupas,
Nos teus movimentos bruscos,
No abrir e fechar de pálpebras,
Só tu danças
Só tu consegues mover-te
Nos olhos do mar,
Como numa plateia de nove lugares
Tu és a terra
Da gente...

domingo, janeiro 06, 2008

A despedida do Artista


imagem

«(...) Que a minha vida é um romance o dia e noite, acordado, bêbado, a dormir sonhando, eu o sei melhor que ninguém (...)"

Luíz Pacheco, Diário Remendado (1971-1975) ,Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2005, pag. 41.

Luíz Pacheco (1925-2008). Fundador da Editora Contraponto. Escritor e crítico literário. Autor de Carta-Sincera a José Gomes Ferreira, O Teodolito, Crítica de Circunstância, Carta a Fátima, Pacheco versus Cesariny, Mano Forte, Meio Século de Surreal em Portugal, entre outras obras. Entrevistas, "ditos", obras e excertos do que escreveu poderão ser encontradas aqui.


Sobre O Cachecol do Artista, (panfleto) de Luíz Pacheco.

sábado, janeiro 05, 2008

Ano Europeu do Diálogo Intercultural



Um estudo sobre o diálogo intercultural na Europa, realizado pelo Eurobarometer, em Novembro de 2007, pode ser encontrado aqui.
De acordo com esse estudo, 72% dos cidadãos europeus confirmam que pessoas com etnia, religião ou nacionalidade diferente, enriquecem a vida cultural do seu país. Um tema a debater nos próximos meses, que nos poderá levar a conceitos tão vastos como: cultura dominante, assimilação de culturas, diferenças culturais, pluralidade e diversidade, tolerância, grupos sociais, cidadania, direitos humanos, não discriminação, minorias, democracia, grupos culturais, identidade, cultura de massas, cultura de elite, cultura Popular, liberdade, multiculturalismo, entre tantos outros. Um tema ao qual voltarei (certamente) um dia destes.
Em Portugal a entidade que assumirá a coordenação nacional do programa é a ACIDI - Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, IP.
Os Açores estão representados na Comissão Nacional de Acompanhamento do “Ano Europeu do Diálogo Intercultural”, através da Direcção Regional das Comunidades.

Alguns sites interessantes sobre esta temática:

European year of cultural dialogue
Civil
Society Platform for Intercultural Dialogue

Decisão do Parlamento Europeu e do Conselho relativa ao Ano Europeu do Diálogo Intercultural (2008)
Declaração Universal sobre Diversidade Cultural(UNESCO)

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Muz´ka



Man on the moon, REM

AÇORES



"Há um intenso orgulho
Na palavra Açor
E em redor das ilhas
O mar é maior

Como num convés
Respiro ampIidão
No ar brilha a luz
Da navegação

Mas este convés
É de terra escura
É de lés a lés
Prado agricultura

É terra lavrada
Por navegadores
E os que no mar pescam
São agricultores

Por isso há nos homens
Aprumo de proa
E não sei que sonho
Em cada pessoa

As casas são brancas
Em luz de pintor
Quem pintou as barras
Afinou a cor

Aqui o antigo
Tem o limpo do novo
É o mar que traz
Do largo o renovo

E como num convés
De intensa limpeza
Há no ar um brilho
De bruma e clareza

É convés lavrado
Em plena amplidão
É o mar que traz
As ilhas na mão

Buscámos no mundo
Mar e maravilhas
Deslumbradamente
Surgiram nove ilhas

E foi na Terceira
Com o mar à proa
Que nasceu a mãe
Do poeta Pessoa

Em cujo poema
Respiro amplidão
E me cerca a luz
Da navegação

Em cujo poema
Como num convés
A limpeza extrema
Luz de lés a lés

Poema onde está
A palavra pura
De um povo cindido
Por tanta aventura

Poema onde está
A palavra extrema
Que une e reconhece
Pois só no poema

Um povo amanhece."


Sophia de M.B. Andresen

Depois de entrar com o pé direito no ano novo, nada como recordar este poema de Sophia de M.B. Andresen...