quarta-feira, abril 27, 2005

Nada a fazer

Nada a fazer, meu amor,
somos da Terra do Nunca e é para lá que vamos, meu amor,
quando estas saudades esculpirem uma canção,
dentro do peito, nada a fazer a mais ou a menos, meu amor,
somos do lado de lá.
As penas, as graças,
as dores, os medos, meu amor são de lá,
do lado da aurora, do centro da vida,
do centro do mundo, do nosso, meu amor,
meu amor, minha chama, meu sangue,
minha haste, meu lume, minha paz, meu espaço.
Nada a fazer.

Meu amor.
Meu movimento de esferas.
Minha lança em terra alheia.
Meu capítulo de página dobrada,
minha saudade ancorada no seio desta esperança.
Meu amor que me partes. Meu amor que envelheces
No retrato vazio. No álbum a meio mundo,
na asa que escolheste, meu amor, meu traço,
meu rumo, minha fraqueza de espanto, minha luz, minha magia
Minha estrela, meu amor.
Nada a fazer.
Minha estrela.

Nada a fazer entre os medos e os dedos
de conversas sempre iguais, convertidas
em poemas (en)controversos que te deixo no colo,
como um sopro de ar de mar de saudades
E afectos.
Nos teus olhos, um poema, meu amor,
é lido alto.
Alto.

Nada a fazer, meu amor.


Maria Amaro

Leituras




" [...] - Voar consiste em empurrar o ar para trás e para baixo. Claro! Já temos alguma coisa importante - murmurava Sabetudo de nariz enfiado nos livros.
- E porque é que hei-de voar?- grasnava Ditosa com as asas muito coladas ao corpo.
- Porque és uma gaivota e a gaivotas voam - respondia Sabetudo - Parece-me terrível, terrível, não saberes.
- Mas eu não quero voar. Também não quero ser gaivota. Quero ser gato, e os gatos não voam. [...]"

Luís Sepúlveda, História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a Voar, Edições Asa, Lisboa, 13ª edição, 2003, pp.90.

Poema dos Náufragos Tranquilos


Pico

Somos herdeiros dos quatro ventos
Sem uma vela para lhes dar
Temos amarras e temos lenços
Num cais de pedra para acenar.

Somos herdeiros da maresia
Que salga os olhos de olhar o mar
E temos rios de lava fria
Que se recusam a desaguar.

Somos herdeiros de uma lembrança
de tesouros afundados
e arpoamos a esperança
na nossa morte reclinados.

somos herdeiros de um rombo aberto
no nevoeiro secular
tranquilos náufragos do incerto
vamos morrer no mar.


Emanuel Félix

terça-feira, abril 26, 2005

Creio nos anjos que andam pelo mundo


anjos

"Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Amen


Natália Correia

segunda-feira, abril 25, 2005

Quiseram tirar o à Revolução...[ para não esquecer ]...


www.geocities.com/arestasdevento

mas o povo não deixou.

Atreve-te


25 de Abril

"Atreve-te a julgar.
Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza.
Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções,
não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer.
Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis
mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Procura encontrar-te antes que
te agarre a voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão.
Uma paixão irrequieta que não te dê descanso
e te faça doer a respiração.
Aspira o ar, bebe-o com força, é teu,
nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo.
Canta.
Canta a água e a montana e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência
com que crescem as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos,
e cada amigo
como um astro que desponta
no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria.
A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados
e os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida,
talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou.
Canta!
Se sentires medo, canta.
Mas se em ti não couber a alegria, não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta.
Constrói o teu amor, vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem,
o que mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual,
nada será igual alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança.
E canta quando a esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e
porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso.
Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade."

Joaquim Pessoa, Vou-me embora de mim, Hugin, 2000.

domingo, abril 24, 2005

A Tap no Pico


www.picoazores.com

...porque eu não me canso de insistir que isto foi uma Gloria. E as glórias são de louvar e de dizer.

sábado, abril 23, 2005

Dia Mundial do Livro


Dia Mundial do Livro

Quando aprendi a ler, na primeira classe, o meu avô Carlos, ofereceu-me uma pasta verde alface. Era de usar às costas. Dentro, tinha uma caixa de lápis e um livro do Papú. Um boneco ruivo que me ensinou a escrever e a ler pai, mãe, avô e avó, entre outras palavras como sopa, gato, cão e asa.
Hoje, celebra-se o dia Mundial do Livro e eu com aquelas saudades, que tenho sempre neste dia, sinto ( se calhar por uma qualquer estupidez senil) vontade de ter outra vez 6 anos e, ainda, ser possível, entrar na nossa Papelaria Académica para comprar outro livro e aprender a escrever com os livros do Papú: avô, avó, mariana, sopa, ovo, óculos, livro, asa, abelha, mel, enfim...aprender a escrever outras formas do verbo ler.

....

Hoje aprendi com o Manuel (6 anos) e com o Tomás (8 anos)que há uma família, "The Incredibles", agéis e flexíveis, que vem dentro das caixas do "Chocapic", para pendurar na mochila. São de um filme

Que saudades tive da minha pasta verde e do meu 1º livro- Papú I.

E nem de propósito...

Casa Armando Cortes Rodrigues vai ser núcleo museológico

"A Casa Armando Cortes Rodrigues, em Ponta Delgada, vai ser adaptada de forma a ali ser criado um núcleo museológico sobre a memória escrita de autores açorianos.Um recente despacho do presidente do Governo autoriza a Direcção Regional da Cultura a proceder à abertura de concurso público com vista à adjudicação da empreitada de restauro, consolidação e adaptação a novas funções daquele imóvel.
A obra, prevista nas Orientações de Médio Prazo, vai custar cerca de meio milhão de euros, verba a repartir entre 2005 e 2006.
O despacho de Carlos César considera a importância da renovação do referido espaço para a promoção de “um diálogo interactivo e dinâmico com o público, tornando-se um elemento activo da vida social, onde a fruição e a criação culturais se consagrem como factores indispensáveis para a formação integral dos indivíduos”."

Açoriano Oriental, 23.04.2005

Lesa Patrimonium


Casa onde morreu Almeida Garrett

Ouvi a notícia no dia 31 de Março. Mais um dia e pensava que era peta. Infelizmente, não é.
"O Departamento de Cultura da Câmara de Lisboa deu parecer negativo à preservação da casa onde, há 150 anos, morreu Almeida Garrett, abrindo assim caminho à sua demolição. No parecer, disse à Lusa fonte do gabinete da vereadora do Urbanismo, Eduarda Napoleão, os serviços culturais da edilidade afirmam "não existir viabilidade" para desenvolver no imóvel, situado na Rua Saraiva de Carvalho, 66/68, Campo de Ourique, qualquer instituição dedicada à memória de Garrett, dada a sua "proximidade face à Casa Fernando Pessoa" e os "encargos avultados" que tal exigiria. A autarquia autorizara, em 2004, a demolição, prevista no projecto do proprietário, o ministro da Economia, Manuel Pinho. A contestação que se gerou - mais de 2300 assinaturas contra a demolição da casa foram recentemente entregues, com o pedido da sua classificação - levaria Eduarda Napoleão a suspender o processo até que os serviços culturais se pronunciassem"

Lusa, 31.03.2005

quinta-feira, abril 21, 2005

De Lisboa ao Pico

Ontem aterrou no aeroporto do Pico o primeiro avião da TAP, esperado há anos.
Há anos que se espera que um avião venha de Lisboa ao Pico. Contente...só podia estar....
Há 29 anos cheguei ao Pico, pela primeira vez, no Navio "Ponta Delgada". Nos anos que se seguiram, até aos meus 8 anos, nao havia avião para o Pico, nem barco, directamente de São Miguel, por isso, ía de são Miguel para o Faial, passando pela Terceira, também não havia voos directos, e depois do Faial para o Pico de barco. Na Espalamaca - hoje varada no porto da Madalena.
Ver chegar um avião de Lisboa ao Pico é, claramente, uma vitória. De anos. E, neste blog, da minha boca, era estranho não se ouvir nada. Estou contente pelos Açores e, claro, estou contente pelo Pico, não só, por ser açoriana, mas também por ter "laços" muito antigos naquela ilha.

Obrigada

Agradeço ao Surfista da Fajã de Baixo e à única Maluca Profissional da minha família o bello template.

quarta-feira, abril 20, 2005

Poemas para ouvir

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a plateia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

Oswaldo Montenegro

segunda-feira, abril 18, 2005

Ardemares

O Ardemar estará como se nota perfeitamente a par deste blog.
Só que a experiência de "insula blogger" (gosto desta palavra) levou-me ao Ardemares. Ainda não consegui apropriar-me muito bem da palavra e vou ter que pedir ajuda ao Pedro para mudar a cor do template.

Mantenho o ar. Mantenho o mar...plural como os Açores. e as vozes. Sobretudo, as vozes de ardemar. Sempre.

Regresso

porque o poder de uma palavra pode matar ou ajudar a ressuscitar. voltei.
ainda acredito na "ocupação do mundo pelas Rosas".
amen.