terça-feira, janeiro 29, 2013

Ponta Delgada mais livre

Necessitada de políticas inovadoras e criativas, a cidade de Ponta Delgada está amorfa e alheada dos novos desafios da cidadania participativa, dos novos modelos de gestão pública e, pior, da prática de um serviço público de qualidade. É urgente assim dar uma perspetiva humanizadora com coração do que se faz por e em Ponta Delgada, para que, com isso, se criem condições sobre novas formas de interação entre a autarquia e o tecido empresarial, entre a autarquia e as relações e competências dos outros poderes; na descentralização das estratégias, na inclusão de todas as suas freguesias e sobretudo na assunção das suas novas missões. E as suas novas missões serão – em pleno século XXI – desenvolver de forma sustentável esta nossa cidade e concelho, fazendo esse desenvolvimento coincidir com o crescimento económico. Uma tarefa que não sendo fácil está ao alcance de quem quiser, verdadeiramente, por as mãos ao trabalho, assumindo um equilíbrio rigoroso entre as pessoas do concelho e a economia, a política social, a cultura, os transportes, as novas tecnologias, a juventude, os idosos, as crianças, enfim em tudo o que forma a vida das pessoas que nos rodeiam. Devia interessar mais a quem nos governa a melhoria das condições de acesso a recursos, o incremento de liberdades básicas, a divulgação cultural de Ponta Delgada integral e não parcialmente dividida pelos espaços ditos municipais. Ponta Delgada tem já há muito tempo dimensão para ter um roteiro cultural (além do já elaborado pela Direção Regional da Cultura), que incluísse cafés, restaurantes, museus e galerias, academias e associações culturais de índole vária, não só na cidade, como em todo o concelho, mas não tem, ainda não tem! Está atrasada e só agora ouvimos falar nesse assunto. Esperamos por ele há tempo demais. Enquanto isso os anos passaram-se e Ponta Delgada agonizou, só se virando ao mar, quando nasceram (e bem) as “Portas do Mar”… Podíamos ser muito mais do que somos aqui em Ponta Delgada. Ter espaços verdes cuidados e não espaços semiabandonados, como o caso do Jardim António Borges ou do Parque Urbano; podíamos ter há muito tempo (até já foi proposto) sinalização turística vertical, mas não temos e os turistas que nos visitam quase têm que adivinhar onde ficam os sítios; podíamos ter uma central de camionagem capaz, em vez de termos a avenida marginal como uma espécie de “Bangladesh”; os minibuses podiam servir para transportar mais e melhor os nossos concidadãos, se fossem os seus horários coordenados e os seus pontos de chegada, melhor articulados. Devíamos ter um festival de artes que nos caracterizasse como lugar de excelência, que fosse cartaz turístico e cultural, como tem a Praia da Vitória, São Roque do Pico ou a ilha do Corvo, por exemplo. Podíamos ter tantas coisas que não temos, mas um dia havemos de ter, porque merecemos, porque queremos e porque estamos fartos de ver os passeios despidos de esplanadas, as ruas escuras e as promessas de voltar a viver no centro histórico arrumadas na gaveta, por baixo do projeto para um Museu megalómano. Um dia Ponta Delgada vai acordar para isso. Esse dia será o dia em que seremos todos mais livres… Serenamente, AO 29 de Janeiro

quinta-feira, janeiro 24, 2013

The Dream before

Hansel and Gretel are alive and well And they're living in Berlin She is a cocktail waitress He had a part in a Fassbinder film And they sit around at night now drinking schnapps and gin And she says: Hansel, you're really bringing me down And he says: Gretel, yu can really be a bitch He says: I've wated my life on our stupid legend When my one and only love was the wicked witch. She said: What is history? And he said: History is an angel being blown backwards into the future He said: History is a pile of debris And the angel wants to go back and fix things To repair the things that have been broken But there is a storm blowing from Paradise And the storm keeps blowing the angel backwards into the future And this storm, this storm is called Progress Laurie Anderson

terça-feira, janeiro 22, 2013

citação importante

Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? Ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? Clarice Lispector

domingo, janeiro 20, 2013

citação importante

"Um inimigo pega de estaca. Plantá-lo, pois, regá-lo e observar o rebentar das primeiras folhas. A seguir, a floração inicial. Cuidar dela com desvelo. Tonificar a planta, cortando as folhas ressequidas e amarelas. Dar-lhe o tempo necessário para crescer, até no caule os espinhos despontarem. Mais tarde, virão os primeiros frutos, prontos a debicar. De quando em vez ousar uma carícia, umas palavras doces. Zelar amorosamente pelo inimigo. Assim se aprende o valor ímpar da inimizade." João Pedro Messeder, página 30 so livro "contos de algibeira", de 2007, editado pela Casa Verde.

terça-feira, janeiro 15, 2013

O Zico, a Pepa e Pedro Passos Coelho

O país pôs-nos esta semana a assistir a mais uma mão-cheia de episódios inqualificáveis. Parecemos forçados a ser espectadores de uma espécie de “Grande Irmão” mais real que o programa de televisão, com protagonistas severamente ridículos e desconectados dos reais problemas de todos os portugueses. Poder-se-á mesmo pensar que há, entre nós, uma “luta de galos” que leva cada qual a procurar o seu holofote e a posicionar-se, em palco, para debitar a sua deixa, enquanto uns quantos se debatem com problemas reais a que ninguém acode. Só isso pode explicar todos os episódios a que assistimos difundidos por todos os canais de comunicação, replicados nas redes sociais e nas vozes dos comentadores de todas as televisões e rádios… Cerca de 50 mil pessoas assinaram uma petição contra o abate do cão Zico, o pitt bull que matou uma criança de 18 meses. A iniciativa da petição contra o abate do cão tem laivos de absurdo e grotesco. Não só pelo tema e por tudo o que ele compreende, como também pelo facto de ter juntado cerca de 50 mil pessoas com um objectivo: livrar o cão do abate. Não há em Portugal mais nada para defender ou para protestar? A mim parecia-me que sim, mas, por via das dúvidas, fui ver as petições públicas, no site da internet. Há muitas e para todos os gostos. Destaco estas pela sua importância fundamental: “Juntem duas almas gémeas” – (que seria de um país sem almas gémeas?), “Petição para proibir franjas no cabelo da Rita Laranjo”- (Uma Rita Laranjo sem franja faz perder o emprego a centenas de pessoas); “Sessão de autógrafos do Justin Bieber em Lisboa” – (fundamental, por certo). Ainda se espantam com o desejo da Pepa? Eu não. E qualquer dia vai haver uma petição para que a Pepa possa ter a sua mala channel preta "daquelas normais" e tal como o abate do Zico, a petição para a mala da Pepa irá ter mais assinaturas que uma petição, que também lá está no site e que pede a imediata demissão de Miguel Relvas do Governo. Tem 5973 assinaturas… São prioridades que devem divertir e alegrar quem nos desgoverna na República. Só isso pode explicar que Pedro Passos Coelho tenha estado em Ponta Delgada, tenha falado, como falou, da Lei de Finanças Regionais, do Relatório do FMI e do Serviço Nacional de Saúde e tenha sido aplaudido por todo o congresso. Entusiasticamente. Só essa grande euforia do Governo da República por ver que pode fazer o que quiser porque o Povo está entretido com o “circo do cão”, a “mala da Pepa” ou os desaires da "Casa dos Segredos" pode explicar que Pedro Passos Coelho, em Ponta Delgada, tenha dito que todos devemos cumprir a palavra que demos, que "o Governo não pode ser trapaceiro, nem dizer hoje uma coisa e amanhã outra". Tudo certo, sim senhor. Mas o Primeiro-Ministro de Portugal não é propriamente exemplo de cumprimento da palavra dada, pelo que ouvir isso, em directo na minha televisão, foi insultuoso! Mas lá está: isso comparado com a Sessão de Autógrafos com Justin Bieber não é nada para este país… Só falta agora mesmo é que o Papa Ratzinger confirme lá do Vaticano, via twitter, se Gaspar estava ou não no presépio, para as pessoas poderem ficar descansadas. Se não tiver estado, o Relatório do FMI não é a "Bíblia do Governo". Se tiver, o Primeiro-Ministro mentiu mais uma vez aos portugueses. Mas o que é que isso interessa? A Associação Animal conseguiu o adiamento do abate do cão. Que bom! Serenamente, AO de 15 de Janeiro de 2013

terça-feira, janeiro 08, 2013

Quase, quase

Correndo riscos deste texto estar desatualizado amanhã – por intermédio de uma qualquer mensagem de Facebook, que entretanto Pedro (e Laura) decidam mandar aos cibernautas dando o dito por não dito- não posso deixar de registar as mais recentes afirmações do Primeiro-Ministro de Portugal, enquanto ouvia cantar as Janeiras (que não cantou) no dia de Reis. Pedro Passos Coelho desejou um bom ano aos portugueses, reforçando que também o desejava aos que não gostam do seu executivo e disse que estava a ver uma luz ao fundo do túnel. Não se percebe se Pedro Passos Coelho estava a mandar um “recado” a Cavaco Silva ou se estava a recuperar o “discurso do Pontal”, em Agosto do ano passado. Num ou noutro caso é de se ficar aflito, quando se lembra que, logo a seguir ao Pontal, e sem aviso prévio, Passos Coelho anunciou o mais brutal agravamento da austeridade… Também ficámos todos a saber este Domingo que o país não está num “ciclo vicioso” mas sim a “vislumbrar a saída de um período difícil”. Passos Coelho é pródigo no uso de metáforas. (A não esquecer a do soldado que tem de haver dentro de cada português. Só não se percebeu quem comanda estes soldados de papel: se Pedro, se Laura, se ambos ou se nenhum?) Está visto que o Primeiro-Ministro de Portugal não é leitor do “Inimigo Público”. Se fosse já sabia que essa luz apagou-se em Portugal por falta de pagamento e a mando dos chineses. Quem parece também ter visto uma luz foi o nosso ex-Presidente do Governo Regional dos Açores, Dr. João Bosco Mota Amaral. Só uma ilusão ópticapode justificar que, depois de ter votado a favor do Orçamento de Estado para 2013, escreva um artigo como o que saiu publicado a semana passada… Esperamos agora (serenamente) que no próximo fim-de-semana, durante o congresso laranja, seja dito aos companheiros açorianos o que lá está escrito e mais qualquer coisa, por exemplo, sobre a proposta de Lei das Finanças Regionais, antes que seja tarde demais ou antes da próxima edição do jornal. O que nos entristece é que além da desgraça que nos invade, há a outra que afasta os cidadãos da política e dos políticos, que desanima os cidadãos e que nos prejudica a todos. Quando políticos destes, representantes do Estado português, se negam a ajudar o Povo do seu país em detrimento das suas próprias agendas, podemos pensar tudo, fazer qualquer coisa. Só não podemos ficar a assistir impávidos e serenos, enquanto nos tomam por esquecidos. Pedro Passos Coelho estará em São Miguel no próximo dia 13 de Janeiro. Esperamos que não chame “Adão” a Duarte Freitas nem encontre por cá nenhuma serpente maldosa. Duarte Freitas, natural da ilha do Pico, terá oportunidade de lhe explicar que na “ilha de baixo” de onde veio (conforme explicação de Costa Neves a Cavaco Silva) está o ponto mais alto de Portugal, contrariando assim (mais uma vez) a informação dada por Judite de Sousa, no noticiário de fim-de-semana sobre a Serra da Estrela. Termino citando o autor Pedro Paixão: “(…)Quase, é uma palavra notável. Todas as pessoas deviam ter por nome próprio quase. Eu sou quase, tu és quase, ele é quase, nós somos quase. Quase qualquer coisa que não chega a ser quase (…)” E assim quase desejava daqui um Bom Ano ao Primeiro-Ministro de Portugal. Mas quase não chega para o voto. Quase.• Serenamente, AO de 8 de Janeiro de 2013