sábado, junho 30, 2007

Citação



Alexandre O´Neill, in Poesias Completas, pp.103.

sexta-feira, junho 29, 2007

Pensamento do Dia

«(...) Como é possível consentir na vida sem pelo menos lhe imprimir a marca do polegar? (...)»


excerto do poema Pequena História Trágico-Terrestre de Ruy Belo, in Todos os Poemas, Assírio & Alvim, 2001, pp. 395.

121 Poemas Escolhidos de Emanuel Félix

Eu nunca o vi em “ carne e osso”, mas estava na terra dele, quando morreu, em 2004. Comprei, então, Habitação das Chuvas (1997) para tentar conhecer um poeta que muita gente lembra, mas do qual quase ninguém fala. Passados os anos e aprofundado o estudo pessoal sobre a obra e a vida deste poeta açoriano, que nasceu na ilha Terceira em 1936 e que foi o introdutor do Concretismo poético em Portugal, ainda não percebi porque razão não constava dos curricula de Literatura Portuguesa o nome de Emanuel Félix. (?) Desta vez, escolho o poeta dos náufragos tranquilos que de nós disse sermos “herdeiros de um rombo aberto/ no nevoeiro secular/ Tranquilos Náufragos do incerto/Vamos morrer no mar” (excerto do Poema dos Náufragos Tranquilos, página 131 do livro 121 Poemas Escolhidos); ou que nos avisou que seguíssemos a lição das “flores de lume/ que valem pelo que são/ E não por um perfume” (excerto do poema Dálias, página 62 do livro 121 Poemas Escolhidos). Na contracapa do livro “121 Poemas Escolhidos” pode ler-se que o poeta estudou em Paris, Anderlecht, Lovaina e estagiou em museus e em diversos institutos de restauro científico de obras de arte; que fundou com o pintor Rogério Silva e com o poeta Almeida Firmino, a Revista “Gávea”, em 1958; que tem numerosos artigos publicados em jornais e revistas portuguesas e estrangeiras e que as suas principais obras são o Vendedor de Bichos, A Palavra, o Açoite, A Viagem Possível, Seis Nomes de Mulher, O Instante Suspenso, Os Trincos da Memória e Habitação das Chuvas. Tudo o que aqui acima citei, fi-lo, propositadamente, resumido. Não me interessam grandes listas de feitos ou tão pouco encher o escritor de actos e modos; não quero traçá-lo em pretensas atitudes metafóricas, sublinhar-lhe os termos, enchê-los de quês e porquês para colocá-lo, parado e mudo, num espaço temporal. Quero, apenas, lembrar quem foi o poeta Emanuel Félix; o que disse, como disse; que livro é este e dizer aos que, eventualmente, me possam ler, que existiu um homem, que era um artista, um poeta de corpo inteiro, açoriano de fio a pavio que escreveu coisas tão bonitas como “Elegia das Flores”: “ Os homens esperam viver cem anos/Mas as flores vivem uma primavera. Porém, num dia de vento e de chuva, / Elas podem desfolhar-se na poeira. /Se as flores soubessem afligir-se com isso. / A sua tristeza seria maior que a dos homens.” (página 82, do livro 121 Poemas Escolhidos)
“121 Poemas Escolhidos” celebra cinquenta anos de vida literária deste escritor. Foi publicado em Setembro de 2003 pela Editora Salamandra.


Correio do Norte (1ª quinzena de Junho)

quinta-feira, junho 28, 2007

Boca Santa

«Permanece “ilhéu e português,aceitando a fatalidade do destino com que nasceu”?»
Permaneço, sim. E se isto tivesse dependido de mim somente não teria remorso nenhum.
No entanto, não se entenda essa fatalidade como algo de mau ou lamentável, mas como simples resultado do acaso, ou fado, que define o lugar a que se pertence. Gosto da sorte que me coube, como ilhéu desta pátria e pessoa deste povo. (...)»

Excerto da entrevista do escritor Daniel de Sá, hoje no jornal Açoriano Oriental.

Hoje: Lançamento do livro O PASTOR DAS CASAS MORTAS de Daniel de Sá pelas 18h30 no Centro Cultural da Caloura.

Gente da Chuva

Podemos não nos dar conta, mas há sempre muita gente pendurada nas janelas. Pessoas, que sem cair, são de chuva miudinha; pessoas, que sem se plantarem, são como papoilas em campos verdes, presas pelas suas raízes no bater da terra quente ou, por vezes, fria. Pessoas de A e de B; gentes em quem mora por gosto, descuido ou qualquer coisa mais profunda, um olhar parado de areia e sal, mas Pessoas, sem dúvida alguma, Pessoas que cumprem a sua função primeira: a de velar pelo mar e esperar à porta. Podemos, talvez, até, não nos aperceber, não nos dar conta, mas há Pessoas nas chaminés, Pessoas de acentos agudos e mãos circunflexas e braços que, às vezes, mais parecem tiles ou vírgulas ou até, se agitados, reticências profundíssimas, que doem na pele como tiros. Se nos distraímos, à noite, quando chegámos às nossas casas, parece já não haver ninguém nas ruas e os passeios transformam-se em sílabas ou vogais arredondadas de espanto. Sibilantes tão ciosas como sussurros, chorando a ausência de uma mãe, que, partiu como a espuma do Mar, que se esqueceu de voltar à sua areia. E mesmo, que tentemos ficar, não conseguimos; porque ainda não aprendemos a permanecer como a água que cai e não se magoa, porque é de chuva e da Gente.
Boas Leituras e até Julho.


Nota de Abertura do Suplemento de Cultura publicado hoje no Açoriano Oriental. Colaboram nesta edição: Clara Cymbron, Susana Rosa, Sofia Medeiros, Guilherme Marinho, Paulo Afonso, J.M., Tiago Tomé.

domingo, junho 24, 2007

sábado, junho 23, 2007

Ahli

Uma ilha lida ao contrário: parte-se.
já se for uma asa: não!

segunda-feira, junho 18, 2007

Belos Tempos!



Abelha Maia,Bana e Flapi,Boa Noite, Vitinho, Ursinho Misha, Meninos Rabinos e tantos outros...Chamem "nostalgia" se quiserem, mas eu hoje até cantei o Topo Gigio com algumas saudades para dizer a verdade.

Projecto de Bodas

«Hoje apetece que uma rosa seja
O coração exterior do dia;
E a tua adolescência de cereja
No meu bico de Isolda Cotovia.
Hoje apetece a intuição dum cais
Para a lucidez de não chegar a tempo;
E ficarmos violetas nupciais
Com a lua a celebrar o casamento.
Apetece uma casa cor-de-rosa
Com um galo vermelho no telhado
E os degraus de uma seda vagarosa
Que nunca chegue à varanda do noivado.
Hoje apetece que o cigarro saiba
A ter fumado uma cidade toda.
Ser o anel onde o teu dedo caiba
E faltarmos os dois à nossa boda.
Hoje apetece um interior de esponja
E uma estátua a que moldar o vento.
Deitar as sortes e, se sair monja,
Navegar ao acaso o meu convento.
Hoje apetece o mundo pelo modo
Como vai despenhar-se o trapezista
Abrir mais uma flor no nosso lodo:
Pedir-lhe um salto e retirar-lhe a pista.
Hoje apetece que a cor de um automóvel
Seja o Egipto de novo em movimento;
E que no espaço duma gota imóvel
Caiba a possível capital do vento.
Hoje apetece ter nascido loiro
Como apetece ter havido Atenas
E tu nas curvas rápidas de um toiro
E eu quase intangível como as renas.
Hoje apetece que venhas no jornal
Como um anúncio. Sem fotografia.
E inventar-te uma lenda de cristal
Para reflectir a minha biografia.»


Natália Correia

(poema incluído no CD Natália Descalça das Descalças

domingo, junho 17, 2007

Nota

As gaivotas traziam os cabelos compridos ao vento, enlaçados nas membranas de pianistas que, no Carnaval, entre as rochas, fingiam ser. Nos aquários, peixes bailarinos treinavam o passo da salsa, barbatana cá, barbatana lá e eu, escrevendo isto em Fevereiro de um ano qualquer, Domingo gordo, pensava nos palhaços todos deste mundo e do outro e nas farsas disparatadas, ocultas e quimicamente más que eles treinavam: gargalhada cá, gargalhada lá, como gorgulhos dentro dos pacotes de arroz sem prazo de validade, perdidos e sós.

Agenda

Exposição Fast Forward ´07
Academia das Artes
Pintura: Vera Bettencourt e Ludomila Esteves
Escultura: Daniel Oliveira e Milton Verdadeiro
Dias úteis e Domingos das 14h às 19h (até 29/06)

sábado, junho 16, 2007

terça-feira, junho 12, 2007

domingo, junho 10, 2007

Domingo

"Um milhar de olhos para contar os grãos
asas para dividir o vento e uma
sirene [para anunciar a chegada e
breve a partida
tão evidente como a dos navios

minúsculo aparelho de descolagem vertical
tem ainda um milhar de lábios [para o
beijo gelado das paredes [patas para o
mal-estar das visitas [e para
caminhar no tecto de cabeça para baixo

tudo nela é tão pequeno e subitamente
tao útil
que a sua criação foi uma zombaria."


Discurso Sobre a Utilidade da Mosca, Emanuel Félix, in 121 Poemas Escolhidos, Edições Salamandra.

sábado, junho 09, 2007

Sábado



Foto: TM

"A Natureza tem uma entrada por trás
como os clubes clandestinos;
e o coração, mesmo apaixonado, não é tão estúpido
como uma galinha, por exemplo,
que é capaz de seguir durante horas
uma linha traçada a giz no chão."


"O amor" ,Gonçalo M. Tavares.

sexta-feira, junho 08, 2007

quinta-feira, junho 07, 2007

Sinalética

Os homens atravessaram a rua de um lado para o outro.
Fizeram-no vezes sem conta, sem nunca chocar; vistos de cima pareciam borboletas; vistos de longe autênticos loucos.
Ninguém se quis chegar perto. E os homens morreram de pé a sonhar.

quarta-feira, junho 06, 2007

Bilhete


foto cm



Um dia disseste-me:
- A voz do fogo tem dentro uma partícula de ilha que não arde de cada vez que a tocamos.

(E eu acreditei, como se fosse possível ser ilhéu sem sentir nada).

segunda-feira, junho 04, 2007

Citação (importante)

"Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia

chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a

é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece"


Rifão Quotidiano, Mário-Henrique Leiria