Eu nunca o vi em “ carne e osso”, mas estava na terra dele, quando morreu, em 2004. Comprei, então, Habitação das Chuvas (1997) para tentar conhecer um poeta que muita gente lembra, mas do qual quase ninguém fala. Passados os anos e aprofundado o estudo pessoal sobre a obra e a vida deste poeta açoriano, que nasceu na ilha Terceira em 1936 e que foi o introdutor do Concretismo poético em Portugal, ainda não percebi porque razão não constava dos curricula de Literatura Portuguesa o nome de Emanuel Félix. (?) Desta vez, escolho o poeta dos náufragos tranquilos que de nós disse sermos “herdeiros de um rombo aberto/ no nevoeiro secular/ Tranquilos Náufragos do incerto/Vamos morrer no mar” (excerto do Poema dos Náufragos Tranquilos, página 131 do livro 121 Poemas Escolhidos); ou que nos avisou que seguíssemos a lição das “flores de lume/ que valem pelo que são/ E não por um perfume” (excerto do poema Dálias, página 62 do livro 121 Poemas Escolhidos). Na contracapa do livro “121 Poemas Escolhidos” pode ler-se que o poeta estudou em Paris, Anderlecht, Lovaina e estagiou em museus e em diversos institutos de restauro científico de obras de arte; que fundou com o pintor Rogério Silva e com o poeta Almeida Firmino, a Revista “Gávea”, em 1958; que tem numerosos artigos publicados em jornais e revistas portuguesas e estrangeiras e que as suas principais obras são o Vendedor de Bichos, A Palavra, o Açoite, A Viagem Possível, Seis Nomes de Mulher, O Instante Suspenso, Os Trincos da Memória e Habitação das Chuvas. Tudo o que aqui acima citei, fi-lo, propositadamente, resumido. Não me interessam grandes listas de feitos ou tão pouco encher o escritor de actos e modos; não quero traçá-lo em pretensas atitudes metafóricas, sublinhar-lhe os termos, enchê-los de quês e porquês para colocá-lo, parado e mudo, num espaço temporal. Quero, apenas, lembrar quem foi o poeta Emanuel Félix; o que disse, como disse; que livro é este e dizer aos que, eventualmente, me possam ler, que existiu um homem, que era um artista, um poeta de corpo inteiro, açoriano de fio a pavio que escreveu coisas tão bonitas como “Elegia das Flores”: “ Os homens esperam viver cem anos/Mas as flores vivem uma primavera. Porém, num dia de vento e de chuva, / Elas podem desfolhar-se na poeira. /Se as flores soubessem afligir-se com isso. / A sua tristeza seria maior que a dos homens.” (página 82, do livro 121 Poemas Escolhidos)
“121 Poemas Escolhidos” celebra cinquenta anos de vida literária deste escritor. Foi publicado em Setembro de 2003 pela Editora Salamandra.
Correio do Norte (1ª quinzena de Junho)
1 comentário:
é uma delícia ver citado e divulgado Emanuel Félix, alguém a quem um homem da cultura portuguesa um dia classificou de poeta cheio de talento, mas preguiçoso. Foi Casimiro de Brito. Emanuel Féliz soube-o. Pareceu-me que o seu silêncio deu razão ao comentário. Está perdoado.
O que nos deixou merce ser mais divulgado e melhor lido.
Sra professora, será que os professores do assunto, conhecem o poeta?
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