domingo, setembro 30, 2007

Nota

Anda há muito tempo, a teimosa letra [a] a tentar emancipar-se da aspirada letra [h] e levar-lhe acento e tudo. Pobre agá. Desaparecerá sem assento para descansar ou circunflexo para o proteger. Caso grave e agudo, pois que o tempo de existir é de haver com a letra [h]...

Muz´ka

sexta-feira, setembro 28, 2007

terça-feira, setembro 25, 2007

Vezes



Passados os meses de Verão é tempo de regressar.
Temos regressado aos poucos com a agilidade dos movimentos, nalguns casos perros, lembrando autênticas e, nem por isso, menos nobres, maquinarias de museu. Seja assim, que já não é mau, dirão alguns, enquanto uns outros, porventura os mais afoitos, exclamarão alto e em bom som: cuidado!
Do mês que se passou lembro a (inesperada) morte de Eduardo Prado Coelho, figura nobre da Cultura portuguesa do século XX, que ao país e aos portugueses fará a falta, quase essencial, que fazem as pessoas que pensam (e sentem) por conta própria.
Setembro está quase no fim. Daqui a nada será substituído por Outubro para que o mês amarelo nos conduza ao Natal, que é vermelho e branco. Lembrando o Natal, vem-me à memória por associação (talvez) o poeta português David Mourão Ferreira: “ E por vezes as noites duram meses/E por vezes os meses oceanos/E por vezes os braços que apertamos/nunca mais são os mesmos/ E por vezes (…) E por vezes sorrimos ou choramos/ E por vezes por vezes ah por vezes/ Num segundo se envolam tantos anos.”
O ano de 2007 está quase no fim. Resta-lhe, na algibeira, para tirar como sortes mais umas vezes, aonde se espera que, conscientemente, cheguemos à conclusão de que não queremos levar para 2008 pessoas que sejam como balcões encerrados para balanço; que ceguem como nós dados nos cordões dos sapatos; pessoas que pareçam de colar e de decalcar. Pessoas que sem vezes lembrem nada.
Boas leituras. Até Outubro.
Nota de Abertura, Suplemento de Cultura do Jornal Açoriano Oriental, 25.09.2007
Colaboram nesta edição Célia Machado, José Augusto Soares, André Rodrigues, Ana Teresa Almeida e Rogério Sousa.

segunda-feira, setembro 24, 2007

sexta-feira, setembro 21, 2007

"Melhores Ruas para Todos"


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"(...) a sexta edição da Semana Europeia da Mobilidade tem como tema transversal "Melhores Ruas para Todos". Subjacente ao tema está a mensagem clara de que, aumentar o espaço viário para os automóveis, não é resposta aos problemas de transporte existentes. Reduzi-lo pode, pelo contrário, ser uma solução sustentável e eficaz, além de possibilitar estilos de vida mais saudáveis sem limitar a mobilidade pessoal.(...)"
Instituto do Ambiente

segunda-feira, setembro 17, 2007

Ler devia ser proibido



"(...) Cuidado: ler pode tornar as pessoas perigosamente mais humanas."

texto de Guimar Grammon

sábado, setembro 15, 2007

Às vezes apetece...

A ouvir



34 poemas ditos por Mário Cesariny. Já me havia sido recomendado pelo gm. Cá está ele. Uma maravilha!

quinta-feira, setembro 13, 2007

Esta é a Luz


A minha mais recente afilhada, que pesa 350 grs e está (e viverá) numa casa com vista para o mar

Biografia Encomendada pela Insónia


«Trago uma lira no tutano.
Como interior da minha toca.
Tocam-me as teclas e o piano
É não saber porque me tocam.

Onde não fui dói-me no osso
E porque dói é que há o mundo.
Sou fundo e não achei o poço
Que me dê cimo para ser fundo.

Seja o que for, forma-me em arco.
Com sete espadas na espinha.
E cada uma solta-me um barco
Como quem põe uma adivinha.

Levo o que falta numa pulseira
Que em diamantes me forma o pulso.
E o meu tamanho é a maneira
Mais vertical do meu impulso.

Deram-me a rua e a janela.
Se eram extremos da minha pista,
Ficou-me a alma toda amarela
Por não saber de onde era a vista.

Passeio a passos de felino
A minha trança a ver se acho
A avenida que o destino
Tirou de cima para pôr em baixo.

Se a queda foi por estar mais alto,
Um coração no tornozelo,
Como um remorso, pede-me o salto
Que me ice o pé ao sete-estrelo.

Tirem-me o cão. Talvez o cego
Como um pião encontre o mundo.
Que por não termos alma de prego
É que não vamos firmes ao fundo.»


Natália Correia
(13 de Setembro de 1923 - 16 de Março de 1993)

quarta-feira, setembro 12, 2007

Comentário



Se este portão fosse o do Relvão (Alameda Duque de Bragança), talvez os passeios à entrada já estivessem calcetados e, quem sabe, a erva que por ali cresce há semanas, já tivesse sido cortada!

terça-feira, setembro 11, 2007

Das saudades disto


De cada vez que me vou embora daqui detenho-me na entrada da porta, rente ao muro, de onde “voei” pela primeira vez, e esfolei os joelhos. Observo a chegada das gaivotas à ponta do cais e penso que falta um ano de tantas coisas para voltar outra vez. Se tenho tempo, na hora da partida, rodo o carro à porta do barracão, onde está impresso na parede o nome dele e o meu sobrenome, que é daqui, do meio destas pedras e do cheiro a madeira, espreito a ribeira, que não vejo correr há muito tempo, avanço até ao porto, onde ele me ensinou a mergulhar, subo e desço à muralha e parto, subindo o morro, sempre com vontade de virar para baixo, ficar mais uns dias e voltar a encontrá-lo. Tem sido sempre assim. Todos os anos. Desde há muito tempo. Houve um tempo bom e doce, que já vai lá muito longe, e que eu guardo como uma caixa de segredos para momentos em que me sinto a despenhar por dentro. Nessa caixa guardo fios de luzes, velas de aniversário, bolos e arroz doce servido às fatias, bóias, bolas de futebol ou, por exemplo os postais de natal com barcos desenhados na capa.
Agora, há este tempo renovado, que ocupamos todos juntos para parecermos muitos; um tempo em que nos temos vindo a abrigar uns aos outros como se assim conseguíssemos ser os mesmos que, um dia, pudemos ser, enquanto houve um, que nos vigiava o sono, sem dizer que o fazia; que nos servia de banco para jogar ao 31 ou que, sempre nesta mesma hora de despedida, nos acenava à partida, como se ela fosse breve e prometia ir visitar-nos, quando a escola começasse ou, se o trabalho não fosse muito, quando o Natal chegasse. Não me lembro de ter cumprido a promessa, mas lembro-me que era bom ouvi-lo dizer isto quando nos íamos embora. Lembro-me, já mais velha, de saber que, mesmo não indo, aquelas eram as palavras mais bonitas que ele conseguia dizer, na hora em que todos tínhamos que nos despedir.
O tempo de amanhã é repetido.
Já o vivi e revivi vezes sem conta. Terei que abandonar esta casa e este banco onde me tenho sentado para escrever, em frente à janela, com vista para a Terra Alta, por mais um ano. De modo, que sairei a porta, espreitarei o muro baixo, que para mim já foi muito alto; as gaivotas estarão cumprindo as rotinas diárias e eu rodarei o carro à entrada do barracão, tomarei um último café com a tia e seguirei o mais calmamente possível para o porto da partida. De certeza, que vou sentir vontade de virar para baixo, de voltar a entrar em casa para me certificar de que o centro de mesa está igual ao que sempre foi; que as cortinas continuam corridas da mesma maneira; que as cadeiras brancas permanecem na mesma e que, em cima do sofá vermelho coberto por almofadas verdes e beges, está pousado o saco da costura com bichos de fazenda para o outro bebé, que chega ao mundo em Setembro e, aqui a este lugar, como todos nós, lá para Julho ou Agosto do ano que vem.
Espero que ela continue à nossa espera.


Santo Amaro do Pico, 27 de Agosto de 2007.

Nascimento



Nasceu mais um Matos. Desta vez, é Júlio.

segunda-feira, setembro 10, 2007

10 Livros meus, 10 vidas minhas

Coração - É um livro juvenil que recebi pelo Natal e li com menos de 10 anos. Chorei durante a leitura e lembro-me que achei incrível o poder daquelas letras.

Os Bichos de Miguel Torga - Miura acompanhou-me o resto da minha vida.

A Pérola de Steinbeck - Ajudou-me a compreender o anti imperialismo.

Somos todos irmãos de Ghandi - Ajudou-me a compreender o humanismo.

A Bíblia - Ajudou-me a compreender a minha cultura ética.

O Prémio e as Três Sereias de Irving Wallace - Aprendi a ler como passatempo

Watership down de Richard Adams - Percebi que se continuasse criança aprendia mais.

Os imigrantes e A selva de Ferreira de Castro - Uma espécie de Steinbeck do fim do Portugal Imperial.

Gente feliz com lágrimas e O meu reino não é deste mundo de João de Melo - Percebi que a literatura moderna, escrita nos meus dias, também podia ser escrita sobre mim e sobre os meus.

Ensaio sobre a cegueira de José Saramago - Lembrou-me que no universo lusitano se podia escrever sobre o universo da cegueira, ou sobre a cegueira universal.

Bónus

Viagem pela a América de Che Guevara - Percebi que se pode combater o imperialismo vivendo e aprendendo a realidade.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, setembro 07, 2007

Pessoalmente (porque sim)


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Há pessoas que são como instituições. Quando, de repente nos damos conta, já trazemos a multa para casa com pagamento obrigatório para dali a dez dias. Há pessoas com cara de guiché, ar de recibo verde e voz com tom de carimbo. Pessoas, que são como eléctricos e quando damos por isso, já elas correm sempre em frente nos seus carris de todos os dias. Há pessoas que são como barris de vinho; não têm furos, não deixam escapar nada e quando, num ápice, deixamos fugir um sorriso, já elas estão mudas e cilindradas.
Há pessoas que trazem nos dentes, impressos como autocolantes, senhas numeradas para manter ordens que, mesmo desordenadas, devem apitar no ecrã e parecer muito direitas. Há pessoas que nos levam da vida como uma onda, que vem só às vezes; pessoas que se deixam embrulhar em laços e parecem nunca mais querer endireitar-se. Há pessoas que são como balcões encerrados para balanço; que cegam como nós dados nos cordões dos sapatos; que ardem como sumo de limão nos lábios e que se evaporam como o fumo de um chá quente.
Há pessoas que lembram ovos cozidos e outras que lembram músicas e letras; pessoas que usam chapéus de palha e soltam gargalhadas como se fossem de rir as outras pessoas. Há pessoas que são como feiras de carros usados; pessoas que parecem de colar; pessoas que lembram filetes de pescada deitados em travessas de inox; pessoas que são de decalcar.
Há pessoas que são tantas pessoas, que todas juntas parecem uma pessoa só.

Resposta ao desafio

A Fátima e o José Augusto Soares lançaram-me o desafio de escolher dez livros que tivessem contribuído para mudar a minha vida.
Como a Fátima, aqui os deixo, não sem antes, salvaguardar que nenhum deles mudou a minha vida, no seu sentido prático. Apenas acrescentou mais qualquer coisinha às linhas com que me coso.
Aqui ficam eles:
1.“Poesias Completas”, Alexandre O´Neill
2.“As velas ardem até ao fim”, Sándor Murai
3.“Que farei quando tudo arde?”, António Lobo Antunes
4.“Morreste-me”, José Luís Peixoto
5.“Resistir”, Ernesto Sabato
6.“Poesia e Cultura”, Jorge de Sena
7.“Obra Poética”, José Carlos Ary dos Santos
8.“E agora, José”, José Cardoso Pires
9."O Monte dos Vendavais", Emily Brontë
10. "Do Caderno H", Mário Quintana

E como a Fátima passo a pasta, se tiverem paciência, à Susana, ao bicho-de-conta, ao Francisco, ao Mimo(s), ao MRC, ao Perdido no Escuro, à Alex e à Soniaq