terça-feira, setembro 25, 2007

Vezes



Passados os meses de Verão é tempo de regressar.
Temos regressado aos poucos com a agilidade dos movimentos, nalguns casos perros, lembrando autênticas e, nem por isso, menos nobres, maquinarias de museu. Seja assim, que já não é mau, dirão alguns, enquanto uns outros, porventura os mais afoitos, exclamarão alto e em bom som: cuidado!
Do mês que se passou lembro a (inesperada) morte de Eduardo Prado Coelho, figura nobre da Cultura portuguesa do século XX, que ao país e aos portugueses fará a falta, quase essencial, que fazem as pessoas que pensam (e sentem) por conta própria.
Setembro está quase no fim. Daqui a nada será substituído por Outubro para que o mês amarelo nos conduza ao Natal, que é vermelho e branco. Lembrando o Natal, vem-me à memória por associação (talvez) o poeta português David Mourão Ferreira: “ E por vezes as noites duram meses/E por vezes os meses oceanos/E por vezes os braços que apertamos/nunca mais são os mesmos/ E por vezes (…) E por vezes sorrimos ou choramos/ E por vezes por vezes ah por vezes/ Num segundo se envolam tantos anos.”
O ano de 2007 está quase no fim. Resta-lhe, na algibeira, para tirar como sortes mais umas vezes, aonde se espera que, conscientemente, cheguemos à conclusão de que não queremos levar para 2008 pessoas que sejam como balcões encerrados para balanço; que ceguem como nós dados nos cordões dos sapatos; pessoas que pareçam de colar e de decalcar. Pessoas que sem vezes lembrem nada.
Boas leituras. Até Outubro.
Nota de Abertura, Suplemento de Cultura do Jornal Açoriano Oriental, 25.09.2007
Colaboram nesta edição Célia Machado, José Augusto Soares, André Rodrigues, Ana Teresa Almeida e Rogério Sousa.

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