quinta-feira, dezembro 23, 2010

Bigodes, Maçaroca e Pirilampo


[O desafio lançado fez-me já escrever e apagar uns dez parágrafos de entrada. É um texto, o que se segue, muito diferente dos que é hábito escrever, com a responsabilidade acrescida de ser ilustrado pelo Álvaro Matos, que tem 3 anos e para quem o Natal é uma aventura e muito bom em casa do avô e da avó.
A ver se não lhe destruo a magia, já que o recado dele ao bom velhinho foi “manda-lhe um puxão nas barbas” que eu, por receio da reacção do senhor, não fui capaz de dar…]

Ora então, comecemos pelo duende “Bigodes”, o duende “Maçaroca” e o duende “Pirilampo” que são os três melhores amigos do Pai Natal, companheiros em todas as tarefas que têm que ser feitas, antes de irem entregar as ofertas às casas dos meninos e das meninas de todo o mundo.
Eles fazem brinquedos. Fazem todos. Fazem espadas, bonecas, princesas, pistas de carros de corridas e jogos de computador. Fazem cartas de jogar, livros de pintar, tractores, bicicletas e triciclos, bolas de futebol do Benfica, camisas de jogadores e televisões.
O Pai Natal tem uma fábrica de brinquedos. Fica no meio das nuvens por cima das nossas casas. É uma casa grande de onde ele costuma mandar beijinhos de boa noite aos meninos e às meninas de todo o mundo e de onde ele também vigia a ver se eles se estão a portar bem para saber se depois pode, ou não, trazer os brinquedos no Natal.
Este Natal já começou a azáfama. Tem sido uma trabalheira. É preciso separar as cartas por temas e depois fazer todos os brinquedos para não faltar nenhum. E são tantos os pedidos, que ele mandou vir mais duendes das outras ilhas para o ajudarem. E eles vieram de todo o lado. Alguns vieram na SATA à boleia, dentro das malas dos senhores e das senhoras e outros vieram de barco dentro de caixotes. Mas, já chegaram todos e agora tem sido um tal trabalhar.
Os duendes são muito pequeninos. Do tamanho de um dedo mindinho e moram nos parapeitos das janelas, dentro do frigorífico ou debaixo das nossas camas. Só os meninos e as meninas é que, às vezes, os conseguem ver, quando eles, no Verão, vestem os fatos de banho e vão nadar para as pocinhas na praia, ou então, quando os meninos e as meninas estão doentes e eles vão à beira das suas caminhas fazer-lhes festinhas para eles ficarem melhores.
São eles que abrem os caminhos nas chaminés para o Pai Natal descer e às vezes é preciso serrar como o “Bob, o construtor” os tectos das casas que não têm chaminé e depois por tudo como estava.
São eles que fazem os laços nas ofertas e que escrevem os nomes dos meninos e das meninas e são também eles que lembram ao Pai Natal onde mora o Álvaro e todos os outros meninos e meninas do mundo…
O Pai Natal, como os duendes, nunca se vai embora e nós sabemos sempre que ele quando se vai embora, volta. Gosta de futebol, mas não tem uma equipa só. É de todas. E usa óculos, como a avó para ler e jogar jogos no computador. Gosta de sopa de letras e de bolo de chocolate. De iogurtes de banana e de papa Nestum. É muito gordinho e toca piano.
As renas do Pai Natal são castanhas como o cão do avô. Voam como o Super-Homem e na noite de Natal é possível vê-las passar a tocar nas estrelas e a rir, a rir muito porque elas estão sempre felizes e contentes. Gostam de erva fresca como o coelho e de leite com chocolate e bolachas.
Os três melhores amigos do Pai Natal – Bigodes, Maçaroca e Pirilampo – gostam de ver desenhos animados, sabem cantar todas as músicas infantis e moram nos arbustos do jardim. Andam de tractor e gostam de corridas de carros. Comem gomas e gamas. Adoram ovos kinder!
Nestes dias costumam vir às nossas casas ver se já está tudo pronto para o Natal e passeiam nos presépios, pelas ruas pequeninas, saltitando, entre o musgo, a ver o Menino Jesus, a vaquinha e o burrinho a dormir. Fazem corridas nos troncos das árvores e jogam futebol com as bolas e os sinos que estão pendurados nos galhos.
… (Agora, que a história está a acabar vê lá se não os vês aos pulinhos por ali afora, vão andando alegremente nos risquinhos do chão, já com os seus cobertores e escovas de dentes, as chuchinhas e as fraldinhas, debaixo do braço. É tarde e eles vão dormir. Amanhã é dia de preparar as mochilas com pacotes de leite e sumo, bolachas e pão com queijo para começar a trabalhar).
Maçaroca, Pirilampo e Bigodes vão descer e subir todas as chaminés, abrir e fechar tectos de apartamentos para deixar tudo o que todos os meninos e todas as meninas do mundo pediram para ter este Natal.
[E eu que não dei o recado do Álvaro ao Pai Natal – o tal do “puxão nas barbas” ficarei à espera – pacientemente – a ver se não haverá mesmo motivo para lhe arrancar um ou outro cabelinho.
Há muitos anos que não vejo um duende que seja, não ouço as renas rir, nem sequer as vejo a rasgar o céu. Esta é a parte da história que não lhe lerei. Tem tempo para se desiludir e não será agora quando cheio de boa vontade e alegria contagiante me ofereceu esta árvore da sua casa com bolas, luzes, o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José, todos pintados a verde para “a história que tu me vais escrever no jornal”, como disse…]


* ilustrado por Álvaro Matos, 3 anos.

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