"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
quarta-feira, fevereiro 15, 2006
Croniqueta VI ou o Fífia é um lugar comum
Para o Nuno Barata
Agora o Fífia diz que é poeta, artista, médico de palavras; que sabe fazer “rimas de estreia”, daquelas que dão à costa, quando um homem mal espera: uma dor que queda em lágrima e desaba num suspiro...
O Fífia é um ser cultural. Vagueia pela cidade como um til ~. Assim mesmo como sinal gráfico. O Fífia é um acento gráfico ondulado. Sem assento. Fanhoso como só o til torna as palavras. O Fífia é fanhoso, mas não sabe. Nunca se ouve. Eu ouço-o. Fanhoso no vestir, no andar, no falar, até no zangar. O Fífia é o rei dos fanhosos. Parece o apito da carrinha que vende chicharros aos Sábados.
O Fífia continua a pensar que é grande e passeia-se nas ruas, todo esticado, como se por cima da sua cabeça houvesse uma linha, que o tivesse preso pelas orelhas.
O Fífia está fora de moda. Mas não faz mal. Adora estórias e conta-as. Sempre as mesmas. Sempre iguais. Sempre com o mesmo ritmo e o mesmo arrastar das mesmas sílabas.
Agora é decorador, diz. Decorador de versos. É vê-lo, de noite, com a sua touca de dormir, o gato por espectador, dependurado em cima da poltrona, de olhos fechados, a dizer em tom silabado e esticado, melancólico, agri-doce, suculento e feio..: “ Ai! Dona Inês! Dona Inês! Quem foi que la matou?” ou “ Eu tenho um cavalo preto selado para ir ter contigo!”.
Este último verso di-lo em frente ao espelho apontando para o seu reflexo e sorrindo, manhoso, no arrastar da palavra: “contiiigo!”. O Fífia é um narciso. Eu comigo vou contigo ao Supermercado. Comprar pão para nós os dois. Diz isto todas as manhãs ao espelho. Fala de si e do seu reflexo. O Fífia é um egoísta! Não distingue poema de verso. Ele próprio do seu reflexo. O Fífia é um papel químico. Roxo. Gasto. Inadaptado. O Fífia é um pão a meias para dividir por dois dias e ser comido só por uma pessoa. Não conhece partilhas, conversas descontraídas e abertas. O Fífia não tem amigos. Tem a sua imagem no espelho. O seu gato e as suas fotografias nas revistas. Ele ouvindo um concerto. Ele no lançamento de um livro. Ele na fotografia do seu bilhete de identidade. O Fífia diz-se Democrata. Doador de graças, entendidas como os sorrisos automatos que distribui ao povo, quando "tilamente" desfila nas ruas.
Quer concorrer à Herança. O programa mais cultural, caracterizador da excelência da sociedade portuguesa, diz. O Fífia é um estudioso. Na estante, folhas e folhas de papel, projectos de livros que ele, coitado, um dia escreverá. (ao rumo que as coisas vão pode mesmo que escreva). Anda a ensaiar um pseudónimo. Podia escolher o primeiro nome de um escritor ou de uma escritora e mudar-lhe o sobrenome. Chegou à conclusão de que podia chamar-se Fífia Só por Si, sigla "F., SS".
Mandou fazer uma placa para pendurar ao pé do seu número da porta. Diz assim: Homem bom. Cidadão exemplar. Mora aqui. Diz ele que é para prevenir dos ladrões. Vai mandar fazer agora um acrescento a dizer: Fífia. Poeta e tudo relacionado.
Andou a ensaiar o resumo e chegou à conclusão de que “tudo relacionado” queria dizer:
Poeta Fífia. Homem de Cultura. Cais de amarração das palavras. Bons costumes. Tradição. Herança. Decorador de Versos. Justo. Amado pelo seu gato. Bem apresentado. Bom comunicador. Excelente actor. Profissional. Solteiro. Bom senhor (hesitou no rapaz, mas…descobriu um cabelo branco no sovaco e a ideia caiu por terra).
É sócio do clube de cartas e aos sábados enche-se de coragem e sai porta fora, faça chuva ou faça sol, de guarda-chuva para prevenir a água e a queimadura, porque a sua pele branca, quase cadavérica, não pode sofrer as agruras das manifestações da natureza. O Fífia não escapa a uma nortada, um sopro, um bafejo ou, quiçá, a um beijo.
O Fífia é uma flor de estufa. Um texto que se escreve para não se estar calada. Um comentário que se faz porque se quer dizer coisas. O Fífia é o excedente. A voz que grita. O Fífia é um resto de nada. Um flash de fotografia roubada. Uma luz. Uma gargalhada. Um astro caído. Uma mosca na sopa. Um lugar comum…qualquer coisa sempre mais do que um…
O Fífia está sempre a mais. É o que resta!
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5 comentários:
Convém esclarecer que o NB n é nenhum Fífia. Pelo contrário.A dedicatória tem outro fundo!
...isso cheira-me a alguma conversa de pé d'orelha eheh
Nada disso. Tem tudo a ver com a dita "Teoria da Conspiração"...;)
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