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Estou de partida como os navios no porto. Vou, entre as correntezas do abismo, selectas, enfeitiçadas por rasgos de braços e mãos perdidas, e as brisas dos mares, essas doidas bailarinas, cujas horas de sono perdidas, em
passe doble enfeitiçam os olhos desprotegidos das chuvas.
Esqueço a meia vaga as hélices e quando, por algum momento, penso –
quero atracar – logo me dizem as ondas: -
não podes.
Sou, no intermédio da voz que fica, a frágil palavra. Qualquer coisa que não existe, mais não seja, porque o barulho de ti é tão grande, que eu não consigo dormir…
E as fadas, regressadas da faina, com luvas verdes, calçadas nas mãos, entoam aqueles musicais antigos, que me dizias serem postais do mundo inteiro. Não sei já se me devo esquecer que existes, fingir que talvez voltes...
Por mim, estou de partida, ajeitada para a viagem, como os navios do porto. Doca fora…entre as marés e o salto, o desejado, como quem larga as amarras e voa. Como as gaivotas, sabes? As mesmas dos bicos vermelhos escuros que hoje, particularmente hoje, dormiam na bacia da doca, enquanto eu te escrevia esta carta e as pessoas na avenida, enfiadas nos seus casacos de frio, até pareciam dançar.
Dançar.
PDL, 13 de Novembro, 2005