O mundo é todo ilhas”-, escreveu José Martins Garcia, escritor da ilha do Pico, que este mês, aqui ao lado, escolhi para citar no “lugar” da citação deste Suplemento. Um “lugar de embarcar em barcos de papel” ou um “lugar da conquista das cavernas do vento”. Certo é que se as ilhas são “conforme as circunstâncias” (José Martins Garcia) é urgente que sejam de todos nós as suas dores e as suas alegrias; nossas as suas chegadas, as suas partidas; as suas ausências, as suas pertenças, as suas desgraças e as suas felicidades. Assim é, ou será, se por uma vez, que seja, nos tomarmos a nós próprios como seres de complementos circunstanciais. Uns de modo e outros de fim; uns de aspecto e outros de tempo; quem sabe se, em circunstâncias de causa não é fácil ponderar a hipótese de que: “ Talvez seja possível ainda pintar gaivotas na testa”, como escreveu Álamo de Oliveira em [O Itinerário das Gaivotas] ou acreditar (com vontade própria) que, como deixou dito Vitorino Nemésio: “o livre ilhéu, mesmo morto, não cora se espernear”. A ver vamos. O tempo que ainda falta ditará a verdade sobre quantos de nós, serão, ou não, capazes de entender, por fim, que: “ Crescidos vão os dias; é urgente/ Uma palavra simples que navegue/ no seu fluxo de febre, lento, leve,/ E edifique o milagre do presente.// Uma palavra interna e concertada/ Com um rosto solar capaz de agora…/Com a luz pontual e sem memória…/Com um stop qualquer na madrugada.// Uma palavra sempre no momento, / Que escorrace de vez o antes e o após;/ E que seja no vento a presença do vento/ E que seja na voz a gravação da voz.” (José Martins Garcia).
Boas leituras. Até Junho.
Nota de Abertura do Suplemento de Cultura do Jornal Açoriano Oriental. Participação nesta edição: Anabela Caldeira, Carlos Tomé, Célia Machado,Rodrigo Francisco, Vasco Cordeiro, Luís Monte e Pedro de Mendoza.
"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
quinta-feira, maio 31, 2007
quarta-feira, maio 30, 2007
sexta-feira, maio 25, 2007
Concurso de Jovens Criadores dos Açores
O concurso LABJOVEM é um projecto que visa incentivar e promover jovens criadores das diferentes áreas artísticas, servindo de plataforma a uma nova geração de artistas açorianos.
As áreas contempladas pelo concurso são: Artes Plásticas, Banda Desenhada e Ilustração, Ciber Arte, Dança/Performance, Design Gráfico, Fotografia, Literatura, Música, Teatro e Vídeo.
Do concurso resultará uma selecção de projectos que serão apresentados nos Açores sob o formato de Mostra Regional, que englobará:
Exposição de Artes Plásticas, Banda Desenhada e Ilustração, Ciber Arte, Design Gráfico e Fotografia;
Apresentação de espectáculos nas áreas de Dança, Teatro e Música;
Apresentação de uma Mostra de Vídeo e realização de um Café Literário.
De entre os projectos seleccionados em cada área para integrar a Mostra Regional, será também seleccionado pelo júri do concurso LABJOVEM um projecto ao qual será atribuída uma bolsa de estudo no estrangeiro de curta duração.
Em breve estarão disponíveis mais informações em www.labjovem.pt
Entretanto, esta e outras actividades podem ser acompanhadas aqui
terça-feira, maio 22, 2007
domingo, maio 20, 2007
Luta
"Um contra o mundo, é pouco.
Mesmo que seja louco,
É muito pouco ainda.
Mas que pode fazer o homem que endoidece
E se esquece
De medir o poder do seu tamanho?
Ah, se houvesse um fotógrafo no céu
Que filmasse
Uma aventura assim, rídicula e perfeita?
D.Quixote sozinho
A combater as velas do moinho
Que mói, ronceiro, a última colheita."
Miguel Torga
quinta-feira, maio 17, 2007
Flores da Festa [Estória]
(- E a banda, como gosto de ouvir a banda tocar no coreto do Campo de São Francisco.)
Voltamos. Estamos de volta. Regressamos. Demos a volta ao mundo e aqui estamos com os mesmos olhos, salteados por dentro, com saudades e sal de lágrimas mais uma pitada de abraços. Vimos, (de chegar e de ver), sentidos nas saliências das ruas, limpas de silvados, e cheias de toques e gente pingada entre os muros, como aguaceiros de afectos. As pessoas penduradas em varandas de ferro, debruçadas nas colchas de cores, ornamentadas por flores doiradas e folhas castanhas, debruadas no tempo, divididas em bancos e cadeiras de pano fazem-me sorrir de alegria. Gosto de apreciar os vestidos novos, os sapatos da Festa, os novos tons de verão, com que se passeiam as pessoas nesta Festa, que é diferente de todas as outras. Tantos anos de Festa e ainda hoje me comovo com quase tudo. As loiças de barro espalhadas pelas prateleiras improvisadas de madeira são lindas. Poder comprar um assobio lá é uma coisa maravilhosa, que me devolve um regozijo quase infantil, como se fosse possível assobiar e voltar atrás quarenta anos.
As luzes que iluminam a igreja e toda a avenida, mais as pessoas de sempre, que não vejo durante anos, mas que reencontro na compra das rifas, entre pratos de loiça e cartas, devolvem-me à festa. (- Sou dela. Da Festa!)
Gosto de ver voar os aviões a fingir e de ver brincar nos carros de choque; da música que toca no recinto dos carros de choque, que nunca oiço durante o ano; gosto dos balões coloridos que se metem por entre as pessoas, presos aos pulsos de crianças que, por umas horas, antes deles levantarem voo, são “donas” de anões da branca de neve, ratos, gazelas, cães e coelhos.
(- Compra-me um balão. E eu comprava. E à noite, ao adormecer via-lo subir ao tecto do teu quarto; de onde só saía uns dias depois, quando vinha cair no chão, cansado…). Já não há balões desses.
Gosto de comprar rifas. Gosto (até!) quando não me sai brinde. Eu, que nunca jogo no totoloto, gosto de desenrolar rifas. Gosto de ver passar a Procissão.
Algodão doce. Tremoços e “rabuçados” de açúcar fazem as minhas saudades apertar aqui por dentro. Gosto de ver as ruas cheias de flores. De tapetes de flores. (-Gosto de me lembrar do que inventava para te explicar que flores eram aquelas: flores que nascem só nestes dias, - dizia.)
Agora, que a Festa está quase a chegar, elas começam a querer nascer pelo ladrilhado da calçada e, não queres ver (?), que na soleira da nossa porta, por onde passa a procissão, já nasce, embora ainda pequena, em tua memória, uma buganvília azul? São as flores da Festa. Esta a tua história. E eu que a escrevo e que me comovo vejo nascer flores (para ti) nos dias de Festa e sorrio. Afinal, estas são as Flores da Festa. As Flores. A Festa.
Jornal Correio do Norte, 1ª quinzena de Maio de 2007
Voltamos. Estamos de volta. Regressamos. Demos a volta ao mundo e aqui estamos com os mesmos olhos, salteados por dentro, com saudades e sal de lágrimas mais uma pitada de abraços. Vimos, (de chegar e de ver), sentidos nas saliências das ruas, limpas de silvados, e cheias de toques e gente pingada entre os muros, como aguaceiros de afectos. As pessoas penduradas em varandas de ferro, debruçadas nas colchas de cores, ornamentadas por flores doiradas e folhas castanhas, debruadas no tempo, divididas em bancos e cadeiras de pano fazem-me sorrir de alegria. Gosto de apreciar os vestidos novos, os sapatos da Festa, os novos tons de verão, com que se passeiam as pessoas nesta Festa, que é diferente de todas as outras. Tantos anos de Festa e ainda hoje me comovo com quase tudo. As loiças de barro espalhadas pelas prateleiras improvisadas de madeira são lindas. Poder comprar um assobio lá é uma coisa maravilhosa, que me devolve um regozijo quase infantil, como se fosse possível assobiar e voltar atrás quarenta anos.
As luzes que iluminam a igreja e toda a avenida, mais as pessoas de sempre, que não vejo durante anos, mas que reencontro na compra das rifas, entre pratos de loiça e cartas, devolvem-me à festa. (- Sou dela. Da Festa!)
Gosto de ver voar os aviões a fingir e de ver brincar nos carros de choque; da música que toca no recinto dos carros de choque, que nunca oiço durante o ano; gosto dos balões coloridos que se metem por entre as pessoas, presos aos pulsos de crianças que, por umas horas, antes deles levantarem voo, são “donas” de anões da branca de neve, ratos, gazelas, cães e coelhos.
(- Compra-me um balão. E eu comprava. E à noite, ao adormecer via-lo subir ao tecto do teu quarto; de onde só saía uns dias depois, quando vinha cair no chão, cansado…). Já não há balões desses.
Gosto de comprar rifas. Gosto (até!) quando não me sai brinde. Eu, que nunca jogo no totoloto, gosto de desenrolar rifas. Gosto de ver passar a Procissão.
Algodão doce. Tremoços e “rabuçados” de açúcar fazem as minhas saudades apertar aqui por dentro. Gosto de ver as ruas cheias de flores. De tapetes de flores. (-Gosto de me lembrar do que inventava para te explicar que flores eram aquelas: flores que nascem só nestes dias, - dizia.)
Agora, que a Festa está quase a chegar, elas começam a querer nascer pelo ladrilhado da calçada e, não queres ver (?), que na soleira da nossa porta, por onde passa a procissão, já nasce, embora ainda pequena, em tua memória, uma buganvília azul? São as flores da Festa. Esta a tua história. E eu que a escrevo e que me comovo vejo nascer flores (para ti) nos dias de Festa e sorrio. Afinal, estas são as Flores da Festa. As Flores. A Festa.
Jornal Correio do Norte, 1ª quinzena de Maio de 2007
segunda-feira, maio 14, 2007
Citação com gaivotas à mistura
CM
«o itinerário das gaivotas
mudou o rumo aos deuses...
antes partiam pela nossa tristeza abaixo
corriam em direcção ao peito
e descansavam de encontro
às searas que os nossos sonhos faziam crescer.
partiam depois céu acima
até nos perdermos de vista.
regressavam no ano seguinte
nuas de nós com o nosso vazio infinito.
hoje partem pela nossa dor acima
correm em direcção aos nossos olhos
e não descansam nunca em nossa vil tristeza.
seguem de malas nas asas
emigradas no vento até que nos perdemos de vez.
regressam em cada ano com o passaporte renovado
e uma ilusão fresquíssima
pintada e dolorida que avistamos ao longe
por entre franjas de nuvem.
nós por cá continuamos todos bem esquecidos
perdidos
e comovidos
nemesianamente
a oeste.»
Álamo Oliveira, O Itinerário das Gaivotas, SREC, Angra do Heroísmo, 1982.
Etiquetas:
Álamo Oliveira
domingo, maio 13, 2007
Nomeação
O Ardemares foi nomeado pela Azoriana e pelo Castelete Sempre para o Thinking Blogger Award. Muito obrigada a ambos pela lembrança. E, posto isto, farei as minhas cinco nomeações:
O Homem que veio Realmente de Longe
O Vent(ilha)dor
Bloco de 15
Da mariquinhas
Apeloeh ou a possibilidade de uma ilha
sábado, maio 12, 2007
quinta-feira, maio 10, 2007
quarta-feira, maio 09, 2007
terça-feira, maio 08, 2007
segunda-feira, maio 07, 2007
Citação
"Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças."
Miguel Torga
sábado, maio 05, 2007
Fachadas
A Praça dos Direitos da Criança na Fajã de Baixo foi alvo de obras de restauro: bancadas e paredes do campo de futebol foram pintadas de vermelho e cinzento. Um luxo. Olhando bem para lá, se acrescentarmos as colunas amarelas e cinzentas, julgamos por minutos estar a ver o cubo mágico plantado no meio do bairro. Na verdade, desconheço as reais intenções da obra, mas, espero, sinceramente que, finalmente, na fúria das pinceladas, venha também o arranjo das redes que, há anos, desde o tempo das pedras ali colocadas para evitar que as crianças jogassem futebol (ou dos tiros disparados ao final de tarde!), esperam o seu "embelezamento". Pode ser que sim ou pode ser que não.
sexta-feira, maio 04, 2007
Croniqueta XLIX ou ao Fífia fica bem babete com bolsa de retenção
Se o Fífia fosse um brinde de publicidade seria um par de peúgas brancas com bordado no dedo grande; uma almofada cheia de corações para o dia da mãe, ou melhor, um porta-chaves doirado com pilhas e lupa. O Fífia fala de cor, mas não salteia e dos seus olhos, quais pirilampos (de rabo reluzente), sai, por desespero, uma lágrima fingida. Deste Fífia, cuja cédula profissional tem carimbo de validade (há quem diga que varia com os amores que se lhe dão) há pouco a dizer. A mãe deste não lhe quer costurar nada, senão a boca; as tias não o conhecem verdadeiramente e o pai, qual alfinete de prata, vai picando como pode neste Fífia esponja, de costas voltadas ao tempo. Fífia. Mesmo. Fífia. Nenhuma acção lhe sai direita e, às vezes, parecendo engasgado, baba. O espectáculo é tal que, entre os poucos que assistem, consta que já houve corridas à feira para comprar babetes de plástico com bolsa de retenção; não vá, no ensejo o homem, meter água onde não deve.
Se o Fífia fosse uma escada teria quatro degraus e uma pedra no terceiro. Primeiro degrau: para poisar um pé. Segundo degrau: para poisar o outro pé. Terceiro degrau com pedra: para se sentar depois de ultrapassar a tremenda dificuldade de ter que retirar a pedra. Quarto degrau: para deitar a cabeça e descansar do enorme esforço de ter afastado a pedra.
Se o Fífia fosse um livro era um livro de citações anónimas. Uma espécie de bloco de notas, agrafado na lombada, com dizeres de todas as origens, em português; porque de outras línguas, nosso Fífia, não pesca nada. Até mesmo as metáforas o confundem; imaginando que estas não são mais do que tiros ou fantasmas de um passado que quer mais escondido do que as célebres histórias que contam da sua infância engravatada; metido debaixo de si próprio como se fosse um caracol. Se pudesse, o Fífia era rei. Se pudesse o Fífia fazia-se passar por figura monárquica. Aí sim é que era bom; já não eram precisos sequer os quatro degraus e a pedra da escada, tudo se resolveria de uma assentada. Mas, no fundo, nosso Fífia sabe que não passa de um saco de asas sem publicidade, porque ninguém arrisca ou de uma moeda falsa que, só ultrapassa a pedra no terceiro degrau da sua escada inventada, porque isto é uma croniqueta e na vida real, fora deste blog e da minha pena, Fífias como este, não têm outro remédio senão mesmo passar o resto da vida a vazar a baba do babete de plástico; o que convenhamos é, para eles, grande e esforçado trabalho.
quinta-feira, maio 03, 2007
Quote
Era um grande nome — ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.
Biografia, Mário Quintana
Os Crocodilos
Pior, mas muito pior mesmo do que as lágrimas de crocodilo são os sorrisos de crocodilo.
Mario Quintana; Da preguiça como método de trabalho, 1987.
terça-feira, maio 01, 2007
Maio
"(...) Colocados na madrugada do primeiro dia de Maio, são retirados ao anoitecer.
Um dia em exposição.
Conhecemo-los ao longo da fronteira (Centro-Sul) Portugal-Espanha, em especial em Espanha, Estremadura, (San Vicente de Alcantara, Santiago de Alcantara, Valencia de Alcantara, Puebla de Obando, ...), mas nós conhecemo-los especialmente no Algarve, concelho de Olhão, nos Açores (ilhas Terceira, Graciosa, ...), nas Canárias (Santa Cruz de La Palma). Mas aparecem também noutros locais, como Jimenez de Jamuz (La Bañesa, León) e Alhama de Murcia (Valencia).(...)"
daqui
"(...)As origens desta tradição remontam às festas pagãs de Roma antiga, em que o mês de Maio era celebrado como o mês em que se festejava a deusa Maia, considerada a deusa da fecundidade por excelência.
Por conseguinte, ao longo dos tempos esta tradição surgia como símbolo da chegada da Primavera ou renascimento da vida vegetal; outros faziam os "Maios" para dar as boas vindas ao mês de Maio, com muitos trabalhos para o agricultor, para que as colheitas corressem bem; outros colocavam os Maios para que o diabo ou as bruxas não entrassem em casa. (...)"
Diário dos Açores
Desde pequena que no meu alpendre há um Maio sentado, neste dia, que se vai embora à noite e volta no ano seguinte.
Subscrever:
Mensagens (Atom)