(- E a banda, como gosto de ouvir a banda tocar no coreto do Campo de São Francisco.)
Voltamos. Estamos de volta. Regressamos. Demos a volta ao mundo e aqui estamos com os mesmos olhos, salteados por dentro, com saudades e sal de lágrimas mais uma pitada de abraços. Vimos, (de chegar e de ver), sentidos nas saliências das ruas, limpas de silvados, e cheias de toques e gente pingada entre os muros, como aguaceiros de afectos. As pessoas penduradas em varandas de ferro, debruçadas nas colchas de cores, ornamentadas por flores doiradas e folhas castanhas, debruadas no tempo, divididas em bancos e cadeiras de pano fazem-me sorrir de alegria. Gosto de apreciar os vestidos novos, os sapatos da Festa, os novos tons de verão, com que se passeiam as pessoas nesta Festa, que é diferente de todas as outras. Tantos anos de Festa e ainda hoje me comovo com quase tudo. As loiças de barro espalhadas pelas prateleiras improvisadas de madeira são lindas. Poder comprar um assobio lá é uma coisa maravilhosa, que me devolve um regozijo quase infantil, como se fosse possível assobiar e voltar atrás quarenta anos.
As luzes que iluminam a igreja e toda a avenida, mais as pessoas de sempre, que não vejo durante anos, mas que reencontro na compra das rifas, entre pratos de loiça e cartas, devolvem-me à festa. (- Sou dela. Da Festa!)
Gosto de ver voar os aviões a fingir e de ver brincar nos carros de choque; da música que toca no recinto dos carros de choque, que nunca oiço durante o ano; gosto dos balões coloridos que se metem por entre as pessoas, presos aos pulsos de crianças que, por umas horas, antes deles levantarem voo, são “donas” de anões da branca de neve, ratos, gazelas, cães e coelhos.
(- Compra-me um balão. E eu comprava. E à noite, ao adormecer via-lo subir ao tecto do teu quarto; de onde só saía uns dias depois, quando vinha cair no chão, cansado…). Já não há balões desses.
Gosto de comprar rifas. Gosto (até!) quando não me sai brinde. Eu, que nunca jogo no totoloto, gosto de desenrolar rifas. Gosto de ver passar a Procissão.
Algodão doce. Tremoços e “rabuçados” de açúcar fazem as minhas saudades apertar aqui por dentro. Gosto de ver as ruas cheias de flores. De tapetes de flores. (-Gosto de me lembrar do que inventava para te explicar que flores eram aquelas: flores que nascem só nestes dias, - dizia.)
Agora, que a Festa está quase a chegar, elas começam a querer nascer pelo ladrilhado da calçada e, não queres ver (?), que na soleira da nossa porta, por onde passa a procissão, já nasce, embora ainda pequena, em tua memória, uma buganvília azul? São as flores da Festa. Esta a tua história. E eu que a escrevo e que me comovo vejo nascer flores (para ti) nos dias de Festa e sorrio. Afinal, estas são as Flores da Festa. As Flores. A Festa.
Jornal Correio do Norte, 1ª quinzena de Maio de 2007
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