"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
quarta-feira, novembro 21, 2012
Funeral Blues
Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.
The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.
W.H. Auden
terça-feira, novembro 20, 2012
Era uma vez...
Era uma vez um menino príncipe que tinha uma rosa que (se) julgava única no mundo. Um dia farto da sua rosa e daquele planeta tão pequenino, o menino decidiu procurar outras paragens. Vestiu o seu casaquinho e partiu à descoberta de um novo mundo de planetas.
Num encontrou um rei que queria que o pequeno príncipe fosse seu súbdito, noutro encontrou um homem presunçoso, que queria que o menino o aplaudisse e saudasse, noutro encontrou um bêbado que se sentia envergonhado por beber, noutro encontrou um homem de negócios que contava estrelas e que acreditava ser dono de todas elas. Noutro, ainda, encontrou um acendedor de lampiões, que a todo o minuto tinha que acender e apagar lâmpadas da rua. Encontrou um geógrafo, também, que não conhecia no mapa, o planeta do menino.
Os diálogos entre os personagens são difíceis de descrever em tão poucos caracteres sem que se torne enfadonho, mas recomendo vivamente a história deste menino que, na sua viagem, encontrou um piloto de aviões que tivera um acidente, no deserto, e que enquanto consertava o seu avião, sozinho, encontrou um menino que lhe pediu que desenhasse uma ovelha.
Publicado em 1943, da autoria de Antoine de Saint-Exupéry esta é uma história sobre a lealdade entre as pessoas.
Ao narrador (o piloto) o menino conta a sua viagem de planeta em planeta…
A obra chama-se “O Principezinho” e está disponível em qualquer livraria.
Era uma vez outro menino que fez nascer a maior flor do mundo, quando o seu autor queria escrever a melhor história de todos os tempos.
A história deste menino e desta flor é apenas um esboço do que José Saramago poderia ter contado se tivesse a capacidade de poder fazer o impossível, como o próprio assumiu. O menino desta história faz uma flor dar sombra como se fosse um carvalho.
Depois, quando ele “passava pelas ruas, as pessoas diziam que ele saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos”. “Essa”, disse José Saramago: “é a moral da história”.
Era uma vez um escritor que dizem os críticos literários prometeu um dia escrever aos seus filhos, uma história sobre o mal que o homem faz ao ambiente. Escreveu-lhes “História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar”. Luís Sepúlveda.
Um gato grande, preto e gordo chamado Zorbas e uma gaivota surpreendida por uma maré negra no mar do norte, depois de ter mergulhado atrás de um cardume.
Antes de morrer a gaivota põe um ovo, e pede que Zorbas lhe faça três promessas: ”promete-me que não comes o ovo, promete-me que cuidas dele até que nasça a gaivotinha e promete-me que a ensinas a voar”.
O resto o leitor deve ler. (Se quiser).
Os três livros, aqui referidos, são infantis, mas como questionou José Saramago: "E se as histórias para crianças fossem obrigatórias para os adultos lerem? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tempo têm andado a ensinar?"
E é isto que eu acho. Serenamente.
AO
, 20 de Novembro, 2012
Serenamente
Novo "Plano Marshall" para a Europa
As suspeitas de que o “modelo de austeridade” adotado pela União Europeia está a falhar confirmaram-se com os mais recentes resultados do crescimento económico da União Europeia a 17 que a colocam a à beira da recessão.
Os resultados do crescimento europeu no terceiro trimestre deste ano (Portugal (-0,8%), Itália (-0,2%), Espanha (-0,3%), França (0,2%), Holanda (-1,1%) e Alemanha (0,2%)) são reveladores de que a travagem económica é generalizada e de que a crise que vivemos está a tornar-se sistémica, podendo, provavelmente, em 2013, provocar uma crise económica e social, no espaço europeu, sem paralelo desde a Grande Depressão.
Os sinais são claros: a queda da procura interna na Europa está a abrandar a inflação; antecipando resultados, as bolsas europeias estão no vermelho; e não há criação líquida de emprego em nenhum dos países da União Europeia a 17.
“Remeto-me às provas. Estamos muito próximo de uma recessão que prejudicará todos” afirma o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel García-Margallo, salientando que o modelo de austeridade que temos vindo a seguir prova a ineficácia da direção política e da alegada “solidariedade” dos países mais ricos da União Europeia, para com os países do sul da Europa.
Economistas reputados, americanos e europeus, já utilizam em praticamente todas as suas intervenções públicas sobre a crise europeia, as palavras “restruturação” e “renegociação” do ajustamento, com um despudor quase inacreditável, para quem assistiu a esta mesma discussão há seis meses atrás.
Apesar da Chanceler Merkel e do Governo português ainda não terem percebido a dinâmica da realidade, torna-se óbvio que apesar dos ajustamentos estruturais das economias periféricas da Europa serem necessários e implicarem alguma austeridade, as políticas paralelas de fomento ao crescimento, agora na “boca” de quase todos os dirigentes europeus, não são suficientes para alcançar os resultados que pretendemos.
A “doença já se alastrou a todo o corpo da Europa continental” e ameaça também outros países como os Estados Unidos ou o Japão.
A União Europeia necessita de agir, pensando como um todo e não nos interesses particulares dos países que neste momento a suportam. Esta crise política tem de ser resolvida de imediato, pois corremos um verdadeiro risco de desintegração do que construímos no nosso continente após a 2ª Guerra Mundial.
O risco é real e não é inédito, na nossa história, com as tristes consequências que conhecemos.
Necessitamos de ter políticas concertadas de restruturação da dívida pública e privada dos países do sul da Europa, mantendo uma vigilância apertada à França.
Precisamos de mutualizar a emissão de dívida pública (os eurobonds) para financiar os défices futuros dos Estados Membros em dificuldades. Estes eurobonds, para além de financiarem os défices estruturais durante o período de ajustamento, devem também poder ser utilizados para financiarem a coparticipação dos Estados Membros nos investimentos públicos que envolvam fundos Comunitários.
A União Europeia necessita de um novo “Plano Marshall”, financiado por fundos comunitários, que oriente o investimento público dos seus Estados para uma nova vaga de industrialização e de investigação empresarial, sobretudo ao nível das “energias verdes”, que melhore a competitividade do espaço económico e resolva problemas estruturais de todos os seus países.
Mas para todas estas políticas terem sucesso, necessitamos de aprofundar política e democraticamente o processo de integração na União Europeia, para que funcionemos como um todo, com objetivos comuns.
Para estas políticas terem sucesso, precisamos de preservar algo que nos diferencia de todos os outros blocos económicos no mundo e que nos proporcionou o maior período de prosperidade e estabilidade na história da humanidade: - o compromisso do Estado em garantir um conjunto de direitos sociais indissociáveis à existência de qualquer cidadão, que proporcione uma verdadeira igualdade de oportunidades para todos, seja no acesso à saúde, à educação, no apoio ao desemprego e ao infortúnio ou seja, o Estado Social.
A Europa não pode continuar a adiar. É urgente uma solução política sob pena das novas gerações não perdoarem os políticos que, por ações e omissões, não foram capazes de estar à altura dos desafios da modernidade.
Intervenção sobre Competitividade no âmbito Programa do Governo
Senhora Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores
Senhoras e Senhores Deputados
Senhor Presidente do Governo
Senhora e Senhores Membros do Governo
Sendo esta a primeira vez que subo a esta tribuna no início desta Legislatura, permitam-me que comece por cumprimentar em primeiro lugar Sua Excelência, a Presidente da Assembleia.
Esta saudação é também extensível a todas as Sras. e Srs. Deputados desta casa, desejando-lhes, também um bom e próspero trabalho, na defesa do Povo Açoriano e na preservação da nossa instituição autonómica.
Senhora Presidente da Assembleia Legislativa
Senhoras e Senhores Deputados
Senhor Presidente do Governo
Senhora e Senhores Membros do Governo
Os resultados do crescimento europeu no terceiro trimestre deste ano, de onde destaco: - (Portugal (-0,8%), Itália (-0,2%), Espanha (-0,3%), França (0,2%), Holanda (-1,1%) e Alemanha (0,2%)) - são reveladores de que a travagem económica é generalizada e de que a crise que vivemos está a tornar-se sistémica, podendo, provavelmente, em 2013, provocar uma crise económica e social, no espaço europeu, sem paralelo desde a Grande Depressão.
Não há dia em que não lembremos ou não nos lembrem que no continente, as metas orçamentais falharam, que as falências aumentaram, que o crédito malparado aumentou para níveis históricos e que o desemprego progride a um nível insustentável em termos económicos e sociais. Até as exportações, no último indicador conhecido, regrediram, pela primeira vez nos últimos anos.
Na verdade, a mensagem que tem sido sempre transmitida pelos nossos governantes e credores - da Troika, liderada pela Europa “alemã” - é de que não há outro caminho, outro caminho para além da: austeridade, da diminuição dos salários reais, da diminuição do consumo interno, da restrição do acesso a bens e serviços essenciais e à morte das empresas que pedem salvação.
É perante um cenário macroeconómico muito restritivo, para os próximos anos, que o XI Governo dos Açores apresenta o seu Programa de Governo a esta Assembleia, onde afirma que há outro caminho que pode e deve ser prosseguido para minorar e atenuar os efeitos destas políticas externas na economia açoriana.
Esta Via Açoriana de desenvolvimento não é um caminho isento de obstáculos e de algumas tormentas!
Nem tão pouco permitirá evitar que a crise que veio de fora, permaneça exclusivamente lá fora!
Mas este rumo que temos vindo seguir nos últimos 16 anos e que tencionamos, com um espirito renovado de novos métodos e ambições, continuar a trilhar pelo nosso futuro, permite-nos, poder afirmar, sem sombra de dúvidas:
- temos conseguido e vamos continuar a conseguir que a crise que nos chegou mais tarde seja menos penosa do que está a ser no Continente e na Madeira!
- e que, entre nós, seja ultrapassada também mais cedo!
Senhora Presidente da Assembleia Legislativa
Senhoras e Senhores Deputados
Senhor Presidente do Governo
Senhora e Senhores Membros do Governo
Para atingir estes objetivos de sustentabilidade da economia açoriana o Governo deve concretizar duas agendas de política económica: - uma agenda conjuntural; e uma agenda estrutural.
A agenda conjuntural deve consistir, primeiramente, em assegurar que, mecanismos essenciais para o funcionamento da economia açoriana, como o consumo interno e o crédito bancário, não sejam paralisados pelos efeitos da crise na banca, no emprego e no rendimento.
Para se perceber bem do que me refiro quando falo do problema do acesso ao crédito bancário, basta verificar que a banca retirou à economia açoriana, em termos de financiamento anual, sensivelmente o mesmo valor do plano de investimentos do Governo dos Açores.
Na prática, em vez de termos dois efeitos multiplicadores económicos que se somam e que se complementam na economia açoriana, hoje, estes praticamente se anulam.
O apoio às famílias e às empresas, no primeiro caso com reforço do “Estado Social” e manutenção da diferenciação fiscal e no segundo caso, com promoção de programas de apoio à manutenção de postos de trabalho e linhas de crédito especializadas em restruturação de crédito bancário e de injeção de liquidez, afigura-se, portanto, essencial para minorarmos alguns dos efeitos recessivos das políticas de austeridade do Continente.
Relativamente à agenda estrutural a ser prosseguida pelo Governo dos Açores, esta deve ter como objetivo sustentado a reorganização do sector produtivo e de serviços tendo em vista a melhoria da nossa balança comercial.
Toda a lógica de fomento ao crescimento económico, todo o investimento público, deve assentar em quatro premissas base:
- A diminuição do custo das importações;
- A substituição de importações sem protecionismo;
- O aumento do valor da nossa produção transacionável;
- E o suporte do atual tecido produtivo regional durante o período de ajustamento estrutural.
Para tal, temos de incentivar as empresas açorianas existentes e outras, novas, que surjam, a incorporarem maior valor acrescentado nos seus produtos, quer através da diminuição dos custos de produção e de financiamento, quer através da diferenciação dos seus produtos nos mercados alvo.
Mas este reforço de competitividade, com efeitos reais na nossa balança comercial, não será possível sem um esforço considerável das entidades públicas e privadas no aumento da I&D em contexto empresarial, em parceria com a Universidade dos Açores, na redução dos custos de contexto, na diminuição da carga burocrática do Estado, na promoção da Marca Açores, nos incentivos públicos ao investimento privado e na diversificação de fontes de financiamento.
O contrato entre a região e a Universidade dos Açores para a criação de emprego e para o crescimento económico e o aproveitamento do novo quadro comunitário QREA 2014-2020, afiguram-se como essenciais para a promoção da investigação empresarial e para a qualificação profissional dos nossos ativos.
Precisamos igualmente de garantir novos impulsos à dinâmica da nossa economia. Assim, afigura-se essencial avançar no apoio às empresas através da criação da Via Verde para as Exportações. Conforme está expresso no Programa de Governo precisamos garantir tarifas competitivas para exportações por via aérea e marítima e promover o apoio ao transporte direto para mercados alvo.
Do mesmo modo, a aposta no empreendedorismo e na diversificação de fontes de financiamento alternativo, como o capital de risco e a captação de investimento externo, constituem outra das prioridades do Governo para os próximos quatro anos.
Numa região com características arquipelágicas como a nossa, a promoção de políticas de redução de custos de contexto é essencial para a competitividade das nossas empresas. Por isso temos, imperativamente, que redobrar os nossos esforços ao nível da melhoria das nossas acessibilidades aéreas e marítimas, da racionalização dos consumos energéticos, de eletricidade e de combustíveis de origem fóssil.
A aposta na chamada economia verde é um importante contributo para alcançar esse objetivo. Mas é também uma aposta com elevado retorno
económico. Neste particular, também aqui, os Açores são hoje uma Região de referência a nível nacional e europeu.
Senhora Presidente da Assembleia Legislativa
Senhoras e Senhores Deputados
Senhor Presidente do Governo
Senhora e Senhores Membros do Governo
Vivemos uma época de grandes transformações. Um daqueles raros momentos em que somos convocados pela História a assumir um compromisso com o futuro.
Não haja ilusões. São muitos os desafios que enfrentamos e vários os condicionalismos que ameaçam o modo de vida que fundamentou o sonho de construção de uma Europa unida, humanista e solidária.
É por isso que, mais do que uma crise financeira, estamos hoje perante uma verdadeira mudança de paradigma. O desafio da competitividade não pode ser vencido à custa da sustentabilidade e da solidariedade. É por isso que, em tempo de dificuldades acrescidas, não há mais espaço para lutas políticas que não acrescentam nada à vida das populações. O que os açorianos esperam de nós, deste parlamento, são respostas concretas aos problemas que hoje enfrentamos. Não esperam certamente que alguns tentem usar este palco como um ajuste de contas mal disfarçado pelo que aconteceu no passado dia 14 de Outubro.
Hoje as soluções para os desafios que temos pela frente exigem de todos uma enorme responsabilidade. O programa de Governo cuja apreciação hoje iniciamos é o ponto de partida para a afirmação de políticas próprias que, merecendo a confiança dos açorianos, constituem uma via de afirmação da nossa autonomia.
É por isso que merecem especial destaque as várias medidas que visam apetrechar a nossa economia de respostas à altura das dificuldades que vivemos. Mas, mais do que isso – mais do que apenas responder aos problemas imediatos – trata-se hoje de preparar a Região para encarar, com maior segurança, os desafios do futuro.
E neste particular os Açores têm razões para estar confiantes. Apesar das dificuldades, hoje a Região é a única do país que se aproximou efetivamente do nível médio europeu.
Para isso muito contribuiu a gestão equilibrada das nossas contas públicas. E se é certo que finanças públicas equilibradas não são, em si mesmo, um fim último, também é verdade que sem rigor financeiro não é possível manter uma economia saudável nem aspirar ao desenvolvimento económico.
Senhora Presidente da Assembleia Legislativa
Senhoras e Senhores Deputados
Senhor Presidente do Governo
Senhora e Senhores Membros do Governo
Nenhum país ou nenhuma região pode ser gerida como uma empresa. Os cidadãos não são números de uma folha de Excel. É por isso que, nos Açores, não temos receio de ambicionar. Não temos receio de sonhar nem temos receio de ousar pensar e fazer diferente.
É neste sentido que projetamos um Programa de Governo que põe as pessoas no centro da política. No centro das preocupações. Este programa, em síntese, é a afirmação do nosso compromisso eleitoral. A afirmação de uma via açoriana para a modernidade onde todos têm lugar e ninguém ficará para trás.
Disse!
segunda-feira, novembro 12, 2012
Renegociar para mudar de caminho
Já é do senso comum dizer e ouvir dizer que este “modelo de austeridade não funciona, e que gera mais pobreza e mais desemprego”. Não há dia em que não lembremos ou não nos lembrem que as metas orçamentais falharam, que as falências aumentaram, que o crédito malparado aumentou para níveis históricos e que o desemprego progride a um nível insustentável em termos económicos e sociais a curto prazo. Até as exportações, no último indicador conhecido, regrediram, pela primeira vez nos últimos anos.
O único elogio que nos é feito á agora da “paciência” do povo português, sem paralelo nos países com percursos semelhantes.
Na verdade, a mensagem que tem sido sempre transmitida pelos nossos governantes e credores - da Troika, liderada pela Europa “alemã” - é de que não há outro caminho: a austeridade, a diminuição dos salários reais, a diminuição do consumo interno e do acesso a bens e serviços essenciais e a morte das empresas que pedem salvação. Tudo isto, supostamente, para podermos pagar a nossa dívida futura (o empréstimo da Troika serve, sobretudo, para pagar défices orçamentais e não para amortizar dívidas do passado), para aumentar a competitividade das empresas e para evitar importações e melhorar a nossa balança comercial.
Foi inclusive anunciado, pelo Ministro das Finanças, com pompa e circunstância, que até ao final do ano Portugal deveria apresentar um “histórico” saldo da balança comercial: positivo, como não acontece há 69 anos. Aparentemente, na nossa atribulação, havia alguma luz, por pouco iluminativa que seja, no meio da obscuridade dos tempos próximos. Não nos “dá pão” mas podia dar alguma razão. Nem isso já é certo que venha a acontecer!… Até o apregoado motor da nossa economia, as exportações, baixaram 6,5% em Setembro, devido aos efeitos negativos do modelo de austeridade na atividade económica na zona euro, que já motivam previsões de recessão económica para 2013 em França, alarmando, uma vez mais, os mercados. Ainda se podia atribuir às greves portuárias esse retrocesso, mas tal não é possível na maior parte pois o comércio intra-comunitário, onde baixam, é, sobretudo, por via terrestre. Em suma, lembro-me sempre da definição de insanidade de Einstein: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”
Preferimos ignorar incompreensivelmente o exemplo do efeito do “modelo de austeridade” na situação grega e irlandesa. Preferimos ignorar propositadamente os avisos dos economistas de centro-esquerda europeus e americanos. Preferimos ignorar altivamente os apelos dos “velhos políticos” da construção europeia, como Gonzalez, Kohl, Soares ou Delors.
Os nosso governo português, mesmo em presença das provas contrárias, na sua devoção à obediência e à crença de que “os de fora é que nos podem ajudar a por na ordem o país”, segue a receita e policia o seu cumprimento, tal como ela foi concebida pelo FMI para ser aplicada na América Latina, e baixa a cabeça à punição “Merkaliana/calvinista” do norte da Europa a uma suposta irresponsabilidade dos países periféricos do sul.
Apesar de começarem a aparecer instituições e pessoas, diretamente ligadas a estas políticas, a fazer “marca a trás”, perante a previsão da catástrofe económica e social nos países intervencionados, o elevado risco de falência de países sistémicos como a Espanha ou a Itália e o abrandamento económico da França e Alemanha, só o governo português apelida de irresponsáveis os que se opõem à senda da austeridade e os que, muito responsavelmente, dizem há muito que é preciso renegociar para mudar de caminho.
A Comissão Europeia avisa que a dívida externa portuguesa aumenta e é insustentável e que o país precisa de crescer acima dos 2%. Até o FMI queixa-se de si próprio , da sua incompetência e da sua própria insensibilidade, alertando que austeridade pode tornar-se “socialmente insustentável”. O BCE acena com a compra intensiva de divida pública dos Estados Membros para conter a possibilidade de crise económica. Só o governo português não ouve esses sinais, para não dar razão aos que no país clamam contra o seu conformismo que arrasa pessoas, famílias, economias e empresas, e para continuar embevecido e curvado perante os “seus parceiros”.
Mas vai ter que dar razão…para e se não quiser deixar de ser governo.
"Brincadeira de rapazes"
É frequente em Portugal a opinião publicada, a propósito do trabalho do Governo da República, gostar de de novas expressões, cujo significado raramente está de acordo com a realidade ou com o objetivo para o qual foi utilizada, senão vejamos:
Os portugueses, segundo Passos Coelho, “viveram muito tempo acima das suas possibilidades” o que nos obriga, agora, a ter que “empobrecer para poder criar riqueza, custe o que custar.” O mesmo Primeiro-ministro anunciou que as “medidas austeridade necessárias”, que tem apresentado e que exigem um enorme esforço ao nível do rendimento das famílias, iriam ser “modeladas”, perante a indignação generalizada da população.
Mas por culpa da população portuguesa, o “melhor povo do mundo”, que “incrivelmente considera que paga muitos impostos para o apoio que o Estado lhe presta”, Passos Coelho e Vítor Gaspar vão ter de “refundar o Memorando de Entendimento” com o objetivo de reduzir o Estado Social.
Estas frases feitas, que parecem oriundas de uma estratégia pensada e planeada para o país, são amplamente discutidas, analisadas e difundidas na comunicação social nacional como se um desígnio nacional se tratasse.
Na verdade, o que verificamos é que este Governo não tem estratégia e que o seu pensamento para o país é feito ao sabor do momento, baseado em premissas falsas.
Apesar de diversos erros terem sido cometidos no passado, não é verdade o país tenha vivido acima das suas possibilidades.
Dúvidas sobre esta afirmação?
Basta verificar que antes da crise em 2008 as contas públicas portuguesas e o endividamento público estavam de acordo com os valores estabelecidos pela União Europeia.
Ou basta verificar que o endividamento do Governo Sócrates em 6 anos é inferior ao do Governo de Passos Coelho em um ano e meio.
Como se comprova em todos os países onde a austeridade indiscriminada está a ser aplicada, o empobrecimento não está a provocar riqueza, antes pelo contrário, está a trazer mais dívida, mais recessão e mais desigualdades.
A anunciada “modelação” das medidas de austeridade anunciadas por este Governo da República, não passam de um agravamento “gigantesco” da carga fiscal que vai destruir a atividade económica, agravar a recessão, agravar ainda mais o desemprego e aumentar o défice público.
Falar em “refundação” do memorando para conseguir reformar o Estado, nomeadamente o Estado Social (afirmam que é muito caro e não é sustentável), não passa dos maiores logros que este Governo tem apresentado ao povo português.
Mas então estes senhores não se apresentaram a eleições para reformar o Estado dos gastos supérfluos?
Não afirmam que estiveram a reformar o Estado no último ano e meio?
Será que desconhecem que gastamos abaixo da média da União Europeia, com o chamado Estado Social, nomeadamente saúde e proteção social?
Será que desconhecem que o Estado Social foi pensado e criado, sobretudo como estabilizador automático em alturas de crise económica e social?
É óbvio ate para o cidadão menos atento que o Estado Social custa mais em tempo de crise, pois tem de apoiar as vítimas da recessão e menos em tempos de crescimento económico, onde há menos desemprego e mais criação de riqueza.
Pensar na sustentabilidade futura do Estado Social em tempos de crise é tão absurdo como pensar que estaremos em recessão para sempre.
Ninguém nega que é impossível ultrapassarmos os tempos que vivemos sem dificuldades, mas também já percebemos que o caminho que está a ser seguido por este governo não só não funciona como agrava estas mesmas dificuldades.
Também já percebemos, que este Governo, nomeadamente o seu Primeiro-Ministro, não está preparado, para as responsabilidades que lhe são exigidas, andando numa permanente “brincadeira de rapazes”, de mais medidas recessivas e momentos de pequena política.
Está na hora de mudar de Primeiro-Ministro, antes que arruíne o país por completo.
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