As suspeitas de que o “modelo de austeridade” adotado pela União Europeia está a falhar confirmaram-se com os mais recentes resultados do crescimento económico da União Europeia a 17 que a colocam a à beira da recessão.
Os resultados do crescimento europeu no terceiro trimestre deste ano (Portugal (-0,8%), Itália (-0,2%), Espanha (-0,3%), França (0,2%), Holanda (-1,1%) e Alemanha (0,2%)) são reveladores de que a travagem económica é generalizada e de que a crise que vivemos está a tornar-se sistémica, podendo, provavelmente, em 2013, provocar uma crise económica e social, no espaço europeu, sem paralelo desde a Grande Depressão.
Os sinais são claros: a queda da procura interna na Europa está a abrandar a inflação; antecipando resultados, as bolsas europeias estão no vermelho; e não há criação líquida de emprego em nenhum dos países da União Europeia a 17.
“Remeto-me às provas. Estamos muito próximo de uma recessão que prejudicará todos” afirma o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel García-Margallo, salientando que o modelo de austeridade que temos vindo a seguir prova a ineficácia da direção política e da alegada “solidariedade” dos países mais ricos da União Europeia, para com os países do sul da Europa.
Economistas reputados, americanos e europeus, já utilizam em praticamente todas as suas intervenções públicas sobre a crise europeia, as palavras “restruturação” e “renegociação” do ajustamento, com um despudor quase inacreditável, para quem assistiu a esta mesma discussão há seis meses atrás.
Apesar da Chanceler Merkel e do Governo português ainda não terem percebido a dinâmica da realidade, torna-se óbvio que apesar dos ajustamentos estruturais das economias periféricas da Europa serem necessários e implicarem alguma austeridade, as políticas paralelas de fomento ao crescimento, agora na “boca” de quase todos os dirigentes europeus, não são suficientes para alcançar os resultados que pretendemos.
A “doença já se alastrou a todo o corpo da Europa continental” e ameaça também outros países como os Estados Unidos ou o Japão.
A União Europeia necessita de agir, pensando como um todo e não nos interesses particulares dos países que neste momento a suportam. Esta crise política tem de ser resolvida de imediato, pois corremos um verdadeiro risco de desintegração do que construímos no nosso continente após a 2ª Guerra Mundial.
O risco é real e não é inédito, na nossa história, com as tristes consequências que conhecemos.
Necessitamos de ter políticas concertadas de restruturação da dívida pública e privada dos países do sul da Europa, mantendo uma vigilância apertada à França.
Precisamos de mutualizar a emissão de dívida pública (os eurobonds) para financiar os défices futuros dos Estados Membros em dificuldades. Estes eurobonds, para além de financiarem os défices estruturais durante o período de ajustamento, devem também poder ser utilizados para financiarem a coparticipação dos Estados Membros nos investimentos públicos que envolvam fundos Comunitários.
A União Europeia necessita de um novo “Plano Marshall”, financiado por fundos comunitários, que oriente o investimento público dos seus Estados para uma nova vaga de industrialização e de investigação empresarial, sobretudo ao nível das “energias verdes”, que melhore a competitividade do espaço económico e resolva problemas estruturais de todos os seus países.
Mas para todas estas políticas terem sucesso, necessitamos de aprofundar política e democraticamente o processo de integração na União Europeia, para que funcionemos como um todo, com objetivos comuns.
Para estas políticas terem sucesso, precisamos de preservar algo que nos diferencia de todos os outros blocos económicos no mundo e que nos proporcionou o maior período de prosperidade e estabilidade na história da humanidade: - o compromisso do Estado em garantir um conjunto de direitos sociais indissociáveis à existência de qualquer cidadão, que proporcione uma verdadeira igualdade de oportunidades para todos, seja no acesso à saúde, à educação, no apoio ao desemprego e ao infortúnio ou seja, o Estado Social.
A Europa não pode continuar a adiar. É urgente uma solução política sob pena das novas gerações não perdoarem os políticos que, por ações e omissões, não foram capazes de estar à altura dos desafios da modernidade.
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