domingo, fevereiro 13, 2011

As ambições pessoais e o interesse público



Nas últimas eleições presidenciais, o professor Cavaco Silva, por diversas vezes, acenou com o fantasma da instabilidade política e das graves consequências para o país que daí adviriam. Na sua óptica, a existência de uma segunda volta das presidenciais poderia demonstrar aos mercados e instituições europeias que o país estava indeciso quanto ao seu rumo futuro, o que provocaria o aumento dos juros a que Portugal se financia no estrangeiro. Nessa mesma altura, toda a direita portuguesa, ou seja, PSD e CDS/PP, se uniu, no sentido de demonstrar o risco que o país poderia incorrer com esta probabilidade.

Sempre achei um pouco de exagero neste tipo de argumento, pois estávamos a tratar da eleição de um cargo sem qualquer tipo de poder ao nível da condução económica do nosso país. Contudo, entendi alguma coerência da parte de Pedro Passos Coelho, no sentido de manter a estabilidade política no país, pois, pouco tempo antes, tinha negociado o Orçamento de Estado com o Partido Socialista para acalmar os mercados internacionais e a senhora Merkel da Alemanha.

Mantendo esta coerência, o que fará sentido no futuro próximo, em nome da estabilidade política e da situação do país, é o PSD não viabilizar qualquer moção de censura ao Governo de José Sócrates. Mas não nos enganemos. Mantendo este discurso, o objectivo deste PSD é fragilizar ao máximo este Governo até ter a certeza que consegue chegar ao poder. E neste sentido, a irresponsabilidade da esquerda portuguesa encaixa que nem uma luva nesta estratégia.

Relativamente ao Bloco de Esquerda, a ilação que se pode tirar do anúncio de uma moção de censura ao Governo, na semana passada, é que não consegue ultrapassar a génese da sua criação: ser um partido exclusivamente de protesto.

Após a campanha eleitoral de Manuel Alegre, em que PS e BE trabalharam em perfeita sintonia, apesar dos maus resultados das urnas, Francisco Louçã sentiu a necessidade de transmitir ao seu eleitorado que a aliança tinha sido efémera e que o Partido Comunista Português não era o maior inimigo de Sócrates.

Numa lógica apenas de afirmação eleitoral, o que para mim até me parece estrategicamente errado, o BE apresenta nesta moção de censura o objectivo de destruir a pouca estabilidade política existente, sem se preocupar em construir uma alternativa de esquerda para o país ou até uma outra alternativa com maioria absoluta. Não há lógica programática neste acto, parece-me, apenas a marcação de agenda política de uma forma irresponsável e perigosa para a sustentabilidade do nosso país.

Para o CDS/PP, vislumbrando ao fundo do túnel a possibilidade de ter ministros e de aplicar a sua receita de destruição do estado social com o PSD, pouco importa as consequências para o país, da queda do Governo, de alguns meses de um Governo de gestão, dos custos mais um acto eleitoral e dos resultados de instabilidade que daí poderiam advir.

A consequência deste anúncio para o país já é clara com a imediata subida dos juros da dívida portuguesa no mercado secundário e será muito mais grave nas próximas emissões de dívida portuguesa. Arrisco-me até a afirmar que a concretização deste cenário de instabilidade ou de outros semelhantes a estes podem obrigar à entrada do Fundo Monetário em Portugal, no sentido de estabilizar a pressão dos mercados internacionais. Esta entrada levará, com toda a certeza, a cortes de salários generalizados, a despedimentos na função pública, a maiores restrições no crédito e ao fim de muitos benefícios sociais.

Numa altura em que o Governo do PS tenta contrariar os efeitos das medidas de austeridade na economia, apostando numa nova agenda de inovação e modernização do sector privado, tendo em vista o fomento das exportações, com alguns bons resultados já visíveis, parece-me que a oposição parlamentar, com a sua vocação “kamikaze”, tudo fará para não deixar este Governo trabalhar.

Na prática, o futuro do país está dependente da medida em que os partidos da oposição conseguirem sobrepor o interesse do país, às suas ambições e interesses pessoais.

Infelizmente, o que a história recente do país nos diz é que isso nem sempre acontece.

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