terça-feira, fevereiro 22, 2011

Capitalismo sem democracia? Está aí o resultado!

Temos sempre a tendência para olhar certos acontecimentos, em países mais ou menos distantes, como fenómenos localizados, que não têm qualquer tipo de relação connosco.

Para muitos analistas, a situação actual de instabilidade no Médio Oriente decorre de um processo normal de desgaste das autocracias vigentes que foram muito afectadas pelos efeitos da “Grande Recessão” mundial dos últimos anos.

Se é verdadeira esta análise, a meu ver, é apenas uma abordagem muito superficial do que se está a passar nesta zona do globo e daquilo que poderá acontecer em muitos outros países do mundo, num curto prazo, de um a dois anos.

Basta olhar para as autocracias vigentes no Médio Oriente e verificar que têm vindo a oprimir o seu povo nas últimas décadas. Mas serão estas zonas tradicionalmente instáveis politicamente? A organização burocrática destes Estados será insípida e ineficaz que impeça a manutenção das elites reinantes? Será que a economia destes países esteve moribunda nas últimas décadas?

Ao contrário do que muitos erradamente pensam, não há um padrão comum de resposta a estas perguntas. No Egipto, desde 1805 até aos dias de hoje, existiram dois regimes, uma monarquia e, desde 1952, um movimento militar com apenas dois líderes: Nasser e Mubarak. Em outros países do Médio Oriente, as mudanças de estatuto de colónia europeia, para monarquia ou até para república islâmica, marcaram algumas épocas de instabilidade, que prejudicaram, em muito, o desenvolvimento destes países.

Relativamente à implementação de um estado forte e burocrático, que consolide a acção de um governo vigente, o cenário também não é comum. Apesar da corrupção ter forte presença no Estado, verificamos que no Egipto o controle da sua administração sobre o país estava solidificada de tal maneira que muitas empresas estrangeiras, incluindo portuguesas, investiam lá com alguma confiança. Em países como o Sudão ou o Iémen, a corrupção grassa a todos os níveis de poder, existindo determinadas zonas inclusive, onde o governo não tem qualquer controle ou soberania.

Olhando mais atentamente para o crescimento económico desta região ficamos ainda mais surpreendidos com os dados que nos são apresentados. Muitos destes países, na última década, abriram a sua economia ao exterior, permitindo o investimento estrangeiro e fomentando as suas exportações de gás, petróleo e de turismo. Com o aumento dos preços do petróleo e do gás e com o aumento dos fluxos turísticos para aquela região, assistimos a um for

te crescimento económico na maior parte destes países. Basta olhar para o Egipto, citando a revista Time, que de 2006 a 2008, cresceu 7% ao ano, tendo inclusive no último ano, após a crise económica internacional, crescido 6% e apresentado uma taxa de desemprego inferior à portuguesa.



Mas que factores podem então ter motivado um desencadear tão rápido de revoluções praticamente espontâneas de rejeição ao poder vigente?

Fareed Zakaria escrevia, na revista Time, que em economias que se abrem rapidamente ao exterior, e com elites dominantes corruptas “o crescimento agita as coisas, perturba os estabelecidos e a ordem vigente e produz desigualdades e incertezas. Como também cria expectativas e ambições.”(…)”acabando por ser demais para o regime lidar.”

Na prática, o crescimento económico existente, mais forte ou mais fraco consoante a zona do Médio Oriente, acabou, por nestes países com um nível de corrupção muito alto, por beneficiar apenas as elites, criando expectativas legítimas nas suas populações de acesso a um nível de vida superior que estava mesmo ali ao lado.

Assim, com uma pequena alteração do clima económico e com uma pequena ajuda do poder de divulgação das redes sociais, que os Estados não conseguiram controlar, os povos acreditaram que era possível fazer cair até os Estados mais estabelecidos do Médio Oriente.

É o que acontece agora no Médio Oriente. E porque não na Ásia?

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