"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
sexta-feira, junho 30, 2006
quarta-feira, junho 28, 2006
Croniqueta XXXII ou o Fífia é um Pé de Dança ou Discos Pedidos
Para H.Galante
“Sê bom. Mas ao coração
Prudência e cautela ajunta.
Quem todo de mel se unta,
Os ursos o lamberão.” ( A arte de ser bom, Mário Quintana)
Vai à festa, vai à festa mas não dança, porque no escorrega e balança, o Fífia prefere o trio; se eléctrico, ainda melhor. Festas, folias, passadeiras, o Fífia é dado ao batuque da música clássica erudita, até ao tradicional “Caminho de Viseu”, passando, pelo não menos “giro” hip-hop do Boss AC.
Vendo bem, à lupa da cartolina do olhar, o Fífia é um musi(cólo)go, o que traduzindo em miúdos, quer dizer que desde pequeno a traz ao colo. Presa a si. Como uma “prenda”[minha], digamos, em cujo verso de graça se aplica, um Anel de Vidro (Manuel Bandeira). Esse é aliás o sonho do nosso Fífia. Ter um anel de vidro para usar no sexto dedo da luva de flanela, que usa, quando, aos Domingos, a praça se enche de gente para comer gelados ao sol. Como lagartos. O nosso Fífia é um senhor do toque; não é pianista porque não calhou; se o fosse tocaria todos os dias, como que a treinar ritmos, quiçá para enfeitar com letras feitas à moda da Música Popular. Afinal, o que vale, para o nosso Fífia, é um homem cheio de contextos, como se as modas pegassem no fundo das questões, que elabora. O nosso Fífia é um vencedor; que num conjunto de Queens, assume um plural inglês, para logo se desfazer num ego monumental; porque, assim como assim, “We are the Champions” é só para apelar à lágrima. Nele, campeão (não confundir com cão peão) só há um; o Fífia e mais nenhum! Faz-se à moda, se agita, parecendo batata frita na certeza do amparo, não doirado, mas escuro, o Fífia navega em águas agitadas de embaraço. Sabe de cor esses temas, mas não molha a convicção, que é como quem diz não se envergonha; não padece, não amolece, não sucumbe, nem hesita. O Fífia é um êxito de banda de palco enfeitado; não de festa de paróquia, porque brega, nem tão pouco de desfile de 4 de Julho, nada disso; o Fífia é fino, veste escalas e nas alegorias da forma, há-de ser um trovador; quiçá Galaaz enfeitado no seu cavalo de espuma, debatendo-se com moinhos inventados por Quixote. Sem pança, porque atlético. Sem zumbidos, porque Homem, o Fífia não vai de modas nem consta que use colectâneas de batidas de coco ou outras frutas exóticas semelhantes. O Fífia vai à festa, mas não conta. Dança, mas não balança, porque no batuque do salto, a garantia do amparo é ainda muito pouca. Vai que lhe desviam o pano; vai que na plateia do campo, aonde actua, quase em segredo, há um, um só, dos “Champion” que, qual bola de ténis florescente lhe rompe a rede de segurança? Não pode. Cuidadoso, qual fio de roupa estendida, o Fífia liga-se por cores ordenadas e, na caixa de guaches, há delas que estão secas e só saem em farelos. Precisa de aprender a conjugar o verbo colorir o nosso Fífia, em vez de passar a vida a fazer castelos na Areia, que é como quem diz a pintar a manta ou a fazer moldes para pés (de dança!)… conforme se lhe dá o swing.
domingo, junho 25, 2006
Gaivota
Diz-se do céu das gaivotas que é do tamanho das ilhas e que a massa circundante é toda feita de água e sal. À noite enche-se de ondas para delícia destas damas, que vestem os seus biquinis e dão mergulhos brilhantes. Há quem diga, cá por baixo, que cada exibição, vale uma estrela cadente...
(Ele há coisas que se resolvem com uma boa Gaivota!)
sexta-feira, junho 23, 2006
SANTA PACIÊNCIA
Faço minhas as palavras do D´Arrejeite
Bom fim-se semana!
"No jogo há sempre quem lastime a derrota pela ausência da sorte.
Na vida há sempre quem se queixe da falta de liberdade pela incapacidade própria de ser livre.
Num ou noutro caso só a santa paciência pode ajudar.
Eu cá não sou santo e a minha paciência tem limites."
Bom fim-se semana!
Croniqueta XXXI ou o Fífia é um boneco de 4 caras: chora,ri, dorme e mama na chucha
O Fífia não desiste. Resiste, subsiste e insiste na mesma falha semântica do dó fino, de grave aparência sempre que, entre flashes e famas, se deixa ofuscar pela liberdade das palavras. Dá-lhe o tique, o coração abotoa-se e lá vai, oratória fora, qual cavalo em corrida, saltando estacas, espezinhando almas, e botando uma faladura tão política que até os nossos ouvidos se queixam. Ele é só faltas; ele é desgraças e asfixias, balões e tesouros por descobrir; ele é tudo menos o essencial. O Fífia é assim mesmo. Há-de ser sempre. Sonho de D.Sebastião, réplica pouco perfeita de Bandarra, quase a tombar para se tornar vendedor de Feira em versão de “sanefas” à moda regional. Sim, porque as modas são com ele. E, se agora é moda, dizer-se mal, porque não há-de ele, qual trovador de canto de esquina, pregar o sermão dos filetes? Assim lhe fica bem; de beiços apertados e gravata comprada na melhor loja do burgo, afiar-se na descoberta dos quês e porquês dos outros; enquanto nós que até somos desta terra e até estivemos sempre aqui; que não estamos desmemoriados e, ainda, temos querer, assistimos ao desfile de desejos de “glória de mandar e vã cobiça”! Não há santo que sustente muito tempo na prateleira a santidade de pó; temos a sensação de que, quando o olhamos fixamente, se desmorona, porque feito de embaraço, nem os supositórios de prilimpimpim, que lhe chegam da metrópole o aguentam muito mais tempo. O Fífia está desgastado; já não diz coisa com coisa; anda para cá e para lá, como se fosse um “bolo de véspera”, furado com um garfo, desenhando-se na base, as voltas de um círculo vicioso, em cujas fronteiras, mandam todos, menos ele. Comido, por dentes estranhos, atraiçoado como um rato, o Fífia vende ilusões; engasgando-se em atrasos e pagamentos mortais. Cheio e pleno de moralidadezinhas; o Fífia lembra os deuses solitários que do Olimpo desceram à escala dos Infernos; anda de rabo quente ao som dos estalidos dos cliques fotográficos, mas sabe, melhor do que todos nós, que da cadeira pulará ao primeiro sinal. Por isso, não discorre no discurso, não diz coisa que bata com coisa nem tão pouco, por melhor que seja o escrivão de serviço do dia, se safa. O Fífia é daqueles que está sempre “ a modos” e pronto para, a convite, sambar no melhor trem eléctrico, numa rota de Carnaval Europeu; mas isso não se diz a ninguém; porque, agora, bom mesmo para ele é que se fale dos outros e se diga que os outros são todos maus e ele, ele sim, é o Capuchinho Vermelho das histórias de embalar. No embalo, assim vai o Fífia prego a fundo na estrada, onde em cada esquina, vê pessoas de cartão a fingir que estão presentes…E ele, só ele, é o único que dignifica a Raça; que ergue a Taça e brinda à figura de bobo que faz, quando, pousado nos seus sapatos caros de atilhos automáticos se lança em correrias doidas pelas estradas desta terra.
O Fífia é um boneco de quatro caras. Se lhe rodarmos a cabeça; ele chora, ri, dorme e mama na chucha. Se lhe apertarmos a barriga, ele canta.
quinta-feira, junho 22, 2006
Poema Brasileiro
"O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza, nem nunca terá
O que não tem conserto, nem nunca terá
O que não tem tamanho
O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decéncia, nem nunca terá
O que não tem censura, nem nunca terá
O que não faz sentido
O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo"
Milton Nascimento e Chico Buarque, O que será (à flor da Terra)
quarta-feira, junho 21, 2006
...
Depois de (praticamente) dois dias afastada da internet; regresso e vejo a notícia motivada pela polémica gerada aqui e repercutida aqui, aqui e aqui.
Lamento e registo linha a linha do que aqui está escrito...mas isso ficará para outras linhas. Ao contrário do que, ainda muitos, desejavam, a Blogoesfera é, cada vez menos, um Circuito Fechado. Valha-nos isso.
Lamento e registo linha a linha do que aqui está escrito...mas isso ficará para outras linhas. Ao contrário do que, ainda muitos, desejavam, a Blogoesfera é, cada vez menos, um Circuito Fechado. Valha-nos isso.
domingo, junho 18, 2006
Pouca vergonha!!!
A 27 de Maio VM avisava. Passado quase um mês e depois de ontem ter visto o post do Alexandre Pascoal, a avenida está cheia de bandeiras e bandeiras de promoção do Festival. A vaca lá está com o respectivo Muuuuh.
Dado que a Muu é uma empresa de produções culturais; será uma coincidência o que consta nestes cartazes, bandeiras e lonas?
Veremos.
Almar
Almante,
Aquele que vive no meio do mar.
Almador,
Aquele que morre no mar.
Estar almado,
Condição de ter a alma presa ao mar.
Almar,
forma dialectal de viver.
sábado, junho 17, 2006
Onde?
"Baden-Baden, Spitzberg, Salzburgo?
Acapulco, Vera Cruz, Pequim?
Thebas, Sebastopol, Hamburgo?
Nova Deli? Não? Ou Nova Iorca? Sim?
Saint-Etienne, Boston, Johanesburgo -
apartheid à parte em tempo inteiro?
Kansas City, Termópilas, Nanterre?
Rejkiavik, Puchóv, Iowa, Erre
de Janeiro?
Cartago, Liverpool, Fez ou Almodôvar?
Londonderry, Santarém, Amsterdam?
Nova Deli? Sim? Ou Nova Iorca? Nam?
A terra de Bolívar (ou para rimar Bolôvar)?
Postojna, Cairo, Loano, Figueiró
dos Vinhos? Reno, Colares, Chianti, Dão?
(Muito obrigado, mas só à refeição.)
Tanganika, Massachussets, Pampilho-
sa? Paris, Bornéu, Kalamazoo?
Nova Deli? Não? Sim? Ou na O. N. U.?
Brza Palanka? Bu Ngem? (Faça favor
de repetir.) Bu Ngem? Brza Palanka?
Bridgehead, Brest, Salamalanca?
Alhos Vedros, San Marino, Andorra?
Liechtenstein, Sarre, o Corredor
de Danzig, mesmo que não corra?
Onde, onde, onde? Dizei-me, por amor
de Deus - antes que eu repita a rima
de forma mais justa (e malcriada, inda por cima)."
José Sesinando
sexta-feira, junho 16, 2006
Bom fim de semana!!!
Foto AM
"Era uma vez um lugar com um pequeno inferno e um pequeno paraíso, e as pessoas andavam de um lado para outro, e encontravam-nos, a eles,
ao inferno e ao paraíso, e tomavam-nos como seus, e eles eram seus de verdade.
As pessoas eram pequenas, mas faziam muito ruído.
E diziam: é o meu inferno, é o meu paraíso.
E não devemos malquerer às mitologias assim,
porque são das pessoas
e, neste assunto de pessoas,
amá-las é que é bom."
Herberto Hélder
poema
Quase
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário Sá Carneiro
quinta-feira, junho 15, 2006
quarta-feira, junho 14, 2006
Croniqueta XXX ou o Fífia é um"pom-pom" de barretes e um Excritor
Agasalhado, qual barrete de “pom-pom” feito de lã e pouca fibra, nosso Fífia vagueia avenida abaixo avenida acima com ideias pouco favoráveis ao livre entendimento das pessoas. Muito impetuoso, algumas vezes mesmo intolerante, ao nosso Fífia já não lhe vale o bem escrever, porque, entre as paredes da sua sala, guarda o rancor invejoso dos maus perdedores. É uma pena, dirão os críticos literários da baixa citadina, que acomoda o seu brilho fosco de “Excritor”. De nada lhe valem, assim, as metáforas usadas em cada linha de fala. Mais se assemelha a pescador sem linha que, no corrico, por mais hábil e destro que possa ser, acaba perdendo o fio à meada. Nessas alturas, para nada lhe chegam os elogios dos seus heróis, nem tão pouco lhe são assegurados, métodos, modos e tipos de ensaio preparatório; não tendo, por isso, outro remédio, senão embrulhar-se qual barrete de “pom-pom” e falar alto avenida acima avenida abaixo, morrendo-se a cada sílaba…É um desastre. Temos pena.
O Fífia é um “Excritor”; o mote destas Croniquetas que, na volta, dos meus balanços, não perdeu o equilíbrio. As Croniquetas não perderam. O Fífia sim. Anda triste, desolado, arruinado, choramingão, cabisbaixo; anda perdido em desaires situacionais; em campanhas de promoção falidas, enfim, nosso Fífia é mais que Fífia, sem feed-back, sem reflexo, sem nada… O Fífia parece um bicho, cheirando a naftalina. Quando atiçado, perde o ar, comporta-se como um doido e corre. Porém, corre sozinho. E grita. Porém, grita sozinho. E chora. Chora quase sozinho. Felizmente, para nós, há cada vez menos ombros que lhe aguentem a cabeça e só meia dúzia de lenços lhe são estendidos, por dó.
O Fífia não aprendeu que do aprumo do método não consta a falta de educação.
O Fífia não aprendeu que se quer ser Escritor com um “S” sibilante não pode sentar-se à espera da inspiração. Tem que trabalhar.
O Fífia não aprendeu que para ser mais do que Fífia tem que deixar de ver os outros no seu espelho e passar a ver-se a si próprio. Reflectir-se.
O Fífia, apesar da idade avançada e dos cabelos brancos que lhe virgulam a cabeleira farta (infelizmente não o juízo) ainda não percebeu que mais vale ousar e arriscar do que ser “pom-pom” toda a vida, pendurado nos barretes, que servem em todas as cabeças.
O Fífia é um Excritor.
terça-feira, junho 13, 2006
segunda-feira, junho 12, 2006
3º Balanço
Auto (de) tinha-se nas rodas
A andar.
Parecia um velocípede qualquer coisa de bípede encarnado (talvez) nas mãos milimétricas dos bonecos das pistas de carros tele-comandados.
Proto pintava tipos
de pessoas a gritar:
estão à venda nas praças as asas dos melros.
estão à venda nas praças as asas das gaivotas.
estão à venda nas praças as asas dos galos.
estão à venda nas praças as asas dos mosquitos.
Balões de grafemas; estrofes de palermas.
Esquemas de frases sintácticas; falta de ar das pessoas asmáticas.
Tudo. Vendido em furos. Todos. Vendidos como tordos. Caídos das asas dos anjos dos outros. Entramos no jogo, mexemos o arroz fervido na panela da inquietação.
Lavra, ama, seca a (tua) dor.
Só a palavra escritor não se escreve com dor,
porque [escridor] não existe
e as palavras certas estão à venda nas praças como as asas dos melros, das gaivotas, dos galos e dos mosquitos.
Pregão. Pregado. Prega (a) dor.
Faltam-me os pregos.
A andar.
Parecia um velocípede qualquer coisa de bípede encarnado (talvez) nas mãos milimétricas dos bonecos das pistas de carros tele-comandados.
Proto pintava tipos
de pessoas a gritar:
estão à venda nas praças as asas dos melros.
estão à venda nas praças as asas das gaivotas.
estão à venda nas praças as asas dos galos.
estão à venda nas praças as asas dos mosquitos.
Balões de grafemas; estrofes de palermas.
Esquemas de frases sintácticas; falta de ar das pessoas asmáticas.
Tudo. Vendido em furos. Todos. Vendidos como tordos. Caídos das asas dos anjos dos outros. Entramos no jogo, mexemos o arroz fervido na panela da inquietação.
Lavra, ama, seca a (tua) dor.
Só a palavra escritor não se escreve com dor,
porque [escridor] não existe
e as palavras certas estão à venda nas praças como as asas dos melros, das gaivotas, dos galos e dos mosquitos.
Pregão. Pregado. Prega (a) dor.
Faltam-me os pregos.
domingo, junho 11, 2006
2º balanço
Admit nothing
Blame everyone
Be bitter
Barbara Kruger
Fernando Pinto do Amaral
Conselho aos novos críticos do Século XX
Blame everyone
Be bitter
Barbara Kruger
Se queres parecer inteligente,
desdenha de quem escreve coisas simples
e desconfia, desconfia sempre
dos sentimentos, das convicções.
Diz mal da tua época,
procura dar a tudo um ar difícil
e cita alguns autores que ninguém leu.
Se queres que te respeitem,
reserva a admiração e o elogio
pra certos mortos bem escolhidos,
de preferência estrangeiros,
e acima de tudo
não caias nunca na vulgaridade
de ser compreendido pelos que te lerem.
Fernando Pinto do Amaral
Conselho aos novos críticos do Século XX
terça-feira, junho 06, 2006
Pela minha parte o Blog fecha para Balanço. Se, entretanto, aparecer o meu sócio e primo que está, por ora, impossibilitado de escrever; as páginas deste Blog estão, obviamente, à sua disposição....
"(...)Dize tu: - Já começou, porém, a racionalização do
[trabalho.
Direi eu: - Todavia o manguito será por muito tempo
o mais económico dos gestos!
*
Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim...(...)"
Excerto de Saber viver é vender a alma ao Diabo de Alexandre O´Neill
sexta-feira, junho 02, 2006
Croniqueta XXIX ou o Fífia é uma "cantiga de Refrão"
O Fífia tem um único dom, perdido, num corpo de gente. Achá-lo é mais difícil do que procurar agulha em palheiros (plural propositado); encontrá-lo é fácil; mas porque hei-de eu apontá-lo? Ah. Pois. O Fífia é uma interjeição; um braço em elevação constante como quem, se votasse para eleger o Rei, buscasse a canção dos “sugus”, a do polícia sinaleiro, essa mesma; afinal, a memória, para ele, é uma frase batida e hoje é o primeiro dia do resto da vida dele: Jerónimo, grita, enquanto um povo unido, que nunca mais será vencido, sacode as peneiras do disposto e, desmascarando-o lhe grita ao ouvido: Vais partir naquela estrada!...
O Fífia é um “lança” poeira; uma cave escura, aonde se aproximam fantasmas da cor das crisálidas num desfile de hipóteses e criaturas, mais ou menos, disfarçadas de entusiasmantes aventuras! (Má-Criação, a minha). Devida, como se o tempo fosse um rebuçado que ele está cansado de chupar. De boca assada e aftas na ponta da língua (porque as aftas ardem e as feridas idem); num tom sempre fífado lá vai o Fífia lá anda; de manta para cobrir as orelhas, qual Linus, melhor amigo do Snoopy em cuja fralda se marca a marca dos marcados. O Fífia anda de olho em tudo. Mexe, remexe; se mexe mata se não mexe: assalta! O Fífia não tem culpa. É desculpa. É perdão em voz de compasso com cadências decadentes; é obra sem mão; é tinta sem água; é cal que não cai.
O Fífia dissipa-se no que toca; asfalta redes imaginárias de sonhos por descobrir, porquanto se lhe pesam as horas nos ombros dos anos que tem. Se tudo perdido, tudo por um fundo de ilusão, aonde na toada do assobio do mestre, está a chave do seu fracasso. O Fífia é assim uma espada de precocezinho. Preconceituoso; desatinado; o Fífia espera um quadro, que possa articular mesmo, com a sua mestria.
E qual alba de Poesia Trovadoresca, o Fífia espera de ouvido encostado à parede que a alma se salve numa cantiga de amigo ou de amor.
O que ele ainda não percebeu é que está a tornar-se uma “cantiga de refrão”:
Estes, que m’ora tolhem mia Senhor
Que a não posso aqui per rem veer,
Mal que lhe pês, não me podem tolher
Que a não veja sem nenhum pavor,
Que morrerei e tal tempo virá
Que mia Senhor fermosa morrerá:
Então a verei desi. Sabedor
Soom de tanto, por Nosso Senhor,
Que, se lá vir o seu bem-parecer,
Coita nem mal outro não posso haver
Em o Inferno, se com ela for;
Desi sei que os que jazem alá
Nenhum deles já mal não sentirá,
Que ante haverão de acartar sabor.
(Afonso Sanches)
O Fífia é um “lança” poeira; uma cave escura, aonde se aproximam fantasmas da cor das crisálidas num desfile de hipóteses e criaturas, mais ou menos, disfarçadas de entusiasmantes aventuras! (Má-Criação, a minha). Devida, como se o tempo fosse um rebuçado que ele está cansado de chupar. De boca assada e aftas na ponta da língua (porque as aftas ardem e as feridas idem); num tom sempre fífado lá vai o Fífia lá anda; de manta para cobrir as orelhas, qual Linus, melhor amigo do Snoopy em cuja fralda se marca a marca dos marcados. O Fífia anda de olho em tudo. Mexe, remexe; se mexe mata se não mexe: assalta! O Fífia não tem culpa. É desculpa. É perdão em voz de compasso com cadências decadentes; é obra sem mão; é tinta sem água; é cal que não cai.
O Fífia dissipa-se no que toca; asfalta redes imaginárias de sonhos por descobrir, porquanto se lhe pesam as horas nos ombros dos anos que tem. Se tudo perdido, tudo por um fundo de ilusão, aonde na toada do assobio do mestre, está a chave do seu fracasso. O Fífia é assim uma espada de precocezinho. Preconceituoso; desatinado; o Fífia espera um quadro, que possa articular mesmo, com a sua mestria.
E qual alba de Poesia Trovadoresca, o Fífia espera de ouvido encostado à parede que a alma se salve numa cantiga de amigo ou de amor.
O que ele ainda não percebeu é que está a tornar-se uma “cantiga de refrão”:
Estes, que m’ora tolhem mia Senhor
Que a não posso aqui per rem veer,
Mal que lhe pês, não me podem tolher
Que a não veja sem nenhum pavor,
Que morrerei e tal tempo virá
Que mia Senhor fermosa morrerá:
Então a verei desi. Sabedor
Soom de tanto, por Nosso Senhor,
Que, se lá vir o seu bem-parecer,
Coita nem mal outro não posso haver
Em o Inferno, se com ela for;
Desi sei que os que jazem alá
Nenhum deles já mal não sentirá,
Que ante haverão de acartar sabor.
(Afonso Sanches)
quinta-feira, junho 01, 2006
À porta do mundo
Ó lua faz-me uma trança
P’ra de dia desmanchar
Guarda-me a última dança
Quando o fio se acabar
Gosto de ver o teu rosto
Que a mil caminhos se presta
Para uma noite desgosto
Por uma noite de festa
Voltaria à tua terra
Por um mergulho de mar
Entre a cidade e a serra
Fica algures o meu lugar
Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida
Por trás de tudo o que importa
Vem um sentido p’rá vida
Se te fizeres ao caminho
Em horas de arrebol
P’ra fermentar o meu vinho
Traz-me um pedaço de sol
Vamos escrever uma história
Rever um filme a passar
Logo virá à memória
O que eu te queria dar
Será verdade ou mentira
Como um segredo roubado
Sou como a lua que gira
Hei-de dançar ao teu lado
Este mundo não tem porta
Nem uma chave escondida
Por trás de tudo o que importa
Vem um sentido p’rá vida
Filipa Pais
Feliz Dia Mundial da Criança
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