Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Mário Sá Carneiro
10 comentários:
Olá Mariana.
É a minha primeira visita, mas com a garantia de continuidade! Este poema é lindo! já conhecia. mas adorei recuperar a escrita do amigo ddo meu poeta, o Fernando! Aquela Pessoa sem pessoa!!
já agora gostava de saber, se os textos Croniqueta (...) e o 3º balanço eram a tua autoria!!!
Gostei do que encontrei, longe das criticas sem rosto. Foi encontrar paz!
Desculpa Tó Zé, só agora reparei no teu nome. As minhas desculpas, os elogios ao Blog são para os dois!
Vou estar atento
Muito obrigada, Rui Goulart. É um prazer ver-te por aqui.
Penso que a opinião do Tozé será a mesma. Ele está afastado, porque lesionado. De qualquer maneira, agradecemos os dois. Conto com ele dentro de pouco tempo.
O 3º balanço e as Croniquetas são da minha autoria, sim.
:)
Mariana, desde já a minha vénia á sua escrita e, acima de tudo, á imaginação! Muito bom!
Também Sou dado a essas coisas de deixar a mente e o coração falarem, mas fico escondido. Gosto de sentir as palavras viverem no papel. Mas lembro: "ser poeta não é uma ambição minha é uma forma de estar sozinho"
(Alberto Caeiro)
As melhoras para o Tozé
Parabéns!!!!
PS- Não vos conheço (fisicamente, só pelo telefone), ou melhor, devo conhecer mas faço confusões. Se passarem por mim digam qualquer coisa, não interpretem como falta de educação da minha parte!
Muito obrigada, mais uma vez.
Está combinado.
Entretanto, fico à espera de um poema na "Sociedade Anónima"...:)
Isso já é mais complicado!!! :) Um poema??? :)Talvez por mail!!!
Penso que um poema na "Sociedade Anónima" era bom, mas se tem que ser por email; pois seja!! :)
:))) Claro que vai aparecer um poema na SA, mas de verdadeiros poetas :)
Mas repito gosto da forma como olha as coisas. Aquele intervalo entre as duas vidas que todos têm!
Bem, não posso dominar o teu blog com devaneios, ainda assusto alguém!
No problem. Os "devaneios" são benvindos... :)
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