Não deixa de ser estranho que a
Câmara Municipal de Ponta Delgada tenha abandonado a memória de Antero de
Quental, quando se compara, por exemplo, com Natália Correia, a quem a
edilidade dedicou a semana que passou, assinalando assim os seus 90 anos de
nascimento, com várias actividades.
Bem sei que não é costume
assinalar-se datas que não são “redondas” mas estranho (sempre) que a cidade de
Ponta Delgada nunca tenha querido assumir Antero de Quental como sendo daqui,
desta nossa cidade, criando, por exemplo, na casa onde nasceu, um espaço
museológico de referência.
Todas as cidades do mundo
celebram os seus maiores.
Na Praia da Vitória temos
Vitorino Nemésio, ainda há dias referido, por Roberto Monteiro, como “pilar da
cultura da Praia da Vitória”; na Horta temos Manuel D´Arriaga, em Lisboa,
Fernando Pessoa e Amália Rodrigues, no Pico, em São Roque do Pico, o prémio
literário Almeida Firmino. Em Ponta Delgada temos Natália Correia, sim
senhores, mas temos também Antero de Quental. E a duplicidade de critérios no
tratamento de uma e de outra figura, incomoda qualquer um que pense nisso por
um instante.
É que, se por um lado se
homenageia “a feiticeira cotovia”, tendo inclusivamente sido descerrada uma
escultura, em sua homenagem a semana passada, por outro lado chega-se ao ponto
de permitir que o banco, onde Antero de Quental se suicidou esteja, por estes
dias, arredado do seu lugar, servindo o espaço que ocupava, para estaleiro das
obras do campo de São Francisco.
Talvez a razão deste acontecimento
seja mesmo a inexistência de qualquer critério e a homenagem que agora se
prestou a Natália Correia tenha sido, nada mais, nada menos do que o afã
mediático para que se queda o espírito humano sempre que há campanha eleitoral.
De uma ou de outra forma, mas
dando, ainda assim, o benefício da dúvida, é caso para congratular a autarquia
pela iniciativa de homenagear a escritora de “O sol na noite e o luar nos
dias”, lamentando, contudo, o esquecimento a que têm votado Antero de Quental.
A cidade de Ponta Delgada que, de
Antero tem nome de escola e de avenida, vem referida em vários documentos,
páginas na internet e outros suportes que existem sobre o Homem e a sua Obra.
Aqui nasceu a 18 de Abril de 1842 e aqui morreu a 11 de Setembro de 1891.
Em Vila do Conde, onde viveu 10
anos, foi inaugurado um Centro de Estudos Anterianos, em Julho passado.
O Governo dos Açores criou um
Roteiro Cultural Antero de Quental, na cidade, que parte da casa onde nasceu e
faz um percurso por 11 lugares diferentes, entre eles, o monumento funerário,
no cemitério de São Joaquim.
A 11 de Setembro deste ano
assinalaram-se 122 anos sobre a sua morte. Não fora a iniciativa do Instituto
Cultural de Ponta Delgada, a 12 de Setembro, “Novas Conferências do Casino” por
Miguel Soares de Albergaria e as referências feitas a Antero quer pelo
Professor Doutor Machado Pires, quer por José Contente na Convenção Autárquica
que o PS organizou em Ponta Delgada e a data nem tinha sido (sequer) lembrada.
Se o motivo é ter-se suicidado,
já deviam tê-lo posto de lado. Natália Correia escreveu “o itinerário é
interior”. O resto, senhoras e senhores, é inércia, poeira e algum preconceito.
Mariana Matos
Por decisão da autora
este artigo não cumpre as normas do Novo Acordo Ortográfico em vigor.
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