terça-feira, abril 30, 2013

Brindes



Três homens foram expulsos da Arábia Saudita por serem considerados demasiado bonitos pela polícia religiosa de Riade. A polícia explicou que os membros da comissão para a promoção da virtude e prevenção dos vícios temiam que as mulheres se apaixonassem por eles e por isso tomaram medidas para deportar os homens. A notícia correu páginas e páginas de jornais, parecendo insólita é, no entanto, real.
Um outro homem de 49 anos, ao que consta desempregado, deixou em pânico o governo italiano. Agarrou numa espingarda, saiu de casa, feriu dois polícias e uma senhora. Queria, disseram as televisões no Domingo, matar políticos.
Por cá não há dessas novidades, nem homens expulsos por serem bonitos, nem homens que queiram – realmente – matar políticos. Tudo é simbólico neste nosso país. Só as políticas do governo não o são.
A bandeira portuguesa foi hasteada a meia haste, a preto e branco, num edifício no Porto, entre os dias 25 e 26 de Abril; um vaso de cravos revirou enquanto Cavaco Silva falava na cerimónia do 25 de Abril; João Vieira Pinto e Jorge Gabriel são candidatos do PSD a freguesias do Porto; Marques Mendes considerou na SIC que Paulo Portas deu um murro na mesa no Conselho de Ministros desta semana, acrescentando ainda que Vítor Gaspar quer cortar nas áreas sociais, mas que Portas está “noutra rota” (seja lá o que isso queira significar) e, por fim, Cavaco Silva, que falava na sessão de abertura do 34º Congresso Nacional de Cardiologia, apelou aos partidos políticos para estudarem cuidadosamente a fase “pós troika”, depois de ter estado a desenhar corações (quase que pensei que ia escrever um “Cavaco + Maria”) num papel à entrada….
Concluo que é uma pena Vítor Gaspar não ser bonito, ao ponto de ter que ser expulso do país, para não fazer com que as mulheres se apaixonem por ele ou por poder ser um perigo para a virilidade dos restantes, ou coisa que o valha...
Não concluo nada sobre a história do italiano de 49 anos. Deixo ao critério dos leitores, mas relembro que a última vez que um português atirou qualquer coisa a um político foi um ovo. E que esse político, que é uma senhora está agora grávida de uma menina.
Enquanto isto tudo foi acontecendo, Portugal também foi brindado com um insólito. Brindado é a palavra certa e não, não foi o sexagenário de Penacova que se fez passar por Mikael Carreira para as mulheres (oh mulheres do meu país?!) se despirem em frente ao computador. Não foi isso...
O brinde é outro. A Sé de Braga está a comercializar “vinho de missa” a 5, 50 euros a garrafa, preço acessível para todos os párocos, diz a notícia do jornal Público que li. É um vinho com marca própria, que está ao dispor de todos os sacerdotes na recepção ou na Loja do Tesouro – Museu da Sé de Braga. Utilizado para fins litúrgicos, natural da videira e sem químicos.
É negócio, portanto, entre padres. A notícia diz ainda que o teor do álcool não pode ultrapassar os 18%.
Finalmente, e para variar um pouco, uma recomendação de leitura “ Levels of Life”, de Julian Barnes. Vida e Morte lado a lado. Quando se juntam duas coisas que nunca se tinham juntado antes e o mundo muda e, muitas vezes, emudece, escurece ou, pura e simplesmente, desaparece. Boas leituras deste ou de outro livro qualquer.
… E bons brindes. 

Serenamente, jornal Açoriano Oriental, hoje 30 de Abril

terça-feira, abril 23, 2013

“Torre é, siné fogaça”

Estou em crer que a ida da Dra. Berta Cabral para a República, para o Governo de Passos Coelho resolverá alguns dos problemas pendentes entre a Região e a nação. 
Com uma interlocutora tão experimentada nestas coisas do governar, liderar, administrar e presidir sairemos todos a ganhar. Até pode ser que a senhora consiga convencer os seus colegas nacionais a não penitenciarem os deputados dos Açores, eleitos pelo PSD, por terem infringido a disciplina de voto ou quiçá consegue convencer o agora seu Governo a transferir para a Região os montantes necessários para reconstruir o que o mau tempo de há dias destruiu. 
Acredito mesmo que os Açores terão em Berta Cabral a melhor defensora dos nossos interesses e que a Base das Lajes será agora mais do que nunca considerada uma mais-valia para o continente português. Com a determinação que lhe reconheço, Berta Cabral porá mãos à obra por Portugal, na defesa dos nossos interesses comuns. Só assim posso conceber que tenha querido ser Secretária de Estado da Defesa de um Governo da República que tudo tem feito para desconsiderar os Açores, os Açorianos e a Autonomia… 
Daqui a dias temos eleições autárquicas. Aí veremos se a antiga edil de Ponta Delgada virá ou não fazer campanha com o seu ex-vice-presidente ou se apoiará Rui Melo e Alexandre Gaudêncio, em Vila Franca do Campo e Ribeira Grande, respectivamente. A propósito, espero sinceramente que Alexandre Gaudêncio colha da experiência de candidatura à Câmara Municipal da Ribeira Grande melhores memórias do que as que ainda deve ter da “luta” pela presidência da Juventude Social-Democrata. 
Foi com gosto que assisti à inauguração das obras de requalificação da Torre Sineira da Câmara Municipal de Ponta Delgada. A autarquia está de parabéns. Ponta Delgada merece ser vista de vários ângulos e a avaliar pelas imagens que fui tendo oportunidade de ver estes dias nas redes sociais e jornais, de lá de cima, é possível ter uma belíssima visão desta nossa linda cidade. 
Porém, não posso deixar de recordar uma história que me contaram pessoas mais velhas e que tem como pano de fundo esta Torre Sineira. Reza a história que há muitos anos havia na nossa cidade um senhor, que era uma espécie de guia turístico, que não falava línguas estrangeiras, mas que recebia os turistas que chegavam à doca de Ponta Delgada e os acompanhava explicando-lhes os monumentos da cidade. 
Sempre que chegava ao pé da Torre Sineira, dizia: “Torre é, siné fogaça” no seu inglês latino germânico. Contam-me que os sinos da Torre tocavam quando havia fogo na cidade e que era essa a razão do senhor dizer: “Torre é, siné fogaça.” Os turistas que cá vieram nesse tempo, nunca devem ter percebido nada do que o senhor queria dizer, mas a história não deixa de ser tão engraçada, como também irónica. Passaram-se anos e anos. 

O que pensarão hoje os turistas que desembarcando nas Portas do Mar vagueiam sozinhos pela nossa linda cidade de Ponta Delgada? Não, não espero que os sinos toquem ou sequer que haja fogaça. Mas, como a história desta nossa terra, a seu tempo provará, não basta ver as coisas só de cima. Às vezes convém olhar para os lados, para trás e para a frente. É que um dia os sinos dobram. Não é fogaça. É simplesmente tarde demais… 

  Serenamente, jornal Açoriano Oriental de 23 de Abril

terça-feira, abril 16, 2013

Cavaco "Colombo"

Enquanto o conselho editorial do “New York Times” usa o exemplo de Portugal, Espanha e Itália para defender que a austeridade está a matar o doente, escrevendo mesmo que “as provas mostram que estes remédios amargos estão a matar o paciente”, ou seja, as medidas de austeridade não estão a ter o efeito pretendido: crescimento económico, o nosso Presidente da República partiu à descoberta da América Latina. Primeiro vai à Colômbia para inaugurar uma Feira do Livro, depois segue viagem para o Perú… Procura, dizem as notícias, as oportunidades de um “novo mundo”, onde já se instalaram algumas empresas nacionais, por isso também se noticia, que a componente económica é fundamental para a visita do Presidente da República. Na comitiva do Presidente vão 40 empresários portugueses, o Secretário de Estado da Cultura, o Ministro da Economia e ainda o Ministro do Estado e dos Negócios Estrangeiros. Desconhece-se a restante comitiva de assessores, seguranças e demais pessoas que costumam acompanhar o Presidente da República nestas viagens mas imagina-se grande. Não deixo de achar curioso (embora não seja de todo surpreendente) que a comitiva de Cavaco Silva tenha partido, quando a troika volta a Portugal. Embora a visita da troika aconteça antes do previsto e seja motivada pela necessidade de encontrar alternativas ao chumbo de quatro artigos do Orçamento do Estado pelo Tribunal Constitucional. Não se sabe ainda a que conclusões chegarão, mas Cavaco Silva não parece motivado para isso. Há 3 ou 4 dias atrás declarou que falar de esperança não chega e acrescentou ser urgente concebê-la e transmiti-la através de uma visão fundamentada e coerente. Que mais esperança pode ter um Povo, como o português, senão aguardar pausada e serenamente, que entre os escaparates da Feira do Livro em Bogotá, Cavaco Silva (às tantas) declame um ou dois cantos d´Os Lusíadas, enobrecendo em todos nós, espoliados da cabeça aos pés, esse sentimento heroico com que nos evoca Camões? Considero de uma imensa falta de noção do real e do tempo, partir na demanda da América Latina, num momento destes para Portugal. Mas, lá está, é Cavaco Silva e a ele, que foi o homem que viu sorrir as vacas na ilha Graciosa, tudo se vai perdoando… mesmo que por mais que se denuncie a vergonha ela se mantenha…e insista. E por falar em insistir devemos todos, sem excepção, continuar a insistir com os chantagistas da SATA para que ponham fim à greve anunciada para os dias do Rally e das Festas do Senhor Santo Cristo. De todos os Açores e comunidades têm surgido vozes contra, apelando ao bom senso desses senhores e dessas senhoras que, não por acaso, escolheram essas datas fundamentais para a nossa economia, para travar a sua luta. Ora, a acontecer mesmo esta greve, ela é uma “vigarice”, como disse na RTP/Açores, no passado Domingo, o Provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Concordo absolutamente. É uma enorme vigarice contra os Açores, à qual ninguém deve ficar indiferente. Nem mesmo Cavaco Silva que tanto quanto me constou foi de SATA para a Colômbia. Serenamente, AO 16 de Abril

terça-feira, abril 09, 2013

“Pim pam pum…”

Se fosse vivo Almada Negreiros faria 120 anos. Na Calçada da Glória, em Lisboa, estão sete gigantes painéis que dão início a um ano inteiro de celebração e homenagem à sua obra. No fim de semana foi apresentada a Galeria de Arte Urbana, pela Comissão encarregue de celebrar o acontecimento, que conta com o apoio de várias entidades, como a Câmara Municipal de Lisboa, entre outras. Haverá tertúlias, exposições, documentários, espetáculos, edições e reedições do “Manifesto Anti-Dantas”, um colóquio internacional e a inauguração de um monumento também de homenagem a um dos nossos maiores ícones culturais. De todas as declarações que ouvi sobre o assunto, guardei a de Catarina Vaz Pinto, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa. Perguntaram-lhe o que diria Almada Negreiros sobre o actual estado da arte em Portugal. Diria “Pim pam pum”, respondeu. Já em 1995, Mário Viegas readaptou o “Manifesto Anti-Dantas” escrevendo e declamando a conhecida peça literária “Manifesto Anti-Cavaco”, no Teatro São Luís, em Lisboa. É um texto de absoluta coragem frontal, que lido hoje, nestes dias turbulentos, nos faz lembrar que a razão de Mário Viegas se mantém, como a de Almada, viva e real. Não sei se tal circunstância nos deve alegrar ou fazer enfurecer, facto é que quer o Dantas de 1915, quer o Cavaco de 1995 não mudaram nada na imagem deste país que Cesariny queria que fosse “de bondade e de bruma”… [“O Professor Aníbal Cavaco Silva nasceu para provar, que nem todos os que governam sabem governar.” – Mário Viegas] Não somos. Nem de bondade, nem de bruma. Muito menos de “rosa de espuma” (do mesmo Cesariny). Somos reféns de prioridades que nunca foram as nossas. Vítimas dos que nos impõem a sua vontade, diante dos que indiferentes ou incapazes, assistem cúmplices ao degradar destes heróicos descobridores do nosso fim. Já quase nada faz sentido nestes dias. Se é verdade que Pedro Passos Coelho reagiu de forma lamentável à decisão do Tribunal Constitucional, não é menos verdade que a restante oposição, enredada em jogos de palavras e outras tibiezas, não apresentou uma única solução capaz de dar esperança ao mais desesperado português. Assim vamo-nos dividindo entre os que choram o país que já não somos, os que já nem Portugal no mundo conseguem ver e os que, entre uns e outros, desconfiam que possamos merecer um Portugal melhor, futuro e concretizado. Sem Dantas de espécie alguma a desempenhar papéis de importância séria. Nota de Agenda: “Acordosdias” é o nome de uma exposição solidária de Arte Contemporânea, comissariada por Carlos Mota, de apoio à família Soares do Faial da Terra, Povoação. Inaugura dia 12 de Abril, às 18h30, na Academia das Artes, e estará patente ao público, entre as 15h e as 20h, até ao dia 14 de Abril. Não deixe de passar por lá. Serenamente, jornal Açoriano Oriental, 9 de Abril