terça-feira, abril 09, 2013

“Pim pam pum…”

Se fosse vivo Almada Negreiros faria 120 anos. Na Calçada da Glória, em Lisboa, estão sete gigantes painéis que dão início a um ano inteiro de celebração e homenagem à sua obra. No fim de semana foi apresentada a Galeria de Arte Urbana, pela Comissão encarregue de celebrar o acontecimento, que conta com o apoio de várias entidades, como a Câmara Municipal de Lisboa, entre outras. Haverá tertúlias, exposições, documentários, espetáculos, edições e reedições do “Manifesto Anti-Dantas”, um colóquio internacional e a inauguração de um monumento também de homenagem a um dos nossos maiores ícones culturais. De todas as declarações que ouvi sobre o assunto, guardei a de Catarina Vaz Pinto, vereadora da Câmara Municipal de Lisboa. Perguntaram-lhe o que diria Almada Negreiros sobre o actual estado da arte em Portugal. Diria “Pim pam pum”, respondeu. Já em 1995, Mário Viegas readaptou o “Manifesto Anti-Dantas” escrevendo e declamando a conhecida peça literária “Manifesto Anti-Cavaco”, no Teatro São Luís, em Lisboa. É um texto de absoluta coragem frontal, que lido hoje, nestes dias turbulentos, nos faz lembrar que a razão de Mário Viegas se mantém, como a de Almada, viva e real. Não sei se tal circunstância nos deve alegrar ou fazer enfurecer, facto é que quer o Dantas de 1915, quer o Cavaco de 1995 não mudaram nada na imagem deste país que Cesariny queria que fosse “de bondade e de bruma”… [“O Professor Aníbal Cavaco Silva nasceu para provar, que nem todos os que governam sabem governar.” – Mário Viegas] Não somos. Nem de bondade, nem de bruma. Muito menos de “rosa de espuma” (do mesmo Cesariny). Somos reféns de prioridades que nunca foram as nossas. Vítimas dos que nos impõem a sua vontade, diante dos que indiferentes ou incapazes, assistem cúmplices ao degradar destes heróicos descobridores do nosso fim. Já quase nada faz sentido nestes dias. Se é verdade que Pedro Passos Coelho reagiu de forma lamentável à decisão do Tribunal Constitucional, não é menos verdade que a restante oposição, enredada em jogos de palavras e outras tibiezas, não apresentou uma única solução capaz de dar esperança ao mais desesperado português. Assim vamo-nos dividindo entre os que choram o país que já não somos, os que já nem Portugal no mundo conseguem ver e os que, entre uns e outros, desconfiam que possamos merecer um Portugal melhor, futuro e concretizado. Sem Dantas de espécie alguma a desempenhar papéis de importância séria. Nota de Agenda: “Acordosdias” é o nome de uma exposição solidária de Arte Contemporânea, comissariada por Carlos Mota, de apoio à família Soares do Faial da Terra, Povoação. Inaugura dia 12 de Abril, às 18h30, na Academia das Artes, e estará patente ao público, entre as 15h e as 20h, até ao dia 14 de Abril. Não deixe de passar por lá. Serenamente, jornal Açoriano Oriental, 9 de Abril

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