Em primeiro lugar, tomou posse o novo Governo da República. Este novo Governo, segundo Passos Coelho, é uma "selecção nacional dos melhores que cá temos, devidamente preparada para fazer cumprir as nossas obrigações com o exterior". Apesar de muitos ministros, aparentemente, terem sido segundas e terceiras escolhas e de alguns comentadores políticos considerarem este governo uma "selecção nacional do tipo Carlos Queirós", o que me verdadeiramente preocupa é como agilizar o funcionamento de um Governo tão pequeno, com super-ministérios e que tipo de agenda reformista pretendem implementar.
Tenho grandes dúvidas que fazer experiências na orgânica do Governo, nesta altura do campeonato, tenha verdadeiramente efeitos práticos ao nível da eficiência e da poupança. Ministérios como o da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território e da Economia, Emprego e Obras Públicas (que incluem transportes e telecomunicações), para além de poderem ter interesses que conflituam no seu objecto, poderão obrigar a uma panóplia de Secretários de Estado que funcionarão como autênticos ministérios escondidos, com o respectivo aumento de custos de funcionamento de carga burocrática.
Por outro lado, este novo Governo apresenta-se como o garante de uma nova agenda reformista, que, aparentemente, vai muito além do que está comprometido com a Troika. Ora, o actual estado de graça de que este Governo goza permite que não se tenha feito muitas perguntas sobre o que isto implica, mas convém talvez lembrar que o compromisso em comum assumido por mais de 80% dos eleitores refere-se apenas ao cumprimento exclusivo do memorando da Troika.
Deste Governo não se espera que abra um conflito com um Partido Socialista disposto a conversar e a viabilizar tudo o que esteja no acordo com a Troika, mas que não quer ouvir falar de alteração da Constituição ou do fim do Estado Social. Numa negociação séria começamos sempre pelo que nos une (e há muito sobre isto que conversar) e nunca pelo que nos divide.
Paralelamente a esta negociação, todos os partidos políticos responsáveis têm de, rapidamente, iniciar um debate junto da sociedade e indicando caminhos, explicando que o cumprimento do memorando da Troika é apenas uma pequena parte da solução dos nossos problemas. Como se vê claramente, pela situação crítica da Grécia e da situação de pré-intervenção externa em Espanha, o problema não está apenas na execução da dita "austeridade" ou no crescimento. Está, sobretudo, na ausência de liderança solidária na Europa que assuma como prioridade a resolução dos problemas das dívidas soberanas dos seus Estados, ao mesmo tempo que permite medidas de estímulo económico. Para além disso, a União Europeia tem de intervir e/ou regulamentar fortemente os mercados financeiros e esquecer, momentaneamente, a guerra cambial com os Estados Unidos, pois genericamente apenas a Alemanha ganha com esta desregulação financeira e com o Euro forte.
Aliás, ironicamente, a imprensa portuguesa finalmente assumiu que estes eram os nossos principais problemas, quando explicava que os juros da nossa dívida tinham batido níveis históricos, apesar da confiança no novo Governo, apenas devido há situação da Grécia e há incompreensão dos mercados.
Pena tenho que este mesmo raciocínio, para estes mesmos protagonistas, só tenha começado a ter validade desde que o novo Governo tomou posse.