terça-feira, junho 23, 2009

O balão do João

“Eu não acredito em reformas quando se está em Democracia. Quando não se está em Democracia eu digo como é que é, faz-se (…)”, disse, em tempos, não muito longínquos Manuela Ferreira Leite, Presidente do PSD, para quem a suspensão da democracia, por seis meses, seria coisa boa; diria mesmo “maravilha”. A afirmação que, na altura, parecia saída de um qualquer almanaque, com pouca raiz de verdade, mais a pender para anedota, encheu páginas de jornais, que falavam sobre a inabilidade da dita senhora, a inconveniência das declarações e por aí afora. Podia, pois, hoje, lembrando-a, justificar a postura do seu partido, nos Açores, diante da discussão que agora se inicia, sobre a abstenção, do apelo feito pelo PS/Açores e da resposta que, entretanto veio, rematada por um “É a política, estúpido”, nos jornais de fim-de-semana. Bastava que para isso, entendesse o mesmo que Ferreira Leite e agisse como age o PSD, na Região: agarrado ao balão, subindo, subindo; tal como na canção de Manuela Bravo, que tornou famoso um Joãozinho, que choramingava…Adiante. Quando pela primeira vez se falou em voto obrigatório, nos Açores, como forma de proteger a nossa democracia (o que é completamente diferente da ideia de Ferreira Leite) quase tudo nos Açores se calou. E lá fora: uns falaram do voto como direito e não dever; outros, em plena campanha eleitoral (?) disseram que a discussão era inoportuna…Passaram-se os dias. Houve eleições e a abstenção atingiu, como se sabe, cerca de 80%, nos Açores. Quem quis falar disso, falou. Quem não quis fez o que sempre soube fazer melhor: meteu a cabeça na areia, assobiou para o lado, falou de tudo, menos do essencial: os 78,3% de abstenção. Ah pois é. Eis que, de repente, 10 dias passados, resolvem dar um ar da sua graça e comentar o “voto obrigatório”, sugerindo, uns que era “medida extrema”, outros que não, porque sim, porque não, quem sabe se tal e pois claro… Podia dar-se as boas vindas ao debate, não fosse a necessidade, sempre mesquinha de, antes de lançar questões sobre o tema, quererem encontrar um culpado (no caso, para os níveis de abstenção). Assim não. Mais valia que se tivessem deixado ficar quedos e mudos. Se é certo que todos os contributos devem ser considerados válidos, não será menos certo que a tentativa de fuga para a frente, agarrados ao “balãozinho”, revela tudo menos senso… Não estão disponíveis para discutir ou para debater nada, que não esteja inteiramente relacionado com as suas intenções e, revelando alguma falta de pejo, ainda se dão ao luxo de querer aumentar o processo da descredibilidade da política, quando, no momento em que, finalmente, parece que vão dizer qualquer coisa de útil, agridem. Não querem falar de partidos, de políticas ou de políticos, não falem. Preferiam que a democracia fosse suspensa por seis meses, digam. Qualquer coisa é melhor do que estarem na posição em que estão. Falar de “voto obrigatório” foi, como se sabe, um contributo para um debate que, não só se diz urgente, como o é, na realidade. Até onde será preciso chegarem os níveis de abstenção para que se preocupem? Ou também não acreditam em reformas quando há democracia?!
Dir-me-ão: “é a política, estúpida!”… Será? Eu prefiro pensar que é estúpido haver na política lugar para políticos assim…

11 comentários:

OGritoDeQuemTrabalha disse...

Olá Mariana,
devo dizer-te (espero que não leves a mal tratar-te na segunda pessoa do singular) que acompanho este blog há já algum tempo, sem nunca antes ter contribuído.
Eis que chegou a altura.
Parece ridículo introduzir essa coisa do "voto obrigatório" por três razões muito simples:
1.ª - Abstenção sempre existiu e sempre existirá, pois existirão sempre pessoas que pensam que já não vale a pena.
2.ª - Não existe interesse prático nenhum nesta medida. Se não vejamos, o eleitor que não quer votar não votará, deixa o boletim em branco ou pior anula o boletim. Quererão os políticos isso? Mais votos brancos e mais nulos em nome de um suposto abaixamento das não idas às urnas?
3.ª - As penalizações seriam sempre para os mesmos, ou seja, para os que todos os dias se levantam cedo para ir trabalhar... E os que "auferem" rendimento mínimo sem fiscalização? Deixarão de o "auferir"?
Tenho muitas dúvidas que isto resulte...
O que poderia resultar era aquilo que os políticos de hoje não têm capacidade - "golpes de asa" ; pensar mais além.
Prometem o MUNDO NOVO ao povo mas nunca lho dão. Haverá um dia em que o povo quererá um MUNDO NOVO a sério...
Um abraço

Anónimo disse...

Quem muito quiz falar da abstenção foi quem bem perdeu as eleições.

(se as tivessem ganho, bem menos da abstenção teriam querido falar...)

Edgardo

Anónimo disse...

O Edgardo acha que a abstenção não é importante, por isso não se deve falar dela.
E o aço?

Anónimo disse...

Não foi essa a constatação que o Edgardo fez...

Será que o comment saiu baço?

PS - Por acaso acho que a abstenção é importante e que se deve falar dela.
Só não esperem que assuma a posição (estratégica...) quer de um quer do outro lado do bi(re)partido bloco, central...

E passar menos mal...

A transpropósito de aço, acho que, sem duvida, Hugh Jackman, forjou-se para ser o Volverine... Que corpo, colossal...
( Adamantium é o fictício metal, não aço... )
Este sim, é um tema que me interessa...
Qual abstenção; podemos falar sobre o Hugh Jackman?

(ainda ontem, adquiri revista do coração só por causa de fotografia do Hugh a veranear...
Bom... Na mesma revista havia muitas mais fotos de celebridades femininas... Acho que este outro tema (femas) é importante, mas, não queria falar sobre isso...)

Eu acho que mais importante do que qualquer nível de abstenção é o aço...

E.

Anónimo disse...

... Na verdade, eu logo notei que o nosso Hugh apresentava as fartíssimas suíças da personagem na referida foto, supostamente retractando os momentos do imediatismo... Na verdade - por mim, tanto melhor - estávamos presentes o Hugh em intervalo de filmagens para o glorioso Wolverine! As tais foram na Nova Zelândia (país vizinho ao homem puro e que tem acolhido muito este proveitoso mercado... Para quando os Açores?)


PS - João e Balão... mais lembrava São João!

E.

Anónimo disse...

Continuas a escrever mto bem. mto bem mesmo.
Alice.

Paulo Pereira disse...

Bem, primeiro gostaria de dizer que há tempos quis fazer um comentário a um post do Ardemares e não consegui.
Penso que terão fechado os comentários, ou foi alguma dificuldade da minha net.
Partindo do pressuposto que os comentários estavam fechados fiz o post “Descubra as diferenças”.
No entanto, reparo, agora, que era possível comentar o “Balão do João” no Ardemares e, por isso mesmo, estou a fazer este comentário.
Concordo com a Mariana quando diz que falta fazer uma discussão sobre a abstenção.
Nesta discussão será essencial discutir todas as suas causas, sem excepção. Eu não utilizaria o termo culpados.
Será também importante que esta discussão se inicie nos meios académicos e só depois passa à Assembleia, para ser mais técnica.

Tiago R. disse...

O PS Açores sabe muito bem que a esta distância das eleições não pode haver nenhuma alteração às leis eleitorais.

Querer lançar esse debate nesta altura é querer lançar uma cortina de fundo sobre a questão central que os portugueses terão de avaliar nas próximas eleições: Quais foram as políticas do Governo e quais foram os seus resultados.

E, isto, o PS Açores, como o nacional, não está naturalmente interessado em discutir.

Anónimo disse...

Não percebo muito bem a argumentação do último comentador aqui acima. Então não foi o PCP que entregou na Assembleia dos Açores uma proposta para combater a abstenção?

Filipe Franco disse...

Meus amigos a abstenção só se combate através da educação do povo e reforma do Regime. De outro modo todos podemos "tirar o cavalinho da chuva" que não vai acontecer nada de novo ou seja o desinteresse e a desconfiança aumentarão.
Bem hajam

E. Raposo disse...

Tenho de concordar com o comentário de Filipe Franco, a educação e a reforma do regime são urgentes nesta luta contra a abstenção e a apatia do eleitorado.

Todavia, sou a favor do voto obrigatório, desde que se faça a reforma do regime.