"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
segunda-feira, dezembro 31, 2007
domingo, dezembro 30, 2007
quarta-feira, dezembro 26, 2007
Receita de Ano Novo
«Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.»
Vou ali e já venho.
Deixo-vos Drummond de Andrade, um dos meus poetas preferidos.
Até já e votos de bom ano para todos!
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Carlos D. de Andrade
domingo, dezembro 23, 2007
sábado, dezembro 22, 2007
sexta-feira, dezembro 21, 2007
quinta-feira, dezembro 20, 2007
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Navio
"Tenho a carne dorida
Do pousar de umas aves
Que não sei de onde são:
Só sei que gostam de vida
Picada em meu coração.
Quando vêm,vêm suaves;
Partindo,tão gordas vão!
Como eu gosto de estar
Aqui na minha janela
A dar miolos às aves!
Ponho-me a olhar para o mar:
-Olha-me um navio sem rumo!
E,de vê-lo,dá-lho a vela,
Ou sejam meus cílios tristes:
A ave e a nave,em resumo,
Aqui,na minha janela."
Vitorino Nemésio,
(19.12.1901/20.02.1978)
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poema de Vitorino Nemésio
terça-feira, dezembro 18, 2007
Falavam-me de Amor
"Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado."
O Dilúvio e a Pomba (1979)
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado."
O Dilúvio e a Pomba (1979)
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poema de Natália Correia
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Lógica da Batata Doce
No último fim de semana o Belenenses ganhou ao Benfica. De onde é que é o Belenenses?
De Belém.
Quem nasceu em Belém?
Pois. Pois é.
Então como é que queriam que o Benfica ganhasse ao Belenenses?
De Belém.
Quem nasceu em Belém?
Pois. Pois é.
Então como é que queriam que o Benfica ganhasse ao Belenenses?
domingo, dezembro 16, 2007
Farsas
A notícia veiculada pelo jornal Açoriano Oriental, que nos deu conta de que Costa Neves distribuiu "pastas" pelos seus "colaboradores mais directos", não deixou de me fazer pensar que este foi (apenas) mais um acto da peça de Teatro de sombras sem norte e sem dono, que o PSD/A tem representado na Região. Uma Farsa.
No Sapatinho
A reprodução do diário de Frida Khalo é uma edição muito especial. Nunca visto fora do México, sendo que esteve fechado à chave no Museu Frida Khalo em Cocoyan, esta publicação de excelente qualidade permitiu a divulgação facsimilada de páginas surpreendentes em 1995 (1ª edição).
As 161 páginas do diário alternam entre texto e imagens, e são antecedidas de uma introdução pelo novelista mexicano Carlos Fuentes, e de um ensaio da autoria da historiadora de arte Sarah Lowe, a qual, no final, descreve detalhadamente cada uma das páginas do diário.
Frida Khalo manteve o seu diário aproximadamente desde 1944 até à sua morte, que ocorreu dez anos depois. Tinha então 47 anos. Segundo a sua biografia de 1983, o volume vermelho de capa em pele que lhe serviu de diário teria sido comprado numa loja de livros raros em Nova Iorque por um amigo, o qual lho teria mandado na esperança de que ela se sentisse menos só na sua doença. Lembre-se que Frida Khalo sofreu um acidente que por pouco não a matou, aos 18 anos de idade, junto à Escola Preparatória Nacional.
O sofrimento que esse acidente lhe provocou é amplamente ilustrado nas palavras e pinturas que fazem este diário, bem como o amor, a política e a vida.
As 161 páginas do diário alternam entre texto e imagens, e são antecedidas de uma introdução pelo novelista mexicano Carlos Fuentes, e de um ensaio da autoria da historiadora de arte Sarah Lowe, a qual, no final, descreve detalhadamente cada uma das páginas do diário.
Frida Khalo manteve o seu diário aproximadamente desde 1944 até à sua morte, que ocorreu dez anos depois. Tinha então 47 anos. Segundo a sua biografia de 1983, o volume vermelho de capa em pele que lhe serviu de diário teria sido comprado numa loja de livros raros em Nova Iorque por um amigo, o qual lho teria mandado na esperança de que ela se sentisse menos só na sua doença. Lembre-se que Frida Khalo sofreu um acidente que por pouco não a matou, aos 18 anos de idade, junto à Escola Preparatória Nacional.
O sofrimento que esse acidente lhe provocou é amplamente ilustrado nas palavras e pinturas que fazem este diário, bem como o amor, a política e a vida.
sábado, dezembro 15, 2007
sexta-feira, dezembro 14, 2007
Recomendação de Leitura
Útil, prático, realizado com muita qualidade,
o Dicionário da Academia das Ciências
apresenta ainda a transcrição fonética actualizada das palavras que usamos todos os dias.
Óptimo para tirar teimas,
e esclarecer dúvidas mais ou menos
pertinentes,
quanto ao modo como pronunciamos o nosso português.
Consulte, pela sua saúde.
o Dicionário da Academia das Ciências
apresenta ainda a transcrição fonética actualizada das palavras que usamos todos os dias.
Óptimo para tirar teimas,
e esclarecer dúvidas mais ou menos
pertinentes,
quanto ao modo como pronunciamos o nosso português.
Consulte, pela sua saúde.
Apoiado
"Para a maioria dos portugueses a língua continua a ser apenas a de vaca, caída no prato com um molhinho quente e batatas cozidas.
A língua que falamos assumiu, como quase tudo, um valor descartável. É também por isso que a língua-pátria de Pessoa morre todos os dias mais um bocadinho nas páginas dos jornais. E morre sobretudo quando se acha que nada disso interessa afinal. Quando cada falante a usa como pode e não como deve. (...)É que escolher falar mal a própria língua não é uma opção, mas uma profunda irresponsabilidade."
Excertos do artigo de opinião de Cláudia Cardoso," Língua à portuguesa", publicado na edição de hoje do jornal Açoriano Oriental.
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língua portuguesa
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Pontos de Vista
Um grande fabricante de calçado mandou dois empregados seus a África investigar se valia a pena a sua empresa investir numa fábrica de calçado naquele território. Para a investigação ser conclusiva, mandou um empregado entrar pelo lado norte do território e o outro pelo lado sul. Passada uma semana recebeu os resultados das duas investigações: o empregado, que entrou pelo lado norte do território concluiu que não valia a pena investir, porque lá não calçavam sapatos e o empregado que entrou pelo lado sul concluiu que valia a pena investir, porque lá não calçavam sapatos.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
Boas notícias
A notícia de que 16 mil pessoas visitaram este ano o núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, na cidade de Ponta Delgada, que foi inaugurado há ano e meio, depois de ter sido recuperado, é uma excelente notícia. Significa, por exemplo, que valeu a pena reabrir as portas da Igreja do Colégio de Ponta Delgada, que esteve encerrada durante 40 anos, ao serviço de quase tudo, menos da Cultura.
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cultura
terça-feira, dezembro 11, 2007
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Nostalgia
...""Tive infância, fui feliz, os crescidos tratavam-me bem.
Escreve olhos cheios de infância, anda. Assim como assim talvez te ajude a viver."
António Lobo Antunes
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citação importante
Fragilidade
"Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las."
Carlos Drummond de Andrade
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las."
Carlos Drummond de Andrade
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poesia porque sim
Saudade
Trovante
...porque há sempre alguém que nos diz tem cuidado.
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco.
Há sempre alguém que nos faz falta! Há saudade.
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musica porque sim
domingo, dezembro 09, 2007
Homenagem merecida!
Será lançado,
no próximo dia 12 de Dezembro, pelas 18 horas,
na Sala D. Pedro V, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
um livro de estudos em homenagem a três professoras, cujo contributo para o estudo
das literaturas portuguesa e espanhola, foi marcante. São elas
a Prof. Dra. Maria Vitalina Leal de Matos,
a Prof. Dra. Maria Lucília Gonçalves Pires
e a Prof. Dra. Maria Idalina Resina Rodrigues.
O livro será apresentado pelo Prof. Dr. Aníbal Pinto Castro.
A elas, o nosso bem haja.
no próximo dia 12 de Dezembro, pelas 18 horas,
na Sala D. Pedro V, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
um livro de estudos em homenagem a três professoras, cujo contributo para o estudo
das literaturas portuguesa e espanhola, foi marcante. São elas
a Prof. Dra. Maria Vitalina Leal de Matos,
a Prof. Dra. Maria Lucília Gonçalves Pires
e a Prof. Dra. Maria Idalina Resina Rodrigues.
O livro será apresentado pelo Prof. Dr. Aníbal Pinto Castro.
A elas, o nosso bem haja.
sábado, dezembro 08, 2007
Portas Amarelas (Papelaria)
Cesário Verde e a luta pela não-ignorância!
O novo livro de Maria Filomena Mónica foi anunciado muito antes de descansar nos escaparates, a 6 de Novembro. A ansiedade e a expectativa eram, e não poderia ser de outra maneira, muito elevadas. Cesário Verde tem mantido um lugar pouco adequado e digno da sua obra no Parnaso português, e esperava-se, naturalmente, um empurrão notório nessa estranha e tão complexa escadaria.
Pedro Mexia, na Ípsilon de 9 de Novembro, tornou-se o responsável pela primeira tentativa de desengano relativamente à tão anunciada biografia. Para aqueles que ainda não tinham adquirido um exemplar, o desengano serviu de estímulo, quanto menos não fosse para se constatar se, de facto, a publicação era meritória de erguer Cesário um pouco mais alto, numa posição com menos pó. O estímulo conduziu à compra e, consequentemente, à confirmação do desengano.
A autora propôs-se realizar uma biografia de Cesário e, como que procurando protecção junto de cavaleiros mais ou menos especialistas na matéria, cita logo de início um aval múltiplo à sua mais recente iniciativa. As críticas públicas, no entanto, não alteraram o seu desapontamento e o tom censório. António Guerreiro, na Actual do primeiro de Dezembro, teceu uma apreciação demolidora e brutal a esta biografia.
Apesar do trabalho meritório de recolha biográfica, Maria Filomena Mónica arrisca um percurso demorado pela poesia de Cesário Verde que, quanto a mim, dita o insucesso da sua iniciativa. As suas ideias sobre poesia são pobres, e a análise que a autora dizia não querer fazer é vazia de qualquer conteúdo literário pertinente.
"Eu quero criar uma polémica sobre quem é maior, se o Fernando Pessoa, se é o Cesário." Foram as palavras da autora em entrevista à SIC, aquando da apresentação do livro na Biblioteca Municipal de Oeiras a 5 de Dezembro. A intuição da autora é boa, porque urge uma releitura de Pessoa à luz da produção poética de Cesário. No entanto, o modo como conduz a sua argumentação trai a qualidade dessas mesmas intuições: " Pessoa percebeu a sua importância [Cesário] porque não era um português" (DN, 5.Dez). Errado!! Pessoa percebeu Cesário porque era, justamente, um português..
A biografia de M.F.M recomenda-se a quem nunca tenha tido a curiosidade ou o interesse de saber alguma coisa sobre quem foi o homem, onde viveu e com quem conviveu. Para aqueles que esperam alterações nas tabelas classificatórias do nosso velho e viciado parnaso, recomenda-se que esperem um pouco mais.
Pedro Mexia, na Ípsilon de 9 de Novembro, tornou-se o responsável pela primeira tentativa de desengano relativamente à tão anunciada biografia. Para aqueles que ainda não tinham adquirido um exemplar, o desengano serviu de estímulo, quanto menos não fosse para se constatar se, de facto, a publicação era meritória de erguer Cesário um pouco mais alto, numa posição com menos pó. O estímulo conduziu à compra e, consequentemente, à confirmação do desengano.
A autora propôs-se realizar uma biografia de Cesário e, como que procurando protecção junto de cavaleiros mais ou menos especialistas na matéria, cita logo de início um aval múltiplo à sua mais recente iniciativa. As críticas públicas, no entanto, não alteraram o seu desapontamento e o tom censório. António Guerreiro, na Actual do primeiro de Dezembro, teceu uma apreciação demolidora e brutal a esta biografia.
Apesar do trabalho meritório de recolha biográfica, Maria Filomena Mónica arrisca um percurso demorado pela poesia de Cesário Verde que, quanto a mim, dita o insucesso da sua iniciativa. As suas ideias sobre poesia são pobres, e a análise que a autora dizia não querer fazer é vazia de qualquer conteúdo literário pertinente.
"Eu quero criar uma polémica sobre quem é maior, se o Fernando Pessoa, se é o Cesário." Foram as palavras da autora em entrevista à SIC, aquando da apresentação do livro na Biblioteca Municipal de Oeiras a 5 de Dezembro. A intuição da autora é boa, porque urge uma releitura de Pessoa à luz da produção poética de Cesário. No entanto, o modo como conduz a sua argumentação trai a qualidade dessas mesmas intuições: " Pessoa percebeu a sua importância [Cesário] porque não era um português" (DN, 5.Dez). Errado!! Pessoa percebeu Cesário porque era, justamente, um português..
A biografia de M.F.M recomenda-se a quem nunca tenha tido a curiosidade ou o interesse de saber alguma coisa sobre quem foi o homem, onde viveu e com quem conviveu. Para aqueles que esperam alterações nas tabelas classificatórias do nosso velho e viciado parnaso, recomenda-se que esperem um pouco mais.
ardemares news
A partir de hoje e por algum tempo, que espero longo, este blog conta com mais uma escriba: Susana Rosa - uma açoriana da ilha de São Jorge. Ausente em terras continentais.
Entretanto, recebi notícias do primo TóZé. Estava na capital do Pico (Santo Amaro) para apanhar barco para a Calheta de São Jorge.
Vamos a ver se (também) ele regressa a este ardemares.
Os anos da Rosa
Há duas semanas, a Rosa fez anos e apareceu na televisão com o seu ar calmo de sempre. Aliás, pensando bem, não me lembro de vê-la de outra maneira. Nem mesmo, quando vivia na casa ao lado da nossa, no Verão, e tomava conta de uma senhora de mais idade do que ela. Sempre que aparecia na janela para nos dizer adeus ou à porta para dar rebuçados, vinha com os mesmos óculos de massa e um lenço no cabelo esbranquiçado. Nunca conheci a Rosa nova, porque quando eu nasci a Rosa já existia e tinha a idade de uma avó. Morava numa casa muito pequenina com duas janelas e uma porta, aonde eu nunca entrei. Parecia uma casa de bonecas sem árvores à volta, mas com velas, que iluminavam as janelas quando era de noite e a lua começava a nascer por detrás do morro, ao pé da ponta do pico da ilha do Pico.
Sete dezenas de anos exactos nos separam. Quando a vi na televisão há duas semanas, falando com a jornalista e explicando que aquele era o dia dos seus anos, que ia festejá-lo com a família e com amigos da freguesia, depois de fazer o jantar para o sobrinho, com quem, agora mora, quase que me esqueci que a Rosa completava 101 anos, tal era o desembaraço com que falava, mexendo com a cabeça e sorrindo, diante da alegria de completar mais um ano. Estava de pé no jardim, de lenço, de óculos e trazia lenha nos braços para acender o forno, disse, enquanto sorria para a câmara de televisão.
Habituei-me à presença da Rosa com o passar do tempo. Às vezes, dou-lhe boleia para a missa, a que vai, religiosamente, aos Domingos; outras vezes visita-nos nas férias para levar laranjas ou figos. Abraçou-me sempre nos momentos mais difíceis da minha pequena vida e procurou explicar-me, na sua muito própria crença, o porquê de tantos e variados percalços. Nunca entendi nada disso, mas consenti sempre.
O ano passado, nos seus 100 anos, apareceu (também) muito bonita a falar na Televisão, com o seu sorriso grande e brilhante, onde eu sempre soube, que se lhe pedisse ou se precisasse, cabia por inteiro. Nessa vez, há um ano, foi a primeira vez, que a ouvi falar de si própria, explicando à jornalista que então a entrevistou que “nunca fez mal a ninguém”…
Tenho sempre e cada vez mais saudades do tempo de vigia da Rosa, da época em que ela nos espreitava para ver se nós nos portávamos bem e nós lhe cantávamos alegremente: “oh rosa, arredonda a saia”. Um outro tempo para nós, mas certamente o mesmo para ela, que ainda vai estar, sei e sinto, caminhando nas ruas para baixo e para cima com os seus óculos de massa de sempre, o lenço na cabeça, o casaco de malha e a sua passada curta, em Novembro de 2008 à espera da Televisão. E, quando eles chegarem, a Rosa vai sorrir e explicar que nunca fez mal a ninguém. Minha querida Rosa. Feliz Natal.
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Parabéns à Rosa da Quitéria
sexta-feira, dezembro 07, 2007
adio, adieu, aufwiedersehen, goodbye!
Outra para cantar bem (mesmo bem!) desafinado!
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José Cid
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Solilóquio V - Pedro da Silveira
"De rocha e solidões me reconstruo,
com amargura e paciência.
Riso:
em mim é fel de sombras.
Amor:
secos relâmpagos na tarde.
Sei o que passa.
O mais.
Ignoro.
Terra!
sobre o que errei rebenta em flores.
E tu, homem futuro,
não me lamentes;
esquece-me.
E vive."
(Fajã Grande, 5 de Setembro de 1922 — Lisboa, 2003). Poeta, crítico literário e investigador, com vasta colaboração dispersa em periódicos e revistas. Fez parte do conselho de redacção da revista Seara Nova (até 1974) e é autor de várias obras de poesia e de recensão literária, estreando-se com o livro A Ilha e o Mundo (1953). É autor de duas antologias de poetas açorianos, a primeira das quais com um prefácio em que autonomiza a literatura deste arquipélago em relação a todas as outras literaturas de expressão lusófona. Integrou a comissão de gestão Biblioteca Nacional de Lisboa, da qual se aposentou como director dos Serviços de Investigação e de Actividades Culturais.
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Foto A.C.
Muz´ka
Aqui está uma música que gosto de cantar: "The Logical Song" dos Supertramp
Fica a sugestão para a mixtape do Blog Tipo Assim, do :ilhas e de uma casa com vista para o mar.
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mixtape
quarta-feira, dezembro 05, 2007
terça-feira, dezembro 04, 2007
Croniqueta LI ou o Fífia tem a cara em obras, mas está feliz
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Depois dos feitos todos a que se dedicou nos últimos meses; depois de ter calçado e descalçado dezenas de vezes as botas de cano alto e sola rija para as tempestades; depois de ter tido que brigar com a madrinha; o Fífia voltou agora às pantufas do Rei Leão e ao xaile de romeiro. Prevê-se, assim, que nos próximos dias, até porque são de época festiva, o vamos encontrar de touca com laçarote a amarrar no pescoço, escondendo as arranhadelas das lutas por que passou durante estes tempos. Porém, qual Viriato, vindo dos altos Montes Hermínios, depois de ter descansado à sombra de uma árvore, nosso Fífia já está pronto para as festas que aí vêm. Natal, passagem de ano e Carnaval, já constam da sua agenda. Este ano não falhará o costume de Palhaço, que no Fífia se resume a um grande e brilhante laço cor de casca de amendoim para dizer com os olhos, que dizem a mãe e as tias, parecem dois ricos feijões semeados na sua cara em obras, mas feliz. Com efeito, ninguém sabe porque é que tem a cara assim, mas não se importa. Todas as manhãs lá começa, circulando pela casa, a ginástica facial, que o faz fingir que ri, mesmo que esteja chorando. Esfrega uns cremes, umas quantas pomadas e até misturas caseiras, que as vizinhas, daimosas e solidárias lhe preparam com amor. Mas nada resolve as valas, que a dureza dos combates (digo eu) lhe impôs na cara mal traçada, que transporta dia-a-dia no seu pescoço de fidalgo. Ainda não fez as compras de natal, mas sabe já que para a mãe e tias vai comprar agulhas, canetas e papel. Sabe que o mais certo será precisar que estas boas costureiras lhe fabriquem novos factos para os dias, que hão-de vir, não muito longe nem muito perto. E, nestas coisas de ofertas, não há como deixar implícito, já de princípio, uma ideia de utilidade. A mãe e as tias sabem que se não fossem os seus conselhos, o Fífia não valia nada. Por isso, vão preparar rezas e mezinhas para prevenir que a oferta da madrinha o faça mudar de rumo. É que ninguém sabe se o Fífia aceita calçar o par de patins em linha, que a dita lhe quer oferecer… Essa dúvida, esse medo tem agonizado a família Fífia. O próprio está em dúvida sobre os propósitos reais da boa senhora, que em tempos, lhe passou água benta pelos angélicos cabelos. As tias não vivem sem ele, a mãe muito menos e as vizinhas, as da sua própria rua, duas casas acima e duas casas abaixo, não querem ver desaparecer o menino por quem nutrem uma certa simpatia…
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Croniquetas
domingo, dezembro 02, 2007
Os distraídos
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"retrato de lado
retrato de frente
de mim me faça
ficar diferente."
Paulo Leminski, Distraídos Venceremos,São Paulo, Brasiliense, 1987.
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notas de fim de semana
sábado, dezembro 01, 2007
Agenda
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A 1 e 2/12 - ilha de São Jorge - Auditório Municipal de Velas
A 7, 8 e 9/12 - ilha do Pico - São Mateus (Madalena), Auditorio Municipal das Lajes, EBS Cais do Pico, respectivamente.
A 14, 15 e 16/12 - Teatro Faialense.
Mais informações sobre O Dragoeiro - Companhia Teatral aqui e aqui.
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O Dragoeiro - Companhia Teatral
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