Podemos não nos dar conta, mas há sempre muita gente pendurada nas janelas. Pessoas, que sem cair, são de chuva miudinha; pessoas, que sem se plantarem, são como papoilas em campos verdes, presas pelas suas raízes no bater da terra quente ou, por vezes, fria. Pessoas de A e de B; gentes em quem mora por gosto, descuido ou qualquer coisa mais profunda, um olhar parado de areia e sal, mas Pessoas, sem dúvida alguma, Pessoas que cumprem a sua função primeira: a de velar pelo mar e esperar à porta. Podemos, talvez, até, não nos aperceber, não nos dar conta, mas há Pessoas nas chaminés, Pessoas de acentos agudos e mãos circunflexas e braços que, às vezes, mais parecem tiles ou vírgulas ou até, se agitados, reticências profundíssimas, que doem na pele como tiros. Se nos distraímos, à noite, quando chegámos às nossas casas, parece já não haver ninguém nas ruas e os passeios transformam-se em sílabas ou vogais arredondadas de espanto. Sibilantes tão ciosas como sussurros, chorando a ausência de uma mãe, que, partiu como a espuma do Mar, que se esqueceu de voltar à sua areia. E mesmo, que tentemos ficar, não conseguimos; porque ainda não aprendemos a permanecer como a água que cai e não se magoa, porque é de chuva e da Gente.
Boas Leituras e até Julho.
Nota de Abertura do Suplemento de Cultura publicado hoje no Açoriano Oriental. Colaboram nesta edição: Clara Cymbron, Susana Rosa, Sofia Medeiros, Guilherme Marinho, Paulo Afonso, J.M., Tiago Tomé.
7 comentários:
"Ainda n�o aprendemos a permanecer como a �gua que cai"
confesso que esta frase me ultrapassa totalmente. � muito linda e n�o me faz sentido nenhum.
fa�o, humildemente, tr�s pontos de interroga�o.
Eu penso que a água que cai permanece e que nós caímos e não permanecemos...:)
Eu creio que se a água que cai permanece nós, ao caírmos, também permanecemos (na mesma lógica de ideias) pois toda essa queda faz parte do ciclo natural das coisas, que não é mais do que transformação eterna.
Mas claro que eu não sou poeta!
és "forte" mestre. eh eh
Bem, na verdade ainda não construí nada que desse abrigo a ninguém, em termos concretos, pelo que a força é altamente relativa. Ah ah ah!
De resto, segundo o meu irmão(zão), sou só "uma gaja que escreve umas coisas". Mai' nada.
e já não é bom?
gostei.
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