"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
terça-feira, novembro 05, 2013
Que nos valha o Benfica
Maria do Carmo, 52 anos, desempregada de uma loja de fazendas conta-me, no seu português “lisboeta ferrenho”, que se não fossem os jogos do Benfica, que vai vendo com o José Armando, aos fins de semana, na televisão, já tinha dado duas bolachas num romeno, “à moda do Carrilho”, explica, sorrindo, toda enfiada no seu cabelo farto e branco, como uma bolinha de carne rosada. “Para mim, não tem nada que enganar” continua, “a culpa é da Bárbara Guimarães…”
Como Maria do Carmo, há centenas de senhoras em Lisboa, que nas filas do autocarro, reclamam com a chegada de senhoras romenas, com bilhetes, a pedir dinheiro para mandar buscar os filhos ou para comprar farinha e leite. “São essas”, dizem, “que nos dão cabo do pouco dinheiro que temos. Andam por aí a roubar a esmola dos portugueses.”
Sente-se, a caminhar pelas ruas de Lisboa, por estes dias, um certo desconforto, um não sei quê de azedume, que por um lado gasta e farta a alma, e por outro lado, impacienta…
Enquanto as notícias trazem descobertas sobre a “Maria” da Grécia, a reabertura do processo da criança inglesa desaparecida no Algarve, as brigas do casal Guimarães/Carilho ou a história da funcionária que “por amor” desviou 250 mil euros da Conservatória de Braga, um “bando de meninos”, como lhes chamou António Lobo Antunes, consola-se a dar cabo deste país.
Quando Paulo Portas anuncia que “Portugal pode estar a poucas semanas” de sair oficialmente da recessão técnica; logo aparecem, não sei quantos comentadores, a encher as televisões, as mesas redondas, para nos explicar melhor o que disse Paulo Portas. A nós todos, (tolinhos) que podemos não ter entendido bem…
Para onde vamos? Não sei.
Olho para os canais de televisão, nestes dias que passam, sem paciência. Oiço os debates na Assembleia da República e sinto que a única preocupação dos “principais partidos” são os adversários internos e que aos outros, mais pequenos, o que interessa sobretudo é manter o “status quo”. Gritam muito, fazem muito barulho, dizem “portuguesas e portugueses” mas diferem em “zero” dos outros todos.
Vejo um grupo de políticos medíocres, cuja única ambição é ficar no poder, não pelo mérito, mas sim, e sempre, pela inexistência de alternativa. Acham-se únicos, cumprem serviços mínimos, exigem que uns corem de vergonha e peçam desculpa, como se o rubor das faces ou o pedido de desculpas resolvesse alguma coisa.
Vivemos acima do que podíamos ter vivido, explicam alguns comentadores, por onde vou passando, em zapping. (Não faltava mais nada, a não ser que a culpa fosse nossa).
Ninguém apresenta propostas, soluções ou projetos e a mediocridade cresce, como uma sombra, entre os discursos, cuja única finalidade é aniquilar o adversário, que não estando com eles, está (dedução lógica) contra eles. É claro.
O cenário é este e a miséria imensa. A paciência não pode sustentar tanto desengano, a alma (essa coisa que fica entre os olhos e o que se vê, de facto) não aguenta mais. De modo que o que se vai esperando é que o Benfica vá dando umas alegrias à Senhora Maria do Carmo e ao seu José Armando. Com sorte ela esquece os pobres dos romenos e não dá corda à novela “Carrilho/Guimarães”. É que novela por novela, antes rir livremente com coisas boas como o Benfica.
Serenamente, AO, 5 de Novembro
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