"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
segunda-feira, novembro 25, 2013
terça-feira, novembro 19, 2013
Mudar o mundo no Facebook
Circulam nos emails e nas redes
sociais à velocidade da solidariedade de quem os recebe. São pedidos de sangue
de tipo raro, para uma criança, um bebé ou um amigo. Chegam pedidos de ajuda de
dezenas de pessoas, muitos deles são falsos, outros não têm razão de ser e
outros ainda são mesmo pura maldade.
A maior parte das pessoas não
percebe a sua inutilidade, nem tão pouco condena a sua falsidade e adere
imediatamente sem sequer tentar perceber de onde vêm, de quem são ou se são
mesmo precisos…
Foi o que aconteceu, por exemplo,
a semana passada no Hospital de Ponta Delgada, com a resposta a um pedido de
sangue para uma menina, que depois de ser partilhado e espalhado no Facebook,
obrigou uma responsável pelo serviço de hematologia, a explicar o trabalho que
estava a ser feito e a complicação que gerou o pedido efectuado na rede social.
Este foi um caso de que tivemos notícia. Mas quantos mais
existirão? Desconfio que muitos. Vive-se um tempo de afã mediático de
corresponder a todo o tipo de ajuda, um tempo que vai em crescendo até ao
Natal, um tempo que muitas vezes, como neste caso, vai complicando mais a vida
de quem trabalha todos os dias em lugares reais, com doenças e situações de
vidas, que nada têm de virtuais.
Acho mesmo que muitas vezes a facilidade de se ser solidário
através de um clique, de uma partilha ou
de um “like” deita por terra a condição primeira do princípio de
solidariedade, que eu considero que é o de se ser solidário porque é mesmo
preciso, porque não há outra resposta e não porque fica bem que se saiba que
ajudei este, aquele e o outro, que fiz isto ou dei aquilo.
O Facebook, rede social de que sou utilizadora, tem vindo a
trazer também essa quantidade absurda de acções inúteis, que acabam por se
desenvolver num ciclo vicioso e na estúpida ideia de que é possível mudar o
mundo naquele espaço.
Parece que tudo pode ser resolvido com um “like”; as
tristezas e derrotas diárias resolvem-se com uma partilha e, muitas vezes, nas
discussões, até parece que não se pensa que se pode (mesmo) morrer de repente.
O Facebook não imortaliza ninguém. Desengane-se que pense assim.
Um “cartoon” que vi há poucos dias mostrava um menino a
pedir dinheiro a uma senhora para ajudar uma família sua conhecida. A resposta
da senhora não se fez esperar: “Meu querido, eu já fiz like no Facebook!”
Há poucas semanas o Facebook foi invadido por fotografias de
girafas. O que podia, à primeira vista, parecer um repentino ataque de amor
pelo animal, mais não era do que a “penitência” por errar na resposta a uma
charada.
Dizem que a brincadeira foi criada por americanos e que
funciona assim: um amigo posta uma charada, outro amigo tem que mandar a
resposta por mensagem privada. Se errar tem que mudar a foto de perfil para a
de uma girafa durante três dias seguidos.
A charada é esta: “São 3h da manhã, a campainha toca e tu
acordas. Visitas inesperadas. São os teus pais. Têm fome. Na mesa da cozinha
tens doce de morango, mel, vinho, pão e queijo. O que vais abrir primeiro?”
A resposta correta era “os olhos”, mas é claro que
entretanto dezenas de teorias já foram desenvolvidas sobre o assunto, sendo a
mais insólita, a de um pastor de uma igreja brasileira, que considerou ser uma
estratégia satânica para forçar alianças entre os utilizadores do Facebook e o
diabo.
Ele há coisas que nem o diabo aguenta. Seja como for: não
entrei na charada e não mudei a foto de perfil mas mudaria sem problemas, mesmo
que isso pudesse implicar um encontro inesperado com satã. Gosto de rir. E nestas
coisas, apesar de tudo, rir ainda é o melhor remédio.
Serenamente, AO 19 de Novembro.
terça-feira, novembro 12, 2013
A Popota, a Margarida e o Natal na Venezuela
Na semana que passou, o Presidente venezuelano Nicolás Maduro fez um decreto para antecipar a quadra natalícia. Como argumentos usou os factos de que a “felicidade, a natividade e a chegada de Jesus são o melhor remédio”. Já este mês o governo da Venezuela pagará dois terços do subsídio de natal, o que fará certamente as pessoas felizes…
Há quem defenda que esse gesto insólito é apenas uma tentativa de herdar o enorme capital de simpatia que Chávez tinha entre o seu Povo e que foi por isso que já, anteriormente, o Presidente Maduro criou o Ministério da Felicidade Suprema.
Agora, além destas duas iniciativas, Maduro declarou também que o dia 8 de Dezembro será o “dia da lealdade e do amor ao Comandante Supremo Hugo Chávez”. Porém, coincidência das coincidências, o dia 8 de Dezembro é também dia de eleições municipais…
Por cá, já temos a Popota aos saltos na televisão, a dizer que o natal é pop, com ela no top. Não sei o que é um natal pop, nem sequer top, mas tudo bem… a vida era melhor sem a Popota…
Ao contrário, podíamos era ter um dia daqueles, lá da Venezuela. Um dia “da lealdade” ou da “felicidade”, mas não temos e como não temos, cá nos vamos amanhando com os dias e com as manhãs que temos. E todas as manhãs temos, sem aviso nem decreto, manhãs de parvoíce nos canais de TV nacionais.
Ora, foi precisamente numa dessas ditas manhãs, (entre os olhos de vidro de uma senhora que esteve no programa do Goucha e que canta muito bem, ou o senhor gago que faz filetes com arroz de tomate muito bons no programa da Júlia Pinheiro e a gaguez nem se nota) que apareceu a Margarida Rebelo Pinto.
A Margarida Rebelo Pinto é uma espécie de Popota, mas anorética. Têm a mesma escassez de vocabulário e o mesmo problema de estupidez, com a diferença de que a Popota é mais cor-de-rosa e a Margarida é mais branca. De resto são iguais, até no que transmitem: nada.
Desde a polémica em 2006, com a acusação de auto plágio e erros ortográficos nos seus livros, que eu não ouvia falar tanto da Margarida.
Julguei mesmo que finalmente em Portugal já se tinha chegado à conclusão de que a Margarida, essa cópia forjada de Paulo Coelho, que escreve para meia dúzia de distraídos que passam nas lojas de aeroporto e querem adormecer nos aviões, não era uma escritora: era um produto. Uma “coitadinha” que a literatura portuguesa deixou inventar, por falta de escrúpulo e algum remorso.
À escala do senhor gago que faz filetes com arroz de tomate muito bons no programa da Júlia Pinheiro e a gaguez nem se nota, a Margarida Rebelo Pinto que escreve livros muito maus e nota-se, apareceu num programa da RTP/informação, o “Bom dia, Portugal” e toca de dizer que sente “repulsa” por quem se manifesta contra o Governo, estando até triste com a falta de civismo e responsabilidade civil de quem interrompe o trabalho de quem governa para protestar…
Ainda estou na dúvida do que é pior: se é a Margarida ter tido microfone para apresentar o seu livro, se é a Margarida ter dito o que disse…
Num caso ou noutro, o assunto só se resolve mandando a Margarida e a Popota para a Venezuela, com chegada prevista para o dia 8 de Dezembro, esse dia em que se celebrará a lealdade e o amor ao Comandante Supremo Hugo Chávez.
Há lá coisa mais saborosa do que festejar estes valores com uma Popota aos saltos? E uma Margarida cheia de teorias? Não vislumbro e não vislumbrando, hoje, é assim que acabo. Serenamente.
[ Serenamente, jornal Açoriano Oriental, edição de 12 de Novvembro de 2013]
[ Serenamente, jornal Açoriano Oriental, edição de 12 de Novvembro de 2013]
quinta-feira, novembro 07, 2013
Um Dó Li Tá - Opinião António Lobo Antunes na Revista Visão
Perguntam-me muitas vezes por que motivo nunca falo do governo nestas crónicas e a pergunta surpreende-me sempre. Qual governo? É que não existe governo nenhum. Existe um bando de meninos, a quem os pais vestiram casaco como para um baptizado ou um casamento. Claro que as crianças lhes acrescentaram um pin na lapela, porque é giro
- Eh pá embora usar um pin?
que representa a bandeira nacional como podia representar o Rato Mickey
- Embora pôr o Rato Mickey?
mas um deles lembrou-se do Senhor Scolari que convenceu os portugueses a encherem tudo de bandeiras, sugeriu
- Mete-se antes a bandeira como o Obama
e, por estarem a brincar às pessoas crescidas e as play-stations virem da América, resolveram-se pela bandeirinha e aí andam, todos contentes, que engraçado, a mandarem na gente
- Agora mandamos em vocês durante quatro anos, está bem?
depois de prometerem que, no fim dos quatro anos, comem a sopa toda e estudam um bocadinho em lugar de verem os Simpsons. No meio dos meninos há um tio idoso, manifestamente diminuído, que as famílias dos meninos pediram que levassem com eles, a fim de não passar o tempo a maçar as pessoas nos bancos, de modo que o tio idoso, também de pin
- Ponha que é curtido, tio
para ali anda a fazer patetices e a dizer asneiras acerca de Angola, que os meninos acham divertidas e os adultos, os tontos, idiotas. Que mal faz? Isto é tudo a fazer de conta.
Esta criançada é curiosa. Ensinaram-me que as pessoas não devem ser criticadas pelos nomes ou pelo aspecto físico mas os meninos exageram, e eu não sei se os nomes que usam são verdadeiros: existe um Aguiar Branco e um Poiares Maduro. Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé? É que tenho a impressão de estar num jogo de índios e menos vinho não lhes fazia mal. No lugar deles arranjava outros pseudónimos: Touro Sentado, Nuvem Vermelha, Cavalo Louco. Também é giro, também é americano, pá, e, sinceramente, tanto álcool no jardim escola preocupa-me. A ASAE devia andar de olho na venda de espirituosas a menores. Outra coisa que me preocupa é a ignorância da língua portuguesa nos colégios. Desconhecem o significado de palavras como irrevogável. Irrevogável até compreendo, uma coisa torcida, e a gente conhece o amor dos pequerruchos pelos termos difíceis, coitadinhos, não têm culpa, mas quando, na Assembleia, um deles declarou
- Não pretendo esconder nem ocultar
apesar da palermice me enternecer alarmou-me um nadita, mau grado compreender que o termo sinónimo seja complicado para alminhas tão tenras. Espíritos tortuosos ou manifestamente mal formados insinuam, por pura maldade, que os garotos mentem muito, o que é injusto e cruel. Eles, por inevitável ingenuidade, não mentem nem faltam às promessas que fazem: temos de levar em conta a idade e o facto da estrutura mental não estar ainda formada, e entender que mudar constantemente de discurso, desdizer-se, aldrabar, não possui, na infância, um significado grave. A irrealidade faz parte dos cérebros em evolução e, com o tempo, hão-de tornar-se pessoas responsáveis: não podemos exigir-lhes que o sejam já, é necessário ser tolerante com os pequerruchos, afagá-los, perdoar-lhes. Merecem carinho, não crítica, uma festa na cabecinha do garoto que faz de primeiro-ministro, outra na menina que eles escolheram para as Finanças e por aí fora. Não é com dureza desnecessária e espírito exageradamente rígido que os educamos. No fundo limitam-se a obedecer a uns senhores estrangeiros, no fundo, tão amorosos, que mal fazem eles para além de empobrecerem a gente, tirarem-nos o emprego, estrangularem-nos, desrespeitarem-nos, trazerem-nos fominha, destruírem-nos? São miúdos queridos, cheios de boa vontade, qual o motivo de os não deixarmos estragar tudo à martelada? Somos demasiado severos com a infância, enervam-nos os impetuosos que correm no meio das mesas dos restaurantes, aos gritos, achamos que incomodam os clientes, a nossa impaciência é deslocada. Por trás deles há pessoas crescidas a orientarem-nos, a quem tentam agradar como podem à custa daqueles que não podem. Os portugueses, e é com mágoa que escrevo isto, têm sido injustos com a infância. Deixem-nos estragar, deixem-nos multiplicar argoladas, deixem-nos não falar verdade: faz parte da aprendizagem das mulheres e homens de amanhã. Sigam o exemplo do Senhor Presidente da República que paternalmente os protege, não do senhor Ex-Presidente da República, Mário Soares, que de forma tão violenta os ataca e, se vos sobrar algum dinheiro, carreguem-lhes os telemóveis para eles falarem uns com os outros acerca da melhor forma de nos deixarem de tanga. Qual o problema se há tanto sol neste País, mesmo que não esteja lá muito certo de o não haverem oferecido aos alemães? E, de pin no casaco que nos fanaram, isto é, de pin cravado na pele
(ao princípio dói um bocadinho, a seguir passa)
encorajemos estes minúsculos heróis com um beijinho, cheio de ternura, nas testazitas inocentes.
Ler mais: http://visao.sapo.pt/um-do-li-ta=f756315#ixzz2k0b5U7bU
terça-feira, novembro 05, 2013
Que nos valha o Benfica
Maria do Carmo, 52 anos, desempregada de uma loja de fazendas conta-me, no seu português “lisboeta ferrenho”, que se não fossem os jogos do Benfica, que vai vendo com o José Armando, aos fins de semana, na televisão, já tinha dado duas bolachas num romeno, “à moda do Carrilho”, explica, sorrindo, toda enfiada no seu cabelo farto e branco, como uma bolinha de carne rosada. “Para mim, não tem nada que enganar” continua, “a culpa é da Bárbara Guimarães…”
Como Maria do Carmo, há centenas de senhoras em Lisboa, que nas filas do autocarro, reclamam com a chegada de senhoras romenas, com bilhetes, a pedir dinheiro para mandar buscar os filhos ou para comprar farinha e leite. “São essas”, dizem, “que nos dão cabo do pouco dinheiro que temos. Andam por aí a roubar a esmola dos portugueses.”
Sente-se, a caminhar pelas ruas de Lisboa, por estes dias, um certo desconforto, um não sei quê de azedume, que por um lado gasta e farta a alma, e por outro lado, impacienta…
Enquanto as notícias trazem descobertas sobre a “Maria” da Grécia, a reabertura do processo da criança inglesa desaparecida no Algarve, as brigas do casal Guimarães/Carilho ou a história da funcionária que “por amor” desviou 250 mil euros da Conservatória de Braga, um “bando de meninos”, como lhes chamou António Lobo Antunes, consola-se a dar cabo deste país.
Quando Paulo Portas anuncia que “Portugal pode estar a poucas semanas” de sair oficialmente da recessão técnica; logo aparecem, não sei quantos comentadores, a encher as televisões, as mesas redondas, para nos explicar melhor o que disse Paulo Portas. A nós todos, (tolinhos) que podemos não ter entendido bem…
Para onde vamos? Não sei.
Olho para os canais de televisão, nestes dias que passam, sem paciência. Oiço os debates na Assembleia da República e sinto que a única preocupação dos “principais partidos” são os adversários internos e que aos outros, mais pequenos, o que interessa sobretudo é manter o “status quo”. Gritam muito, fazem muito barulho, dizem “portuguesas e portugueses” mas diferem em “zero” dos outros todos.
Vejo um grupo de políticos medíocres, cuja única ambição é ficar no poder, não pelo mérito, mas sim, e sempre, pela inexistência de alternativa. Acham-se únicos, cumprem serviços mínimos, exigem que uns corem de vergonha e peçam desculpa, como se o rubor das faces ou o pedido de desculpas resolvesse alguma coisa.
Vivemos acima do que podíamos ter vivido, explicam alguns comentadores, por onde vou passando, em zapping. (Não faltava mais nada, a não ser que a culpa fosse nossa).
Ninguém apresenta propostas, soluções ou projetos e a mediocridade cresce, como uma sombra, entre os discursos, cuja única finalidade é aniquilar o adversário, que não estando com eles, está (dedução lógica) contra eles. É claro.
O cenário é este e a miséria imensa. A paciência não pode sustentar tanto desengano, a alma (essa coisa que fica entre os olhos e o que se vê, de facto) não aguenta mais. De modo que o que se vai esperando é que o Benfica vá dando umas alegrias à Senhora Maria do Carmo e ao seu José Armando. Com sorte ela esquece os pobres dos romenos e não dá corda à novela “Carrilho/Guimarães”. É que novela por novela, antes rir livremente com coisas boas como o Benfica.
Serenamente, AO, 5 de Novembro
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