terça-feira, novembro 19, 2013

Mudar o mundo no Facebook


Circulam nos emails e nas redes sociais à velocidade da solidariedade de quem os recebe. São pedidos de sangue de tipo raro, para uma criança, um bebé ou um amigo. Chegam pedidos de ajuda de dezenas de pessoas, muitos deles são falsos, outros não têm razão de ser e outros ainda são mesmo pura maldade.
A maior parte das pessoas não percebe a sua inutilidade, nem tão pouco condena a sua falsidade e adere imediatamente sem sequer tentar perceber de onde vêm, de quem são ou se são mesmo precisos…
Foi o que aconteceu, por exemplo, a semana passada no Hospital de Ponta Delgada, com a resposta a um pedido de sangue para uma menina, que depois de ser partilhado e espalhado no Facebook, obrigou uma responsável pelo serviço de hematologia, a explicar o trabalho que estava a ser feito e a complicação que gerou o pedido efectuado na rede social.
Este foi um caso de que tivemos notícia. Mas quantos mais existirão? Desconfio que muitos. Vive-se um tempo de afã mediático de corresponder a todo o tipo de ajuda, um tempo que vai em crescendo até ao Natal, um tempo que muitas vezes, como neste caso, vai complicando mais a vida de quem trabalha todos os dias em lugares reais, com doenças e situações de vidas, que nada têm de virtuais.
Acho mesmo que muitas vezes a facilidade de se ser solidário através de um clique, de uma partilha ou  de um “like” deita por terra a condição primeira do princípio de solidariedade, que eu considero que é o de se ser solidário porque é mesmo preciso, porque não há outra resposta e não porque fica bem que se saiba que ajudei este, aquele e o outro, que fiz isto ou dei aquilo.
O Facebook, rede social de que sou utilizadora, tem vindo a trazer também essa quantidade absurda de acções inúteis, que acabam por se desenvolver num ciclo vicioso e na estúpida ideia de que é possível mudar o mundo naquele espaço.
Parece que tudo pode ser resolvido com um “like”; as tristezas e derrotas diárias resolvem-se com uma partilha e, muitas vezes, nas discussões, até parece que não se pensa que se pode (mesmo) morrer de repente. O Facebook não imortaliza ninguém. Desengane-se que pense assim.
Um “cartoon” que vi há poucos dias mostrava um menino a pedir dinheiro a uma senhora para ajudar uma família sua conhecida. A resposta da senhora não se fez esperar: “Meu querido, eu já fiz like no Facebook!”
Há poucas semanas o Facebook foi invadido por fotografias de girafas. O que podia, à primeira vista, parecer um repentino ataque de amor pelo animal, mais não era do que a “penitência” por errar na resposta a uma charada.
Dizem que a brincadeira foi criada por americanos e que funciona assim: um amigo posta uma charada, outro amigo tem que mandar a resposta por mensagem privada. Se errar tem que mudar a foto de perfil para a de uma girafa durante três dias seguidos.

A charada é esta: “São 3h da manhã, a campainha toca e tu acordas. Visitas inesperadas. São os teus pais. Têm fome. Na mesa da cozinha tens doce de morango, mel, vinho, pão e queijo. O que vais abrir primeiro?”
A resposta correta era “os olhos”, mas é claro que entretanto dezenas de teorias já foram desenvolvidas sobre o assunto, sendo a mais insólita, a de um pastor de uma igreja brasileira, que considerou ser uma estratégia satânica para forçar alianças entre os utilizadores do Facebook e o diabo.

Ele há coisas que nem o diabo aguenta. Seja como for: não entrei na charada e não mudei a foto de perfil mas mudaria sem problemas, mesmo que isso pudesse implicar um encontro inesperado com satã. Gosto de rir. E nestas coisas, apesar de tudo, rir ainda é o melhor remédio.


Serenamente, AO 19 de Novembro.

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