Circulam nos emails e nas redes
sociais à velocidade da solidariedade de quem os recebe. São pedidos de sangue
de tipo raro, para uma criança, um bebé ou um amigo. Chegam pedidos de ajuda de
dezenas de pessoas, muitos deles são falsos, outros não têm razão de ser e
outros ainda são mesmo pura maldade.
A maior parte das pessoas não
percebe a sua inutilidade, nem tão pouco condena a sua falsidade e adere
imediatamente sem sequer tentar perceber de onde vêm, de quem são ou se são
mesmo precisos…
Foi o que aconteceu, por exemplo,
a semana passada no Hospital de Ponta Delgada, com a resposta a um pedido de
sangue para uma menina, que depois de ser partilhado e espalhado no Facebook,
obrigou uma responsável pelo serviço de hematologia, a explicar o trabalho que
estava a ser feito e a complicação que gerou o pedido efectuado na rede social.
Este foi um caso de que tivemos notícia. Mas quantos mais
existirão? Desconfio que muitos. Vive-se um tempo de afã mediático de
corresponder a todo o tipo de ajuda, um tempo que vai em crescendo até ao
Natal, um tempo que muitas vezes, como neste caso, vai complicando mais a vida
de quem trabalha todos os dias em lugares reais, com doenças e situações de
vidas, que nada têm de virtuais.
Acho mesmo que muitas vezes a facilidade de se ser solidário
através de um clique, de uma partilha ou
de um “like” deita por terra a condição primeira do princípio de
solidariedade, que eu considero que é o de se ser solidário porque é mesmo
preciso, porque não há outra resposta e não porque fica bem que se saiba que
ajudei este, aquele e o outro, que fiz isto ou dei aquilo.
O Facebook, rede social de que sou utilizadora, tem vindo a
trazer também essa quantidade absurda de acções inúteis, que acabam por se
desenvolver num ciclo vicioso e na estúpida ideia de que é possível mudar o
mundo naquele espaço.
Parece que tudo pode ser resolvido com um “like”; as
tristezas e derrotas diárias resolvem-se com uma partilha e, muitas vezes, nas
discussões, até parece que não se pensa que se pode (mesmo) morrer de repente.
O Facebook não imortaliza ninguém. Desengane-se que pense assim.
Um “cartoon” que vi há poucos dias mostrava um menino a
pedir dinheiro a uma senhora para ajudar uma família sua conhecida. A resposta
da senhora não se fez esperar: “Meu querido, eu já fiz like no Facebook!”
Há poucas semanas o Facebook foi invadido por fotografias de
girafas. O que podia, à primeira vista, parecer um repentino ataque de amor
pelo animal, mais não era do que a “penitência” por errar na resposta a uma
charada.
Dizem que a brincadeira foi criada por americanos e que
funciona assim: um amigo posta uma charada, outro amigo tem que mandar a
resposta por mensagem privada. Se errar tem que mudar a foto de perfil para a
de uma girafa durante três dias seguidos.
A charada é esta: “São 3h da manhã, a campainha toca e tu
acordas. Visitas inesperadas. São os teus pais. Têm fome. Na mesa da cozinha
tens doce de morango, mel, vinho, pão e queijo. O que vais abrir primeiro?”
A resposta correta era “os olhos”, mas é claro que
entretanto dezenas de teorias já foram desenvolvidas sobre o assunto, sendo a
mais insólita, a de um pastor de uma igreja brasileira, que considerou ser uma
estratégia satânica para forçar alianças entre os utilizadores do Facebook e o
diabo.
Ele há coisas que nem o diabo aguenta. Seja como for: não
entrei na charada e não mudei a foto de perfil mas mudaria sem problemas, mesmo
que isso pudesse implicar um encontro inesperado com satã. Gosto de rir. E nestas
coisas, apesar de tudo, rir ainda é o melhor remédio.
Serenamente, AO 19 de Novembro.
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