terça-feira, setembro 24, 2013

O tempo mostra o amigo

Imagino que a ambição máxima dos dirigentes laranja, de acordo com as parcas propostas para as autarquias nos Açores, não vá muito além, da tentativa de manter as Câmaras Municipais que detêm e do repouso dos já tradicionais lugares que ocupam no parlamento açoriano.
As intervenções públicas de Duarte Freitas deixam, de facto, enormes dúvidas sobre o seu pensamento político e sobre a existência de causas no seu partido, se é que uma e outra coisa existem.
Duarte Freitas continua a gerir o PSD como o Portugal colonial geria o corpo de engenharia que, ao tempo, tinha na Índia. Diz-se que eram vinte, os oficiais sem um único soldado para amostra. De modo que o melhor mesmo era não ter ideias nem pensar em obras porque engenheiro que se prezasse rabiscava, mas não petiscava. O resto é o que nos fala a história: como Portugal nunca se livrou do traço elitista dos seus engenheiros, a velha colónia acabou por se livrar de Portugal. Parece-me, assim, que salvo as distâncias e as circunstâncias, a dificuldade na liderança social-democrata é da mesma ordem, ou seja, como o líder não consegue acertar o passo ao seu “estado-maior”, os militantes vão mudando de partido, até ao inevitável dia em que alguém mude a liderança.
Mas como o mal vem sempre bem acompanhado, não deixa de ser caricato e até mesmo pitoresco, ouvir Duarte Freitas falar das “boas finanças” da Câmara Municipal de Vila do Porto, por exemplo. Aguardo com serenidade que até ao final da campanha eleitoral, o mesmo Duarte Freitas apareça ao lado de Rui Melo, a elogiar-lhe qualidades como a boa gestão dos recursos financeiros públicos…
Aguardo mas não me espanto (muito) que não apareça. O presidente do PSD/Açores sabe que no seu partido todos têm um projecto pessoal e ainda por cima divergente dos restantes.
Por outras palavras, o PSD segue à tabela e à risca a estratégia de acrescentar água à sopa, para repetir a mesma dose, na mesma tigela, a outros convivas, sem alguém se dar ao trabalho de, ao menos, mudar a receita, que é como quem diz, de fazer diferente e pensar nos 19 concelhos dos Açores e em todas as suas freguesias de forma diferenciada e específica.
Em Ponta Delgada, por exemplo, se o Governo faz uma Gala de desporto, a autarquia acrescenta mais 10 atletas e faz outra; se o Governo inaugura uma biblioteca, a autarquia inaugura um centro de estudos; se o Governo faz uma estrada, a autarquia acrescenta dez metros na intenção de fazer uma radial.
Não tem havido pois (mais) tempo para apresentar ideias diferentes e concretas para Ponta Delgada, porque se vive nesta contínua competição, e quando assim não é, governa-se a autarquia, como aconteceu nos últimos meses, plagiando ideias do candidato do PS/Açores, nas próximas eleições de 29 de Setembro, nalgumas disfarçando, noutras acrescentando um algarismo, um metro ou uma vírgula.
Com a limitada ideia de “Um amigo” que não tem “nada a ver com o Governo de Passos Coelho”( versão B) mas que foi seu mandatário, José Manuel Bolieiro esconde, à boa moda do seu líder, que não tem objectivos para Ponta Delgada e evita o trabalho que dá “ser diferente”.
Talvez por isso, já se diga por aí que a geração de Freitas e Bolieiro, no PSD/Açores, passa despercebida em silêncio, mas quando fala, não há um amigo que aguente.
Seja como for, lá diz o provérbio que “O tempo mostra o amigo”, sendo certo que, na minha opinião, mostra melhor que o cartaz por mais cartazes que se pendurem em toda a parte.

Serenamente, AO 24 de Setembro de 2013

terça-feira, setembro 17, 2013

E Antero de Quental?






Não deixa de ser estranho que a Câmara Municipal de Ponta Delgada tenha abandonado a memória de Antero de Quental, quando se compara, por exemplo, com Natália Correia, a quem a edilidade dedicou a semana que passou, assinalando assim os seus 90 anos de nascimento, com várias actividades.
Bem sei que não é costume assinalar-se datas que não são “redondas” mas estranho (sempre) que a cidade de Ponta Delgada nunca tenha querido assumir Antero de Quental como sendo daqui, desta nossa cidade, criando, por exemplo, na casa onde nasceu, um espaço museológico de referência.
Todas as cidades do mundo celebram os seus maiores.
Na Praia da Vitória temos Vitorino Nemésio, ainda há dias referido, por Roberto Monteiro, como “pilar da cultura da Praia da Vitória”; na Horta temos Manuel D´Arriaga, em Lisboa, Fernando Pessoa e Amália Rodrigues, no Pico, em São Roque do Pico, o prémio literário Almeida Firmino. Em Ponta Delgada temos Natália Correia, sim senhores, mas temos também Antero de Quental. E a duplicidade de critérios no tratamento de uma e de outra figura, incomoda qualquer um que pense nisso por um instante.
É que, se por um lado se homenageia “a feiticeira cotovia”, tendo inclusivamente sido descerrada uma escultura, em sua homenagem a semana passada, por outro lado chega-se ao ponto de permitir que o banco, onde Antero de Quental se suicidou esteja, por estes dias, arredado do seu lugar, servindo o espaço que ocupava, para estaleiro das obras do campo de São Francisco.
Talvez a razão deste acontecimento seja mesmo a inexistência de qualquer critério e a homenagem que agora se prestou a Natália Correia tenha sido, nada mais, nada menos do que o afã mediático para que se queda o espírito humano sempre que há campanha eleitoral.
De uma ou de outra forma, mas dando, ainda assim, o benefício da dúvida, é caso para congratular a autarquia pela iniciativa de homenagear a escritora de “O sol na noite e o luar nos dias”, lamentando, contudo, o esquecimento a que têm votado Antero de Quental.
A cidade de Ponta Delgada que, de Antero tem nome de escola e de avenida, vem referida em vários documentos, páginas na internet e outros suportes que existem sobre o Homem e a sua Obra. Aqui nasceu a 18 de Abril de 1842 e aqui morreu a 11 de Setembro de 1891.
Em Vila do Conde, onde viveu 10 anos, foi inaugurado um Centro de Estudos Anterianos, em Julho passado.
O Governo dos Açores criou um Roteiro Cultural Antero de Quental, na cidade, que parte da casa onde nasceu e faz um percurso por 11 lugares diferentes, entre eles, o monumento funerário, no cemitério de São Joaquim.
A 11 de Setembro deste ano assinalaram-se 122 anos sobre a sua morte. Não fora a iniciativa do Instituto Cultural de Ponta Delgada, a 12 de Setembro, “Novas Conferências do Casino” por Miguel Soares de Albergaria e as referências feitas a Antero quer pelo Professor Doutor Machado Pires, quer por José Contente na Convenção Autárquica que o PS organizou em Ponta Delgada e a data nem tinha sido (sequer) lembrada.
Se o motivo é ter-se suicidado, já deviam tê-lo posto de lado. Natália Correia escreveu “o itinerário é interior”. O resto, senhoras e senhores, é inércia, poeira e algum preconceito.

Mariana Matos


Por decisão da autora este artigo não cumpre as normas do Novo Acordo Ortográfico em vigor.