terça-feira, junho 25, 2013

PSD/Á(rabe)



Constituindo-se como o momento mais caricato (e até certo ponto vexatório) a que já assistimos nos debates parlamentares, na Região Autónoma dos Açores, digno mesmo de figurar, na primeira página, de um qualquer anedotário regional, o Programa do PSD/Açores para a criação de Auto-Emprego Jovem (PAEJ) é uma das mais reveladoras provas da mediocridade de alguns membros da classe política regional.
Mediocridade que continua a passar impune, sem que ninguém tire verdadeiras consequências disso. É lamentável.
Se o PSD/Açores não encontrou em nenhuma das nossas ilhas um furo de petróleo, este Programa que foi anunciado no passado mês de Abril, no Pico, depois de 3 dias a debater, em Jornadas Parlamentares, soluções para o desemprego jovem é, nada mais, nada menos, do que uma piada de mau-gosto, feita à custa dos problemas das vidas dos outros…
Se não estivéssemos a falar de políticos açorianos com responsabilidades que, amiúde, se proclamam como o “maior partido da oposição” e até “pai da Autonomia” podíamos pensar que o PSD/Açores, pela voz do líder da JSD/Açores e, deputado pelo 2º mandato consecutivo, estava a sofrer de uma espécie de síndrome de “Lawrence das Arábias”…
Mas não. À parte a grandeza do partido, ou mesmo a paternidade da Autonomia e de outras efemeridades do tipo, que agora interessam pouco, a não ser pela referência das “qualidades” com que se gostam de auto condecorar, resta um certo laivo de desmazelo, um certo afã mediático e uma certa queda para a tolice.
A Proposta do PSD/Açores, para quem não ouviu o debate, já que não saiu nota do Gabinete de Comunicação Social deste partido, visava promover o Auto-Emprego Jovem em actividades tão açorianas como: extração de hulha e lenhite; extração de petróleo bruto e gás natural; preparação de minérios metálicos; fabricação de coque, produtos petrolíferos refinados e aglomerados de combustíveis…
Afinal, como se percebe, não foi um contributo para a criação de Auto-Emprego jovem, ou menos jovem, que os senhores deputados do PSD/Açores deram à sociedade açoriana. Não senhores. Mas, mesmo assim, não deixaram de dar qualquer coisa. E o que deram então?
Ora deram pior fama à classe política, pior fama aos deputados, pior imagem à política, razão a quem diz que há políticos que não servem para nada…
O que aconteceu a semana passada no Parlamento Regional foi uma ofensa aos Açorianos e é deveras lamentável que um Partido como o PSD/Açores tenha feito esta triste figura sobre um assunto tão sério como o Desemprego.
Ainda assim tiveram sorte. Todos os grupos e representações parlamentares votaram por unanimidade o Requerimento que a bancada do PSD/Açores apresentou para que o diploma baixasse à comissão e fosse de novo reapreciado.
O tempo dirá o que trará de novo o PAEJ, esperando-se, porém, que não volte a ser nada do género. É que na luta e no trabalho diário pela criação de melhores condições de emprego para todos os cidadãos açorianos devem estar empenhados todos os políticos açorianos e esta temática, como outras, é certo, não pode, nem deve servir para “brincadeirinhas” de mau gosto.

Aos políticos cumpre o dever de zelar pelos interesses do seu Povo. Se há petróleo, digam onde é. Se não há façam o vosso trabalho que é para isso que são pagos.

Serenamente, no jornal Açoriano Oriental, a 25 de Junho de 2013

terça-feira, junho 18, 2013

O pai, a chuva e o papa

Não há nada mais sádico do que ouvir o primeiro-ministro de Portugal dizer na televisão que sim, que tem dinheiro, mas que só vai pagar os subsídios de férias em novembro…
Parece que Passos Coelho perdeu o juízo e é uma pena que não siga os conselhos do pai que, no fim do mês de Maio, foram notícia.
“Isto não tem conserto, entrega isto”, disse António Passos Coelho, em entrevista ao jornal i, explicando que não queria ver o filho nos meandros da política, porque o país não tem conserto e não é de agora.
Pedro Passos Coelho comentou com a afirmação: “Não comento o meu pai”, em Bruxelas. Talvez o primeiro-ministro de Portugal pudesse ter usado a desculpa da chuva, dizendo qualquer coisa como “A culpa é da chuva. Não chove e o meu pai aparece nos jornais a falar de mim. Eu tenho pai.” Ou então: “A culpa é da chuva. Chove e o meu pai aparece nos jornais a falar de mim. Eu tenho pai.” Insisto no “Eu tenho pai” porque só pode ter sido essa a relação da “aparição” do pai.
Podiam os portugueses pensar que o primeiro-ministro tinha aparecido ao mundo num pacotinho de sumo Tang ou num saquinho de qualquer pó, tipo talco. Não, o primeiro-ministro tem pai. Uau. E o que é que muda? Nada!
De António Passos Coelho nunca mais se ouviu falar. Dias depois foi a vez de Nossa Senhora de Fátima e depois a chuva, essa água maldita que deu cabo dos investimentos do país. Antes disso tudo, do pai, da santa e dos malefícios das águas do céu, a chuva era uma coisa maravilhosa para a Ministra Assunção Cristas, que era até, como se assumiu uma pessoa de fé, esperando que chovesse para melhorar as colheitas.
Uma pessoa que queira escrever a sério sobre este país tem cada vez mais dificuldades.  Cavaco Silva não ajuda nada. No dia 10 de Junho escolheu o tema Agricultura, tentando contrariar algumas ideias sobre a sua intervenção nessa área.
Só é um bom tema para quem se tenha esquecido dos seus 10 anos de tempo perdido, de dinheiro desaparecido e de oportunidades perdidas. Quem não se lembra aplaudirá de pé, até se for preciso, e não pagará como o pobre cidadão em Elvas, 1300 euros, por ter chamado os bois pelos seus nomes próprios: “Palhaço”- gritou o homem e não é que é mesmo?
De cá, na cerimónia que por cá se repercute, qual festa em colónia, o seu ilustre representante também não acertou no tema, falou do relacionamento entre Lisboa e os Açores e do necessário que é haver boas relações entre Governos.
Era escusado. Afinal nada tem dito sobre a falta recorrente e insistente de respostas a problemas dos Açores por resolver em Lisboa, pelo que podia ter-se reservado da lição de moral que quis dar sem razão.
E por fim, não posso deixar de referir o “fait-diver” da semana. O papa Francisco cometeu o erro de comparar a língua portuguesa com espanhol mal falado. Brincava o papa numa audiência com Durão Barroso. Logo as sinetas dos puristas fizeram soar o mais alto dos escândalos. Coitado do papa Francisco. Se tivesse comparado ao brasileiro (ou português do brasil) já não havia, por certo, problema... Hipocrisias.

Serenamente, Açoriano Oriental, 18 de Junho


terça-feira, junho 11, 2013

O Mau Tempo no País, o Dilúvio na Economia e os Disparates



A passada sexta-feira, que no meio empresarial muitas vezes é conhecida por casual-friday (dia da semana em que o ambiente empresarial, por opção própria, é menos formal, sobretudo na indumentária), passará a ser conhecida como silly-Friday (sexta-feira do disparate).

O dia começou mal com os juros da dívida portuguesa a 10 anos, novamente, a ultrapassarem os 6% (valor mais alto desde abril) e o INE a revelar que a riqueza gerada em Portugal nos primeiros 3 meses tinha decrescido, ultrapassando todas as previsões (extraordinário seria Gaspar ter acertado em alguma coisa!), no valor recorde de 4%  - a maior queda no PIB português desde a Grande Recessão.

Enquanto tudo isso se passava, o Ministro das Finanças do Governo PSD-PP apresentava no Parlamento mais um Orçamento de Estado Rectificativo que mantem e agrava a austeridade que temos vindo a sentir.
Se é certo que falar das consequências da austeridade na economia para a maior parte da população e dos economistas é “chover no molhado”, para o Ministro Gaspar não é bem assim.
O Ministro do PSD-PP dá outro sentido à minha anterior afirmação. Para este, as consequências da chuva e do banho que todos os portugueses passaram neste inverno (falo literalmente!), não só prejudicaram a economia e os Portugueses como não deixaram que o modelo de austeridade funcionasse como nos modelos de Excel do ministério das Finanças.
A minha primeira reacção foi de estupefacção. Como é que não me tinha lembrado dos efeitos macroeconómicos da chuva, do frio e do vento!?

Qual barragens cheias e eólicas a funcionar a todo o vapor, qual quê? Era óbvio, na Irlanda chove muito também e a Troika teve de salvar o país da bancarrota.

Na Serra da Estrela também chove muito e faz frio e, de facto, devido à crise económica instalada não vive lá ninguém em cima desde Viriato. Na montanha do Pico, ao que parece, acontece exatamente o mesmo.

Aliás, depois de saber que o mau tempo acelera a redução da procura interna, nomeadamente do investimento em valores perto de 4% do PIB, tenho de fazer um elogio aos últimos Governos dos Açores por terem conseguido, em 13 anos, fazer convergir a RAA em 11 p.p. com a média da União Europeia, apesar do constante mau tempo em que vivemos e das constantes calamidades que atravessamos.

Enquanto, na última sexta-feira, o Ministro das Finanças analisava a pertinência do mau tempo, no autêntico dilúvio de maus resultados económicos que tornam o novo orçamento retificativo num documento já ultrapassado, o FMI, inacreditavelmente, falava de assuntos pouco importantes como a assunção de erros nas previsões demasiado otimistas dos efeitos do programa de austeridade na Grécia e do facto de considerar que a União Europeia não está preparada para lidar com o problema das dívidas soberanas.

Enquanto o FMI e a União Europeia discutiam e trocavam acusações dos erros cometidos nos programas de assistência aos países em dificuldades, o Governo do PSD e do CDS/PP discutiam os efeitos da meteorologia na economia.

Assim vai o nosso país!


2º Disparate
Bem sabemos que nos Açores o PSD e CDS/PP estão a desenvolver um tímido esforço para descolar dos seus partidos a nível nacional, mas há limites para o ridículo e para as cortinas de fumo que tentam passar para enganar os açorianos.

A posição do PSD é muito simples e foi-me transmitida diretamente e em direto num debate na RDP por um ilustre social-democrata: “Eu não concordo com a maior parte das medidas do governo de Lisboa, mas acho muito importantes as medidas que este governo está a tomar e por isso apoio”.

No caso do CDS/PP Açores, um partido que nos Açores antes das últimas eleições regionais era um partido razoável e construtivo, agora na defesa do seu Governo da República vale tudo, sobretudo radicalizar o seu discurso sobre outros temas: o seu candidato a Ponta Delgada insulta diretamente dirigentes do PS/Açores de uma forma gratuita; a direção política do CDS/PP acusa na praça pública empresas de serem favorecidas pelo Governo dos Açores apenas porque um gerente de uma empresa concorre a uma junta de freguesia contra o candidato do CDS/PP; e chega ao cúmulo de criticar os atuais sistemas de incentivos ao investimento depois de os terem ajudado a construir de uma forma unanime.

Assim vai a nossa oposição nos Açores!

terça-feira, junho 04, 2013

Sem “pés nem cabeça”


A solução mista de circulação de trânsito e peões na rua dos Mercadores é paradigmática de algumas soluções encontradas para a cidade de Ponta Delgada, nos últimos anos…
Basta recuar a 2009 para lembrar que à data da reabertura desta rua, e a par com a justa homenagem aos calceteiros pelo seu trabalho extraordinário, a autarquia decidiu que por cima daquele belíssimo passeio circularia, além do comum cidadão, todo o tipo de trânsito…
Agora, novo caso deu à luz na cidade. Falo, claro está, das improvisadas ciclovias de Ponta Delgada que ocupam a faixa direita da estrada, entre o Clube Naval e o Forno da Cal, em São Roque, durante os fins-de-semana.
Não se pode dizer que a ideia de ter ciclovias em Ponta Delgada não é uma belíssima ideia, porque é, de facto. Porém aquelas, além de nos parecerem inseguras e absurdas, não deixam de nos fazer lembrar a solução mista da rua dos Mercadores…
Em quase todas as cidades do país há planos de redes de ciclovias urbanas, que disponibilizam aos cidadãos, inclusivamente, bicicletas na cidade, para serem usadas pelos habitantes e turistas.
Ainda recentemente, por exemplo, Torres Vedras anunciou estar a executar obras, com vista à construção de novas ciclovias e à reformulação de outras para estarem de acordo com as regras do novo código da estrada. Em homenagem ao ciclista Joaquim Agostinho, natural deste concelho, a autarquia baptizou as bicicletas de “Agostinhas”…
Quando as coisas são feitas com tempo, há possibilidade de fazê-las bem e com imaginação. Quando são feitas assim às “três pancadas”, o resultado é o que se tem visto nas últimas duas semanas: “Baias e cordinhas” a fazer de conta que se fez qualquer coisa… Uma lástima.
Podia o PSD que tem a maioria na Câmara Municipal de Ponta Delgada, há mais de uma década, ter feito um maior investimento em políticas de transportes públicos, que favorecessem a mobilidade no maior concelho dos Açores? Podia. Mas a autarquia tem sistematicamente negligenciado essa aposta, focando a sua intervenção numa política de mobilidade exclusivamente dedicada ao automóvel, nunca sendo sequer capaz de decidir a construção da tão famigerada central de camionagem ou de criar faixas de autocarros que deviam funcionar nas horas de ponta e ser melhor articuladas com os minibuses…
Já houve tempo suficiente para haver um maior investimento nesta área, incentivando transportes alternativos, como scooters e bicicletas, assim como investindo na maior utilização dos transportes públicos, juntando-se a isso investimento na qualidade das paragens de autocarros, um sistema de comunicações inteligente com informação electrónica sobre horários e percursos. Nada disto é novo. Os vereadores do PS de Ponta Delgada bem que têm insistido. Mas nada. Há muito tempo que a autarquia de Ponta Delgada se podia ter empenhado nestas e noutras soluções. Primeiro o Senhor Vice-Presidente da Câmara, José Manuel Bolieiro preferiu o Museu do Niemeyer. Agora, o Senhor Presidente da Câmara, José Manuel Bolieiro (sim, o mesmo) prefere um Pavilhão Desportivo na cidade.
Tudo por aqui é feito sem “pés nem cabeça”. Quando assim é, com mais ou menos variações, o cantor que era António de primeiro nome, já avisava: “o corpo é que paga”…

Para lá vamos…

Serenamente, AO 4 de Junho