"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
terça-feira, dezembro 04, 2012
A vaquinha e o burrinho
Há dias o papa Bento XVI anunciou ao mundo, no seu mais recente livro “A infância de Jesus” que não havia animais (a vaca e o burro) no local onde nasceu Jesus Cristo.
O mundo – apesar de estupefacto – ironizou o mais que pôde sobre o assunto. Pois é claro. O que é que isso interessa? Aos milhares de pessoas que vivem em países em guerra, aos outros tantos que têm fome e a todos os que procuram paz e tranquilidade para as suas vidas?
Não interessa nada. Mas o Papa não deixou de se preocupar com o assunto. E de fazer com que essa sua “revelação” eclodisse por toda a comunicação social mundial, como se um segredo guardado a sete chaves fosse agora posto a claro para “salvação das almas”.
A mim faz-me pouca ou nenhuma diferença se tinha animais, ou se não tinha animais, se eram burros, vacas, gatos ou galinhas, embora confesse que quando penso nisso cresça em mim um misto de revolta e algum espanto: afinal o que quer dizer o Papa com esta revelação?
Que não é digno de Jesus Cristo ter nascido num estábulo? Que por ser Jesus Cristo não podia haver lá animais e que a pena foi a Virgem Maria não poder ter sido assistida numa maternidade?
Não me “soa” bem que num momento de tantas dificuldades para todos, em todo o mundo, a grande preocupação do Papa seja fazer esta revelação e dois ou três dias depois anunciar que vai criar conta no twitter.
A minha luta é outra. Quero que as crianças que nascem na quadra de Natal e em todas as outras alturas dos anos tenham condições para viver em segurança, tenham sapatos para a chuva para ir à escola, roupa quente para não passarem frio, muita brincadeira, pai e mãe, ou só pai ou só mãe, avô e/ou avó, dinheiro para comprar um gelado, oportunidade para se sujarem de chocolate e que, pelo menos uma vez na vida, chorem de felicidade. Quero isto. E quero outras coisas que não cabem nesta página. Que tenham sopa quente e brinquem com as letras de massa ao jantar, que façam birras de quando em vez, aprendam, estudem, tenham bons médicos para tratar as suas doenças e se algumas tiverem que nascer numa casa que tenha burrinhos e vaquinhas, pois nasçam nessa casa que não lhes há-de fazer mal nenhum. Pior é serem abandonadas nas maternidades e noutros lugares. O Menino Jesus não foi abandonado.
A minha luta é terrena. De pés no chão. Eu quero que os meninos do mundo inteiro tenham estrelas, que não sejam apanhados de repente por balas perdidas e mortos, não sejam raptados, nasçam. Que nasçam meninos. Que não haja mães que tenham que interromper as gravidezes ou percam os seus filhos. Para que todos, todos os meninos possam ter colo de alguém. E todas, todas as mães (e pais) possam ver os seus filhos crescer.
Traduzido em 9 línguas, à venda em 50 países, “A infância de Jesus” é um livro que eu não vou comprar. Muito menos ler.
"Serenamente", Açoriano Oriental de hoje
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