"Em que triângulo fica o Pico?
Quereria eu que fosse no triângulo do amor, mas parece que lhe andam a desviar a bússola para outro lado mais escuro, retorcido, forçado e incerto, a cada candidato a mestre de leme que se apresenta para provas de governação. E agora até é caso para dizer que nem Berta tem uma visão aberta para o problema da navegação desta ilha que não queremos à deriva, mas ainda há quem não a entenda e desconheça a sua história marítima. E se não a desconhecem, pelo menos parece. E à mulher de César, se o não quer ser tem que parecer, dizia-se... Hoje até há oficinas de tudo ou quase tudo, para escrita criativa, para escrita de teatro, para escrita de oratória, para se ser empreendedor, para se ser o que se é e até para se ser o que não se é, pelo que é fácil arranjar um guia para a campanha pré exageradamente eleitoral em curso.
Espera-se há muito, tarda muitíssimo a achar-se, novas para a construção e para a reparação navais no Pico, e em concreto nos estaleiros navais da Madalena. (Julgo que assim se pode nomear aquela infra e desaproveitada estrutura portuária.) Pior, e fica tudo mais turvo, quando agora ouvimos a hipotética presidente do governo dos Açores a dizer que a reparação naval "seria mais uma forma de especializar os produtos oferecidos em cada ilha e, no caso do Faial, de potenciar a proximidade ao triângulo..." e etc, etc, etc... e tal por aí fora, desabridamente, que só pode ser por engano e distracção ou, quiçá, porque faltava alguém ao lado para orientar a tirada, embora tenha visto na RTP, atrás, com ar amareladamente ausente, uma conhecida figura picarota, mas sem levantar o dedo...
"Proximidade ao triângulo"... - o que poderá significar? Significa arredores?! O Faial não está no triângulo? Confesso que não tenho dormido, com este problema geográfico, pois considero que a geografia, tal como Nemésio, é muito importante por cá e que nenhum sismo ainda a modificou significativamente para colocar o Faial nos arredores do triângulo.
Construção naval é no Pico. Não como está, mas como é preciso que esteja!
Navegar vai sendo cada mais preciso.
O mestre da lancha, muitas vezes, determinava a qualidade da viagem que, de psicológica passava mesmo a real, é verdade. Quem não se lembra, a pergunta era sempre a mesma, em dia de mau tempo no Canal: quem é o mestre da lancha? É o mestre Simão! E quando assim se exclamava, crescia a confiança, o mar amainava, se não no Canal, pelo menos na angústia da viagem por fazer que, logo, logo, tendia a ficar bem mais leve e menos penosa. Era assim!
E nas viagens de agora, continuamos sempre à espera do melhor mestre para nos conduzir ao porto."
Manuel Tomás, publicado hoje no jornal "Diário Insular". Partilho porque gostei muito. E partilho com a licença do seu autor.
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