terça-feira, fevereiro 28, 2012

E se eles tivessem quebrado o vidro?



Roubada daqui


Nenhuma televisão, rádio ou jornal fez reparo disto, não usaram como argumento para justificar o cancelamento da visita de Cavaco Silva, no passado dia 16 de Fevereiro, a uma escola de Lisboa, este aspecto. Nos últimos dias até a PSP se meteu ao barulho, evocando que teriam aconselhado o Presidente da República a não ir, atropelando a primeira argumentação de um imprevisto de última hora e, assim, embaraçando o Presidente que mais uma vez teve que dizer que não dizia mais nada a propósito.
O perfil do Facebook da “Escola Secundária Artística António Arroio” mostra uma possível razão pela qual Cavaco Silva decidiu cancelar a visita: Uma caixa de vidro transparente com um cravo dentro. Por fora a inscrição: “Quebrar em caso de emergência”.
Cavaco Silva (esperto) teve medo que os jovens tivessem chegado à conclusão que era altura de quebrar o vidro e não foi lá. E se depois aquelas vozes não se calassem mais? E não sorrissem para ele? E não admitissem que ele os mandasse nascer duas vezes para serem mais honestos do que ele? Seria uma afronta. Uma falta de respeito! Um rombo (mais um) no superior interesse nacional. Terá sido então o medo do cheiro do cravo vermelho que impediu Cavaco Silva de ir à escola na manhã de 16 de Fevereiro.
A República a que preside não lhe dá nem lhe pede esse sinal. Senão vejamos: na Assembleia da República, os deputados fizeram contas à água que vão consumir. Nada de água da torneira. Água engarrafada. Mais barato. Resta saber se virá de Espanha a água. (Se for para ir de fora, venham comprá-la aos Açores).
O desemprego alastra pelo país. O Presidente da República anda em demanda de sala em sala num roteiro ao estilo “bicho de cera em casulo”, qual Santo António, dando o sermão, aos peixes.
O Governo da República avança com duas medidas contra o desemprego: o Governo vai criar gestores de carreira para os desempregados; as empresas do Estado vão ser obrigadas a incluir mulheres nos conselhos de administração e fiscalização…
O Presidente da República fala da taxa de desemprego. E diz o quê? “Estou muito surpreendido!” Assunção Cristas anunciou que tem fé e espera que chova. Talvez a Ministra do Ambiente, do Mar, da Agricultura e do Ordenamento do Território esteja necessitada de umas lições de Cavaco Silva sobre o silêncio ou sobre o “sorriso das vacas”, matérias em que o Presidente da República é, aliás, como se sabe, douto conhecedor…
No mais não vale a pena procurar ouvir Cavaco Silva. Já se sabe que tudo que fuja à sua realidade não existe ou causa surpresa ou cancelamento imediato. O rol das suas “quebras de silêncio” é extenso e constrangedor.
Assiste a ele um povo impávido e sereno e um Primeiro-Ministro que observa de bancada ao definhar da figura que é a metáfora de Portugal. Mas e se toda esta história da quebra do vidro da caixa, que tem dentro um cravo na “Escola Secundária Artística António Arroio”, fosse mais do que uma hipótese e os jovens tivessem mesmo quebrado o vidro para entregar o cravo a Cavaco Silva? Seria legítimo? Claro que sim!
Mas Cavaco Silva, diria (aposto): “Um cravo vermelho? Emergência? Não comento!” Ora foi precisamente essa emergência que Cavaco Silva evitou comentar, escudando-se num “imprevisto de última hora”. Há quem diga que passou o dia a fazer contas à vida… aconselhado pelos amigos.

1 comentário:

ren disse...

A imagem pertende a www.colectivodarainha.com, o objecto foi selecionado para os Projectos Originais Portugueses em Serralves, e curiosamente um dos autores frequentou a Escola António Arroio à uns valentes anos atrás.