A minha mãe costumava usar uma frase para justificar (muitas vezes) a postura pouco iluminada de algumas pessoas em relação a vários assuntos da vida quotidiana. Dizia ela, então, traduzindo do francês, que “quando o dedo aponta para a lua, o imbecil olha para o dedo”. (Original: “Quand le doigt montre la lune, l'imbécil regarde le doigt")
Ora, vem isto a propósito de um certo número (infelizmente cada vez mais abrangente) de “teóricos” que andam pelo mundo, fitos nos próprios dedos, espalhando as suas “teorias”, armados numa espécie de cowboy de Hollywood, misturando propositadamente a realidade e a ficção.
Já vem do tempo de Platão e do seu conflito com os sofistas, a descoberta de que a arte universal de enganar os espíritos com “argumentos”, nada tem a ver com a verdade, mas sim com a conquista de opiniões.
Há quem diga mesmo que há nesta era moderna, um novo fenómeno, ao qual se chama “achismo”. A primeira vez que ouvi a palavra julguei que não existia, mas existe mesmo e pela amostra tem uma série de seguidores.
Se por um lado é natural (e saudável) que todos tenhamos uma opinião sobre tudo e que a expressemos, não deixa de ser, por outro lado estranho que se tome o senso comum como critério de julgamento na análise de questões sérias.
Chega a ser mesmo perigoso que opiniões sem qualquer fundamento sejam difundidas como se fossem a verdade em “plena luz”.
Concordamos que o senso comum sempre existiu e que foi sempre combatido pela filosofia e pela ciência e (até) pelas elites de cada uma das nossas épocas. O problema é quando não se consegue separar um do outro e a divulgação dessas ideias, se difunde com grande capacidade de convencer pessoas.
Quando eu era mais nova (há já alguns anos) se houvesse um assunto verdadeiramente importante para discutir na Televisão ou nos Jornais havia sempre alguém, um economista, um cientista ou um investigador reconhecidamente isento para falar do assunto.
Hoje, com algumas excepções (diga-se em abono da verdade) somos obrigados a engolir muitos “achistas”. Todos falam sobre tudo. Há um tempo atrás a sociedade portuguesa parecia mais desperta para isso. Foi na era do José Maria do Big Brother. As pessoas percebiam que não era saudável para o país. Agora já tudo parece esquecido outra vez e basta ligar as Televisões ou ler os Jornais para perceber que todos falam sobre tudo como se fossem os mais reputados “experts” na matéria.
É bom que se note que eu defendo a liberdade de expressão sempre, mas também sei da força que tem o preconceito e a deturpação dos factos.
No fundo o que é mesmo preocupante é que as pessoas se deixem de guiar pela Razão e, sem querer, voltem às trevas ou à “Caverna de Platão” tendo como guia, alguém que mesmo cheirando ao melhor perfume, não passe de um “achista” em dimensão reduzida.
Dizia quem tinha coisas boas para me ensinar que a dimensão reduzida ainda é a melhor, se for em tamanho normal, já é mais complicado. Mas, como a lua de Sábado mostrou, às vezes, pode acontecer que o “achista” tenha tendência para crescer e quando, às tantas, damos por ele, já é chefe e manda “bitaites”. (Nunca fiando).
1 comentário:
Não pude conter o sorriso ao longo da leitura deste post.
Há já algum tempo (para não dizer alguns anos) sinto exactamente isso, e não estou a falar de todos saberem de tudo, somente de muitos pensarem saber sobre um determinado tudo tão específico e complexo. E este meu “tudo”refere-se apenas à minha área do saber e de actuação.
O resultado de muitos considerarem saber deste tudo e emitirem opiniões baseados nas suas sensibilidades (sim, é que para além de se basearem em sensibilidades, há a destacar que elas são individuais, pessoais, muito dos próprios) dou por mim a remar contra a maré e muitas vezes começo a duvidar do reconhecimento da existência do saber científico, da ciência que me trouxe até ao ponto onde me encontro, e com a qual pretendo continuar a caminhar, e, quem sabe, poder dar o meu contributo.
O sorriso desvaneceu.
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