Por este caminho, qualquer dia temos mais um Iraque
Na passada semana tive o prazer de estar presente nas Conferências do Estoril. Este evento teve como objectivo debater a globalização e crise económica internacional. Sob o lema “Desafios Globais, Respostas Locais”, assisti a intervenções e a debates muito interessantes de várias destacadas figuras da política e da economia internacional, como Tony Blair, Joseph Stiglitz ou José Maria Aznar.
Mas foi a intervenção sobre a globalização versus crise económica internacional protagonizada por José Maria Aznar que me suscitou mais interrogações. O ex-presidente do governo espanhol não partilha da opinião de que a globalização económica e social “liberal” foi a causadora do actual clima de “Grande Recessão”. Justifica que o actual modelo de “liberdade” económica foi responsável por tirar da pobreza mais de 500 milhões de pessoas, por incluir no sistema económico mundial mais de 3000 milhões pessoas, e por criar nos últimos 30 anos, o maior período de progresso económico e da democracia na história da humanidade. Aponta que a saída para esta crise nunca poderá passar pelo proteccionismo dos estados, mas sim, pela generalização e divulgação dos valores da liberdade económica e pela abertura dos mercados a mais nações. No mesmo sentido, é defendido que as nações civilizadas, ou seja, aquelas que defendem valores como a liberdade, democracia e igualdade entre todos os cidadãos, devem aliar-se para espalhar (impor) estes conceitos a outras nações ou culturas.
Apesar de aceitar os benefícios que a globalização trouxe ao nosso mundo, causa-me alguma perplexidade, o facto de, na sua intervenção, o ex-presidente não ter conseguido explicar as razões de estarmos em recessão económica. Não consigo também aceitar que sejam preconizados apenas dois caminhos de saída: o proteccionismo ou o liberalismo. Muito menos consigo perceber a insistência no conceito neoconservador de imposição de valores ditos “civilizados” que resultaram em situações de violação do direito internacional como a invasão do Iraque. É basicamente uma interpretação polida do conceito de Bush, do bem contra o mal. Defendo que o caminho a seguir passe por conceitos como o da globalização regulada, diálogo de civilizações e sobretudo tolerância de valores. Aznar não conseguiu explicar as razões da crise económica porque, afinal, era parte do problema. Nunca foi parte da solução.
1 comentário:
O descalabro bancário a que chegámos é outro aspecto da decadência do modelo capitalista neo-liberal e mais ajudará ao fim. A confiança nos bancos está contaminada: não respeitaram os contratos com os accionistas e depositantes, desviaram o dinheiro não se sabe para onde e as entidades que deveriam fiscalizar e em quem os cidadãos confiavam não viram ou não quizeram ver o que se estava a passar . Ora aí têm o resultado. Poderia agora perguntar: não que investir nuns fundos de investimento "de retorno garantido"?
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