sexta-feira, maio 15, 2009

Da minha esquina


Conferências do Estoril (parte 2)


Tive a oportunidade de assistir à intervenção, nas Conferências do Estoril, de Joseph Stiglitz, professor da Universidade de Columbia, prémio Nobel das Ciências Económicas em 2001. Joseph Stiglitz é talvez dos poucos economistas que há mais de dois anos avisava a administração americana que o sistema económico internacional estava em perigo de uma “Grande Depressão”devido à sua desregulação e falta de ética.

No diálogo que manteve com a plateia, o prémio Nobel descreveu o surgimento da crise económica internacional com algum rigor de análise e apontou algumas soluções e críticas às acções que têm vindo a ser tomadas por alguns países e pelo G20 para sairmos da situação em que nos encontramos.

O economista na sua análise parte de uma premissa básica em economia: “Os mercados não são perfeitos”. Assume que o sistema bancário é fundamental para o desenvolvimento de qualquer economia de mercado. Mas também assume, que no passado, a mistura entre banca comercial e banca de investimento e as sucessivas fusões entre grandes bancos criaram conflitos de interesses em termos função de negócio e de responsabilidade de apresentação de resultados. O negócio tradicional do crédito à habitação passou a ser visto como um activo financeiro, que poderia ver a sua rentabilidade multiplicada através sua aplicação em novos tipos de activos financeiros. Assim, o que dizia a nova lógica do negócio, era que devia ser aumentado o número de empréstimos à habitação de forma a aumentar a rentabilidade dos activos financeiros, independentemente do risco de crédito assumido. A banca percebeu que poderia jogar com o desejo normal de qualquer cidadão, de ter uma casa própria, através de propaganda de crédito fácil e enganoso. Passamos a ter dezenas de milhares de pessoas que não tinham condições financeiras para aceder a crédito à habitação a comprar casa. Por outro lado, este tipo de instituições tornaram-se elas próprias, para os países onde estavam sediadas, “too big to fail”, ou seja, os riscos de falência de uma instituição desta dimensão, como foi o caso da AIG, podia afectar irremediavelmente toda a economia, obrigando os Estados e os seus contribuintes a pagar a resolução destes problemas. Para além disso, FMI teve politicas que potenciaram a crise, desregularam mercados e assim os activos tóxicos disseminaram-se por praticamente todo o mundo, tendo tido particular incidência na Europa.

Todos estes factos propiciaram que uma qualquer crise nos mercados financeiros poderia ter efeitos sistémicos, pois toda a lógica de funcionamento da economia estava errada. Tínhamos em mãos uma bomba relógio financeira, que por afectar milhares de projectos de vida de pessoas com baixos rendimentos, rapidamente podia transformar-se numa bomba relógio social. E foi o que aconteceu.

Relativamente às soluções para resolver a crise concordo com algumas das críticas que Stiglitz faz às actuais lideranças. Não podemos por à frente da resolução dos problemas as mesmas pessoas que causaram a situação em que estamos, nem podemos deixar o FMI liderar este processo da mesma forma que no passado. Devemos sim apostar numa globalização regulada, no investimento público, sem cair em baixas de impostos populistas e sobretudo, aproveitar este momento, para diversificar a economia e prepara-la para o futuro.

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