"Que levas ao colo, embrulhado em sarrafaçais transcritos mau olhado
abomináveis trutas e outros preconceitos?
Um sacerdote? Um gato? A
timidez?
Que transportas silencioso, imóvel, como dormindo, no xaile
pespontado a verde com que limpas o suor, o sêmen, as fezes, tudo o que
abandonas, ofereces, vendes, expulsas, injectas, convocas, reprovas, descreves,
etc.? Embalas e não respondes. Temes a polícia, os tapetes, o capacho, o
telefone, as campainhas de porta, as pessoas paradas pelas esquinas reparando em
por de baixo das roupas das outras que passam? Temes as palavras? Temes que
saiam versos, lágrimas, casamentos, satisfações apressadas em campos de
arrabalde?Temes os partidos, os artigos de fundo, os banqueiros, os capelistas,
a inflação, as úlceras do estômago ou sociais? Que transportas ao colo em
silêncio e num xaile? É a vida? Anúncios luminosos? Casas econômicas? O mar?
Irmãos? Reivindicações? Um livro? Embalas e não respondes.
É a vida? A noite
que cai? As luzes distantes? Um gesto? Um olhar? Um quadro? Uma poesia
lírica?
(Oportunamente interrompida pela chegada de uma pessoa
conhecida)"Jorge de Sena, Ode ao Surrealismo por conta alheia
"E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando as vidas dos insectos..." Mário Quintana
sexta-feira, janeiro 26, 2007
Citação (muito importante)
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