segunda-feira, dezembro 26, 2005

Poema

Faz-se luz pelo processo de eliminação de sombras
Ora as sombras existem as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem

Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como os amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca




© 1957, Mário Cesariny
From: Pena Capital
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon, 2004
ISBN: 972-37-0512-5

4 comentários:

ERRO FATAL disse...

ardemar reencontrado...

numa deambulação nocturna, o reencontro com uma antiga leitura...

ainda bem

SL disse...

Fiquei a pensar que te fez postar esse poema, que é muito bonito, mas pode dizer tanta coisa...
Jinho com votos de um 2006 em grande!

Mariana Matos disse...

A razão é simples: gosto do poema!
:)
Bom ano!

Anónimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on! » »